Uma das características da mesa de algumas culturas regionais da Alemanha atual e também das regiões de onde vieram os imigrantes para a Colônia Blumenau em Blumenau, ao longo de sua história - é uma fração da "gastronomia alemã" que conhecemos, da qual fazem parte bolos, cucas, doces, geleias, pães, embutidos, derivados do leite (nata, requeijão, queijos...).
Nós perceberemos essa tradição "Kaffee und Kuchen" muito forte no estado de Baden Würtemberg, diferentemente de alguns outros estados alemães, nos quais passamos.
Por que comentamos isso? Para lembrar que a Alemanha é uma "colcha de retalhos" cultural, que também tem "respingos" na gastronomia. Esse fato é muito confundido no Brasil - muito simplificando na frase que se inicia assim: "Alemão é.........!" - "Alemão gosta de comer....!" - Alemão não....!" Depende, depende e depende da região que tem origem sua família na Alemanha atual ou mesmo, em países vizinhos que possuam a cultura germânica.
A Colônia de Blumenau recebeu imigrantes de muitas regiões da Alemanha, que com o passar do tempo, misturou não somente a cultura entre imigrantes alemães, mas com outras culturas presentes nas proximidades da região onde se fixaram esses e há uma confusão ainda maior. Por exemplo: o bandoneon é um instrumento que veio junto com os imigrantes que moravam no norte da Alemanha e países vizinhas àquela região e não poderia, por exemplo, sonorizar uma apresentação de dança de um grupo de Schuhplattler, originário no sul da Alemanha, norte da Itália, Suíça e na Áustria.
Rolmoops |
Como também não é todo alemão que come Rolmoops - iguaria feita de arenque, peixe encontrado nos mares do norte e não nas montanhas do sul da Alemanha. Há muitos exemplos. Todos "as tribos" de imigrantes se encontraram, e ainda se encontram, na Colônia Blumenau e Blumenau e se irmanaram através da prática da língua, mesmo que alguns ainda falassem o dialeto de seu Heimat.
Uma dessas unanimidades da gastronomia dos imigrantes na região da Colônia Blumenau é o Café, que ficou nacionalmente conhecido por "Café Colonial" - café da colônia (povoação - localidade fundada e para onde viam os imigrantes e tornaram-se - os colonos - por morarem na colônia), ou ainda, o café, com tudo que tem direito e era, e ainda é, apreciado em uma mesa da casa do imigrante alemão que chegou à região. Atualmente, o Café Colonial é muito apreciado pelos residentes da região da antiga Colônia Blumenau e também, pelos visitantes, como também foi propagado em outras regiões do estado e do país.
Para ler sobre a Fluss Haus - Clicar sobre: Fluss Haus - São Martinho
Na cidade de Blumenau, há um local muito tradicional, o qual frequentamos desde o início da década de 1980 - o Cafehaus Glória. É "Cafehaus" mesmo, e não Kaffeehaus com já vimos alguns escreverem ao tentarem mencionar o espaço.
Na cidade de Blumenau, há um local muito tradicional, o qual frequentamos desde o início da década de 1980 - o Cafehaus Glória. É "Cafehaus" mesmo, e não Kaffeehaus com já vimos alguns escreverem ao tentarem mencionar o espaço.
Marca do Hotel Glória |
Marca do Cafehaus Glória - imitada por outros Cafés's Coloniais |
Um pouco de História...
A fundadora do Hotel Glória foi Rita Klemz Schaub (1930-2010). Rita nasceu na localidade de Blumenau - Ibirama (emancipada no ano de 1934). Em 1945, com 15 anos de idade, saiu de Ibirama para residir em Blumenau, onde trabalhou como babá dos filhos de uma tradicional família local. Permaneceu por algum tempo no emprego, quando saiu e foi residir com seus tios que também estavam em Blumenau.
Seus tios eram proprietários do hotel construído nos anos de 1950, sobre a Estação Rodoviária de Blumenau - nas proximidades onde está o atual Hotel Glória - na Rua Sete de Setembro.
Rita começou a trabalhar com os tios. Rita tinha seis irmãos. A união dos sete irmãos, possibilitaram que comprassem o hotel dos tios, nos anos de 1960, iniciando então, a história do Hotel Glória.
O café da manhã do Hotel Glória logo ficou conhecido pelas iguarias, qualidade, diversidade, sabores e versatilidade de opções que recebiam encomendas de toda espécie de doces e salgados.
Os pedidos e encomendas aumentaram tanto que no ano de 1977, Rita Klemz Schaub resolveu abrir o local - como uma Confeitaria e Café - anexo ao Hotel Glória - para o público em geral que desejasse tomar um café com acompanhamentos, em qualquer momento do dia, ou adquirir algum produto do estabelecimento - sem necessariamente - precisar ser hóspede do hotel. Para isso, Rita investiu e trouxe equipamentos e viajou para Europa em busca de receitas originais, as quais contribuíram para o diferencial. Rita controlava a qualidade dos produtos e o trabalho dos funcionários. Muitas vezes, aos domingos, punha a mão na massa e ela mesmo fazia sobremesas ou inventava novos bolos.
Rita residiu no próprio Hotel Glória até quando casou-se. Conheceu o suíço Hans Schaub, cujo primeiro contato aconteceu através de troca de cartas. Hans Schaub também trabalhava no setor hoteleiro, antes de vir residir em Blumenau. Casaram-se no ano de 1984 e não tiveram filhos. Rita ficou viúva no ano de 1996. Algum tempo depois voltou a residir no hotel. Faleceu com 80 anos no dia 4 de novembro de 2010.
Show dos Velhos Camaradas - com o Coro Masculino Liederkranz |
Com o passar do tempo, o Cafehaus abriu filiais na cidade de Balneário Camboriú, onde muitos blumenauenses veraneiam e também, em um shopping de Blumenau. Durante mais de 23 anos permaneceram nesse shopping até que em agosto de 2017, mudaram-se para sede própria nas proximidades da Vila Germânica - na rua Humberto de Campos.
O novo local está funcionando em uma amplo e novo espaço, onde podem sentar 150 pessoas simultaneamente.
Nesse momento da história do Cafehaus, como já mencionado, a marca mudou - final de ano de 2017. Foi usado o slogan "A marca mudou, mas a tradição continua".
Uma observação: a tradição é contínua - não é produto e não muda - por isso é tradição. Nossa opinião é de que a marca deveria continuar a mesma, por mais 40 anos e outros tantos mais. Nesse ano de 2017 o Cafehaus completou 40 anos e vimos outras marcas de café coloniais se inspirando em sua marca e tradição.
A tradição não é produto e nem tampouco descartável. Mesmo o produto - como a Coca Cola, por exemplo - não muda sua identidade.
A tradição não é produto e nem tampouco descartável. Mesmo o produto - como a Coca Cola, por exemplo - não muda sua identidade.
Nós conhecemos o Cafehaus desde o ano de 1982, quando estávamos bem instalados na cidade de Blumenau. Percebemos que também houve mudanças nos sabores e receitas - ao longo desses mais de 40 anos de história - como por exemplo - a tradicional torta de morangos que não tem mais o recheio do suspiro e a presença da nata que tinha antes. Também seu tamanho - altura - não é mais o mesmo.
Na semana que passou - no sábado a tarde, fomos conhecer a nova filial do Cafehaus na cidade de Blumenau. Além da gastronomia, encontramos boa música regional no local com a apresentação de dois profissionais reconhecidos - os músicos Andreas Von der Heyde e Bruno Alfredo Frantz - no violão e bandoneon respectivamente. Ficamos sabendo que no domingo, o espaço conta com a apresentação do pianista Geraldo Bispo.
Espaço muito agradável.
Espaço muito agradável.
Poderia-se afirmar que uma boa mesa, boas companhias, bom papo, banhando com boa música, marcam os bons momentos.As imagens comunicam...
Conversando...
Resquícios e marcas de uma região que já foi uma unidade (em vários aspectos - a começar pelo especto do território) em outros tempos. Como assim?
Observemos os dois músicos - Andreas Von Der Heyde descendente de uma das primeiras famílias alemãs que vieram para a região (Anos de 1840), antes mesmo do que Hermann Blumenau - descendente de Pedro Wagner. Nascido em Pomerode (Ex região da Colonia Blumenau), reside em Timbó (Ex região da Colonia Blumenau) e está fazendo música em Blumenau - até a música dos antepassados, pois é um erudito eclético, que toca a música do mundo - tem doutorado em música, conquistado na cosmopolita cidade de Berlin - capital da Alemanha. Bruno Alfredo Frantz, tem 22 anos de idade - toca bandoneon (por vocação) há mais de 10 anos de idade de maneira intuitiva e por amor à música. Parte de sua família foi uma das primeiras famílias do atual bairro Escola Agrícola. Toca em várias cidades da antiga Colonia Blumenau - principalmente na cidade de Pomerode.
Isso faz é parte da identidade cultural dessa região. Grande sinapse!
A tradição é atemporal e desprovida de valores monetários - pois tem relação com a educação e com a cultura de um povo, os quais poderão gerar divisas, como consequência. Isso é possível quando essa tradição é responsável pelo prazer e lazer no local onde ocorre sua manutenção - a cidade. Outros, visitantes, terão o desejo de conhecer e encontrar o local que tem sabores, harmonia e alegrias no seu meio. É natural.
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