terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Protestos e economia no caminho da reeleição de Dilma

Deutsche Welle

Presidente tem hoje mais obstáculos do que antes da eclosão das manifestações. Ela ainda é favorita na disputa, mas baixo crescimento do PIB e contestação popular à Copa podem tornar vitória não tão fácil quanto parecia.
Antes dos protestos de junho do ano passado, a presidente Dilma Rousseff tinha uma popularidade tão alta que quase nenhum analista político se arriscava a prever dificuldades para a reeleição. Mas, agora, com os brasileiros nas ruas como não se via há décadas, a expectativa de tensão durante a Copa do Mundo e o baixo crescimento econômico, a batalha eleitoral pode ser mais dura que o PT pensava.
Enquanto a oposição já se articula desde o ano passado em torno de alguns nomes de peso, como Aécio Neves (PSDB) e a dobradinha Eduardo Campos/Marina Silva (PSB), o PT aproveitou seu aniversário de 34 anos nesta segunda-feira (10/02) para lançar simbolicamente, em São Paulo, a pré-candidatura da atual presidente à reeleição.
"A eleição vai ser a mais polarizada desde 1989, quando ocorreu o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República", afirma Marco Antônio Villa, historiador e ex-professor de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos. "Nesta eleição, o PT está mais fragilizado que em 2006 e, principalmente, que em 2010, por causa de diversos fatores."
Campanha mais quente
Entre os fatores que podem acirrar a batalha eleitoral para o PT estariam: a baixa expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que deverá crescer em 2014 apenas 1,9%, de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira; um certo desgaste da figura de Dilma – sua popularidade ainda não retomou os níveis de antes dos protestos de junho e segue em torno de 40%; e os gastos para a realização da Copa do Mundo. E tudo isso poder ser usado como arma pela oposição para angariar votos.
"Os custos deste evento deverão ser explorados pela oposição no início da campanha eleitoral, após o Carnaval, e especialmente em caso da derrota da seleção brasileira na Copa", diz Villa. "A eleição vai ser decidida no segundo turno, e tudo indica que no primeiro turno deve ocorrer uma grande fragmentação de votos entre os três principais candidatos – Dilma, Aécio e Eduardo Campos/Marina Silva."
Marina Silva se filiou ao PSB, de Campos, no início de outubro de 2013
Para Roberto Gondo, professor de comunicação política da Universidade Mackenzie, um dos desafios do PT é fazer campanha sem necessariamente contar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como cabo eleitoral. Outro aspecto é não deixar que índices como desemprego e inflação oscilem muito, já que são indicadores mais perceptíveis à população.
Mesmo com vários desafios pela frente, Gondo aposta que, apesar das manifestações e de um contexto nacional de descontentamento da população em relação aos governantes, as eleições devem não trazer grandes surpresas. "Apesar de tudo, o PT começará a campanha como grande força à frente da disputa eleitoral."
Oposição se arma
A filiação de Marina Silva ao PSB, de Eduardo Campos, no início de outubro do ano passado, é mais um elemento que deve embaralhar a disputa política de 2014. A ex-senadora – grande surpresa nas eleições presidenciais de 2010, recebendo quase 20 milhões de votos – foi a única política que conseguiu aumentar sua intenção de votos depois das manifestações de 2013.
A ex-senadora pelo Acre se filiou ao partido de Campos após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar, na semana anterior, o registro do partido Rede Sustentabilidade por falta de comprovação do número de assinaturas de apoio previsto em lei. O início de outubro era a última chance para ela participar da corrida eleitoral de 2014, já que a legislação obriga a pessoa a estar filiada a um partido um ano antes da eleição.
"Um ponto é como vai ser a interpretação do eleitorado de Marina Silva. Ela estava com o papel de terceira via [na tradicional polarização PT-PSDB], mas, quando se une a Eduardo Campos, não sabemos se o eleitor vai continuar com a candidata, mesmo ela sendo vice de Campos", diz Markus Fraundorfer, do instituto de estudos globais Giga, de Hamburgo.
Mesmo com protestos, Aécio Neves ainda não conseguiu decolar sua candidatura
Por outro lado, o PSDB joga as fichas em Aécio, que ainda não conseguiu fazer decolar sua pré-candidatura. Na última pesquisa da corrida presidencial divulgada pela Datafolha no final de novembro, Dilma tinha 47% dos votos, contra 19% de Aécio Neves e 11% de Campos. O percentual de eleitores que votariam em branco, nulo ou indecisos continuou em 23%, o mesmo da sondagem anterior, realizada em outubro.
"Aécio resolveu primeiro garantir o apoio do PSDB. Ele tem um perfil político mais agregador, mas ainda não inspira confiança no sentido da combatividade e firmeza político-programática", afirma o historiador Marco Villa. "A oposição é frágil na combatividade e presença cotidiana nos debates. Porém, não podemos esquecer que, em 2010, apesar de uma campanha errática, José Serra [então candidato do PSDB] obteve no segundo turno quase 44% dos votos."
  • Data 10.02.2014
  • Autoria Fernando Caulyt
  • Edição Rafael Plaisant

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