quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Mafra SC - Primeiro núcleo de colonização alemã de Santa Catarina - fevereiro de 1829

Ao centro a ponte metálica Dr. Diniz Assis Henning sobre o rio Negro - construída nos estaleiros da Compagnie Dyle et Baccalan, em Louvain, Bélgica. Montada em um ano foi entregue à comunidade de ambas as margens de  rio Negro no dia 22 de novembro de 1896 - o município era um só.
Wilhelm I proclamado como imperador da Alemanha - unificada 
 como país  em 1871, concluindo o processo de unificação.
 Foto: Wikipedia.
Da mesma maneira que até o ano de 1871, não existia Alemanha como nação, e mesmo assim, é dito que no início do século XIX, os primeiros grupos de imigrantes  "alemães" chegaram no Sul do Brasil, por se tratar da mesma região de onde vieram os pioneiros e, mais tarde, se tornou a nação alemã, podemos afirmar, que o município de Mafra foi a primeira localidade atual do estado de Santa Catarina que recebeu imigrantes "alemães", de maneira organizada. 


Mesmo que Mafra se tornou município e passou  a fazer parte do território catarinense somente em 8 de setembro de 1917, antes desta data, sua nucleação já existia e recebeu no dia 6 de fevereiro de 1829, os primeiros imigrantes alemães em seu território que contava com uma capela e uma pequena comunidade com um pouco mais de 100 pessoas
Podemos afirmar que em fevereiro de 2019 completou 190 anos de imigração alemã em seu território, juntamente com Rio Negro PR e em março de 2024, 195 anos.
Rio Negro/Mafra.
O município de Mafra foi criado a partir da povoação existente na margem esquerda do Rio Negro e que era parte do município Rio Negro, após o término da Guerra do Contestado. Ou seja, junto com o atual município de Rio Negro PR, formavam um só município às margens do Rio Negro, portanto sua história é pretérita a instalação de seu município. 
Alto Mafra SC - Residência Saade 1900 - Foto: Clic RioMafra.
Até o Século XVIII existiam na região, tribos de índios botocudos e também, o local estava na rota dos tropeiros oriundos do Rio Grande, em direção a São Paulo e Minas Gerais.
Já escrevemos que, em julho de 1824, ficou denominado que foi a data de chegada do primeiro grupo de imigrantes "alemães" organizados no Sul do Brasil na extinta Real Feitoria do Linho Cânhamo - em São Leopoldo - Estado do Rio Grande do Sul. Lembrando que nesse tempo não existia  o estado da Alemanha e que outros grupos de imigrantes que falavam a língua alemã já haviam chegado no país, como Nova Friburgo.

A ideia de imigração e colonização no Brasil passava pela necessidade de criação de uma nova classe média, branca e pequena proprietária, que desenvolvesse a policultura agrícola e o artesanato, povoasse áreas de fronteira e fosse capaz de abastecer cidades importantes. São Leopoldo cumpriu muito bem seu papel, muito mais do que Nova Friburgo ou qualquer outra tentativa anterior. Daí que, mesmo não sendo o projeto pioneiro, ele é considerado o berço da colonização alemã no Brasil.” TRESPACH, 2014.

Após 4 anos e meio, em fevereiro de 1829, chegou o primeiro grupo de imigrantes alemães às margens do Rio Negro, ocupando as duas margens. - nessa época território paranaense - Santa Catarina tinha outra configuração territorial. Estes pioneiros fundaram a Colônia de Rio Negro, ocupando as duas margens do rio. 
Santa Catarina em 1872. Mapa: Walter F. Piazza, Atlas Histórico de Santa Catarina - Secretaria da Educação de Santa Catarina, 1971.

Mapa da Divisão Administrativa de Santa Catarina, 1872 e 1907. 
O Decreto Federal nº 3.378, de 16 de janeiro de 1865, determinava: “Os limites entre as províncias do Paraná e Santa Catarina são provisoriamente fixados pelo rio Saí-Guaçu, Serra do Mar e rio Marombas, desde a sua vertente até o das Canoas e por este até o Uruguai” (Osvaldo R Cabral. História da Santa Catarina. Florianópolis: Secretaria da Educação, 1968). 

Também no ano de 1829 -  chegou um grupo de alemães na capital da Província de Santa Catarina -Nossa Senhora do Desterro, quando autoridades locais não estavam preparadas e após a quarentena do grupo,  realocaram-nos para uma região do continente onde hoje está a aproximadamente e atual sede do município de São Pedro de Alcântara. O grupo de alemães, em torno de 60 pessoas, chegaram ao local no dia 1° de março de 1829. Posteriormente, muitos destes se dispersaram, com o aval e o incentivo das autoridades catarinense, pela aridez e não adequação do solo para a  prática da agricultura. Muitas famílias destes pioneiros, chegaram ao Vale do Itajaí, mesmo antes do fundador da Colônia Blumenau - Hermann Blumenau, os quais auxiliaram o fundador de Blumenau nas primeiras iniciativas e empreitadas
Dentre os primeiros pioneiros relocados na região da atual São Pedro de Alcântara, muitos mudaram-se para o Sul do estado, outros subiram a serra, outros ainda, foram para o litoral e alguns retornaram para Nossa Senhora do Desterro, outros mudaram-se para o Vale do Itajaí, e até, para outros estados. Abaixo, um mapa feito por militares alemães - datado de 1905, não contempla a localidade de São Pedro de Alcântara como uma colônia alemã do Sul do Brasil, mas sim a Colônia Santa Isabel (fundada em 1847) e a Colônia Theresópolis (fundada em 1860), sendo que mostra a Colônia de  Rio Negro - na época formada pelos atuais municípios de Rio Negro e Mafra.
Mapa de acompanhamento militar alemão sobre as Colônias alemãs existentes no Sul do Brasil - ano de 1905 - Não há registro da Colônia de São Pedro de Alcântara no mapa. Há registro das Colônias de Rio Negro (1828), ainda parte das duas margens do rio, Santa Isabel (1847) e Colônia Theresópolis (1860).
Também, há outro mapa (regional do Vale do Itajaí) de 1905, feito pelo agrimensor blumenauense José Deeke, que ilustra os caminhos que interligavam as várias colônias alemãs, do Stadtplatz de Blumenau até a Colônia de Rio Negro, através de caminhos equidistantes entre nucleações urbanas, muitas vezes, cuidadosamente assentadas e planejadas, como foi o caso da nucleação de Pomerode  e outras. Caminhos que possibilitavam uma malha de caminhos até chegar a linha ferroviária que passava no centro do território da colônia mais antiga de Rio Negro, enquanto povoação,  localizada nas duas margens do Rio Negro.


Na virada do século XIX para o século XX, as famílias de imigrantes alemães de Rio Negro mantinham contato com as colônias alemãs de Santa Catarina, de Curitiba e com a Alemanha - para isso usavam os transporte ferroviário - viagens de trem, cujo trajeto seguia até o porto marítimo de São Francisco do Sul. 
As colônias mantinham suas práticas culturais trazidas pelo imigrante alemão e promoviam intercâmbio cultural regional, até o Conflito do Contestado e a política de Nacionalização de Getúlio Vargas e Nereu Ramos.

Ponte de Ferro sobre o Rio Negro ligando - a duas margens da localidade de Rio Negro - que recebeu em fevereiro de 1829 o primeiro grupo de imigrantes alemães de maneira organizada. Atualmente, o rio - desde 1917, é o local da divisa entre os estados de Paraná e Santa Catarina, sendo que a história pretérita foi o mesma - desde 1917, a povoação foi dividida, sendo que a da margem direita é Rio Negro PR e a da margem esquerda é Mafra SC.
Os dois municípios originários da decisão de 1917 -  atuais - Mafra e Rio Negro, formavam um só município que ocupavam as duas margens do Rio Negro
Historicamente, em 1816, os tropeiros pediram a D João VI, que fosse aberta uma estrada, ligando a Vila do Príncipe (LAPA), no Paraná, à Vila de Lages, em Santa Catarina. Também fazia parte do caminho aberto pelos paulistas entre Viamão - Rio Grande do Sul e Sorocaba em São Paulo. 
Mapa das Estradas de Cargueiros e Gado feito por Emil Odrebrecht - Ano de 1870. Observar que mapa também contemplou a estrada projetada - Serrastrasse - Blumenau - Curitibanos, tracejada.
No ano de 1828, foi construída uma Capela, junto ao caminho das tropas, que ficou conhecida como Capela do Rio Negro e a localidade tinha 108 moradores. 
Em 30 de junho de 1828, um grupo de alemães embarcou no veleiro Charlote Louise para imigrar para o Brasil. Chegaram no Rio de Janeiro no dia 2 de outubro, em janeiro em Antonina (Ver no mapa acima) e no dia 6 de fevereiro de 1829, em Rio Negro (na época território de Mafra e Rio Negro) - aproximadamente um mês antes do grupo que chegou na região de São Pedro de Alcântara.  
Rio Negro unificado.
De repente dividiram  o território do município em dois, cujo parâmetro foi o rio, sendo a margem Norte, pertencente ao Paraná e a margem Sul, pertencente ao estado de Santa Catarina -  caracterizando o uso do território do antigo município para delimitar as novas fronteiras entre os dois estados.
Isso aconteceu por conta das consequências do conflito armado conhecido pela Guerra do Contestado, que envolveu vários representantes da sociedades local, regional e interesses de alguns grupos federais -  desde  posseiros, pequenos proprietários, representantes religiosos, dos governos estadual e federal. O conflito teve início em outubro de  1912 e seu término em agosto de 2016.

Ao interessados para ler sobre o conflito - Clicar sobre: Guerra do Contestado e também, Clicar sobre: 100 anos do fim da Guerra do Contestado

Outras informações históricas de Mafra

Como já mencionado, Mafra - Santa Catarina -  tem sua história unida à de Rio Negro, no Paraná. Faziam parte de um território único.
A partir de 1894, a questão dos limites entre Santa Catarina e Paraná esteve em litígio, tendo sido feito acordo entre os estados no dia 28 de outubro de 1916 (Após o fim do conflito do Contestado). Após a sentença do Supremo Tribunal Federal, em 25 de agosto de 1917o estado de Santa Catarina tomou posse do território contestado, então, restaurando o município e demarcando seus limites
A instalação de Mafra - margem esquerda do rio que cortava o município de Rio Negro, aconteceu em 8 de setembro de 1917
Conselheiro Mafra
O nome escolhido foi uma homenagem ao jurista catarinense - Manoel da Silva Mafra, Conselheiro Mafra, que defendeu o estado contra o estado vizinho. As pessoas que residiam na margem esquerda de Rio Negro, tiveram que conviver com essa imposição, mesmo sendo separado da outra parte de seu município - quase semelhante a caso do novo nome da capital da província - "Florianópolis", homenagem ao algoz - Floriano Peixoto - de inúmeras famílias nativas de Nossa Senhora do Desterro.
Mafra SC.
Pessoas de Mafra falando sobre a chegada do grupo de imigrantes para a região em fevereiro de 1829.
Mafra, existindo com a chegada e a presença destas famílias de imigrantes "alemães" em fevereiro de 1829, poderá ser considerada a localização - agora - catarinense, como a imigração mais antiga "alemã" - de maneira organizada -  em solo catarinense, que na época, não o era, como também, a imigração não era alemã de fato, pois ainda não existia a nação da Alemanha, que foi criada somente em 1871, há 153 anos.

Cachoeira da Vila Ruthes, antiga fábrica de papel.

Rio Negro e Mafra - Antes e depois
A história é viva e poderá ser completada a todo o momento, de acordo com dados reais e atualizados.
Ponte metálica Dr. Diniz Assis Henning sobre o rio Negro - construída nos estaleiros da Compagnie Dyle et Baccalan, em Louvain, Bélgica. Montada em um ano foi entregue à comunidade de ambas as margens de  rio Negro no dia 22 de novembro de 1896 - o município era um só. Fonte: Blog Paulo José da Costa




















Referências

  • Brasiliana Fotográfica. Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em um álbum do início do século XX. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=16234.
  • Brasiliana Fotográfica. Instituto Moreira Salles. Álbum de Blumenau – Rua com casas na margem. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2627.
    BRASILIEN 3. Geschichte und Politik Überblicksdarstellungen. Disponível em: http://www.keller-schneider.ch/unterwegs/Brasilien03.html . Acesso em: 22 de junho de 2021 – 17:38h.
  • CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonização açoriana. In: CARUSO, Raimundo C.;
  • CASCAES. Franklin. Vida e cultura açoriana em Santa Catarina. Florianópolis: Cultura Catarinense, 1997. 118p.
  • SCHLICHTHORST, Carl. O Rio de Janeiro como é. (Título original – “Rio de Janeiro wie es ist, uma vez e nunca mais”): contribuições de um diário para a história atual, os costumes e especialmente a situação da tropa estrangeira na capital do Brasil. Tradução de Emmy Dodt e Gustavo Barroso, apresentada, anotada e comentada por este. Brasília: senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2010.
  • SHULTZE, Frederik. Alemães para toda obra. Revista de História da Biblioteca Nacional. Dossiê Alemães no Brasil – Organização Bruno Garcia. Páginas: 20 – 23. Ano 9, N° 102, março de 2014.
  • STEHLING, Luiz J. Stehling. Por que emigravam os alemães. Revista Blumenau em Cadernos, Tomo VI – N°3 de 1963. Fundação Cultural de Blumenau. Páginas de 52 – 53. Blumenau, 1963.
  • TRESPACH, Rodrigo. Alemães para toda obra. Revista de História da Biblioteca Nacional. Dossiê Alemães no Brasil – Organização Bruno Garcia. Páginas: 15 -19. Ano 9, N° 102, março de 2014.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
  • WITTMANN, Angelina. C.R.: Fachwerk – A técnica Construtiva Enxaimel. – 1.ed. – Blumenau, SC : AmoLer, 2019. – 405 p. : il.

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Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Um comentário:

  1. Que interessante a obra. Como adquirir?
    Casualmente preciso de informações dos Stephanes/Stefanes que vieram nas primeiras levas de prussianos e alemães para Rio Negro e Mafra.
    Aguardo contato. Maria Teresa.

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