domingo, 30 de janeiro de 2022

Nos Caminhos da Imigração Alemã no Estado de Santa Catarina - A Tradicional Casa Malburg - Itajaí SC - Parte da História da Colônia Blumenau

 
Uma das questões que nos encanta na História é a sua continuidade a partir das escolhas adotadas no presente e de como ela também é contínua no espaço físico, elemento material de nosso trabalho a partir do Urbanismo e da Arquitetura.
Há algum tempo estudamos algumas personalidades da História da Colônia Blumenau e da região, que é a História do Vale do Itajaí, formado pelo Alto, Médio e Baixo Vela do Itajaí. Região, que através de seus caminhos e vales, tinha ligação com o Oeste e a Serra catarinense, com Palhoça, Com São Pedro de Alcântara, com Nossa Senhora do Desterro, com Tijucas, com Rio de Janeiro e, com Itajaí. Ligações muito estreitas e valorosas e principalmente, contínuas. Tentam destacar o "perfil açoriano" de Itajaí, na Academia. Encontramos inúmeros trabalhos, no entanto, grande parte de seus personagens eram imigrantes alemães que tinha grande ligação histórica com o Stadtplatz da Colônia Blumenau, viabilizada pelo transporte fluvial dos vapores que percorriam o grande Rio Itajaí Açu, ligando os portos fluvial do Stadtplatz e, marítimo de Itajaí. 
As pessoas chegavam na centralidade da Colônia Blumenau através do Rio Itajaí Açu e não demorou muito, também através da ferrovia EFSC.


Hermann Bruno Otto Blumenau, na verdade, antes de ser fundador da Colônia Blumenau, e já existindo Itajaí, foi um dos fiscais enviado oficialmente pelo governo dos povos alemães (ainda não existia o estado alemão), para averiguar denúncias de famílias de imigrantes, que chegaram no Sudeste do Brasil, para ocupar o lugar da mão de obra escrava africana, e que foram ludibriados e enganados por aqueles que os aliciavam na Europa. Blumenau veio para o Brasil, Rio de Janeiro, Nossa Senhora do Desterro, colônias que receberam aqueles que estiveram nas fazendas do Café no Sudoeste. Nesta viagem, conheceu a Colônia de São Pedro de Alcântara, a qual se encontrava com problemas e constatou que suas família estavam migrando para a foz do Rio Itajaí Açu e subindo suas águas, rumo ao leste da província. Deste ponto, também, muitas famílias de imigrantes alemães iam em direção à Serra Catarinense e subiam o vale do Rio Itajaí do Sul - rumo a Südarm - território do atual Rio do Sul, que mais tarde, também faria parte do território da Colônia Blumenau. Esta migração interna via caminho da serra fundou Ituporanga - link no final desta postagem. Este fiscal, fundador da Colônia Blumenau, Hermann Bruno Otto Blumenaucoletou o máximo de dados, atento às informações que estas famílias de imigrantes lhe passava, pois pretendia fundar sua firma a partir da imigração de conterrâneos seus, uma colônia agrícola. 
Resolveu conhecer o Vale do Itajaí, no papel de fiscal, local para onde estavam migrando alemães do Vale do Cubatão e visitou famílias de imigrantes alemães já assentadas, como por exemplo, a de Johann Peter Wagner, ou Pedro Wagner - link no final da postagem.
A partir destas movimentações, também foi fundada Itajaí, um pouco tempo antes, exatamente na foz do grande Rio Itajaí Açu, pois um o migrante português, viu grandes possibilidades econômicas e comerciais na região. O porto marítimo, antes de ser fundado Itajaí, estava instalado em Porto Belo.

Itajaí - Itajahy -  nome de tupi-guarani. "I" é genérico de "água"-"rio" 
Observar a mancha de ocupação e tamanho das nucleações de Itajaí e de Blumenau - em 1905, sendo que, historicamente, a ocupação de Blumenau iniciou a partir de Itajaí.



Itajaí - Ano de 1955 - Fonte: IBGE.
Vamos entender um pouco sobre como aconteceu a fundação de Itajaí e sua relação com a imigração alemã. Por que há muitos nomes de famílias alemãs na História de Itajaí e esta foi fundada por um imigrante português?
A partir dos muitos problemas dos imigrantes alemães que foram assentados na região de São Pedro de Alcântara e muitos boatos políticos sobre quem fora o responsável pelo fracasso, o presidente da Província de Santa Catarina envia um ofício  para o Rio de Janeiro, solicitando  mais subsídio para os imigrantes, além daqueles que já haviam recebidos - o que foi terminantemente negado e foi, então, instaurada a Lei de Terras em 15 de dezembro de 1830, cujo artigo 4° assinalava: "Fica abolida em todas as Províncias do Império a despesa com a colonização estrangeira. Em meio a confusão burocrática e também problemas internos de instalação, muitos dos imigrantes assentados em São Pedro de Alcântara foram "incentivados" mediante ressarcimento, a mudar-se para outras regiões do estado de Santa Catarina, e foi neste momento que inicia a história publicada de Itajaí e também, do Vale do Itajaí.
Itajaí - Ano de 1955 - Fonte: IBGE.
Mapa de SC em 1892.


Em 5 de maio de 1835 foi criada e Lei Provincial N° 11, através da qual foi fundada duas colônias na Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí - caminho novo para os imigrantes que mudavam-se da Colônia de São Pedro de Alcântara, considerado a partir de então, o centro emissor de correntes migratórias internas. A partir deste momento histórico, famílias de imigrantes subiram o Vale do Itajaí via Itajaí, antes mesmo de ser fundada a Colônia Blumenau. A partir da Lei Provincial mencionada anteriormente, foram criadas  uma colônia no arraial Pocinho e outra, no Itajaí-Mirim, com o Arraial Tabuleiro, a partir do desenvolvimentismo destes, surgiu outros dois que são: Belchior e Ribeirão Conceição (Atual Gaspar). Nesta época, toda esta região desde o mar até o Alto Vale, pertencia à jurisdição  do município de Porto Belo. A nova lei estabelecia que cada imigrante tinha o direito uma porção de terra.
E foi neste período que foi fundada Itajaí ou,  a freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí, na foz do grande Rio Itajaí Açu - a "porta do Vale do Itajaí".
Major Agostinho Alves Ramos.
Estas movimentações
sociais do início do século XIX foram acontecendo de maneira muito natural, após a migração interna ou, a partir dela. O porto de Itajaí ficava entre o Pontal do Norte e a Ponta Cabeçuda, ao Sul.  Na frente do ancoradouro onde ficava a embarcação dos primeiros imigrantes chegantes à região, existia somente a Fazenda do Arzão - agora do  Administrador da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí, Major Agostinho Alves Ramos. A fazenda, foi residência de João Dias de Arzão, companheiro do fundador de São Francisco do Sul, em 1658. Por isto era conhecida por este nome. João Dias de Arzão era oriundo de São Paulo e sua família procurava minas de ouro e outros metais preciosos pelo interior do Brasil. Naquele ano, ele requereu e obteve uma sesmaria - que é um lote colonial, às margens do Rio Itajaí-Açu, em frente à foz do Rio Itajaí-Mirim e ali construiu sua casa. Não tinha intenção de fundar uma povoação. Seu interesse, como todo bandeirante paulista, era de encontrar ouro e não teve sucesso desejado. O imigrante português Agostinho Alves Ramos - o administrador, quando conheceu o local - nas proximidades da foz do Rio Itajaí-Açu, viajava buscando negócios, e o local lhe despertou idéias. Este português vivia em Nossa Senhora do Desterro onde era sócio de uma pequena venda. Também lembrando que no início do século XIX, a viagem via modal marítimo era muito comum na costa brasileira. Em uma dessas viagens, Agostinho Alves Ramos visitou primeira vez a Foz do Itajaí-Açu. Tanto gostou que mudou-se para o local e requereu ao Bispo do Rio de Janeiro, a fundação de um Curato que aconteceu em 31 de março de 1824. Para esclarecer, curato é um termo religioso, derivado de cura, ou padre, que era usado para designar aldeias e povoados com as condições necessárias para se tornar uma paróquia e geralmente, as cidades "surgiam" em torno de uma igreja. O que de fato aconteceu, com a criação do Curato do Santíssimo Sacramento, estava fundada Itajaí. Construída uma pequenina capela e o cemitério aos fundos logo começaram a ser então envolvidas por outros residentes, entre os quais, a liderança foi exercida por Agostinho Alves Ramos, seu fundador e neste momento, Itajaí foi a porta de entrada de muitos pioneiros, através do transporte fluvial pelo Rio Itajaí Açu, para fundar inúmeras cidades da rede de cidade da Bacia do Itajaí. Correntes migratórias também vinham pelos "fundos", via Palhoça, São Pedro de Alcântara, e pelo norte, via Porto de São Francisco. Mas sem qualquer dúvida, Itajaí foi muito importante, ainda mais, pela presença do Rio Itajaí, navegável entre a sede da Colônia Blumenau e o porto marítimo de Itajaí, que passou a ser um porto internacional, recebendo navios da Europa.
Nikolaus Malburg fixou residência em Itajaí, em 1858 e em 1859, em conjunto com  José Henrique Flores, entre outros, solicitaram ao Presidente da Província, a elevação de Itajaí à categoria de município e, em 1860,  fundou a Cia. Comércio e Indústria Malburg S/A. Ocupou diversos cargos públicos, tendo sido vereador e presidente da Câmara Municipal em diversas ocasiões. 
Vila de Itajaí em 1884.
A história de inúmeras famílias responsáveis pelo desenvolvimento de Blumenau, contam histórias vividas em Itajaí e muitas das famílias de imigrantes alemães, chegando no porto de Itajaí, sequer subiram o Rio Itajaí Açu, fixando-se na cidade portuária. 
Fizemos esta pequena introdução, para mostrar a arquitetura de uma casa de Itajaí, mencionada na história de inúmeras famílias que subiam o Rio Itajaí Açu de vapor: A Casa Maldurg. Muitos dos comerciantes da região da Colônia Blumenau trabalharam na Maldurg e para a família com o mesmo nome. 
Em 30 de janeiro de 2022, fomos buscar  o local da Casa Maldurg, para registro histórico e a encontramos.
Atualmente, está localizada na  Rua Dr. Pedro Ferreira, N° 34, na esquina com a Praça Vidal Ramos – Itajaí-SC.

A Casa Malburg pertenceu a descendentes do imigrante alemão Nikolaus Malburg, que chegou à região na mesma década que chegou o fundador da Colônia Blumenau, Hermann Blumenau. Esta família, em função dos feitos e do destaque na economia local e regional, tinha livre acesso em algumas casas do Vale do Itajaí, mas a descrição sempre era semelhante quanto às práticas sociais e perfil dos negócios. Como por exemplo, o narrado abaixo.
Nikolaus Malburg, conhecido em Itajaí e Blumenau por Nicolau, nasceu em 25 de janeiro de 1832 - na cidade de Schweich, na região do Mosela - Alemanha. Casou-se em 4 de outubro de 1858,  em Itajaí, com Catharina Häendchen (1848- faleceu em 10 de março de 1929 em Gaspar), nascida em São Pedro de Alcântara - confirmando a migração interna - na província de Santa Catarina. Os pais de Catharina foram  Antonius Vicent Händchen e Gertrud Händchen (Solteira - Born Zimmermann) - Casou-se novamente com Francisco Adão Schmitt. O casal Malburg teve os seguintes filhos: Leopoldo Malburg; Carlos Frederico Malburg; Leopoldo Malburg; Adélia Malburg; Emilia Malburg; Carl Malburg; Bruno Ferdinando Malburg; Hulda Malburg; Adélia Malburg; Nicolau Malburg; Hulda Malburg e Nicolau Malburg. 
Nikolaus Malburg faleceu em 8 de  maio de 1890, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro com 58 anos de idade e está sepultado em Itajaí. Nikolaus era filho de Joannes Malburg (1799-1858) e de Anna Maria Scholzen (1797-1873). Só para relembrar em outra história da região, deixamos aqui registrado que  Marcos Konder Sênior nasceu na mesma cidade de Nikolaus e migrou para o Brasil - influenciado por ele, que o convidou para ser professor de seus filhos. (A história registrou - e muitos ocuparam esta função de professor - entre outras ocupações). Esse contato aconteceu, porque em 1872, Nikolaus Malburg, visitou sua terra natal, convidou-o para migrar para o Brasil.
Schweich - Mosela.


Em 1872Nikolaus Malburg, em viagem na Alemanha - convida Marcos Konder Sênior para ser professor particular de seus filhos, com um salário mensal de Rs. 15$000, além de casa e comida. Geralmente oferta semelhante fez a muitas outras figuras de História regional e colocaremos algumas nesta postagem, pois todos, passaram pela Casa Maldurg em algum momento da história.
Encontramos um documento oficial da diretoria da Colônia Blumenau que apresenta o seguinte teor:

"13 de outubro de 1875 - Colônia Imperial Blumenau. Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau Governo Imperial Pede gratificação para pagar Nikolaus Malburg por serviços prestados. "

Outra personalidade da história de Blumenau que passou pela Casa Malburg foi o primeiro Cônsul Honorário do Império Austro-Húngaro,  Leopold Franz Hoeschl.
Hoeschl deixou o seguinte registro, escrito a próprio punho: 

"Por ocasião da nossa chegada em Itajaí, hospedamos-nos em casa de Malburg, que era, então, a única hospedaria existente. O senhor Nikolaus Malburg, amigo de meu irmão Karl, mandou a êste, em novembro, uma carta em que dizia: "O teu jovem irmão me deixou muito boa impressão e como, de certo, já se acha mais ou menos adaptado a esta terra, poderá entrar no meu negócio". Ali, a minha ocupação era, por bem dizer, a de "pau para tôda obra". Entre outros encargos eu era carregador, guarda livros, tratador de cavalos, engraxate do senhor meu chefe, professor do filho mais velho, Leopoldo etc., com exceção de carregador de cubos, o que me neguei fazer à senhora minha chefe. E tudo isso por, apenas, 10S000 por mês. A senhora Malburg, em geral uma excelente mulher, obrigou-me a deixar o serviço pela sua sovinice e desconfiança, embora contra a vontade do sr. Malburg e do meu irmão." Leopold Hoeschl.

Hermann Weege, trabalhou com os Malburg em 1891, quando tinha 14 anos de idade. O menino Weege, trabalhou como aprendiz na Casa Comercial Malburg. Permaneceu no local por 4 anos, quando resolveu ir trabalhar na Firma Francisco Hauer de Curitiba. Após 3 anos, retorna de Curitiba para casa paterna, de bicicleta - que estava localizada na cidade de Pomerode. 

Casa Malburg
A atual Casa Malburg, localizado na Rua Dr. Pedro Ferreira, esquina com a Praça Vidal Ramos, construída de frente para o Rio Itajaí-Açu. Como firma, foi fundada no século XIX, e esta edificação histórica foi construída em 1915
A Cia. Malburg S/A foi fundada em 1860, por Nikolaus Malburg, imigrante alemão que se estabeleceu em Itajaí. Já tinha residido na sede da Colônia Blumenau. Em 1915, a família de Bruno Malburg se mudou para a casa assim que foi concluída sua obra e foi residência da família até 1937.

Arquitetura Casa Malburg 

Casal Rönick.
A Casa Malburg  de 1915, lembra muito as casas do início do século XX, que vimos na região do Mosela e também, na Francônia, Alemanha. O projeto foi assinado pelo arquiteto alemão Renhold Erdmann Rönick, que projetou outras casas de famílias pioneiras alemãs, na cidade de Itajaí. O arquiteto foi contratado por Bruno Malburg e sua construção, como já mencionado, foi finalizada em 1915. A título de registro, o arquiteto se casou  com Anna Germer, nascida em 15 de agosto de 1873 - em  18 de setembro de 1895. Rönick nasceu em 4 de julho de 1866 na cidade alemã  Halle e era filho de Heinrich Rönick e de Auguste  PalIas.
Halle - Alemanha.
O estilo da Casa Maldurg é o eclético, munido de muitos arabescos e elementos do neoclássico, como a simetria das fachadas, a presença da mansarda e do Keller - porão. Aberturas de madeira trabalhada com duas folhas, muito comum no Vale do Itajaí e estranhamente confundida com arquitetura francesa em algumas fontes. Também lemos em um texto, a expressão "estilo hanseático" para definir a arquitetura desta casa. Isto não existe. Nunca encontramos um estilo de arte que reportasse "estilo hanseático" e também, a arquitetura do pioneiro na região do Vale do Itajaí, seguia os estilos de arte usados na Alemanha. A Colonizadora Hanseática, como aportou meio século depois dos primeiros pioneiros na região, trouxe a novidade para a região, mas não possuía um "estilo" só seu. É preciso tomar muito cuidado com o que se escreve e se propaga nas redes sociais.
A família Malburg, empregadora de alguns dos nomes da história regional, foi muito mencionada, o que fez despertar nossa atenção. Tornou-se referência na economia de Itajaí e do Vale do Itajaí. 

Casa Malburg ao longo da História - Uso

Em 1937, a Casa Malburg deixou de ser de uso residencial e passou a ser a sede da Cia. Malburg S/A. Entre 1938 e 1948, a família Strenzel se instalou na casa histórica com um Hotel/pensão. Na década de 1960 a firma faliu. O local abrigou a sede da Cia de Seguros Minas Brasil, foi novamente de uso residencial, sede do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) e escritórios. Em 1986, a Casa Malburg sofreu um incêndio que destruiu parcialmente sua estrutura.  
Engenheiro Edy Genovez Luft - UFSC 1972.
Em 1988 foi criada uma comissão "pró-reconstrução do Casarão Malburg". Entre os anos de 1989 - 1992 ocorre sua restauração sob investimento do mecenas - Receita Federal e no local são instalados os seus escritórios. O engenheiro responsável pelo restauro foi o engenheiro Edy Genovez Luft e sua equipe. A partir de 1990, com um movimento em prol da casa, esta foi restaurada em 1990,  a partir de uma iniciativa e movimento sobre a importância da casa histórica, quando a Receita Federal a restaurou e ali passou a funcionar a Delegacia da Receita Federal. O conjunto da propriedade da receita Federal - complexo, recebeu um edifício novo, com tecnologia contemporânea.

Tombamento

A Casa Malburg  foi tombada pelo FCC – Fundação Catarinense de Cultura sob a denominação "Casa Malburg". O número de seu processo é Nº 168/2000 - Resolução de Tombamento: Decreto Nº 3.460, de 23 de novembro de 2001.
Descrição: Construída em estilo eclético entre 1912 e 1915, sofreu um incêndio em 1982, mas foi totalmente restaurada e reformada dez anos depois. Atualmente abriga a Receita Federal.




Em Blumenau, parte da família Malburg residiu na comunidade de Altona, nas proximidade da Cia Salinger ao lado do Novo Prédio da Cia Paul.
A primeira Princesa da realeza do Oktoberfest Blumenau 2010 foi Raquel Malburg.

Malburg - uma referência na História regional.

Referências

  • MÜLLER, Fernando. Uma Viagem Acidentada. Blumenau em Cadernos. Tomo XI, Setembro de 1970. N° 9.
  • Visite Itajaí. Disponível em: https://www.visite.itajai.sc.gov.br/historiaecultura. Acesso em 30 de janeiro de 2022.
  • Conclusões do autor - Taunay. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XXIII. N° 7. Juhlo de 1982.
  • KONDER, Gustavo. Um Preito de Saudade. Blumenau em Cadernos. Tomo XIII. Março de 1972. N° 3.
  • Leopold Hoeschl - Figuras do Passado. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo II. N° 12. Dezembro de 1960.
  • SEVERING, José Roberto. Itajaí e a Identidade Açoriana: A maquiagem possível. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC - 1998. 161p . Bibliografia; p. 147-61 - Orientadora: Maria Bemardete Ramos Flores. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Historia.


Leituras Complementares - Clicar sobre o link Escolhido:

Sob Revisão....














 

sábado, 29 de janeiro de 2022

Os Índios da Bacia do Itajaí - Relatório de Friedrich Deeke de 1877 - à Direção da Colônia Blumenau - Biografia do pioneiro da Família Deeke

Carl Friedrich Ferdinand Georg August Deeke.

O pioneiro da Família Deeke no Vale do Itajaí, antiga Colônia Blumenau, foi o  Carl Friedrich Ferdinand Georg August Deeke. Seu registro de imigrante é o N° 867 de 1858, portanto chegou ao Brasil em 1858.
Bräunrode, Saxony-Anhalt.
Friedrich Deeke, como o chamaremos na sequência da postagem, nasceu em 25 de março de 1829 em Bräunrode, Saxony-Anhalt, no território onde hoje está Alemanha. Foi irmão de Theodor Friederich Ernst Deeke.
Primeiramente, comprou, terras vizinhas ao do seu irmão Teodoro, em Limeira, no Itajaí Mirim. Dois anos mais tarde, avistando, durante uma caçada as montanhas da região de Blumenau, resolveu continuar a caminhada indo até o Stadtplatz - sede da colônia para pedir a mão de uma conhecida, com quem travara relações no navio da Europa, Christiane Johanna (Kristl) Krohberger. Casaram-se, ele com 30 anos e ela com 20 anos de idade - em 3 de janeiro de 1860Christiane  era irmã do engenheiro-arquiteto Heinrich Krohberger, de quem Deeke fora companheiro de viagem durante o percurso entre Alemanha e Brasil. Kristl nasceu na cidade de Beireuth, terra onde Wagner construiu seu teatro (link no final desta postagem. Depois do casamento, o casal ficou morando em Brusque até 1869, quando um incêndio, provocado por um tiro de pólvora, para matar uma jacutinga, pousada na cobertura de palha de palmeira, destruiu completamente a atafona. Mudaram-se para Blumenau, onde moravam os irmãos  de Kristl, entre eles Heinrich Krohberger. Alguns dos filhos do casal nasceram em brusque, como: Maria Giséla, Fides, Felix e Caetano. Friedrich (Fritz) e José (Maximilian Josef) Deeke nasceram em Blumenau.
O casal adquiriu diversos "chãos", nas proximidades da centralidade da Colônia Blumenau. Residiram até mesmo, no terreno onde mais tarde, foi construído o Teatro Carlos Gomes. Todo o local apresentava uma topografia acidentada.
 
Local da residência da família Deeke pioneira.
Local da residência da família pioneira Deeke. Nas proximidades da Rua Namy Deeke, onde foram demolidas duas tipologias históricas, pertencentes de seus descendentes. sobre uma das casas está sendo construído um arranha céu. 





























Resto da Propriedade de família - O local onde foi construído o Teatro Carlos Gomes, foi parte de sua propriedade, que, parcialmente continua em mãos de seus descendestes (1950). Ainda vimos casarões da família sendo demolidos, com postagens detalhando.
Em 2012, assistimos, sem poder fazer nada, a demolição da casa de infância de Niels Deeke - Casa de  Hercílio Deeke. Tentamos imaginar a sua reação diante do pouco caso com parte da História de Blumenau - inserida na paisagem central da cidade. 










Localização da Residência de Hercílio Deeke - Demolida no 1° Semestre de 2013.
Friedrich Deeke foi o comandante da Guarda de Batedores de Mato. Apreciava a mata., o que fez que boa parte de sua vida passasse em expedição na floresta, em prolongadas caçadas e a procura de minerais. Foi ele que descobriu e foi  concessionário das minas de prata no Garcia, mas não se lhe tornou possível explorá-la.
Foi grande pesquisador e conhecedor do mato, Mata Atlântica e prestou serviços à colonização. Foi-lhe confiado, por isso, o comando das “guardas”, como se denominam, nos documentos da época, os pelotões de vigilância do “Serviço de proteção contra os Índios”, sendo encarregado ainda de fazer estudos topográficos para a diretoria da colônia, durante as suas inúmeras excursões.
Índios Coroados. O termo coroados é a denominação
 atribuída  pelos imigrantes portugueses aos indígenas
de grupos de filiações linguísticas e regiões geográficas
diversas, por usarem o que se entendia como sendo coroas
 de plumas na cabeça. Foram assim chamados os
 caingangues de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
 Rio Grande do Sul. Fonte: Wikipédia.
O perigo de conflitos com os povos nativos, era um obstáculo para aqueles que promoviam a colonização, como por exemplo, Hermann Blumenau, que elogiava a eficiência da instituição das guardas, destacando, em especial, o trabalho de Friedrich Deeke. Por sua vez, Deeke buscou desmistificar de que os colonos alemães provocavam as tribos nativas. Foi orientado a encontrar um intérprete do idioma dos botocudos e o encontrou. descreve o ocorrido no documento publicado nesta postagem. Há registro de que encontrou Jeremias André em São Lourenço. Nesta época o Comandante das Guardas, também era denominado de "Capitão do Mato", principalmente no Vale do Itajaí, Norte do Estado de Santa Catarina e áreas vizinhas do Paraná, também em colônias alemãs. A pessoa encontrada por Friedrich Deeke era um caboclo, quando criança havia sido raptado por uma das tribos de nativos, conhecido Coroados. Viveu 4 anos junto da tribo, sendo que aprendeu o idioma botocudo de mulheres e crianças prisioneiras daquela tribo.
O projeto não vingou e os problemas de relacionamentos entre as tribos de nativos e os colonos 
prosseguiram. Foi dissolvida a instituição das guardas e Friedrich Deeke, orientou seus próprios recursos na expectativa de realizar um plano de pacificador: o entendimento com os habitantes primitivos desta terra. Além do cargo mencionado. Achamos muito curioso, que um de seus descendentes, no tempo presente, entre outros, apresentava o mesmo espírito e desejo de convívio pacificador com o nativos. Conhecemos pessoalmente Niels Deeke, bisneto de Friedrich Deeke, que tinham grande habilidade e respeito com as tribos nativas. Flava fluentemente o tupi guarani e viveu, algum tempo com tribos do Xingu. Pessoa de uma inteligência e conhecimento imensuráveis. 
Friedrich Deeke  ocupou outros cargos na vida pública, mas o seu principal campo de atuação foi na mata, por sentimento sintonia. O pioneiro da família Deeke faleceu na madrugada de 6 de setembro de 1895, seguido pela esposa em em 11 de abril de 1897.

Seus filhos foram:

Marie Gisele - nasceu em 1861 em Brusque. Casou-se com Hermann Baumgarten, proprietário de tipografia editor-proprietário do primeiro jornal de Blumenau - BlumenauerZeitung;

Fides  - nasceu em 1863 em Brusque. Foi o  primeiro tabelião de Blumenau e detentor de vários outros cargos, durante décadas seguidas, com o intervalo, apenas de sua demissão por ocasião da primeira queda do governo republicano de Santa Catarina. Participou da ação contra o comissário de policia Elesbão Pinto da Luz - que foi fuzilado em Nossa Senhora do Desterro (link no final da postagem), como todos os participantes no caso, este homiziado até que, por decisão do Supremo Tribunal, cessaram as perseguições aos mesmos. Durante a revolução de 1893-1894, ocupou o cargo de capitão, incorporado a Milícia Nacional, que se havia formado em Blumenau. Acompanhou as tropas legalistas sob a chefia do General Lima Câmara, ao Rio Grande do Sul, e depois de sua volta, em maio de 1894, foi agraciado por um  dos responsáveis pelo Golpe da Proclamação da República - o alagoano Floriano Peixoto, com o título de “Capitão honorário do Exercito Brasileiro” - quando foi reempossado no cargo de tabelião. Pode ter refletido sobre sua passagem polêmica pela política local, mais tarde, viveu retraído, exclusivamente dedicado ao trabalho e ao lar.

Felix - nasceu 1866  em Brusque. Colono em Rio do Sul, onde trabalhou na agricultura e criação de animais. Também foi conhecido por ser um exímio caçador.

Caetano Arthur Deeke - nasceu em 10 de agosto  de 1868 em Brusque. Foi durante muitos anos agente de terras no Stadtplatz de Blumenau e  mais tarde, foi inspetor de patrimônio do Estado e depois, titular da diretoria de Terras, em Nossa senhora do Desterro (Florianópolis). Foi delegado de policia em Blumenau no início do século XX.

Friedrich (Fritz)  - Nasceu em 1870 em Blumenau. Residiu em São Paulo, onde viveu toda sua vida. 

José Deeke se casou com Emma Rischbieter (1885-1950), filha de Karl Rischbieter e tiveram 5 filhos: Christiane, Victor, Ilse, Raul e Hercilio (1910-77); Prefeito de Blumenau (1951-56, 1961-66; Deputado Estadual 1955-59; pai de Niels Deeke). Ambos se dedicaram também à Literatura. José publicou em 1917 a História de Blumenau em 3 volumes, além de vários contos e cartas geográficas. Dona Emma colaborou com escritos em vários almanaques e jornais.
Maximilian Josef - o caçula nasceu em 12 de maio de 1875 em Blumenau e partiu em 24 de agosto de 1931. Foi engenheiro agrimensor e cartógrafo. Casou-se com Emma Deeke, filha de Karl Rischbieter, sendo em sua memória denominado o município catarinense de Dona Emma e foram pais de Hercílio Deeke, este pai de Niels Deeke.
Sua obra mais conhecida é Die Kolonie Hammonia que contém dados históricos e estatísticos da Colônia Hammonia (atual Ibirama) até o ano de 1922. Contribuiu com diversos artigos para o livro de Memórias em Comemoração dos 100 Anos da Imigração Alemã no Estado de Santa Catarina, tradução da obra Gedenkbuch zur Jahrhundertfeier deutscher Einwanderung im Staate Santa Catharina, editado originalmente, em Florianópolis no ano de 1929. Um de seus grandes trabalhos e que muito fazemos uso é o mapa de Blumenau em 1900 e também, de sua autoria, o mapa de Blumenau e municípios vizinhos de 1905. O jovem José Deeke aprendeu o ofício de agrimensor com o tio Engenheiro Krohberger (que tinha viajado com seus pais, ainda não casados, da Alemanha para o Brasil) - medição de terras dos lotes coloniais, no interior da Colônia. Em São Paulo, completou seus estudos com formação em cartografia, engenharia e matemática. Trabalhou como agrimensor independente, no interior da província de Santa Catarina - em Curitibanos e Campos Novos, a partir da Capital - Nossa Senhora do Desterro - atual Florianópolis. Com 29 anos, viajou para a Europa -1904. Neste mesmo ano  foi nomeado Engenheiro Chefe da Colonizadora Hanseática e com 34 anos foi nomeado Diretor, não somente desta colônia, mas de núcleos coloniais do Grupo Hammonia pertencente ao atual município de Joinville, que são: Hansa Humbold (Atual Corupá) e Itapocu e outro núcleo de São Bento do Sul. Mais sobre, link no final da postagem.

Como parte desta postagem e apresentada como um documento, destacamos um relatório feito pelo Capitão do Mato Friedrich Deeke, apresentado a Direção da Colônia Blumenau, com seus teor na íntegra. Este material foi publicado na Revista de Blumenau em Cadernos da década de 1960.

O Irmão Theodor Friederich Ernst Deeke

"Teodoro era de gênio arrebatado, violento. Conta-se que um dia, numa festa de batizado dos filhos de Frederico Deeke e de Teodoro Deeke (irmãos), numa das idas do pastor Hesse a Brusque, enquanto anfitriões e convidados se encontravam no lanche, as vacas que haviam arrebentado a cerca, penetraram nas plantações e as devoraram. O Deeke, fora de si, tomou de uma espingarda e fez fogo contra os animais, matando uma das vacas leiteiras. O gesto de Teodoro naquela época, que uma vaca era uma preciosidade na Colônia, estragou a festa, tendo os convidados manifestado de viva voz a sua desaprovação. O irmão Frederico, então, não pode conter-se e verberou acerbamente o gesto tresloucado do irmão, rompendo com ele relações que nunca mais se estabeleceram." Arquivo de Blumenau.com

Os Índios da Bacia do Itajaí

Relatório apresentado por Friedrich Deeke- então Chefe dos "Batedores de Mato, em 1877, à Direção da Colônia. Para se ter ideia da relevância deste documento, o grande José Deeke, que na verdade é Maximilian Josef, seu filho caçula, tinha somente 7 anos de idade.

"À Direção da Colônia Blumenau 
Relativamente à viagem que, autorizado pela direção da colônia, empreendi à província do Paraná com o fim de encontrar um intérprete do idioma indígena, permito-me fazer as seguintes comunicações: Segui, primeiramente, para a colônia São Bento, indagando dos brasileiros residentes nas proximidades e, também, de gente conhecedora do caminho que segue de Encruzilhada para Curitiba, que, entretanto, me asseguraram que eu não encontraria, nas redondezas, ninguém capacitado e que talvez fosse obrigado a seguir até Guarapuava, além dos Campos de Palmas, para achar um coroado dos lá aldeados. Dali segui para Rio Negro, Indaguei em Avencal, onde moram velhos colonos alemães, entre os quais João Clemente Sauer teve contato, no ano passado, e por mais de uma vez conversou com os botocudos e a quem eu desejava pedir conselhos. O mesmo me indicou um certo Jeremias André, morador nas vizinhanças de São Lourenço, assegurando-me que esse homem permanecera quatro anos entre os coroados, cuja língua falava bem, e que entendia alguma cousa do idioma dos botocudos, a qual ele teria aprendido de crianças botocudas, que os coroados haviam aprisionado Depois que, em virtude das minhas indagações em Rio Negro o nas imediações, eu me convenci de que, nesta província não encontraria ninguém perfeitamente habilitado na língua dos botocudos, visto como estes não tem absolutamente, contato com a população, apesar de existirem, nas proximidades, alguns botocudos que, há muitos anos, foram capturadas ainda crianças. Mas estes quase nada se recordavam da sua língua e, ademais, tinham verdadeiro pavor dos seus selvagens ancestrais, que por coisa alguma, entrariam no mato para servirem como intérpretes. Se fosse fácil encontrar-se um interprete para os botocudos, certamente teria um o Lopes, encarregado pelo governo do Paraná de pacificar os botocudos e que mora em Papanduva, nas imediações do Itajaí do Norte. Ele tem consigo apenas um coroado. Procurei, então o Jeremias André, que me fora recomendado, e lhe propus emprego na Colônia Blumenau por um ano, sob as condições estabelecidas pela direção. 
No planalto predomina a opinião de que os índios que habitam o território a leste do caminho para Curitiba, pertencem ao ramo dos botocudos e os de oeste ao dos coroados, fazendo estes, entretanto, incursões hostis no território daqueles, assim como os botocudos incursionavam pelo território dos coroados e desconfia-se que muitos dos assaltos que se verificaram no litoral, foram praticados pelos coroados; estes manifestaram, em Curitiba, terem conhecimento das patrulhas que vigiam a colônia Blumenau e, por isso, não deviam descer até ela. João Clemente Sauer, a quem, no ano passado, e por várias vezes, três botocudos visitaram na roça, contou-me que eles lhe teriam dito que moravam num grande descampado, ao sopé de um alto morro, que se supõe seja o Taió, ao Sul do Rio Negro; que eles também fazem plantações e que o seu pai, o cacique, era um homem branco, que tinha árvores frutíferas e à sua casa era como as nossas, e não suportava que eles roubassem de outra gente e quando eles lhe apareciam com coisas roubadas, as fazia devolver e que os que lá irrompiam, eram alguns dos bugres mansos, e eles, os botocudos, tiveram que sofrer as consequências; quietos nos seus ranchos, e sem culpa, foram eles atacados. E fora de dúvida que alguns deles tivessem saído para tomar parte em ataques. Aqueles que, há pouco, tomaram parte num ataque em Dona Francisca, foram sete dos seus homens, mas, no regresso, foram queimados por ordem do chefe. Ele, o botocudo, fora encarregado por seu pai para procurar um homem da nossa gente, mas, tentando fazê-lo, por duas vezes, fora escorraçado. O pouco de português que ele entendia, fora aprendido em cerca de três anos e nas oportunidades em que conseguira, sorrateiramente, aproximar-se, à noite, das nossas casas e paióis, trazendo sempre consigo carne para os cachorros, a fim de que estes o não traíssem. Quando o botocudo voltou pela segunda vez, ele quis dar a João Clemente um recado de seu pai, faltaram-lhe, porém, as palavras em português e ele não pode transmiti-lo. Ele pediu, entretanto, a João Clemente, que o acompanhasse, porque o seu pai era velho e não podia chegar até ele. Tendo João Clemente o convidado para que chegasse até sua casa e ali ficasse, negou-se a atendê-lo. O lugar em que eles moravam, seria, também, conhecido de outros e se chamava Pa-i-Kerée. Eles chamavam-se a si mesmos, ou eram pelos coroados denominados "Jochlem", em virtude do botoque que traziam no lábio inferior. Eles seriam, em Pa-i-kerée, em grande número, aproximadamente 2.000 e não seria aconselhável a estranhos aproximarem-se dos seus alojamentos. Eles, também, no ano passado, mandaram dizer ao Lopes, por intermédio de João Clemente, que ele poderia chegar a Pa-i-kerée se ele quisesse alguma coisa com eles até agora, não tinha atendido. Entre a gente do planalto, existe espalhada a crença de que os índios possuem nos seus alojamentos, muitos tesouros em prata, ouro e diamantes Muita gente tentou obter, do governo, licenças para atacar e acabar com os botocudos, provavelmente na esperança de uma boa presa. Eles, entretanto, asseguraram João Clemente, que nada os obrigaria a deixar o mato e a serem amansados pelo Lopes, e mesmo que cortassem a cabeça de todos, as suas carcaças continuariam lutando, porque a terra lhes pertencia. Apesar de tudo, no que pode deduzir de toda a sua conversa, que não seria impossível um entendimento amigável, principalmente agora, que eles estão apertados por todos os lados. Eu sou de opinião que deveríamos tentar, com o auxilio de um intérprete, chegarmos até os lugares mais próximos de onde eles atualmente se encontram e com eles entrar em conversações. Se isso não desse resultado, deveríamos, então, ir mais longe, até os lugares em que moram e, no caso em que eles fugissem de medo, deixar em todos esses lugares presentes que demonstrassem as nossas pacíficas intenções. No caso que os índios sejam mesmo botocudos e não cheguem às boas por intermédio do Jeremias, tomando-o como inimigo, visto como ele fala, principalmente, a língua dos coroados, não restaria outra solução às autoridades, senão procurar por todo o planalto os botocudos anteriormente capturados e aprender deles o que fosse possível da língua. Colônia Blumenau, 24 de julho de 1877
Frederico Deeke.

Observação: Por inúmeros percalços e ignorância, imigrantes portugueses e seus descendentes, na hora da transcrição dos nomes alemães para o "Brasileiro", sem - ou quase sempre - modificavam o nome das pessoas e "abrasileiravam". Nós sempre que pudermos, manteremos a originalidade do nome histórico. Por exemplo, o nome de "José Deeke" na verdade é "Maximilian Josef Deeke" e assim o denominaremos.  Frederico Deeke é Carl Friedrich Ferdinand Georg August Deeke. E assim ocorre com inúmeros nomes da história de Blumenau, infelizmente.

2022.


Referências

  • Arquivo de Blumenau.com. Disponível em: http://arquivodeblumenau.com.br/wp-content/uploads/2017/03/1d.pdf
  • Blumenau em Cadernos. Os Índios no Vale do Itajaí. Tomo III, N°3. Março de 1960.
  • CENTENÁRIO de Blumenau. 1850 - 2 de Setembro - 1950. Blumenau: [s.n.], 1950. - 1v.(varias paginações).il. Edição Comissão de festejos.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2. ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 P.
  • LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina: a terra, o homem e a economia. Florianópolis: UFSC, 1968.
  • VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Edifurb, 1995. 248p, il.

Leituras Complementares - Clicar sobre o Link escolhido: