segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Jornal Republicano em Blumenau - "Brazil" - Início do Século XX


D. Pedro II em 1880.
Aqueles que fundaram as cidades no Vale do Itajaí e seus descendentes, não tiveram vida fácil somente no período do Nacionalismo implantado no governo de Getúlio Vargas, mesmo antes da 2° Guerra Mundial. Também, após ao Golpe Militar impetrado ao Imperador do Brasil Pedro II, que foi um grande entusiasta e um dos principais articuladores para que houvesse a imigração de grupos organizados de imigrante alemães para o Sul do país - e, que foi deposto no ato promovido por alguns militares que estiveram na Guerra do Paraguai - o qual entrou para a história, como "Proclamação da República" - postagem no final sobre.
A República coibiu, de maneira violenta, qualquer ato de solidariedade ao Imperado D. Pedro II
A elite política blumenauense, simpatizantes ao Imperador foi trocada, muitas vezes, por nomes alheios a toda esta história pretérita. Houve assassinados de funcionários de Blumenau, junto com nomes de famílias de Nossa Senhora do Desterro, na Ilha Anhatomirim. 
Motivo? Não aceitavam o golpe impetrado ao Imperador do Brasil. Ler a postagem sobre o Comissário de Polícia de Blumenau Elesbão Pinto da Luz - link no final da postagem. O nome da política local, regional e depois estadual deste período da República foi Hercílio Pedro da Luz, cunhado e primo do comissário de polícia de Blumenau Elesbão Pinto da Luz - filho do Comendador do Rio de Janeiro João Pinto da Luz, na década de 1890.
Elesbão P. da Luz
Esse cenário se formou, resumidamente, porque na
década de 90 do século XIX, houve grandes movimentações das lideranças nacionais, estaduais e locais, em conseqüência das mudanças sociais, reflexo do golpe militar - Proclamação da república - e de outras passagens históricas neste mesmo período. O Brasil passava por uma crise econômica que desestabilizava a política do Império. Na região, um coletor de impostos, José Henrique Flores Filho, assumiu o lugar do fundador na administração da Colônia Blumenau (1883), que tinha como principal meta integrar os interesses da economia local à economia do país. A abolição da escravatura, em 1888, incendiou os ânimos dos republicanos, fortalecendo-os e culminando com a Proclamação da República, que surpreendeu os moradores do Vale do Itajaí. O Partido Republicano estabeleceu-se na cidade, tendo como líderes José Bonifácio da Cunha, Hercílio Pedro da Luz e Victorino de Paula Ramos.
Estes novos líderes políticos saem fortalecidos após essas mudanças, e são agora os novos representantes das lideranças econômicas e políticas locais - estaduais e os grandes atores nas ações para promoção do desenvolvimento social e econômico local e realizações no Vale do Itajaí, no início do século XX.
Rua XV de Novembro, Blumenau em 1920.
Alguns acontecimentos, como o término da escravatura no Brasil, as instabilidades dos primeiros momentos do regime republicano e a queda na arrecadação de impostos neste novo regime de governo refletiram, naturalmente, na redução de melhorias na infra-estrutura de uma maneira geral, com reflexos na região do Vale do Itajaí
O republicano engenheiro Hercílio Pedro da Luz, chefe da Comissão de Terras e Colonização de Blumenau, assumiu o governo do estado em 1894. 
Entre as "novidades" - causadas por toda esta movimentação social foi a fundação do jornal "Brazil", cuja pauta e prioridade era de desfazer os feitos dos imigrantes e de seus descendentes  em Blumenau e região. O "Brazil" na verdade era o antigo jornal "O Nacional", que foi bem aceito pela comunidade, por conte em suas pautas - Fakenews e perseguição deste editorial, a nomes da história local. O jornal depreciava nomes locais, seus feitos e principalmente desmerecia os imigrantes e seus descendentes. Nesta época Blumenau tinha o maior eleitorado do estado de  Santa Catarina e também  se destacava economicamente que reivindicou medidas formais contra "O Nacional", que saiu de cena  e, retornou repaginado de  jornal "Brazil".

"Brazil"

O "Brazil" foi um jornal impresso nas mesmas máquinas do "O Nacional" (Que poderia ser "A Nação") e tinha praticamente a mesma equipe editorial com nova direção - cujo diretor era o Alfredo da Luz, o redator era Edgar Barreto e quem recebia a correspondência era o Gerente Ildefonso Teixeira. O formato do jornal era de 28 x 37 cm com 4 páginas. Sua publicação era semanal e iniciou em 7 de junho de 1919. 
Sua sede  e máquinas  estavam localizadas  na Rua Amadeu na Luz, na época conhecida como Rua Goiás. O custo de sua assinatura era de 6$000 dentro de Blumenau e fora, era de 7$000
Em vários números, o redator publicou artigos eruditos sobre filologia e linguística, emitindo críticas ao material educativo local feito na língua portuguesa. Em uma das primeiras edições, N°4, há críticas ao Superintendente Paulo Zimmermann e também, ao Coronel Pedro Cristiano Feddersen, que punham empecilhos nas pretensões de Alfredo Luz e Ernest Mendel que pleiteavam a concessão  do Serviço de Águas e Esgotos e a construção de bondes elétricos em Blumenau. 
Em julho de 1919, praticamente um século atrás, Ildefonso Teixeira saiu do jornal para trabalhar, como auxiliar da Comissão de Engenheiros chefiado por Oscar Sá e em 31 de agosto, Edgar Barreto também deixou o jornal, rumando para São Paulo, para terminar seu curso de Direito, na tradicional Faculdade de Direito de São Paulo. Este foi substituído por Francisco Margarida na redação do "Brazil". Seu conteúdo tornou-se implacável - atacando a cultura e práticas locais e regionais, praticadas por àqueles que fundaram as cidades da região, imigrantes alemães e seus descendentes.
Em fevereiro de 1920, Luiz de Freitas Melro passa a integrar a equipe do jornal como Diretor-Secretário, Alfredo da Luz como Diretor-Proprietário e Francisco Margarida como Diretor-Redator. O advogado Antônio Gomes Winter, chegante em Blumenau,  passa a fazer parte da equipe, escrevendo artigos relacionados a temas nacionais e biografias das principais personalidade históricas do país e que não eram alemães.
Em 9 de maio de 1920, na edição N° 45, Francisco Margarida deixou de fazer parte da equipe, que permaneceu somente com o Diretor-Proprietário Alfredo da Luz e o Diretor-Secretário Luiz Freitas de Melro. 

"Brazil" era oponente a outro jornal de Blumenau "Blumenauer Zeitung", entre outras questões, por questões ideológicas. Constantemente se enfrentavam através dos artigos. Este embate teve início, de maneira efetiva e visível, durante a greve ocorrida na Empresa Industrial Garcia em junto de 1920, lideradas por Fritz Kochy e Georg Sterneck, expulsos do país por isto. 

Em 12 de abril de 1921, Luiz Freitas de Melro deixou o cargo de Diretor-Secretário que é ocupado por Gomes Winter. Com a nova formação e após entraves desgastantes com "Blumenauer Zeitung", "Brasil' se acalma e fica com um perfil menos agressivo, passando a publicar somente pautas com assuntos de interesses locais e gerais.
Blumenaur Zeitung foi o primeiro jornal de Blumenau, fundado em 1881 por Hermann Baumgarten - genro de Pedro Wagner e circulava todos os sábados. Era redigido em alemão, também continha quatro páginas e suas medidas eram 30 cm X 39,5 cm.  O Blumenauer Zeitung circulou até o ano de 1938.
Em 26 de fevereiro de 1922, "Brazil" cessou sua publicação.

" Mas, não se pode deixar de reconhecer que essa fôlha foi um representante da imprensa brasileira em Blumenau e, como tal, soube manter, de um modo geral, a linha e a compostura recomendáveis. Abstraindo alguns excessos de linguagem, devidos ao calor com que defendeu os seus pontos de vista, o "Brazil" manteve uma conduta serena, louvável. Defendeu, sempre, com calor, a política de Hercílio Luz." Blumenau em Cadernos Tomo XI - março de 1970 - N°3

Blumenau - início do Século XX - Rua XV de Novembro.

Hercílio Luz foi um republicano em terra de monarquistas - de Blumenau e quase em todo o estado de Santa Catarina. A narrativa expressa no jornal, voltava sua atenção contra os alemães e descendentes de maneira preconceituosa e desrespeitosa, cujo objetivo  era político - que ocasionou em mortes, também, em Blumenau. 
Quem não aceitasse o golpe da República era preso e assassinado, como conta a história da ilha de Anhatomirim, na grande Florianópolis.

Antes da grande enchente - em Blumenau de 1983/84, que levou boa parte do acervo da Fundação Cultural de Blumenau, este possuía boa parte da coleção deste jornal, como também, a Biblioteca Pública de Blumenau.
Outros jornais e suas publicações - após o "Brasil"





Verificaremos, em algum momento se há exemplares na Biblioteca Municipal de Blumenau. Seria muito bom. Postagem permanece aberta.
Da História para a história!

Referências

  • Blumenau Em Cadernos - Tomo XI - Março de 1970 N° 3
  • O Nascimento da Imprensa em Blumenau - FURB. Disponível em: https://furbjornalismo.wordpress.com/jornais-pioneiros/.  Acesso em  9 de novembro de 2020
  • SILVA, José Ferreira. História de Blumenau.

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