Deustche Welle
De Cranach e Dürer até a Bauhaus e o Blauer Reiter, a contribuição alemã ao cenário artístico europeu se desdobrou de forma contínua e orgânica desde a Idade Média até a unificação tardia do país, em 1871. Se as tendências da virada do século 19 para o 20, sobretudo o Jugendstil, ainda eram marcadas pelo cultivo de peculiaridades regionais, as vanguardas modernistas vieram inaugurar antes e ao longo da República de Weimar o cosmopolitismo que marcou suas múltiplas tendências e movimentos. Toda a tradição que culminou na revolução modernista sofreria uma ruptura irreversível na década de 30, com a ascensão do nazismo.
Faxina estética e "arte degenerada"
A partir da ascensão dos nazistas ao poder, em 30 de janeiro de 1933, artistas e intelectuais judeus ou oposicionistas foram sendo afastados dos cargos públicos. Adeptos da arte moderna foram obrigados a abandonar os museus. A Escola Bauhaus — um dos centros fundamentais de ensino e propagação do modernismo nas artes visuais e na arquitetura — foi fechada no mesmo ano, pouco após ter sido transferida de Dessau para Berlim.
Em detrimento da diversidade das tendências artísticas coexistentes no início do século 20, o Terceiro Reich impôs um neoclassicismo ideológico como padrão artístico e reprimiu o abstracionismo como "arte degenerada". Entartete Kunst: este era o título da exposição itinerante que aplicou às artes os preceitos da teoria racial nazista. Só em Munique, onde foi inaugurada em 1937, a exposição foi visitada por dois milhões de pessoas; nas outras cidades onde circulou, por mais de um milhão de visitantes.
Catálogo da exposição sobre 'arte degenerada'
Entre os artistas de vanguarda depreciados na mostra estavam Marc Chagall, Otto Dix, Paul Klee e Emil Nolde. Uma parte das obras confiscadas dos museus foi leiloada em 1939, na Galeria Fischer, em Lucerna, ou então queimada no mesmo ano em Berlim. Os artistas que contribuíram para as inovações artísticas da República de Weimar foram obrigados a emigrar (W. Kandinsky, P. Klee, M. Beckmann, G. Grosz, H. Heartfield, B. Taut, W. Gropius, Mies van der Rohe), ou se mantiveram no país numa "emigração interior" (innere Emmigration) (E. Barlach, K. Kollwitz, E. Nolde, A. Jawlensky, O. Schlemmer, O. Dix, H. Scharoun). O exílio dos judeus e da elite cultural crítica, o Holocausto e as destruições da guerra eliminaram a base humana e material do que fora a cultura alemã até então.
Arte abstrata realibitada
Com a divisão da Alemanha após o término da guerra, o Leste e o Oeste tentariam preencher, cada um a sua maneira, o vácuo deixado pelo nazismo. Na República Federal da Alemanha (RFA), o resgate das vanguardas repudiadas pelo Terceiro Reich parecia ser o ponto de partida ideal para um recomeço. Em sua primeira edição, a documenta, exposição quinquenal de arte contemporânea internacional realizada em Kassel desde 1955, foi um marco decisivo na reabilitação das correntes modernas na República Federal da RFA.
A arte abstrata não apenas representava algo absolutamente antagônico ao nazismo, mas também uma linguagem considerada universal e uma vertente dominante nos outros países ocidentais, portanto, um vínculo internacional. Além disso, o abstracionismo fazia jus ao ceticismo do pós-guerra em relação à representação da superfície do real, e em conseguinte à mimese figurativa, e possibilitava uma introspecção, à medida que era visto como a linguagem adequada à interiorização, capaz de tornar vísível o invisível.
A arte abstrata do pós-guerra se distanciou das tendências mais geométricas das vanguardas e inaugurou uma tendência informalista que recusava regras de composição fixas e priorizava um traçado espontâneo e a livre combinação de ritmos e estruturas, técnicas próximas à écriture automatique dos surrealistas. Os principais representantes alemães da arte informal, diretamente ligada ao grupo École de Paris, fundado em 1940, são Karl Friedrich Dahmen, Wols (Alfred Otto Wolfgang Schulze) e Hans Hartung.
Outros grupos de artistas do pós-guerra, relacionados ao expressionismo abstrato norte-americano, ao tachismo surgido na França e ao informalismo especificamente nórdico do grupo COBRA (COpenhagen, BRuxelas e Amsterdam), são junger westen (K. O. Götz, E. Schumacher, 1948), Zen 49 (H. Trier, K.R.H. Sonderborg, F. Thieler, 1949), Quadriga (K.O. Götz, O. Greis, H. Kreuz e B. Schultze).
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