segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Passando por Warnow/Ascurra - Comunidade Centenária - Ilse - Indaial SC

Há algumas décadas atrás, todas as localidades e nucleações urbanas do Vale do Itajaí pertenciam a uma mesma centralidade - Colônia Blumenau - cujo centro administrativo - Stadtplatz - estava situado na foz do Ribeirão Garcia no Rio Itajaí Açu - Atual Blumenau. Com o passar dos anos, por vários motivos, partes do território a colônia foram sendo gradativamente desmembrados.

Stadtplatz da Colônia de Blumenau - Área central
 “Boulevard Wendenburg”.  Atual rua das plameiras
 Início do século XX -  Foto Arquivo Histórico de Blumenau
Mapa com a localização dos municípios da Região do Vale do Itajaí - atual - e o Mapa da Colônia Blumenau, no início do século XX. Em ambos o traçado da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC - cujo primeiro trecho foi inaugurado em 3 de maio de 1909 - Blumenau a Warnow. A EFSC foi responsável pelo surgimentos de algumas das nucleações ao longo de seu traçado.


Passando pela comunidade de Warnow encontramos uma pequena comunidade luterana, batizada como Igreja da Graça - pertencente à comunidade Luterana de Indaial. Está localizada já na área rural  Município de Ascurra. 


Nesta pequena Comunidade, mesmo havendo o desmembramento de seu entorno - inserido no município de Ascurra, a comunidade continuou com fortes laços com a comunidade de Indaial e sem problemas burocráticos, prosseguem integrados à Comunidade Luterana de Indaial e por afinidade cultural. A colonização do núcleo de Ascurra foi efetuada, em um primeiro momento, por famílias de descendência italiana católica. 

A lado da igreja de graça encontramos um pequeno cemitério semi abandonado. É possível a leitura dos nomes de algumas famílias. Possivelmente alguns dos pioneiros que chegaram ao local e construíram o pequeno templo de oração e aprendizado, em 1886.
Um pouco de história sobre a região.

Os imigrantes, ao chegarem à sede da Colônia Dr. Blumenau - desde o ano de 1850 -  vão sendo redirecionados para ocupar e povoar o grande território da mesma, que se estendia às margens do grande Rio Itajaí Açu e seus afluente - atualmente localizado nos território que abrangem o Alto e Médio Vale do Itajaí.
Mapa da região de Santa Catarina com a localização do Vale do itajaí - em 1861
Localização do assentamento das famílias alemãs - Foto do mapa proginal - Arquivo Histórico de Blumenau
Durante os primeiros anos de assentamento, os imigrantes foram instalados em lotes coloniais ao longo dos leitos fluviais da grande bacia do Itajaí-Açu, desprovidos de qualquer infra estrutura. Naturalmente, os rios foram as primeiras vias de penetração e as canoas – primeiros meios de transporte.
Naturalmente, os primeiros núcleos urbanos eram assentados ao longo dos rios e ribeirões, onde os caminhos eram abertos à facão, no mato, para o interior do vale. Estas primeiras picadas e caminhos influenciavam nos traçados de novos lotes coloniais, de maneira a que pudessem ter acessibilidade à águaAs picadas abertas se transformaram em caminhos, depois em estradas para cavalos e estradas carroçáveis. Geralmente são as estradas que trafegamos ainda hoje. 
Para chegarmos à pequena Igreja da Graça, seguimos via Estrada Velha  rumo à Indaial- Rua Bahia (Em Blumenau) - Rua Dr. Blumenau (Indaial) e seguimos à localidade de Warnow, rumo ao município de Ascurra ou à BR 470. Na paisagem resquícios da História e das movimentações sociais destes primeiros pioneiros.



















As primeiras famílias de imigrantes se fixaram nesta região na década de 60 do século XIX. Mais precisamente nas margens do Rio Benedito e do Rio do Cedro, onde fundaram a povoação de Carijós, mais ou menos onde é hoje a sede da atual cidade de Indaial. 
Centro de Carijós - Atual Indaial

Indaial
Em 1862, a região compreendida entre o Stadplataz da Colônia Blumenau até a confluência do Rio Benedito - Indaial,  havia 165 quilômetros de estradas carroçáveis, e em 1864, a Colônia Blumenau estava com lotes demarcados e ocupados na margem direita do rio Itajaí-Açu, em toda esta extensão.

Para compreender um pouco, as pessoas, as quais construíram suas casas a partir da técnica enxaimel,  chegaram à região da igrejinha, por volta de 1880. Nesta época, aconteceram os primeiros assentamentos de imigrantes alemães na região que desenvolveria, mais tarde a nucleação de Warnow, localidade da Indaial atual. 
Mapa de Santa Cararina
Chegando ao local, uma das preocupações das lideranças destas famílias era o de construir o templo de orações e a Deustche Schule Ilse  Neifse  - escola. 
Imagem de 2 anos atrás

Construíram um único edifício com as duas funções e com o cemitério em anexo, onde foram sepultados seus familiares, em terras brasileiras.


Chegamos no local em silêncio respeitoso, no silêncio da natureza e da ausência de almas vivas.
Embora  tenha passado tantos anos após 1880 e aparentemente não tivessem famílias residindo nas redondezas, o local estava razoavelmente conservado.
Observamos o entorno, os detalhes construtivos de um tempo, que o imigrante tinha que produzir tudo, pois a dificuldade de locomoção e a ausência de estrutura era grande.
Detalhe do encaixe do enxaimel

Ladrilho hidráulico - etapa construída posteriormente - Talvez na
 década de 50 ou 60 do século passado a partir do tipo do 

material usado no piso

Última reforma, placa de inauguração e batismo recebendo o nome
Igreja da Graça

Bancos originais da antiga  Deustche Schule da Comunidade de Ilse

Altar - presente da Igreja de Indaial

Sótão e detalhes construtivos da estrutura da Igrejinha da Graça

Detalhes da estrutura do telhado - Encaixes sem pregos



Como já escrevemos, à direita, em uma parte mais alta do terreno está o cemitério, ainda visíveis os nomes das famílias. Á frente da igreja, a estrada, na parte mais baixa da extensão, permitindo o observar da paisagem às margens direita do Rio Itajaí-Açu.


Olhamos através das janelas, com duas folha envidraçadas com vidros colocados em almofadas, não por preocupação estética, mas pela dificuldade de os conseguir, em tamanhos maiores. Percebemos que , ainda há alguns destes vidros com características de que foram produzidos artesanalmente um à um - apresentavam sua superfícies onduladas. Olhando, através das vidraças nos deparamos com bancos compridos de madeira forte. Observamos também que a torre frontal, mostra indícios de que fora construída muito tempo após a construção do corpo da edificação, que também era uma escola.

Explorando um pouco mais a região, resolvemos caminhar um pouco,  rumo à Br 470 (Ascurra) e encontramos a residência da família RowederRaul,  Eroldina e sua família, guardam a chave da igreja e efetuam a manutenção, os preparativos para os cultos, tocam o sino e gentilmente nos receberam, nos convidando para adentrar a antiga edificação.
Campanário e o casal Roweder







Janelas localizadas no lado esquerdo,
 com a presença de paredes rebocadas


Sino no campanário
Observamos detalhes, como o campanário, que possui um sino. Mesmo construído tempo diferente da construção do corpo da edificação, há resquícios de que já sofreu reformas e modificações no estilo construtivo. No primeiro momento apresentava aberturas sem fechamentos com desenho na linguagem do imigrante, com características do neogótico e após algum reforma recebeu fechamento de vidros e portas, com abertura com o arco romano, influencia da arquitetura do imigrantes italianos. 
Pergunta - Seria a proximidade com a localidade  Ascurra?  Raul Roweder trabalha há mais de 20 anos na cidade Ascurra.. 
Detalhes construtivos, mudanças de
estilos durantes possíveis reformas

Visualização interna






Visualização externa

O casal Roweder nos permitiram observar os detalhes dos mobiliários de perto, alguns deles originais dos primeiros anos de funcionamento, como o exemplo dos bancos.

Detalhe do tinteiro dos primeiros frequentadores da escola, presente 
nos bancos  onde atualmente seus frequentadores 
 fazem as orações nos cultos luteranos
Na parede, a presença de importante registo que emociona. um registro da história, o rosto das primeiras crianças que estudaram no local no final do século XIX  e de seus professores. Professores que enfrentaram muitas dificuldades e privações para executar sua missão
Reflexão, talvez muitos destas crianças tenham seus nomes e de seus familiares gravados, ali ao lado, no repouso eterno.
Vista dos bancos originais do Século XIX vistos da escada que
 dá acesso ao campanário

















Professores e seus poucas "ferramentas" para repassar o conhecimento
O nome da escola e da localidade escritos na lousa

Meninas 

Meninos - Traços físicos de tipos originários  de algumas regiões do leste europeu e que na comunidade
 da Ilse iniciaram uma mesma História
Para compreender melhor a técnica construtiva desta histórica edificação - Igreja da Graça situada na atual Rua Teodoro da Fonseca, estrada antiga entre Indaial e Ascurra - acessar os link´s abaixo,  para leituras complementares - Basta clicar sobre os títulos.

Técnica do Enxaimel 
Blumenau - do Stadtplatz ao Enxaimel 
Um enxaimel de Arnsberg - Norte Vestfália
Uma Volta em Pomerode - Domingo a tarde

Museu da Hering - Obra de Hans Broos e Burle Marx


...Aprender e compreender a História presente na paisagem nos faz entender um pouco o que, quem e por que do resultado das interações a partir dos assentamentos e atividades do homem na paisagem natural e da paisagem construída em um determinado recorte de tempo. Desta maneira, podemos reproduzir os bons exemplos e evitar os mesmos erros, além de conhecer os agentes responsáveis pela formação da identidade cultural da coletividade a partir dos acontecimentos dentro da cronologia da linha do tempo.

Sr. Raul  e a Sra.Eroldina Roweder  elucidaram alguns pontos para que pudéssemos escrever um pouco de história  sobre a igreja da Graça, a qual existe desde 1886, naquela época, também com a presença da Deutsche Schule Ilse Neifse - nome da localidade nos primeiros tempos.


Um abraço à Comunidade da Ilse,
situada na Estrada antiga rumo à Ascurra.
Fazemos parte desta História
.

14 comentários:

  1. Que maravilha Angelina, parabéns! Quero conhecer!

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  2. É só via para cá que te levamos lá....é uma paisagem maravilhosa e original. Até quando, não sabemos.

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  3. Parabéns Angelina! Belo Trabalho. Esta região é linda mesmo. Bjos com saudades!

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    1. Oi Elisiana....!!
      Fiquei feliz com tua visita virtual nestas páginas de HISTÓRIA, que tanto amamos. Saudades, igualmente. Abraços de Blu .Quando quiseres, aparece por aqui.Vamos in loco.

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  4. Respostas
    1. Lindas paisagens, onde a ânsia do mercado imobiliário aidna não chegou! Abraços.

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  5. Olá Angelina!
    Muito interessante e bem construído este seu relato sobre está linda região do Vale!
    Esse registro merece ser lido por todos!
    Você conhece a Revista Indaial: conhecendo sua história? Acredito que essa publicação caberia lá. Essa revista é da associação de amigos do Arquivo Histórico de Indaial.

    Parabéns!

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    1. Que bom que gostou, Darlan. Não conhecemos a revista mencionada pelo amigo. Parece um bom espaço para irradiar conhecimentos históricos. Tentaremos encontrar seus contatos. Abraço Fraterno.

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  6. Adorei a matéria. Miha avó, Maria Sanches Tarnowski, morou na localidade de Ilze e Encano, próximo de Indaial. É filha de ANTONIO RAFAEL SANCHES e ANA SEGATTI (esta que é filha de Emilio Segatti e Amália). Tenho muita curiosidade sobre a imigração em SC. Gostaria muito de descobrir quando a fampilia SANCHES e SEGATTI chegou em SC.
    Obrigada por compartilhar.
    se alguém tiver informação para compartilhar, meu contato: caro_eing@yahoo.com.br

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  7. Belissimo trabalho Angelina...Meus parabens!

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  8. Parabéns pelo seu trabalho Sra. Angelina. Tenho lido seus artigos em busca de Jacob Heusser...que é trisavô de minha esposa um dos Pioneiros de Rio do Sul. Me chamo Cleber, meu contato - 47 98839-8441 - Ibirama SC

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