Angelina Wittmann - Arte-Cultura-História e Antropologia : Momentos e nossa fala na Abertura da Exposição do jornal O Município Blumenau "No Alvo da História"

O jornal O Município Blumenau realizou o lançamento da exposição “No Alvo da História” no espaço de Blumenau Norte Shopping, em 31 de agosto, às 19h, com a presença de entidades ligadas à cultura do Schützenverein, autoridades, equipe do jornal e convidados. Como titular da coluna do jornal: Registro para a História, recebemos a incumbência de emitir algumas palavras sobre o momento e o fizemos - no sentido de mostrar à sociedade presente, que a partir de sua origem, na Alemanha, país de origem dos pioneiros que fundaram as cidades da região, até o tempo presente, a prática das Sociedades de Tiro por lá é muito atual e rodeada de tradição e cultura, fato desconhecido por muitos em nossa região e mesmo, no país.

Nossa fala:

No alvo da história, homenagem aos mais de 40 clubes de Caça e Tiro de Blumenau

É uma honra estar aqui neste momento com representantes do jornal O Município Blumenau, Blumenau Norte Shopping e todos os demais envolvidos com esta prática centenária, trazida para a região pelos mesmos pioneiros que construíram fábricas, estradas, escolas ... CIDADES.
Para conversar com vocês neste momento, mesmo já tendo participado das práticas dos Caça e Tiro de nossa cidade e da região, quisemos compreender mais. Para isso, lembramos do saudoso professor de estabilidade, Chico, no curso de Arquitetura da FURB. Ele dizia: “Quer aprender sobre determinado tema ou assunto? Crie um curso.” Para nós, criamos um artigo "A tradição da Schützenverein, sociedade de atiradores, no Brasil e na Alemanha" da coluna dessa semana. Somos entusiastas e curiosos na busca de fatos históricos, para obtermos melhor compreensão.
O que seria realmente um Clube de Caça e Tiro, que também vem sendo muito mal interpretado dentro de outras culturas dentro neste país continental que é o nosso Brasil?
Sempre ouvimos que tem relação à tradição dos pioneiros. Correto.
Prática, que atualmente é lazer no Brasil e também lá na Alemanha. E tampouco relacionada com coisa velha.
Na Alemanha e em países de língua alemã, os Clubes de Caça e Tiro são os Schützenverein. Traduzindo, Sociedade de Atiradores, que são associações voluntárias de tiro, tanto em nível olímpico, quanto de armas históricas.
Em nosso artigo desta semana, do jornal O Município Blumenau, ficamos sabendo que essas associações se originaram nas cidades independentes medievais da Alemanha, como uma forma de organização de autodefesa local. Em especial contra abusos dos senhores feudais, do poder real, bem como, uma maneira de fornecer segurança à cidade contra saqueadores e invasores, e à própria casa de cada família.
Atualmente, as Schützenverein – Sociedades de Atiradores – estão presentes com esse mesmo nome, na Alemanha, Áustria, Tirol Meridional (Itália) e Suíça. Os membros praticam tiro esportivo com regras específicas.
O Homem é tão maravilhoso, por sua inteligência e engenhosidade, que sempre transformou limões em limonada, e o treino para guardar sua cidade e casa do caos instaurado após a queda de Roma, resultou em atividade de encontros entre amigos (mesmo ocorrendo alguns duelos) e esporte. Também o resgate da besta...
Os momentos tumultuados e inseguros se foram, ao menos de certa forma. E o esporte e lazer permaneceu, sendo este repassado de uma geração a outra, sendo motivo para se usar o traje, ouvir uma boa música e degustar iguarias da culinária alemã na companhia de familiares e amigos.
A tradição? Está em atingir a honra de ser um rei, ou uma rainha do Tiro, do Pássaro, senhores máximos no período feudal e que caracteriza o tempo nacional na Alemanha, dentro de seus hábitos e costumes e também nas histórias dos irmãos Grimm.
Lá, como aqui, houve uma retração das práticas em períodos conturbados, mas nunca deixou de existir.
Quando o pioneiro chegou à região, tinha uma lista de coisas para providenciar (tudo). Fazer a cabana, limpar o terreno, fazer a primeira plantação/primeira colheita, fazer a casa temporária e, na sequência, a casa permanente. Na comunidade: na forma de mutirão, precisavam fazer a escola/Igreja, as picadas, as estradas, as pontes. Estas pessoas tinham as práticas de lazer em seu Heimat e devem ter praticado o tiro, sem sede, como também trouxeram seus instrumentos de sopro e percussão. Não havia conjuntos, mas é claro que enchiam o ambiente rude de início de cidade de melodias e versos.
Depois de um tempo, surgiram os corais, as bandas, grupos de teatro, as Kapele e, claro, a sede do primeiro Schützenverein: Schützengesellshaft Blumenau.
Dentro da pesquisa na região do Vale do Itajaí, observamos que algumas coisas se reptem de maneira muito curiosa, com fatos que aconteceram no Heimat dos pioneiros. A casa enxaimel construída na região passou por uma evolução, dentro de um corte de tempo bem menor, mas passou semelhante àquele que aconteceu em solo alemão. A casa com paus fincados no chão, fechada com bairro e taipa e coberta com galhos. Na Alemanha, isso aconteceu até a idade média, nas regiões rurais e depois a técnica foi sendo melhorada, a partir do contato com os romanos. No Norte demorou um pouquinho mais. No Brasil, depois a técnica também foi melhorada, até se iniciar a segunda guerra mundial
E quanto aos clubes de tiro? Lá, para segurança das casas e cidades no período do caos medieval. Aqui na região, a partir dos Voluntários do Batalhão de Caçadores (Jägers) que existiam também formados pelos homens adultos das famílias, e nos clubes, em que treinavam seu alvo. Somente um hífen que achamos curioso.
A partir do Schützengesellshaft Blumenau, construído no Stadtplatz da Colônia Blumenau, surgiram outras sociedades e mais outras. O que é uma sociedade? Dentro desta cultura, não precisa ser necessariamente a de Tiro. Tendo alguma prática coletiva, tem-se uma diretoria, arrecadação para os gastos do grupo. Isso aconteceu com os grupos de teatro, canto, música...etc., etc., e também em outras sociedades de tiro, que se reuniam próximo às suas casas, fazendo surgir dezenas de sociedades de Tiro no antigo território da Colônia Blumenau.
Nesse local, as famílias se sociabilizavam, ouviam música, faziam música, realizavam casamentos, negócios. Esta cultura tem com grande característica a sua interação social, nunca dentro das casas da família, mas no espaço das sociedades. Na Alemanha também é assim. É algo cultural.
Não poderíamos deixar de prestigiar, aplaudir e participar deste momento da história, lembrando que os 40 Clubes de Casa e Tiro e outros mais que estão com seus feitos na história, já tiveram seus momentos de turbulência, no período do Nacionalismo, mas nunca encerraram suas atividades. Parabéns!
Continuem levando suas crianças e seus jovens para esse ambiente familiar, como uma atividade saudável de encontro social e de cultura.
Faz parte da educação e da formação do perfil da futura geração.
Muito obrigada.