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Valor de mercado da estatal caiu pela metade desde 2010. Para analistas, petrolífera é prejudicada pelo controle de preços no mercado interno, ordenado pelo governo.
Em junho de 2008, a Petrobras era a sexta maior petrolífera do mundo em valor de mercado, valendo quase 300 bilhões de dólares. Hoje é a mais endividada e a menos lucrativa. Os problemas são muitos – desde a perda de dinheiro devido ao controle de preços dos combustíveis, feito pelo governo, até atrasos na conclusão de refinarias. E ganharam relevância em meio ao escândalo da compra da refinaria de Pasadena (EUA), que virou uma crise política às vésperas da eleição presidencial.
O valor de mercado da estatal encolheu de 380 bilhões de reais em 2010, quando o preço do petróleo explodiu e a empresa ainda celebrava a descoberta do pré-sal, para 179 bilhões de reais no final de março. Segundo analistas ouvidos pela DW, a estatal vem perdendo sua credibilidade no mercado, em parte pelo que consideram o uso político feito pelo seu acionista majoritário, o governo brasileiro.
Este obriga a Petrobras a vender combustíveis a preços defasados – entre 15% e 20% inferiores ao preço internacional, desde 2006 – para segurar a inflação, o que prejudica o fluxo de caixa da empresa; e a comprar parte dos equipamentos de fornecedores nacionais, mesmo que estes sejam mais caros e mais propensos a atrasos do que os vendidos por empresas estrangeiras.
"O congelamento do preço da gasolina influencia consideravelmente o resultado da Petrobras, logo no momento em que tem um grande desafio pela frente, que é o de realizar os investimentos no pré-sal", diz o economista do Ibmec/RJ, Mauro Rochlin. "E quando o preço for equiparado ao valor de mercado, provavelmente após as eleições, as pressões inflacionárias vão ser maiores do que aquelas que o governo tentou conter. Essa política é um tiro no pé."
Em compensação, a empresa – que em 2013 produziu 1,93 milhão de barris de petróleo por dia no país, retrocedendo a patamares de cinco anos atrás – não está dando conta de abastecer o mercado interno e tem que aumentar a importação de gasolina e diesel – uma alta de 450% nos últimos três anos. Pelo fato de comprar mais caro no exterior e vender mais barato no mercado interno, a estatal teve prejuízo nos últimos dois anos de 37 bilhões de reais no setor de abastecimento.
Danos ao mercado
Dilma perdeu 6 pontos percentuais na intenção de voto para as próximas eleições, segundo o Datafolha
De acordo com Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, além do governo brasileiro, os principais prejudicados pelos preços não competitivos da gasolina e do diesel são os acionistas minoritários e o setor sucroalcooleiro. Para ele, o setor foi "dizimado" por causa do preço artificial de venda de combustíveis usado pela Petrobras.
"Com isso, o etanol perde um espaço importante. Além disso, a própria empresa também perde, pois ela previa fazer a transição energética para fontes renováveis após a era do petróleo", afirma Sauer. "No passado, a ideia da transição fez com que a Petrobras fosse muito bem avaliada pelos investidores nacionais e estrangeiros."
Apesar de também criticar o controle de preços dos combustíveis realizado pela estatal, o especialista da área de energia e diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, diz que a Petrobras deverá recuperar seu valor de mercado com a consolidação da exploração dos recursos do pré-sal – podendo atingir em 2020 a ousada meta de extrair 4,2 milhões de barris de petróleo por dia.
"É claro que uma empresa estatal obedece às orientações do governo, como uma empresa privada segue as linhas do seu grupo de controle e visa o lucro. Uma estatal não persegue o lucro, mas um objetivo do governo, que depende do momento político", pondera Pinguelli, que refuta as acusações de uso político.
A Petrobras também sofre com atrasos nas obras de refinarias. A empresa luta para concluir obras que estão com o cronograma atrasado, tais como a Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), na região metropolitana da capital fluminense, com o objetivo de aumentar o refino de petróleo e atender melhor o mercado interno.
O custo da instalação da refinaria em Pernambuco se multiplicou por dez – passando de 2,3 bilhões de dólares para mais de 20 bilhões de dólares – depois que a estatal venezuelana PDVSA, até então parceira do projeto, desistiu do investimento. O Comperj, por sua vez, entraria em operação em 2011, mas não deverá ser inaugurado antes de 2016.
Dor de cabeça para Dilma
A crise na Petrobras chega num momento delicado para a presidente Dilma Rousseff. Segundo a última pesquisa do Datafolha, ela teria hoje 38% das intenções de voto, seis pontos a menos que em fevereiro, data da sondagem anterior. Entre os motivos para a queda, segundo o instituto, estão o crescente pessimismo com a economia e forte desejo de mudança do eleitorado.
"A popularidade de Dilma está caindo por vários fatores, e a Petrobras também ajuda, já que a estatal é um ícone nacional. Os brasileiros têm um carinho especial pela empresa", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
A Petrobras está envolvida numa crise política sem precedentes por causa da compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), e deverá ser alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso.
Num negócio suspeito de superfaturamento e evasão de divisas, a compra da texana custou 1,18 bilhão de dólares à Petrobras, mais de 27 vezes o valor desembolsado anteriormente pela belga Astra Oil. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras e deu aval à operação.
- Data 10.04.2014
- Autoria Fernando Caulyt
- Edição Rafael Plaisant
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