Deustche Welle
Em 2002, o Vale do Alto Reno foi elevado a Patrimônio da Humanidade pela Unesco. No entanto, o Reno teve seus tempos áureos 200 anos atrás, quando o rio foi descoberto pelos artistas do Romantismo.
Em 1816, o poeta inglês Lord Byron ficou tão impressionado com as ruínas do castelo sobre o penhasco Drachenfels, perto de Bonn, que ele recorreu imediatamente a tinta e pena. Ele escreveu os famosos versos The Castled Crag of Drachenfels (O rochedo fortificado de Drachenfels, em tradução livre). Se pudesse, ele passaria o resto de sua vida aos pés do rochedo encimado por uma torre, escreveu o poeta cheio de entusiasmo.
Com os seus versos, ele desencadeou uma avalancha de poesias ligadas à natureza e impulsionou até mesmo o turismo do Reno. Hoje, o Museu Siebengebirge no tranquilo vilarejo de Königswinter, próximo a Bonn, mantém viva a fascinação dos artistas do Romantismo pelo rio mais conhecido da Alemanha. O espaço de exposição está no lugar certo: quem desce do trem em Königswinter logo vê o Drachenfels (rochedo dos dragões) e o Drachenburg (castelo dos dragões) destacando-se majestosamente na paisagem.
O Drachenburg: "uma imagem mágica"
Por esse motivo, a pequena cidade às margens do Reno ainda é um popular destino turístico, mencionado em todos os guias de viagem. Não somente poetas como Heinrich Heine, Clemens Brentano ou Joseph von Eichendorf passaram pela região no passado. Também diversos pintores para lá foram explorar o rio e sua paisagem variada, capturando-as em tela.
"Os artistas ficaram fascinados pela mistura nessa região", disse o diretor do museu, Elmar Scheuren. "Isso se deveu, por um lado, ao cenário pictórico e, pelo outro, à atividade das pessoas."
Testemunhos dessa atividade são os castelos à direita e à esquerda do Reno. Na Idade Média, eles foram construídos como fortificações militares ao longo da famosa rota de comércio. Mas, com o passar dos séculos, eles se tornaram obsoletos. Novas tecnologias de armamentos os fizeram supérfluos.
Como residências, eles também não serviam. É ainda mais surpreendente que muitos deles ficaram, já que alguns foram utilizados como pedreiras, como, por exemplo, para a construção de igrejas, disse Scheuren. Também as pedras da Catedral de Colônia vieram do Reno. Até o século 19, a traquite, a pedra cinza do rochedo Drachenfels, foi extraída e enviada para Colônia.
Cultura de ruínas e sentimento nacional
Para os românticos, as ruínas ao longo do Reno correspondiam exatamente ao desejado grau de mistério que precisavam para realizar sua arte. Naturalmente, tais ruínas também eram bem aceitas como símbolos políticos e sinais de um sentimento nacional florescente no século 19. Se por um lado era a natureza selvagem e intocada que inspirava os artistas, pelo outro, eles mostravam em suas pinturas também as marcas da civilização e do desenvolvimento.
Johannes Jakob Diezler pintou o quadro Niederlahnstein e as capelas de Stolzenfels (1830). Um idílio perfeito. Mas somente à primeira vista. Quem olhar meticulosamente poderá ver que o pintor não se interessou somente pela bela paisagem. Ele mostra também a infraestrutura moderna. Um navio a vapor navega sobre o Reno, nas margens pode-se reconhecer a viticultura, uma carruagem leva os passageiros para o rio. "Para os românticos, a paisagem cultural era a própria paisagem", explicou Scheuren.
Invenção da Loreley
Os românticos tinham muita imaginação. Eles elevaram a paisagem. E muito se projetava sobre ela. Dessa forma, também surgiu o célebre mito da Loreley. Antes do século 19, a Loreley não era nada mais que um rochedo de ardósia em Sankt Goarshausen, perto da cidade de Koblenz.
Devido ao baixo calado naquela parte do rio, a passagem era difícil e aconteciam vários naufrágios. A lenda da sereia sentada sobre o rochedo penteando seus cabelos dourados e enfeitiçando os marinheiros com o seu canto apareceu pela primeira vez em 1801.
Na balada, Em Bacharach no Reno, Clemens Brentano relata sobre uma feiticeira no vilarejo de Bacharach. Naquela época, os rochedos não tinham nenhuma importância. Somente na década de 1820, Heinrich Heine resgatou a história da Loreley e deslocou a feiticeira de Bacharach para os rochedos – onde ela se penteava.
"Assim o mito ganhou perfeição", disse Scheuren. Da mesma forma aconteceu com a lenda de Siegfried, o matador de dragões. "A luta de dragões era pura ficção. A história apareceu pela primeira vez no século 18. A discussão durou alguns anos, então ela se tornou uma lenda que perdura até hoje."
Paisagem da memória
Johannes Jakob Diezler, 'Niederlahnstein e as capelas de Stolzenfels', 1830. Óleo sobre madeira, 33,8 x 57 cm.
O que não existia, em pouco tempo era inventado. As vistas do Reno pintadas pelo suíço Ludwig Bleueler são prova da contradição entre sonho e realidade. Uma vista de Mainz mostra um parque com pessoas. Uma locomotiva atravessa o parque.
"Na época, a linha férrea na margem esquerda do Reno ainda estava em planejamento", comenta Scheuren. O avanço da modernização não modificou somente a paisagem do Reno. No final da década de 1820, milhares de turistas invadiram a região.
A requintada produção artística deu lugar ao consumo em massa. O navio a vapor contribuiu para tornar as viagens mais acessíveis. Até mesmo membros da família real britânica – também atraídos pelos versos de seu herói nacional Lord Byron – visitaram o rio tão festejado.
No século 19, a popularidade do Reno atingiu seu ponto alto na arte. No século 20, as viagens de longa distância substituíram as férias no Reno. Mas o popular rio não foi completamente esquecido. E diz-se que o penhasco Drachenfels, com seus 350 metros, é a montanha mais escalada da Europa.
- Data 02.09.2013
- Autoria Sabine Oelze (ca)
- Edição Roselaine Wandscheer
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