quinta-feira, 24 de março de 2016

Cia Jensen - Pedaços de História de Blumenau

Acervo - Marianne Braun - Foto publicada no grupo Antigamente em Blumenau no dia 24 de junho de 2012.
Ingo Penz  e  Horácio Braun
Temos alguns recortes de jornais com a História da cidade, guardados entre nossas fontes de pesquisas primárias. Burilando neste estoque "precioso" encontramos uma curiosa reportagem do jornal O Estado -  de Florianópolis, matéria assinada por A. Luiz Mund e com fotografias de Ingo Penz. - Data da publicação: 17 de janeiro de 1981.

Do livro da ACIB 100 anos
O título da matéria:
Cia Jensen: um império que pode estar perto do fim.


Antes de prosseguirmos, apresentando a notícia do jornal O Estado de Florianópolis, vamos conhecer um pouquinho sobre a Cia Jensen, fundada no final do século XIX, em Blumenau.
Quando residíamos no extremo oeste de Santa Catarina, na década de 70 - divisa com a Argentina, assistíamos a TV Coligadas de Blumenau (Primeira TV aberta do Estado de Santa Catarina) e consumíamos lá, produtos  oriundos da Cia Jensen. A companhia comercializava a marca Frigor. A "Firma" como se chamava o estabelecimento comercial e industrial  durante as primeiras décadas de Blumenau e região, foi fundada no ano de 1872. 
"Firma", em alemão significa Companhia. A "Firma" Jensen surgiu como indústria que utilizava matéria prima ave/agrícola e pecuária. Principalmente, como expoente da produção de leite pasteurizado, lacticínios e derivados de carne suína tornou uma grande "Firma". Produtos como banha e embutidos tornaram o nome da empresa, conhecida em todo o  Brasil. Foi a empresa que pela primeira vez, embalou o leite em pacotes plásticos de um litro.
Uma curiosidade  e também um referencial atual: O campo de Futebol do Metropolitano EC, foi o antigo campo de futebol do time de futebol da Frigor EC, lazer de todos que residiam na região e trabalhavam na Cia Jensen. O time era montado por funcionários da empresa e foi montado em 1925. Tinha grande destaque e era muito prestigiado na região. 
O Frigor EC -  em 1957 - Acervo Alex Katz
Publicado no Blog do Almanaque do Vale
Primeiras instalações da Cia Jensen
Um pouco de História
Do livro "Sabores da Colônia Blumenau de Nelson V. Pamplona

Os pais do pioneiro da Família Jensen - Rudolph Wilhelm Jens Jensen - Jens Jensen foram Niklaus Johannes Jensen nascido na ilha de Pellworm - e da Sra. Catharina Schmidt (tiveram 9 filhos).
Ilha de Pellworm

Traje da Ilha de Pellworm

Rudolph Jensen - com 36 anos de idade - era marinheiro do navio Veleiro Assecurateur. O navio transportava imigrantes para o Brasil e em uma destas viagens - na segunda metade do século XIX - de Hamburg para Itajaí, conheceu Karoline Kay, moça com 17 anos de idade que viajava na companhia de seus pais para a Colônia Blumenau. Por conta desta viagem e de  Karoline, largou o vapor em 1863, e mais tarde casou-se com a moça. O pai de Karoline - Hendrick Kay se fixou no bairro de Itoupava Central - Colônia Blumenau. Casados, Rudolph Wilhelm Jens Jensen e Karoline Jensen, adquiriram o lote colonical, também no mesmo bairro, N° 17 - o mesmo local da Cia Jensen. Tiveram 10 filhos (Carl,  Johanne, Karoline, Fritz, Wilhelmine, Idda, Jens, Willy, Otto e Hermann).

Logo que assentaram no local, o casal "limpou" o lote colonial e  com a derrubada da mata e com a madeira, produziram pranchões serrados a mão, os quais transportaram via fluvial até o rio maior - Rio Itajaí-Açu, onde eram comercializados.
Prática do transporte de madeira em todo o Vale do
 Itajaí - pelo rio. Nesta fotografia, ilustra a região do
Alto Vale do Itajaí - Região de Rio do Sul
Com o terreno limpo do lote colonial e o plantio feito e até surgir a primeira colheita, abriu um pequeno comércio, no qual comercializava produtos de primeira necessidade às demais famílias, que trazia de Itajaí, a duras penas. Sabe-se muito bem que os caminhos, na época eram rudimentares e o rio era navegável somente até a foz do Ribeirão Garcia, onde estava o Statdplatz da Colônia Blumenau.
Os negócios vingaram e aumentaram a partir da exploração e comercialização da madeira, produtos importados da Alemanha, produtos agrícolas processados e até o momento que decidiu abrir um açougue para comercializar carne e linguiças. A Firma foi fundada no ano de 1872. Antes disto, em  1868, chegaram no bairro, seus pais - Niklaus Johannes Jensen e Catharina Schmidt e seus oito irmãos ( Anna, Erns, Niklaus, Berta, Gustav, Johanne, Catherine e Paul).
O Rudolph Wilhelm Jens Jensen faleceu no dia 23 de março de 1899, com 53 anos de idade. A Sra. Karoline que tinha a idade de 34 anos de idade, continuou a administrar os negócios da família junto com seus filhos Carl e Fritz e também contou com a ajuda do genro Paulo Zimmermann, casado com sua filha Johanne. Após desavenças familiares resolvidas  -  Carl Jensen assumiu a administração da Firma, então conhecida por Jensen  & Cia.
No dia 27 de fevereiro de 1932 foi criada a Companhia Jensen - e suas 1120  ações - foram assim distribuidas: Carl Jensen - 100 ações; Seus filhos Rodolfo Jensen - 150 ações; Guilherme Jensen - 50 ações; seus genros Fritz Egli, casado com Wanda - 100 ações, Alwin Hardt, casado com Frieda - 50 ações, Rodolpho Hackländer, casado com Wilhelmine - 64 ações e Heirich Stoltz, residente em Curitiba e casado com Isa - 6 ações.
O capital foi integralizado com 12 terrenos, sua benfeitorias e c´reditos diversos pertencentes à firma anterior.
Cia Jansen passou a ter filiais em Itoupava Central, Massaranduba, Ribeirão gustavo e Curitiba, que foram fechadas ao longo do tempo.
No ano de 1936, foi feito uma reorganização dos serviços contábeis, adotado o sistema de partidas dobradas e as ações passaram a ser ao portador, com a mesmo distribuição do ano de 1932. Neste período, mesmo sendo  Carl Jensen, o Presidente, os negócios passaram e ser gerenciados com mais frequência pelo filho -  Guilherme Jensen - que era, então o Diretor Comercial. Faziam parte da Diretoria: os genros: Fritz Egli - casado com a Wanda Jensen; Heinz Stoltz - casado  com Iza Jensen e o Pedro Zimmermann, Wolfgang Jensen, filhos de Carl Jensen Jr. Willy Hinsching e Victor Zoschke.
Em 1940 o capital estava distribuído do seguinte modo: Carl Jensen Senior - 15 ações; Rodolfo Jensen - 172 ações; Fritz Egli - 140 ações; Rodolpho Hackländer - 117 ações; Guilherme Jensen - 108 ações; Alwin Hardt - 108 ações; Heinrich Stoltz - 80 ações; Karoline Kriewald - 76 ações, Leopold Jensen - 76 ações; Carlos Jensen Jr. 76ações;  Mathilde Germer - 76 ações, Irma Kretschmar - 76 ações - somando um total de 1120 ações.
Um pouco tempo depois, houve uma reformulação dos estatuto e a firma passou a se chamar Cia. Jensen - Agricultura, Indústria e Comércio, tendo como Diretor Presidente: Carlos Jensen Senior. Fritz Egli e Guilherme Jensen passaram a ser Diretores Gerentes e Alwin Hardt e  Heinrich. Em pouco tempo, no ano de 1942, o Diretor Presidente, Carlos Jensen Senior faleceu e a Presidência passa a ser ocupada por Ida Jensen - sua esposa, que faleceu no ano seguinte.
O capital da firma é elevado e distribuído por 3200 ações ordinárias ao portador. É eleita nova diretoria - com mandato de 4 anos. Diretor comercial: Guilherme Jensen; diretores Gerentes: Fritz Egli;  Alwin Hardt e Heinrich Stoltz. subdiretores: Willy Hinsching, Wolfgang Jensen e Victor Zoschke.
Houve um período que os operários recebiam parte de seus salários em cédulas impressas pela empresa, que eram usadas na compra de produtos nas lojas da Firma. A "moeda" Jensen era aceita em toda a região. Nesta ápoca a firma empregava em torno de 200 funcionários.  Funcionários solteiros e originários de outras regiões se abrigavam em uma construção de madeira, contendo 3 pavimentos, munido de um restaurante que fornecia refeições de três classes.
Em 1958, a firma tinha uma casa comercial que vendia desde produtos alimentícios até ferragens, ferramentas, equipamentos, tecidos, bebidas, louças, bicicletas.
O arroz, colhido nas plantações próprias de Itoupava Central, Guaramirim e Massaranduba e mais o comprado de terceiros era descascado, seco, classificado em máquinas automáticas e ensacados para ser distribuído por todo o mercado do sul do país com o nome de Arroz  Frigor. Posteriormente foi acrescentado ao engenho de arroz, uma fábrica de ração.
Possuíam um rebanho médio de 2000 porcos das raças Duroc, Landrace e Edlschwein que supria o frigorífico, no qual 120 animais eram abatidos por dia, matéria prima de linguiças, salsicha, salame, mortadela, presunto crú e cozido, copa, lombo defumado, toucinho e os mais variados tipos de embutidos e defumados. abate de porcos não aconteciam no período de entre safra - meses de janeiro e fevereiro. O frigorífico também abatia cerca de 10 bois por dia, produzindo carne, onde parte era processada e parte vendida para açougueiros e distribuidores.
A blumenauense eleita Miss Brasil - Vera Fischer visita a Cia Jensen - recebido por Guilherme Jensen 

Memorial descritivo da linguiça Blumenau
Descritivo do processo de fabricação da linguiça "Blumenau", da Cia Jansen - Agricultura, Indústria e Comércio, com sede em Itoupava Central, Município de Blumenau, S. Catarina, à divisão de Inspeção dos produtos de Origem Animal, Ministério da Agricultura, Rio de Janeiro. Matéria Prima: Carne de porco picada em pedaços pequenos, de 4 mm. 
1° - Adiciona-se à carne os seguintes temperos: sal previamente preparado  (sal fino), com salitre, na proporção de 200 gramas de salitre para 100 quilos de sal; pimenta calabresa; em seguida, leva-se a carne ao misturador. 
2° Do misturador, ségue a carne para a máquina ensacadeira, com utilização de tripas bovinas.
3° Seguem os embutidos para o defumador, em que permanecem entre 8 a 12 dias. Findo este prazo, estão os mesmos prontos para o consumo. Juntam-se, para fins de registro definitivo da etiqueta, três exemplares da mesma, devidamente seladas. 
Processo de aprovação n° 1966/53 de maio de 1953.
A criação de vacas holandesas, com matrizes importadas, fornecia parte do leite processado. A partir do ano de 1937, o leite  pasteurizado era distribuído em garrafas de vidro, de um litro - bojudas e de bocas largas, com tampos de alumínio. 
A partir de 1970, o leite passou a ser distribuído em sacos plásticos - produção e distribuição de 120 mil litros por dia. Também eram produzidos queijos e manteiga. A grande produção de aves, tinha como objetivo a obtenção de ovos. Terceirizavam a produção dos pequenos colonos de produtos como cachaça recebidas em tonéis de madeira (engarrafas e distribuídas com o nomes de Cachaça Sucupira), vinho Moscatel e de Laranja
Uma serraria  e uma fábrica de latas davam apoio à produção industrial, que incluía a fabricação de conservas, caseína e sabão (feito com restos dos abatedouros)
Cia Jensen era proprietária do Matadouro Municipal de Blumenau, que detinha exclusividade do abate de gado de outros produtores menores, impedidos de fazê-lo em todo o Município.
Foto de 1920 - Guilherme Jensen com 20 anos de idade.
Guilherme Jensen, nasceu no Bairro de Itoupava central no dia 25 de julho de 1901 e foi casado com Lydia Paubitz. Foi Presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau.. Nesta época, a firma possuía aproximadamente 300 funcionários. Construiu um conjunto habitacional, um campo de futebol e uma sede social.
Em junho de 1969, foi contratado o técnico em embutidos e conservas da nacionalidade austríaca, Franz Nagl.
A fabricação  de laticínios foi reformulada com a introdução de mesas e tanques para mistura em aço inoxidável, equipamento de pasteurização e linha automatizada para empacotamento de manteiga e iogurte.
Em 1971, é eleito Diretor Gerente - João Arno Buer - esposo de Crista Jensen - filha de Guilherme Jensen. Também foi incorporado a Firma  Comercial Roberto Grossenbacher,  cujo capital já havia sido adquirida.
Uma frota de mais de 100 veículos, 80 dos quais frigoríficos, distribuíam os produtos da marca Frigor por todo o país.

Em 1974, uma outra ala da família, contando com 3345402 votos na Assembleia, destituiu a Diretoria em exercício a qual contava com 2391163 votos. A nova diretoria impôs sua própria administração tendo como Diretor Superintendente, Jerry Kurt Weissheimer.
Guilherme Jensen, com sequelas do desgaste familiar, faleceu no ano seguinte, no dia 24 de agosto de 1975, com 75 anos de idade. 
Foi o início do fim e explica algumas fatos publicados no Jornal que deu início a esta postagem.
No dia 12 de novembro de 1977, a firma, após uma administração desastrosa, e em queda, foi vendida para o Grupo Mansur de São Paulo, quando foi mutilada com o fechamento. da fábrica de laticínios, cujo maquinário foi transferido para a Laticínios Vigos de São Paulo. em seguida a linha de abte de frangos foi também desmontada. A criação de vacas leiteiras e suínos foi desativada.
Em situação quase falida, foi vendida ao grupo Farid Kalaf no ano de 1978 quando a marca Frigor, também foi posta a venda.

Fotos retiradas do vídeo das postagem





No mês de abril de 2016, constatamos que um conjunto de 3 residências pertencentes ao Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau, junto à rua Pedro Zimmermann, que também, pertenciam ao Patrimônio da Cia Jensen foram demolidas. Entre elas, a residência de Guilherme Jensen, conforme  registrado no Google Maps, com imagens feitas no ano de 2012. 
Foto Google Maps
Foto Google Maps
Foto Google Maps
Foto Google Maps















Foto Google Maps
 
A Residência de Guilherme Jensen - Estado de conservação desta História em 2011 - Foto  de Giovanne Ramos - Blog Controvérsias








Há poucos dias demoliram dois casarões, parte da grande propriedade da Cia. Jensen, e entre eles estava esta aquela que foi a residência de Gulherme Jensen.
Três casas demolidas pertencente ao patrimônio da Firma, entre elas
 a residência de Guilherme Jensen - abril de 2014-
Fotos feitas dentro de uma  van circulando na rua Pedro Zimmermann

  Uma garrafa de leite da Frigor, no Mercado Livre, está a venda por R$ 200,00. O quanto valeria, se é isto que pesa na sociedade atual, uma edificação com todo este apelo histórico arquitetônico? Não contando com tantas outras questões, em nossa opinião mais importantes, no momento de avaliar.


Vídeo Histórico que conta um pouco sobre a Cia Jensen e mostra um pouco da propriedade da  e do entorno da Cia Jensen, bem como de algumas atividades, antes de fechar suas portas.

Sua falência foi decretada no ano de 1984. 

Como isto aconteceu?

É o que explica um pouco esta matéria do Jornal O Estado publicado em janeiro de 1981.
 A "Firma" estava localizada na zona rural do município - atualmente está em processo de adensamento, o qual ocorre sem muito critério e planejamento - quanto à ocupação do solo e a estruturação da malha urbana.
Foto da matéria de Ingo Penz








Endereço de divulgação, nos últimos anos - antes da falência.

Companhia Jensen Agricultura Industria e Comercio

       Rua Dr Pedro Zimmermann 8450, Blumenau, Santa Catarina, 89069-000 Blumenau
Com o tempo, vamos atualizar esta postagem, com mais informações.




Pedaços de História de Blumenau

Leituras complementares












15 comentários:

  1. Parabéns pelo post, bom relembrar a história do bairro.

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    1. Que bom que gostou. Sabemos o quanto aprecia a história. Precisamos, agora, autografar aquele livro. Abraços.

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    2. Sim...quem sabe um dia desses almoçamos no 25...

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    3. Saudades.. bons tempos da minha infância.

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  2. PARABÉNS, Angelina, por nos brindar com esta reportagem. Renate S. Odebrecht

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  3. é uma pena que se acabou assim , em nada, só ruinas e lembranças

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    1. Consequência de projeto de cidade, dentro de uma escala maior, observando várias questões que forma este emaranhado complexo a partir das atividades da sociedade que vive em seu espaço.
      Abraços....

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  4. angelina! que acervo! o tamanho da Firma impressiona, assisti um vídeo, como pode ter terminado... nasci em 1977, não conhecia os produtos, só de nome.
    parabéns pelo trabalho! Tatiana

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    1. Verdade Tatiana e o complexo representa materialmente o que foi a fundação da Colônia Blumenau. Esse era o objetivo do fundador, criar uma grande empresa agrícola, com o objetivo de beneficiar o excedente das propriedades do colono, que passou a ser uma pequena fábrica também, pois tinha o local dos animais , de beneficiar as frutas, verduras, carnes e leite. Abraço grande....

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  5. A bertha ( filha de nicolaus e irmã do Jensen fundador na história) é minha tataravó!
    Obrigada por essa matéria! Não só para conhecer a história de Blumenau mas também de parentes que não sabia nada.. obrigada

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    1. Parente sua no comentário anterior. Isso é legal, a genalogia.

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