segunda-feira, 24 de abril de 2023

Casamento na Comunidade da Barra do Rio Cerro e festejado em Rio da Luz - Jaraguá do Sul - Tradição - 2023

Há alguns anos conhecemos o casal Eliane Scheidt Töwe e Anderson Töwe, noivos que fizeram questão de lembrar seus antepassados e vivenciar cada momento de seu casamento, a partir da tradição de casar de seus pais, avós, avós de seus avós, descendentes de pioneiros que ajudaram a construir cidades na região. A noiva, Eliane, arquiteta que conhecemos na sala de aula de sua formação profissional. Nesse período, informalmente nos contou sobre o projeto que ela e seu noivo pretendiam executar, restaurar a casa do Opa dele. Ele, o noivo - jovem autodidata que assumiu para si, a responsabilidades e decidiu que assim seria, restauraria a casa de seu Opa. Tornou-se então "construtor de enxaimel" e restaurador de enxaimel, além de tocador de bandoneon, que já era. Conhecemos o noivo no palco de uma das tradicionais festas da região, onde naturalmente, encontramos Eliane. O tema "enxaimel" nos aproximou e as trocas foram permanentes. Nesse ano de 2023, tivemos a honra de receber o convite desses jovens especiais, para estar nesse momento precioso da história de sua família e também, na formação de material histórico das práticas da sociedade do presente, para o futuro, o de seu casamento que contou com momentos tradicionais, vividos por seus antepassados.

Um pouco de História
Família Töwe pioneira - Século XIX
O pioneiro da família Töwe, Johann Karl Heinrich Töwe era de uma família de luteranos. Seu pai  era Johann Heinrich Töwe e sua mãe Dorothea Louise Karoline Fedler (Nasceu em 1822 em Gross Poplow e partiu em 19 de abril de 1876, na mesma cidade) Töwe. Johann Karl Heinrich foi confirmado em 2 de abril de 1871, na igreja luterana de Gross Poplow - estado da Prússia. A Alemanha já existia como País desde 18 de janeiro de 1871 e a cidade de  Gross Poplow pertencia a Alemanha - Estado da  Prússia. Portanto, o noivo, Anderson Töwe é descendente de prussianos.

Mapa da Alemanha unificada em 1871. Fazia parte de seu território, grande parte do território da Polônia atual e de onde vieram muitos imigrantes para a Colônia Blumenau, como por exemplo - os Töwe.



Johann Karl Heinrich Töwe conheceu Caroline Wilhelmine Henriette Viebranz e o casal se casou em 16 de março de 1880 - em Polzin, estado da Prússia (azul no mapa acima), um pouco antes de embarcar para o Brasil, destino Colônia Blumenau. O que desencadeou as decisões neste período? O Casamento? A viagem?
Caroline Wilhelmine Henriette Viebranz nasceu na cidade de Dewsberg (atual região da Polônia - cidade de  Dziwogóra), em 14 de fevereiro de 1856.
casal Töwe se casou em março de 1880 e, em 30 de  abril desembarcou no Rio de Janeiro - Brasil, vindo de Antuérpia no navio Leipzig, cujo destino final foi a Colônia Blumenau.
A propriedade Rural - Uma pequena fabriqueta de produtos alimentícios
feitos a partir do excedente da produção da propriedade, do pomar, horta,
 roça e da criação. Belo esquemático. Livro Centenário de Blumenau.
Johann Karl Heinrich e Caroline Wilhelmine Henriette devem ter passado por todo o processo conhecido por todas as famílias pioneiras que passaram pelo galpão dos imigrantes na sede da Colônia Blumenau. Após a aquisição do lote colonial, o homens ou homens se deslocavam até o local de sua aquisição, usando cursos d'água e picadas existentes, para efetuar a derrubada da mata, limpeza do terreno e preparo para os primeiros plantios, a construção da casa provisória e depois voltavam à sede da colônia para buscar as mulheres e crianças. Não há qualquer informação oficial sobre esta questão, mas pela data do nascimento do primeiro filho do casal, dois anos após o casamento se deduz que houve um tempo grande de afastamento. A primeira filha nasceu em 24 de janeiro de 1882 e se chamou Alwine Marie Anna Töwe (+1957)
Os Töwe, como era costume dos imigrantes na época, preparam o chão para receber sua casa permanente. O casal, teve mais filhos, praticamente uma média de um por ano - no tempo seguinte. Ainda residia na casa provisória, que por certo depois tornou-se o rancho da propriedade.
São os filhos:
  • Marie Anna Töwe - nascida em 24 de janeiro de 1882;
  • Gustav Karl Wilhelm Töwe - nascido em 17 de fevereiro de 1884, este é o antepassado de Anderson Töwe;
  • Marie Luize Emilie Töwe - nascida em 08 de março de 1886;
  • Hermann Otto Albert Töwe - nascido em 07 de outubro de 1887;
  • August Wilhelm Karl Töwe - nascido em 06 de dezembro de 1889, avô de Marli Töwe.
Um dia após o nascimento de seu último filho e em poucos tempo para completar 10 anos de casamento, este ocorrido no seu Heimet, a jovem Caroline Wilhelmine Henriette Töwe, com 33 anos de idade, faleceu por complicações pós parto, deixando 5 crianças pequenas e seu esposo Johann Karl Heinrich. 
Johann Karl Heinrich Töwe casou-se novamente com uma senhora que também, tinha filhos. Era preciso organizar sua casa e sua família. Sua segunda esposa foi Bertha Magdalena Laube, filha de Johann Gustav Robert Laube, colono em Bodebach e de Alwine (nascida Brettschneider) que nasceu em 26 de novembro de 1869. Foi casada em  Bodebach,  com Albert Rebrin, com qual teve os filhos Oscar e Ida. Casou-se com Töwe  e em 1892, nascia Rudolf Töwe, o primeiro filho do casal, que teve mais 5 filhos, contando com o pequeno Rudolf. Neste tempo Bertha tinha 24 anos incompletos.
  • Rudolf Töwe - nascido em 23 de outubro de 1892;
  • Luiza Amanda Klara Töwe - nascida em 12 de outubro de 1895;
  • Wilhelm Friedrich Karl Töwe - nascido em 16 de novembro de 1898;
  • Karl Johann Heinrich Töwe - nascido em 26 de novembro de 1902;
  • Bertha Emilie Marie Töwe - nascida em 10 de setembro de 1905.
família Töwe permaneceu em Alto Benedito somente até 1904. Johann Karl Heinrich Töwe comprou terras em Jaraguá do Sul, que segundo Anderson, apresentava melhores características para o plantio com uma topografia mais plana. Gustav Karl Wilhelm Töwe - nascido em 17 de fevereiro de 1884, era pai do bisavô de Anderson Töwe. Ele recebeu do pai Johann Karl Heinrich, o terreno em Jaraguá do Sul, como presente  de casamento e também deu terrenos como presente de casamento, aos seus filhos, como por exemplo a Alwin Töwe, bisavô de Anderson Töwe.
Gustav Karl Wilhelm Töwe e Jaraguá do Sul com sua esposa e no colo da mesma Alwin Töwe - bisavô de Anderson Töwe.
Após o nascimento do 5° filho do casal, a família se muda para Jaraguá do Sul, onde viveu o Opa do Anderson, Bruno Töwe e sua esposa Adi C. Töwe - pais de Leomar Töwe. 
Descendentes de Alwin Töwe, filho de Gustav Karl Wilhelm Töwe, sendo que o mais jovem é  o noivo Anderson Töwe, à esquerda de camisa branca. Sentados estão o Opa Bruno Töwe e a Oma Adi C. Töwe.
Os pais de Eliane, agora arquiteta, são Nelson Scheidt e Elvira Pfleger Scheidt, de famílias oriundas da Colônia Santa Isabel, região atual de Aguas Mornas e Rancho Queimado, cuja migração para a região acontecia pelo Alto Vale do Itajaí, a partir de Ituporanga e se fixou em Pomerode.
Não pretendíamos registrar os momentos, mas foi impossível não fazê-lo como momentos preciosos de uma tradição vivenciada por gerações dentro desta mesma família, com detalhes ricamente organizados pelos noivos, que emocionaram a todos. Deixaremos um pouco desses momentos para a história, materializada no tempo presente, para o futuro.
O casamento de Eliane e Anderson aconteceu na manhã do dia 16 de abril de 2023, às 9h45, na Paróquia Evangélica Cristo Bom Pastor, Rio Cerro II. O pastor oficiante foi o pastor Bernt Emmel.
Terminado a cerimônia religiosa, o casal seguiu de trole da residência Töwe até o local dos festejos do enlace, que aconteceu no Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz, especialmente preparado para o momento, com a participação diretos dos noivos
Os noivos chegaram ao local de trole, na companhia de um músico que tocava bandoneon e as daminhas de honra. 



O local da festa recebeu as bandeiras das regiões de origem dos antepassados dos noivos - pioneiros. Uma homenagem ao Opa e a Oma, também aconteceu no momento da cerimônia, na igreja.
Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz com as bandeiras da Pomerânia e do Império Alemão - usado na grande Colônia Blumenau, nas primeiras décadas de sua história, pelos pioneiros e também pelos antepassados dos noivos. 
Como já mencionamos em outras publicações e pesquisas, a bandeira foi, e é, um símbolo muito importante para a cultura alemã - e, esteve sempre presente nas primeiras nucleações urbanas fundadas por imigrantes alemães na região do Vale do Itajaí, cuja característica da linha histórica das artes adotadas, reporta à idade média, onde os brasões e bandeiras possuíam importância, entre outras coisas, por distinguir as famílias e exércitos dentro da estrutura social dos povos que viviam naquela região - no feudalismo. 
Os noivos também usaram, de maneira tradicional, as bandeiras da Pomerânia e do Império Alemão, a mesma usada em muitas casas comerciais de oficiais da Colônia Blumenau do final do século XIX e início do século XX.
Neue Deutsche Schule - Stadtplatz Colônia Blumenau.


Edificação na Rua XV de Novembro, na frente da Igreja Católica.



Por que existiu a bandeira com as cores preto, branco e vermelha?

bandeira com estas cores é exatamente a bandeira que está hasteada nas fotografias das edificações da Colônia Blumenau, no final do século XIX e início do século XX - postadas no início desta postagem. A Colônia Blumenau não possuía uma bandeira oficial, e as pessoas hasteavam a bandeira alemã com as cores preto, branco e vermelha.
A bandeira com a combinação de cores preto, branco e vermelho foi criada em 1866 e representava a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte e do Império Alemão (Império de 1871 a 1919).
No Império, as cores preto, branco e vermelho tornaram-se cores nacionais amplamente aceitas e a partir de 1892, tornou-se a bandeira nacional oficial a Alemanha unificada. 
Isso aconteceu porque quando foram criar a bandeira após a fundação da Confederação da Alemanha do Norte, em 1866, Otto von Bismarck disse: 
“Pelo meu bem, o verde e o amarelo e o prazer de dançar ou a bandeira de Mecklemburgo-Strelitz. Somente o tropa da Prússia (rei Wilhelm) não quer saber de preto-vermelho-amarelo.“ 
Adotaram então a bandeira com as cores preto, branco e vermelho - e diziam que são as cores que representam de fato a vida, os primeiros desenhos rupestres nos períodos neolíticos e paleolíticos de seus ancestrais e também de todo o mundo, pois são feitos de giz, ocre e fuligem. As três cores juntas irradiam grande força e vitalidade.
Deutschland - Allemagne
Deutscher Orden
Bandeira da Ordem Alemã.
A união das cores da Prússiapreto e branco e das cidades estados do norte da Alemanha - branco e vermelho - como preto e branco e vermelho explicam a bandeira. 
Alguns historiadores afirmam que os criadores da bandeira também se inspiraram na história cristã prussiana antiga descrita em "A Ordem dos Irmãos da Casa Alemã de Santa Maria em Jerusalém",abreviada, "Ordem Alemã". Depois de Johanniter e Templários, a Ordem Alemã foi a terceira maior ordem no tempo das Cruzadas. Seguindo o exemplo dos templários, usavam o jaleco branco e a cruz vermelha substituiu a preta. As cores da Prússia também eram preto e branco.
Lembramos que a Prussia havia encampado, territorialmente, a Pomerânia e um grande número de prussianos/pomeranos imigraram para a Colônia Blumenau, antes e depois de da data de unificação alemã - 1871. Portanto aqueles que vieram depois utilizavam a bandeira preta,  branca e vermelha. 
Alguns historiadores ditam uma versão de que o espírito "antidemocrático" de Otto von Bismarck foi o motivo do mesmo não aceitar a bandeira com as cores preto, vermelho e dourado. 
Não foi bem assim
Durante o ano da revolução de 1848 e na guerra alemã de 1866, inimigos da Prússia lutaram sob as cores da outra bandeira e isso não foi bem aceito - tornar a bandeira de guerra dos oponentes da Prússia, a bandeira da Confederação da Alemanha do Norte. 
Na Guerra Franco-Prussiana, os soldados alemães lutaram sob a nova bandeira e a içaram entre outras coisas, em 19 de janeiro de 1871 no conquistado Fort Vanves, em frente a Paris. Após a proclamação do Reich alemão, tornou-se a bandeira do Reich e permaneceu bandeirada Alemanha até 1919.
A população do império identificou-se com as cores e as cantou em numerosas canções patrióticas, uma vez que o antigo desejo de um império unificado havia finalmente se concretizado - também na Colônia Blumenau.  A aquisição de colônias sempre foi simbolizada pela elevação da bandeira imperial e está documentada em inúmeras pinturas e fotos como estas da Colônia Blumenau, mesmo que aparentemente invertidas - e que nesse tempo, ainda não possuía a sua bandeira e territorialmente, abrangia os territórios do Médio Vale do Itajaí e do Alto Vale do Itajaí.
Colônia Blumenau na Virada do Século XIX para o Século XX.
O Casamento

Não seria exatamente dentro da cultura pomerana, ou da "moda pomerana", mas sim, de uma época, como aconteciam os casamentos na Colônia  Blumenau, em suas primeiras décadas de história. Alguns até dizem, também erroneamente, que os casamentos pomeranos apresentavam suas noivas vestidas de preto, o que também não procede. Link no final da postagem explica  isso.






Cerimônia na Igreja Evangélica de confissão Luterana - Paróquia Bom Pastor Cerro II teve um pequeno atraso. Tradicionalmente contou com a presença de casais caprichosamente trajados. Eles com um pequeno ramo na lapela e elas vestidas dentro de uma variação do "rosa envelhecido" em trajes longos. 

A noiva entrou na igreja sozinha, seguida por seus pais, e já aguardada por seu noivo, Anderson.



A cerimônia oficiada pelo pastor Bernt Emmel contou com a apresentação da história da família e do casal em sua trajetória de dedicação ao Opa e Oma Töwe, cuja fotografia foi depositada sobre o altar.











Após as bênçãos finais os noivos saíram da igreja após seus pais e foram homenageados pelos padrinhos, na porta igreja, com chuva de pétalas de rosas.























Durante a cerimônia religiosa houve música de violão e violino, onde a musicistas tocaram durante o culto e também, na nova entrada dos noivos na igreja para os registros com a familiares e testemunhas.










A festa, com um almoço festivo, aconteceu no Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz, localizado 13 quilômetros afastados da igreja. No caminho está localizada a residência dos noivo, da qual tomariam uma coche e foram levados ao local onde amigos e familiares o aguardavam.





Espaço Tradição do Vale do Rio da Luz
Almoço, serrador, tiro, música, buquê da noiva, gravata do noivo, dança, e "quebra caco"....
















As imagens comunicam...
No final, alguns vídeos.



Pastor aguardando.



































































































































































































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Vídeos









Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)

 

Leituras complementares - Clicar sobre o link:


Agenda:

  • Dia 10 de maio estaremos lançando o Livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura Volume 1″ no espaço Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina – ALESC, Florianópolis.












Um comentário:

  1. Belos registros do casamento, somente tenho uma curiosidade, porque o noivo está usando uma cruz de ferro? Algum de seus familiares ganhou no passado?

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