sexta-feira, 23 de maio de 2025

Vapor Blumenau I - Durante visita dos Oficiais e Tripulação da Esquadra Alemã - Maio de 1914

Observando a História em uma fotografia.

Günther Ronald Ewald.
No segundo semestre de 2021 foi nos repassado  um pequeno acervo de fotografias históricas de Blumenau e região. Este pertencia a família de Günther Ronald Ewald, nascido em Blumenau e que atualmente reside em Nova Petrópolis/Gramado RS. Teve a iniciativa com o intuito de contribuir para a pesquisa histórica e também para que temporariamente fôssemos guardiã deste pequeno tesouro histórico. 
Neste momento apresentamos uma fotografia feita em maio de 1914, há exatos 111 anos e que mostra a visita de parte dos oficiais e a tripulação da Esquadra Alemã formada pelos navios de guerra à vapor "Kaiser", "König Albert" e "Strassburg", chegando ao porto fluvial com o Vapor Blumenau I e recebido por boa parte da população de Blumenau da época. 
De acordo com Günther Ronald Ewald, esta fotografia pertencia aos Schönau, família de sua avó Frieda e que passou a pertencer a ela e a seu marido Oscar Ewald. Esta fotografia estava exposta na sala da residência Ewald - lembranças para Günther. 
Fotografia original.
A fotografia foi herdada dos Schönau ou Schoenau de Altona, atual bairro de Itoupava Seca, mais especificamente, do bisavô de Günther, conhecido Fritz Schönau, que foi filho de Catharina Schönau e Wilhelm Schönau
Catharina era da família Lukas, sobrinha do pioneiro Johannes Peter Wagner, filha de sua irmã Dorothea Wagner e de Peter Lukas.
Máquina de Costura de Frieda (Schönau) Ewald.
Frieda Schönau
(Ewald) quando solteira, costureira,  residia no Hotel Dancker, localizado  ao lado da firma do Salinger, Altona, onde conheceu seu futuro marido, Oscar Ewald de Benedito Novo/Timbó. 
Oscar trabalhava com um veículo à mola tracionado à animal e transportava cargas e pessoas entre a sua região e Altona  - atual bairro de Blumenau Itoupava Seca. Deixava seu veículo "estacionado" na frente do Hotel Dancker, enquanto seus passageiros faziam compras no Salinger
Günther Ronald Ewald conta que, quando possível, algumas pessoas aproveitavam, quando compravam peça de tecido, no mesmo dia, já costuravam suas roupas novas e de toda a família, na sala de costura de Frieda Schönau localizada junto ao hotel, o que facilitou para que a jovem conhecesse seu futuro marido, Oscar Ewald. 

"Minha vó Frieda fazia calças e camisas no dia, para pessoas que vinham do interior fazer compras no Salinger e já levavam no dia. Quem lhe deu a primeira maquina costura e unica, que tinha a vida toda, foi o velho Fouquet.
Destas famílias que tinham terras que começavam na beira do Rio Itajaí Açú e iam até á  Vila Nova, onde depois, a terceira geração, em 1940, começaram a lotear a Vila Nova. As terras do meu trisavô Heinrich Shöenau eram onde, na rua Bahia, faz a curva, no local que o trem atravessava, vizinho dos Mathes e Reif. Ele faleceu cedo ai ficou a viúva Catharina, nascida de Lukas, sobrinha de Pedro Wagner." Günther Ronald Ewald.

Frieda, sobrinha do pioneiro Johann Peter Wagner/Pedro Wagner, filha de sua irmã Dorothea e de seu amigo Peter Lukas se casou com Oscar Ewald em 1923 e ficaram residindo no Hotel Danker, em Altona, por três anos. Nestes três anos tiveram a primeira filha, Rita, quando adquiriram o terreno de Scheidmantel, localizado entre o início da Rua Gustavo Salinger e o morro onde está o atual ginásio de esportes da EBM Machado de Assis, onde estava localizada a casa do Ewald. O local era conhecido como o Morro dos Ewald. A rua de acesso ao ginásio esportivo tem o nome de Oscar Ewald, que foi construtor na comunidade e sua esposa, costureira.
A família Ewald de Altona tinha uma vida social muito ativa no Clube de Caça e Tiro e tinha um espaço de destaque nas sociedades de Blumenau. Na Década de 1970, o pai de Günther Ronald Ewald teve a presença ilustre da neta de Hermann Blumenau em sua festa de Rei.

A Fotografia

Ford T - Blumenau da década de 1920.
Fotografia do início do século XX apresentada nessa publicação é muito interessante e nela, podemos "ler" a existência da intermodalidade presente em Blumenau neste recorte de tempo histórico. Observamos a presença do Vapor Blumenau (navegação fluvial), do automóvel - um Ford T (fabricados entre 1909 e 1927), de uma bicicleta de fabricação inglesa, um cavaleiro e seu cavalo  e dezenas de pedestres em um mesmo "ambiente", destoando da realidade atual, no Brasil, onde predominantemente o espaço prioritário é destinado somente para o automóvel, justificando politicamente qualquer intervenção mais drástica. Lembramos que na cidade de Blumenau e em outras cidades brasileiras, no período pós segunda guerra mundial, se escolheu o rodoviarismo por opção de política econômica de abertura ao capital estrangeiro, mais especificamente para a indústria automobilística que teve início no governo de Getúlio Vargas e se consolidou no governo de Juscelino Kubitschek. Tudo isso está contemplado em nosso livro "A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina", disponível on line.



Não bastasse a existência dos modais de transportes citados na fotografia da família Ewald, também a cidade era contemplada pela ferrovia, EFSC, o teor do livro citado anteriormente
Para este evento, registrado na fotografia histórica, a visita dos marinheiros alemães, em especial, a Editora do Jornal  "Der Urwaldasbote", através da iniciativa de G. Artur Koeler, publicou um pequeno catálogo contendo fotografias de estações ferroviárias e paisagens locais da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC, cujo primeiro trecho (Blumenau a Warnow - Indaial) foi inaugurado em 1909. A publicação apontou a ilustre visita à região, ao mesmo tempo que enaltecia o desenvolvimento regional, através da presença da ferrovia. Em 1914, EFSC, que a época, ainda se encontrava em construção (nunca foi concluída), contava com 5 anos de inauguração do primeiro trecho - trecho de Blumenau a Warnow. 
Este material também está contemplado no livro citado anteriormente.
Capa de rosto do folder comemorativo da visita dos oficiais e tripulação da esquadra alemã em maio de 1914.  
"Imagens de Blumenau -  Como recordação à visita dos Oficiais e Tripulação da Esquadra Alemã em maio de 1914.  Adquirido da Editora do Jornal  "Der Urwaldasbote", G.Artur Koeler, Blumenau."
Trecho em construção na época, Médio Vale do Itajaí, região de Ibirama e Apiúna. A ponte ferroviária de Ibirama, foi a primeira ponte construída no Rio Itajaí Açu.
"Imagens da Ferrovia de Santa Catarina"
Primeira estação de Indaial e ponte de ferro sobre o Rio Itajaí Açu próximo a estação de Hansa.
"Imagens da Ferrovia de Santa Catarina".
A primeira foto mostra a primeira estação do Encano. A segunda e terceira fotos mostram a primeira estação de Warnow e a última foto  mostra a estação (desconhecida) que existiu no bairro Passo Manso. 
A primeira imagem é da estação de Blumenau, construída, como a maioria das demais, com a técnica construtiva enxaimel, no local onde atualmente está a Prefeitura Municipal de Blumenau, construída com técnica mista, dotada de fachadismo, com ripas coladas na fachada, criando o fake do que deveria ser o enxaimel. A segunda é o porto de cargas que existia na Altona, atual bairro de Itoupava Seca. A terceira fotografia é a primeira estação de Indaial e a última foto é a paisagem de Apiúna.
O trem parado onde estava a estação (desconhecida) do Salto Weissbach.
"Estação de Salto Weissbach"

Ponte sobre o ribeirão Encano.

"Ponte do Encano"

Estação do Passo Manso, atualmente só existe a base da rampa de acesso.

"Estação do Passo Manso"

Ponte de Granito Rosa - sobre a foz do Ribeirão do Tigre. 

"Ponte do Ribeirão do Tigre"
A primeira estação ferroviária de Blumenau era uma obra de arte arquitetônica. Perdeu sua importância para aquilo que foi construída somente 5 décadas após sua inauguração ( 3 de maio de 1909).  
Assim que foi inaugurado o novo trecho ferroviário da EFSC, de Blumenau à Itajaí, a estação de Blumenau deixou de ter sua importância para aquilo que fora construída. Foi desativada de seu propósito no ano de 1954 - data da inauguração do trecho Blumenau à Itajaí. A partir de 1954 passou a ser usada como escritório da EFSC e foi demolida em 1974 - 20 anos após deixar de ser a Estação Ferroviária de Blumenau - da EFSC. 
A nova estação foi construída no estilo Art Decó, alguns metros antes da primeira, tendo ambas a nova ponte de Ferro Aldo Pereira de Andrade entre as suas localizações. 
No terreno da primeira estação de Blumenau foi construída o novo edifício da Prefeitura Municipal de Blumenau, com uma "arquitetura cênica" a partir da "estampa", em suas fachadas, do cenário do que seria uma edificação enxaimel. Este cenário foi construído a partir de fixação de ripas de madeira em sua fachada, lembrando uma edificação construída com a técnica enxaimel, como era, originalmente, a primeira estação ferroviária de Blumenau.
"Estação Ferroviária de Blumenau"
Primeira fotografia estampa a estação ferroviária de Blumenau, na segunda fotografia a estação de Itoupava Seca, que atualmente existe um marco no local. Segue na terceira foto, a estação de Salto Weissbach e depois a estação de Passo Manso.
"Imagens da Ferrovia Santa Catarina."
A visita dos Marinheiros
"Já para eles o mar era o caminho de ligação entre o desconhecido e a terra natal, apesar dos meios de transporte aquáticos simples, e hoje, muito mais que antigamente, o mar é o caminho mais curto para a ligação de países e continentes, para a procura da felicidade no exterior, para o retorno ao amigo e ao irmão no país natal.
As modernas possibilidades de transporte por barco a vapor existem provavelmente há uma geração, pois apenas em 1807 começou a navegação por barco a vapor, de uma forma bastante modesta, com as vigentes de Fulton no rio Hudson. Somente depois da introdução do barco a vapor com hélice, em 1840, é que foi possível pensar em viagens maiores e, assim, a Linha Cunard da Inglaterra empreendeu, em 1842, a primeira viagem ao redor do mundo. HUMPL, 189.

É interessante ler parte do livro do professor Max Humpl, mencionando sobre a contemporaneidade dos vapores, sendo que neste mesmo século, Blumenau já era dotado de navegação à vapor. Os primeiros imigrantes chegaram em Santa Catarina de veleiros em uma viagem que variava, em média,  em torno de 16 semanas. Isso aconteceu entre os anos de 1850 e 1876. Depois disto, as viagens eram feitas de vapores, onde as pessoas embarcavam nos portos de  Hamburg e Bremen. 
Professor Humpl, que residia em Altona, mencionou em seu livro, que as comunicações eram grandes entre imigrantes alemães, capitães e marinheiros. Frequentemente, navios faziam visitas formais ao governo brasileiro e também, à Nossa Senhora de Desterro, se deslocavam até o pequeno porto fluvial do Rio Itajaí Açu, onde aconteciam grandes confraternizações entre imigrantes alemães e descendência residentes e os marinheiros oficiais do governo alemão.
O primeiro grande navio alemão a aportar no Porto de Itajaí e ter contato com a Colônia Blumenau foi o "Albatros" em 1879. O país da Alemanha tinha 8 anos de idade. Depois, o porto fluvial de Blumenau recebeu parte da tripulação do "Panther", que também aportou em Itajaí, em 1906. Em 1911, houve uma nova visita, com a visita de 400 marinheiros do navio "Von der Tann", o qual também, ancorou no Porto de Itajaí.  
Postal da visita dos marinheiros do navio "Von der Tann" no porto fluvial de Blumenau.

Visita registrada na foto desta Postagem - 1914.
Almirante Hubert von Rebeur-Paschwitz
Fonte: Wikipédia
Entre os dias
4 a 6 de maio de 1914, um pouco antes do início da 1° Grande Guerra (que teve início em 28 de julho), 19 oficiais, entre os quais estavam o Almirante Hubert von Rebeur-Paschwitz e mais 275 marinheiros da tripulação dos navios alemães "Kaiser", "König Albert" e "Strassburg". Os marinheiros e oficias estiveram também na comunidade de Altona, o que pode ter despertado o interesse do antepassado de Günther Ronald Ewald que residia na comunidade. 
O Almirante Hubert von Rebeur-Paschwitz, nasceu em Frankfurt em 14 de agosto de 1863 e faleceu em Dresden em 16 de fevereiro de 1933. Em 1899, foi um adido naval alemão em Washington e mais tarde, em 1912, comandou a frota de navios de guerra alemães mencionada, que visitou os Estados Unidos e também, o Brasil
Fonte: Wikipédia

"Raramente podia-se ver em Altona um espírito tão festivo tão alegre quanto naqueles dias. Todos competiam para organizar uma recepção cordial e hospitaleira para a querida visita, para mostrar-lhes o modo como vivemos e aquilo que nos longos anos foi feito aqui pelos imigrantes alemães e pelos descendentes. - A maioria das casas tinha recebido alojamentos, e as pessoas empregavam todos os meios para proporcionar aos lobos do mar alguns dias alegres em terra. (...) Os dias de visita jamais serão esquecidos por nós, e da mesma forma os oficiais e as tripulações alemãs da marinha também não esquecerão a impressão que eles tiveram do desenvolvimento da colonização alemã e do trabalho de civilização na distante nação brasileira, e com prazer se lembrarão dos alegres dias entre compatriotas de terras longínquas. Provas disso são as numerosas cartas e cartões postais dos visitantes, as quais chegaram aqui.

Nos últimos anos, devido a guerra, todas as notícias tiveram de cessar. Muitos dos queridos visitantes, provavelmente tiveram uma morte honrosa como defensores da pátria, e descansam no fundo do mar. Humpl, 191/192.

Registro para a História! 

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 4. ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2000. 1014p.

BERNER, J. O. As locomotivas da Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau em Cadernos, Blumenau, tomo 10, n. 5, p. 91-92, maio 1969.

CENTENÁRIO de Blumenau. 1850 - 2 de Setembro - 1950. Blumenau: [s.n.], 1950. - 1v.(varias paginações).il. Edição Comissão de festejos.

GERLACH, Gilberto Schmidt,  Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.

HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau; Méri Frotscher Kramer e Johannes Kramer (orgs.). - 1.ed. - Blumenau (SC) : Edifurb, 2015. - 226 p. : il.

SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il. 

SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2.ed. - Blumenau: Fundação "Casa Dr. Blumenau", 1988. - 299 p.

VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.

WITTMANN, Angelina C.R. A ferrovia no Vale do Itajaí: Estrada de Ferro Santa Catarina : Edifurb, 2010. - 304 p. :il.


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