quinta-feira, 30 de maio de 2024

Casa Martin Rahn - Pomerode - Casa Enxaimel - Reforma feita por uma equipe de Laguna com investimento do IPHAN

Pesquisa na Alemanha ao lado do Arquiteto do patrimônio
 da cidade de  Dinkelsbühl, Holger Göttler, o guardião
 da cidade e Dr. Wolfgang Betz, editor da Revista Weltruf. 
Ao longo dos mais de 34 anos que pesquisamos e observamos o patrimônio histórico arquitetônico local e regional e dentro desse período, nos envolvemos com a pesquisa da técnica construtiva enxaimel. Em função das muitas desconexões, lendas, ausência de referências e informações técnicas, nos deslocamos até a Alemanha, dentro de um projeto independente, onde procuramos decifrar e preencher algumas lacunas relacionada à técnica através de resposta  e entendimento, os quais organizamos junto ao material resultante de nosso estudos desenvolvidos nos últimos, mais de 20 anos, em um livro. Disponibilizamos essa publicação à pesquisa regional e nacional, como base, para a compreensão sobre a origem, evolução e desenvolvimento da técnica construtiva enxaimel, na região e fora dela, como na sua origem na Europa. Destinamos exemplares para todas as escolas públicas de Pomerode e também, na cidade há 3 locais onde o livro pode ser encontrado para aquisição. Entregamos um exemplar para o presidente nacional do IPHAN, Leandro Grass, que ficou de efetuar o pagamento do mesmo, via PIX, o que ainda não aconteceu.                                         
Livros sobre enxaimel entregue em mãos do Secretário da
Educação, para as escola de Pomerode.
Ao longo da trajetória da pesquisa sobre o enxaimel, encontramos o trabalho e a pesquisa do IPHAN, junto ao patrimônio local e regional, muitas vezes, exigentes em demasia, o que leva os proprietários a não desejar efetivar o cadastro de seus imóveis históricos pela instituição, pois a burocracia e as exigências, fiscalizando e cobrando a originalidade, muitas vezes impedem que ações urgentes e necessárias sejam feitas no patrimônio. Como também, não há uma flexibilidade e assessoria mínima e necessária, no que tange trazer resultados eficazes, pontuais e com respostas positivas e objetivas ao patrimônio, criando um problema a mais àqueles que têm a incumbência de efetuar a manutenção natural e necessária no patrimônio.
Observamos estes dois contrapontos: a exigência, por parte do IPHAN, cobrando a originalidade do imóvel "restaurado" observando a técnica construtiva milenar trazida pelos pioneiros alemães ao local - o enxaimel. Atualmente incentivamos a formação  de uma mão de obra local e regional especializada, que surge e está se formando para atender a demanda do conjunto patrimonial da região, carente de manutenção e restauro, como também, disponibilizamos as informações técnicas para que as exigências do IPHAN, que são legítimas e geralmente cobradas durante o processo de restauro promovidos pelo proprietário ou equipe com interesse em manter o patrimônio de acordo, possam ser efetivadas de acordo. 
Casa Martin Rahn em 24 de maio de 2024. Na varanda dos fundos, as autoridades.
Quando fomos ao evento de Pomerode, na entrega da obra "restaurada" pelo IPHAN, contando com seus representantes de todas as esferas, não foi bem isso que observamos e registramos. O "restauro" da Casa Martin Rahn, localizada em  Testo Alto, na Rota Enxaimel, em Pomerode, nos surpreendeu, por ser tratar de uma obra entregue pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não apresentou um resultado que contemplasse as mesmas exigências comumente cobradas pelo órgão em outras frentes de restauros de seus patrimônios cadastrados. O evento contou com o seu representante federal, seu representante estadual e regional, órgão que tanto exige - no momento do restauro feito por outros, de tipologias presentes em seus cadastros.
Durante o evento, que aconteceu em  24 de maio de 2024, fomos informados que a equipe principal que desenvolveu os trabalhos da "reforma" do patrimônio foi uma equipe de Laguna, Sul do Estado de Santa Catarina.
Laguna possui construções  com estrutura feitas com a técnica construtiva enxaimel? 
Centro Histórico de Laguna. Fonte: Galeria do IPHAN.


Um pouco de História - Casa Martin Rahn

A edificação pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico de Pomerode, pertencia a família Rahn. O jovem Martin Rahn se casou com Ilka, natural de Timbó. A casa foi construída no final do século XIX, em 1889 e faz parte do tombamento municipal, localizada na histórica Rota Enxaimel.
O casal Martin e Ilka não tiveram filhos. A casa era grande para os dois. Ao longo de sua história, receberam como parte de sua família, um moço sem família, que diziam ser solteirão. No dia da entrega da Casa Rahn, vimos esse moço, na cozinha de Ilka, sentado em uma cadeira de rodas, muito sorridente.
As sobrinhas de Martin Rahn, filhas de seus irmãos residiam no entorno. Uma delas era a  Analia (Rahn) Zimdars e a outra, Isaura (Rahn) Utech, casada com Jair Utech. O casal Isaura e Jair tiveram o filho Maicon Utech. Quando o menino Maicon estava com três meses de idade, Martin propôs que Maicon ficassem residindo com os Rahn, na casa enxaimel, que era, na verdade, casa do seu bisavô, sendo sua mãe, sua neta. Maicon, dessa forma, seria o herdeiro da casa da família. E assim aconteceu. Ele não sentiu muito, pois toda a família residia próximo uns dos outros e em 2014 Maicon recebeu a casa, como herança de seu pai de criação, e seu  tio, neto de seu bisavô, quando ele faleceu. Dona Ilke, sua tia, acompanhou tudo, como o marido mencionara alguns anos atrás. Maicon se casou com Íris Siewert, filha de Sido Siewert. Todos estavam presentes no dia da entrega em 24 de maio de 2024, da Casa Martin Rahn, reformada pelo IPHAN.
O investimento para a reforma da casa foi realizado por meio de emenda parlamentar alocada pela então deputada federal pelo estado de Santa Catarina, Ângela Amin que estava presente no evento. Na recuperação das partes mais críticas da edificação histórica, foram investidos R$ 168 mil para cobrir a reforma e revisão das esquadrias, cobertura e vedações, piso e sua estrutura, alvenaria e pintura parcial. Nem sempre foi considerada o tipo original do material e também sua colocação, bem como a pintura. As questões estão apontadas nos registros fotográficos.

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Ângela Amin, Ana Paula Lima e Ilka Rahn.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entregou a Casa Martin Rahn "restaurada" aos proprietários e à comunidade de Pomerode em 24 de maio de 2024. Estavam presentes o presidente do IPHAN nacional, Leandro Grass, a superintendente do IPHAN Santa Catarina, Regina Helena Santiago, a chefe do Escritório Técnico do IPHAN em Pomerode, Tatiana Carepa Roffé Roger, o prefeito de Pomerode, Ércio Kriek, a deputada federal Ana Paula Lima e a ex-deputada federal Ângela Amin. Também presentes, os familiares do proprietário Maicon Utech.



As imagens comunicam

Faltou observar essa grave patologia na "reforma" da Casa Martin Rahn.


O calcanhar de Aquiles na estrutura enxaimel – o Schwelle
Esta peça foi trocada desconsiderando outros apontamentos técnicos.
Se a estrutura de madeira precisar ser reparada durante a reforma de uma casa enxaimel, os Schwelle quase sempre são afetados. Isso não é coincidência, pois eles estão expostos a possíveis umidades de várias origens. Deve-se lembrar que os elementos inclinados e verticais tem uma função muito importante na estrutura de madeira, pois ficam espalhados e fixados no Schwelle, com todos os suportes verticais sobre eles. Todo o peso da casa repousa sobre o Schwelle. É ainda pior, quando estão comprometidos. Também observamos por parte da equipe da "reforma' que não houve qualquer preocupação, em retirar com brevidade, as águas da chuva, dessa parte da estrutura, que sequer foi trocada em torno da construção histórica.




Sem contraventamento necessário que estrutura enxaimel requer. Ausência do Schwelle.
Novo Schwelle na fachada esquerda, desconsiderando alguns apontamentos técnicos importantes ao patrimônio. A nova peça não recebeu o devido "tratamento" para que não retenhas águas fluviais e adie um pouco a próxima "reforma", em função da ação das águas. Corte inclinado, de conhecimento dos profissionais da carpintaria.














Sequer o limo das escadas foi retirado durante a "reforma".


Momento das falas das autoridades. Na varanda da casa, que estranhamente tem duas portas e duas saídas da sacada, cujo guarda-corpo é de alvenaria autoportante.
Forro da varanda está feito de acordo com madeira  adequada.

O forro do anexo posterior, construído com taboas de madeira, teve seu forro substituído com taboas tipo "macho-fêmea" inexistentes na época da construção da casa. Historicamente este tipo de beneficiamento, surgiu na região, na década de 1950/1960. Além disso, a madeira usada escolhida, foi a madeira de reflorestamento pinus, totalmente destoante de algo que poderia ser considerado "restauro". O IPHAN, não permitiria esse procedimento, durante suas fiscalizações de obras pertencentes ao seu cadastro.










Muito bom o forra da varanda. Faltou somente a pintura.





Ilka Rahn tia a mãe adotiva de Maicon Utech, atual proprietário da Casa Martin Rahn.






Encaixes não de acordo com a técnica milenar.

No período da construção desse patrimônio, em 1889, o prego era um artigo quase inexistente e comumente não era usado em uma edificação enxaimel.























































Um Registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)


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