sábado, 9 de abril de 2016

Arquitetura - Siedlung - Hufeisensiedlung Britz - Berlin

Berlin - Final do século XIX e início do século XX - A praça ganhou movimentação a partir do avanço dos transporte públicos
No período entre o final do Século XIX e início do Século XX, a Europa foi cenário de mudanças sociais, econômicas e políticas. Foram momentos tumultuados, dentro dos quais surgiu o embrião de algumas referências da época, como o da Arquitetura Moderna - resposta ao déficit habitacional que existia nas grandes cidades europeias, em especial na cidade de Berlin.
 Berlin - Mobilização dos trabalhadores com a participação de jovens socialistas.

No campo da arquitetura e do urbanismo - um dos motivos das mudanças e que contribuíram para estas, foi o surgimento de novos materiais de construção a partir da industrialização. Ainda no Século XIX, na segunda metade, surgem materiais em novas formas que iriam revolucionar a maneira de fazer arquitetura.
Os materiais mais importantes e responsáveis pelas mudanças na arquitetura, foram o aço estrutural e o concreto armado. Novas formas, porque, anterior ao aço já se estava usando o ferro fundido - usado em larga escala pelo engenheiros - desde o início do Século XIX. O concreto - feito com pedra e cimento já era usado pelos romanos.
The Crystal Palace: desenhado por Joseph Paxton -  o edifício possuía 564m de comprimento, altura de 33m feita em ferro fundido e vidro. Construído no Hyde Park - Londres - para abrigar a Grande Exposição de 1851.

As novidades e inovações técnicas foram, bem mais tarde, usadas na construção das habitações em massa - usadas nas habitações populares - para os trabalhadores da indústria.
Entre 1920 e 1930, aconteceram inúmeros debates sobre a técnica construtiva, arquitetura, tipologia, área das habitações - habitação minima - e sua inserção urbana. Muitos, foram temas dos congressos internacionais de arquitetura moderna – CIAMs.
O 1° Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - 1928 - conta com a presença de 30 arquitetos.
Na Alemanha  houve, desde o final do Século XIX e ao longo do Século XX,  realizações de exposições de arquitetura. Essas objetivam divulgar expressões de vanguarda cultural produzidas no país em termos de arquitetura e de planejamento urbano, bem como a divulgação de novas tecnologias e materiais.
As diversas exposições realizadas foram peças fundamentais no processo de afirmação da arquitetura moderna no país. É através da difusão desses projetos relacionados com habitação social que a fórmula ensaiada de modo pioneiro na década de 1920 e que, ao longo da de 1930, se impôs como solução canônica ao problema da moradia moderna, se consolida.
Arquiteto Ernst May, Siedlung Bruchfeldstrasse - 1927.
É sabido que, neste período,  a superpopulação, condições precárias de higiene e edificações inseguras eram comuns nas cidades em crescimento - no continente europeu. Um dos motivos que faziam famílias inteiras, migrarem par o Vale do Itajaí e também para outras regiões do Brasil e do mundo. 
Grupo de imigrantes alemães - Colônia Blumenau - Início do Século XX - Casa provisória.

Na Alemanha e em outros países da Europa, que tiveram contato com a industrialização nesse período, a forma mais conhecida de habitação para os trabalhadores eram construções que ocupavam todo o espaço disponível de uma quadra, prejudicando imensamente as condições de ventilação e iluminação. 
Berlin - Quadras fechadas fechadas.










Reunião de arquitetos modernistas.
Normas espaciais para habitações surgiram juntamente com a necessidade de estandardização para produção em massa- suprir o déficit habitacional.
Surgiram normas padronizadas para a construção a partir dos debates de Arquitetura. Os projetos passaram a ser estudados sob parâmetros normativos e mensuráveis, o que não ocorreria antes.
A partir de estudos, levando em conta necessidades biológicas e psicológicas, concluíram que a habitação mínima deveria ser um instrumento social indispensável para os novos tempos, e dentro do positivismo, tinha incorporado em seu conceito, o apelo  à precisão científica. Um dos nomes deste tempo - Arquiteto Ernst May destacava sobre a necessidade da solução dos problemas técnicas individuais, antes de definir o quanto a área final deveria ser reduzida. Geralmente a área mínima variava entre 12,5 a 14 m2 - como aconteceu em projetos de May, em Frankfurt. Le Corbusier chegou à área de 14:00m2 e batizou sua habitação de  "unidade biológica" - Funcionalismo e racionalização.
Grete Schütte-Lihotzky and Ernst May, “Frankfurt” Kitchen, 1926-1929Adam M. (2010). Art Histo
Fonte: illustrationyeartwo.blogspot.com
Frankfurt housing projects - Ernst May -  1925-1930.


Também, dentro deste cenário de mudanças, surgiu a ideologia da social democracia que interferiu nas áreas econômicas e sociais do Estado, com intuito de minimizar os problemas sociais surgidos durante o período - fase da industrialização na Europa do final do Século XIX e início do Século XX. Vários nomes da história, como já foi colocado, aderiram às ações ideológica e contribuíram com o ideário social democrata. Muitos foram os conflitos, os quais contribuíram para o surgimento de um dualismo.
O conceito de social democracia tem mudado ao longo do tempo histórico, desde seu início.
No início do Século XX, vários partidos socialistas começaram a rejeitar a revolução social e outras ideias tradicionais do marxismo como por exemplo a luta de classes, e passaram a adquirir posições mais moderadas, como por exemplo, que o reformismo era uma maneira possível de atingir o socialismo.
O Partido Social Democrata alemão era o mais forte partido socialista europeu, possuindo grande representação no Parlamento e o controle dos maiores sindicatos do país. Quando eclodiu a Revolução de Outubro, na Rússia, a bandeira da revolução socialista invadiu todas as fábricas da Alemanha.
Ao fazer uma disciplina do Programa de Pós-Graduação da Geografia da UFSC (2016) - Florianópolis - Doutorado ::: Política de Desenvolvimento Urbano e Regional. tomamos conhecimento da existência da grande produção arquitetônica no período da social democracia - mais precisamente, os Siedlung, parte e de grande influencia na formação e solidificação da  Arquitetura Moderna. 
Siedlung é o termo alemão para designar um tipo de conjunto habitacional que incorpora, em sua implantação, juntamente com a unidade de habitação, os mais variados equipamentos coletivos, como escola, creches, comércio e espaços de lazer. O patrimônio era público e pertencia à cidade. Eram alugados às famílias que moravam mal nas cidades industriais e não tinham condições de adquirir a "casa própria". O Professor destacou que este tipo de moradia ainda existe e, contraditoriamente é mais frequente encontrar este modelo nos países "ricos" da Europa. 
Os Siedlungs - foram construídos alguns, durante as duas primeiras décadas do Século XX.  Foram vários construídos na cidade de Berlin.
Apresentaremos  o Hufeisensiedlung – Siedlung “Ferradura” de Britz, também localizado na cidade de Berlin.

Hufeisensiedlung – Siedlung “Ferradura” de Britz.
Hufeisensiedlung Britz - Berlin. 
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de

O Hufeisensiedlung  - é um conjunto habitacional e está localizado na cidade de Berlim, no distrito de Britz. É um assentamento de habitação social e, desde o ano de 2008 é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO. Seu projeto foi assinado pelo arquiteto Bruno Taut, chefe de planejamento municipal de Berlim - Berliner Stadtbaurats  ao lado dos arquitetos Martin Wagner Leberecht Migge. O Siedlung Britz foi um dos primeiros projetos de habitação social e é considerado referência no Planejamento Urbano moderno e sob a ótica da nova arquitetura.
Britz - Berlin. 


O complexo foi construído entre os anos de 1925 e 1933 – durante 7 fases.

História

Após a primeira Guerra Mundial, a imigração para a cidade de Berlim aumentou consideravelmente. De 1850 até o fim dos anos 1920, a população tinha praticamente duplicado de 25 em 25 anos.
Não foi apenas o apogeu cultural da Golden Twenties que causou o rápido aumento da população, mas também, o avanço da industrialização e do fim da Primeira Guerra Mundial. Gross-Berlin, que só tinha vindo sobre, em 1920 através da fusão de vários bairros da cidade e seus subúrbios, estava fazendo justiça ao seu nome. Os 3,8 milhões de habitantes não só excedeu a população atual, mas tornou Berlin, a terceira maior metrópole do mundo naquela época, depois de Nova York e Londres.
Berlin - 1900.
Berlin.
Muitos viviam em quartos de aluguel com uma superlotação, muitas vezes com uma família de até 5 pessoas. Para piorar a situação, mediante a população que aumentava - no início da década de 1920 foram perdidas mais de 100 mil casas na cidade, que o setor privado não poderia suprir este déficit habitacional em tempo hábil e também pelo fator econômico.
Entre os anos de 1921 e 1928, iniciativa da social democracia, surgiram cooperativas, sem fins lucrativos, com objetivo de eliminar o déficit habitacional. A meta – a partir de regras – era criar habitações, com qualidade, pouco custo, dentro de um contexto que oferecesse transporte público de qualidade. Isto foi possível, através de assentamentos de grande escala e surgiu o Hufeisensiedlung – Siedlung “Ferradura” de Britz – foi o primeiro exemplo de habitação social e foi um grande desafio para arquitetos e urbanistas.




Em 1925, após a revisão para a construção na área de Berlim, foi detectado o surgimento de 17 grandes áreas com alta adensamento populacional e que eram regiões que necessitam a construção de Siedlung.


Arquiteto Bruno Taut.
Em uma área da antiga Britz – distrito de Neukölln, foi definido a construção de um assentamento com capacidade de cerca de 2000 habitações. Bruno Taut, nesta época era o urbanista responsável da antiga Associação de Habitação sem fins lucrativos – GEHAG. Era responsável pelo planejamento feito a partir de uma meia ferradura – sendo esta usada como centralidade do complexo. Junto com o conselheiro da cidadeMartin Wagner, desenvolveu o projeto de planejamento urbano com o conceito do Hufeisensiedlung – Ferradura. Buscaram a inspiração na elaboração do projeto na funcionalidade da área de produção industrial – transferindo esta exatidão e funcionalidade para o edifício. Estudaram um projeto viável para que durante sua execução - fosse viável a produção em larga escala de habitações com qualidade e funcionalidade. Martin Wagner oportunizou as obras do Siedlung, para estudar e minimizar custos em outras obras semelhantes – criando um padrão econômico. Tornou o canteiro de obras em um laboratório.
Taut fez uso de sua experiência quando participou do projeto da Falkenberg Garden City
O projeto de planejamento do espaço aberto do Hufeisensiedlung, ficou sob a responsabilidade do arquiteto paisagista Leberecht Migge e sua execução foi feito pelo gerente de escritório de paisagismo Ottokar Wagler.

O conjunto do Hufeisensiedlung foi construído em sete fases – entre os anos de 1925 e 1933. Nos anos entre 1925 e 1930, foram levantados – ao longo de seis fases – em uma área total de 29 hectares ou 290000m2.
Foram construídos 1285 apartamentos em 679 edifícios de três pavimentos e jardins. A 7° fase, construído após 1932, foi construído a sudeste do complexo e não teve a participação do arquiteto Bruno Taut.

O partido do conjunto é original, sem outro semelhante na cidade de Berlin. Há possibilidades de reformar e mesmo agregar novas edificações sem perder a linguagem predominante do conjunto.
Na primeira e segunda fase, foram construídas 472 moradias, em torno da “ferradura”. Ao contrário de construir uma vila idílica, inspirado nas Cidades Jardins, são concebidas edificações com telhados de azulejos, janelas voltadas para o pátio com acessos por uma via mais estreita compondo com jardins. Os telhados das edificações construídas entre 1925 e 1930 estão dispostos em duas vezes sete linhas de 207 moradias. E, em 1929, os jardins foram transferidos para frente.



O arquiteto fez uso de  materiais simples e muita criatividade, como por exemplo o uso de revestimentos de tijolos amarelos e vermelhos nos cantos das edificações, com sutis sobras ou mesmo com linhas curvas de ruas. Afastamento com ligeiros recuos ou avanços, criando “movimento”. A identidade, marcada no projeto de Taut, também foi o conjunto de cores, favorecendo o contraste. As fachadas recebem um sutil colorido, de variações de tons.



As entradas da ferradura foram valorizadas pelo azul forte. O conjunto de cores adotadas no complexo na época, gerou críticas e atualmente, é a sua marca dentro da paisagem de Berlin. As cores não se limitaram somente às paredes, mas também fora, ousada nas aberturas. Também foram usadas cores, sem muito pudor na parte interna das edificações. Posteriormente foram substituídas por papel de parede, de acordo com a luz, função e espaço.




















Interiores







O colorido das aberturas - Projeto executado entre 1925 e 1930.
As edificações são alugadas, até os dias atuais e não são acessíveis como se fosse um museu - disponíveis à visitação pública. São moradias, desde sua inauguração. Em 2013, o complexo, que completa quase 100 anos, recebeu a premiação Prêmio Europeu para o Patrimônio Cultural, recebido em Berlin Medalha Ferdinand von Quast.
Na edificação localizada na área central, existe um espaço, que das sextas feiras aos domingos – das 14:00h. às 18:00h – está aberto e oferece um café com uma pequena exposição sobre o Hufeisensiedlung Britz.
Em síntese, o Hufeisensiedlung de Britz foi um marco para a evolução da arquitetura dos anos de 1920 e 1930 e ainda o é. Apesar do diminuto espaço que varia entre 49m2 e 124m2, não é somente um ícone arquitetônico de escala mundial, mas também, gabarito para residência popular com qualidade,  priorizando a qualidade do espaço externo - igualmente, de uso comum e sua integração à paisagem da cidade.
Em 1986, o conjunto foi colocado sob proteção do patrimônio alemão.
Com exceção da ferradura central, todos os demais edifícios são organizados em linha e cada casa tem seu próprio jardim. A área total prima pelo verde e sua localização atual está próxima ao novo centro cultural projetado em 2010, para Britz.
Até o ano de 2000, o complexo foi empossado como patrimônio dos municípios – GEHAD. Todos os apartamentos são propriedade da municipalidade - do GEHAD, sob a égide de seu sucessor, Wohen AG.
Na década de 1990, foi efetuado um projeto de restauro.  A preservação do conjunto é um resultado dos cuidados da GEHAG e também é responsabilidade de centenas de proprietários individuais. Para receber as casas geminadas e os jardins dentro de seu valor patrimonial, é preciso conhecer uma plataforma de informação na web em 2010por iniciativa de uma associação de desenvolvimento local e com recursos do programa de investimentos federais e da UNESCO - Patrimônio Mundial Nacional. É listado numerosos detalhes do plano e especificações das casas individuais, cor, seleção de materiais e plantas que deverão ser usados para manter a aparência e a identidade do conjunto. Mesmo no caso de cores das fachadas, otimização de energia e restauração prática de conservação de parques públicos e espaços abertos poderão ser reivindicados através do programa de investimentos.
No dia 7 de julho de 2008, o Hufeisensiedlung foi premiado junto com outros cinco, de Berlim como parte do Patrimônio Mundial da UNESCO - Modernism Housing Estates .
Desde 2010, o Horseshoe Estate também foi listado como um monumento jardim. 
O Hufeisensiedlung é provavelmente o exemplo mais notável de planejamento da cidade alemã inovador na década de 1920, e ainda é muito atual, dentro da realidade da cidade na qual foi construído.



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