quarta-feira, 29 de junho de 2022

Harmônio de 160 fez parte do patrimônio da Kreuzkirche - Igreja da Cruz e há 70 anos está na comunidade Blumenau Velha



Quando escrevemos sobre a
Kreuzkirche - Igreja da Cruz (link no final desta postagem), a primeira igreja luterana de Itoupava Seca - Blumenau, construída dentro do parque fabril da Altona por um dos fundadores da firma, Richard Paul Werner não tínhamos qualquer informação de seu interior, além do não conhecimento de sua existência. Igreja da Cruz foi inaugurada em 15 de setembro de 1929. Até esta data, a comunidade de Altona/Itoupava Seca pertencia e frequentava a Comunidade luterana do Centro.
Na postagem sobre a Kreuzkirche  fizemos uma rápida análise de sua arquitetura que destoava de todas as igrejas construídas por imigrantes alemães e da tradicional igreja alemã, que geralmente apresentam características do neogótico, de certa maneira, a arquitetura nacional adotada pelo multicultural povo alemão, juntamente com o gótico, pois jamais aceitaram muito bem as correntes "internacionais". Seus idealizadores buscaram um estilo anterior que também era construído na idade média, mas não especificamente o gótico ou neogótico. A igreja de Altona/Itoupava Seca construída por Richard Paul Werner, se caracteriza pela presença do volume robusto marcado por duas torres de planta quadrada, baixas construídas com pedras, marcando a simetria presente na fachada, centralizada por uma porte acabada por um arco pleno - românico. 
Posteriormente encontramos parte do que compunha o interior da Kreuzkirche - Igreja da Cruz, guardado em uma sala da nova Igreja luterana de Itoupava Seca. Entre estes objetos, antigas bíblias, castiçais, fotografia de seu interior, banco, entre outros objetos. 
Igreja da Cruz - onde estava o hamônio que está na Igreja Blumenau Velha.

Interior da Kreuzkirche.


Na sequência, algumas das peças com maior detalhes, que fazem parte da história de uma comunidade muito importante dentro da História da cidade de Blumenau, que construiu, a partir da liderança do dono da firma, Herr Werner, esta preciosidade da arquitetura e que, infelizmente, não a temos mais na paisagem de Blumenau.
Seria o único exemplar com traços da
igreja românica, estilo muito anterior ao gótico e neogótico, estilo geralmente adotado dentro da Alemanha e em muitas igrejas na região.
Prato de coleta - Kreuzkirche.




Prato de coleta da Igreja da Cruz.







Prato de Batismo fabricado em Berlin - Igreja da Cruz.




Banco original - necessitando um restauro.

Altar

Altar da Igreja da Cruz.






Além destes elementos encontrados que pertenciam e estavam no interior da Kreuzkirche - Igreja da Cruz - encontramos outra peça muito importante da igreja, o seu harmônio. Não o vimos na antiga fotografia do interior da igreja histórica, que ilustra muito bem seu púlpito, esclarecendo uma dúvida que existia. A convite, fomos encontrar o antigo harmônio instalado e funcionando na Paróquia Luterana Igreja Blumenau Velha, no culto da noite de 2 de junho de 2022. Nesta noite de 2 de junho de 2022, nos foi informado que o púlpito, igualmente, poderia ser da antiga Kreuzkirche - Igreja da Cruz, o que não confere. Esta informação conseguimos ao analisar o púlpito presente na igreja e aqule no interior da Kreuzkirche em uma fotografia e dizer que não é a mesma peça. Observem.
Harmônio Paróquia Blumenau Velha
O histórico harmônio está no coro da igreja e faz parte de seus cultos há aproximadamente 70 anos.
Observando-o de perto, talvez dentro de algumas de suas reformas, este foi modificado e no estado atual, não se poderia afirmar que é realmente um harmônio, pela entrada mecânica de ar, utilizando um motor e pela presença do teclado de pés - os baixos, que inexistem em harmônio. Harmônio é adotado de pedal - um ou dois, somente.
Sua fabricação original é da firma alemã, mais precisamente da cidade de Stuttgart, PH.J.Trayser & Cie, fundada por Philip Trayser e J. & P. ​​Schiedmayer na década de 1850. Trayser e Schiedmayer estudaram sobre os instrumentos musicais, na França e apresentaram uma novidade em seus produtos: o harmônio vento de pressão francês na Alemanha, que parece ser um exemplar deste tipo.
Algumas pessoas denominam este instrumento de harmônio do vento de pressão, por seus funcionamento semelhante a um órgão. Observamos que o "baixo" destes, está nos pedais, que foram colocados no instrumento posteriormente. No harmônio vento de pressão, o tom é gerado exatamente de forma oposta ao harmônio vento de sucção. Ao pisar no pedal, um acumulador de pressão, o carregador de vento, é preenchido. Ele está sob pressão. Ao pressionar uma ou mais teclas, o ar escapa pela “língua” (portador de som no harmônio) para fora, criando o som.
As diferenças entre harmônio de vento de sucção e de um harmônio de vento de pressão:
  • 1. Característica distintiva: traço de expressão
  • 2ª diferença: teclado - A pressão do teclado vento harmônio C - c4 (no vento de sucção harmônio vai de F - F3)
  • 3ª diferença: divisão do teclado

História  harmônio vento de pressão

Este tipo de harmônio foi originalmente desenvolvido na França. O clássico harmônio de vento de pressão remonta ao construtor Alexandre-François Debain. Em 1842 ele recebeu uma patente para o instrumento descrito com precisão que funcionava com base no sistema de vento de pressão e ainda era comumente conhecido hoje como o "harmonium".
O harmônio de vento de pressãotambém conhecido como harmônio de ar comprimido, é um tipo de instrumento musical que foi muito difundido na Alemanha, desde o final do século XIX, ao lado do harmônio de arte e harmônio de vento de sucção. O harmônio de vento de pressão se aproxima do harmônio artificial, que foi especialmente projetado para uso artístico solo, diferentemente do harmônio de vento de sucção
Mobiliário - geração de som
A função do harmônio do vento de pressão é semelhante à do órgão. Com o harmônio vento de pressão, o tom é gerado exatamente de forma oposta ao harmônio vento de sucção. Ao pisar no pedal, um acumulador de pressão, o carregador de vento , é preenchido. Ele está sob pressão. Ao pressionar uma ou mais teclas, o ar escapa pela “língua” (portador de som no harmônio) para fora, criando o som.
Instrumentos deste tipo ainda são encontrados em igrejas e capelas atualmente, como é o caso do instrumento da Paroquia Luterana Blumenau Velha.
Harmônio da Igreja de Blumenau Velha pode ser o último modelo que se tem notícias fabricado, no mundo, antes do fechamento da fábrica em Stuttgart, na Alemanha.
O harmônio vento de pressão da Paróquia Luterana Blumenau Velha SC Brazilian e que já esteve na Kreuzkirche - Igreja da Cruz tem uma placa com o nome PH. J. Trayser E Cie - Harmoniumfabrik Stuttgart - Deutschland. 
De acordo com Roberto Huscher, da comunidade luterana Blumenau Velha, o harmônio vento de pressão da igreja foi fabricado em 1862 e , portanto tem a idade de existência de 160 anos. Fez parte de uma série especial produzido na época. Este seria o último modelo que se tem notícias, fabricado, no mundo, antes do fechamento da fábrica.
Este harmônio da igreja, repetindo, além do grande valor histórico sofreu alterações em sua originalidade recebendo o teclado de pé, que substituiu os dois pedais originais de fabrica, como ilustram as imagens.

Um exemplar original da fábrica que produziu o Harmônio de 160 anos que está em Blumenau.
A fábrica PH. J. Trayser E Cie - Harmoniumfabrik tinha sua sede em Stuttgart, na rua Rotebuehlstr. 100 e foi fundada em 1850 e um dos fundadores estudou na França, como já mencionado e introduziu o harmônio vento de pressão francês na Alemanha.
Em  1854, Trayser foi premiado e recebeu uma medalha de honra, em Munique. Em 1862, no ano da fabricação do instrumento que está em Blumenau, originalmente fazia parte do patrimônio do Kreuzkirche - Igreja da Cruz de Itoupava Seca. Ocorreu um forte vendaval e chuvas destelhando a Kreuzkirche e molhando o instrumento do século XIX. A comunidade luterana de Itoupava Seca - trocando de igreja, também concluiu que o harmônio não teria mais concerto e ofertou a comunidade luterana Blumenau Velha, que aceitou prontamente, na pessoa de  Hans Peter Dietrich, que o consertou e substituiu a gordura por parafusos e, de fato, acrescentou o motor elétrico para alimentar o fole de ar que tem a dimensão do harmônio e é confeccionado em  couro de carneiro. Durante sua última reforma foi verificado que seus canais de ar são feitos manualmente, e na saída de cada tubo, há uma folha milimétrica de ouro e através das vibrações destas, surge o som do harmônio.
Logo que foi findada a construção da igreja da comunidade luterana Igreja Blumenau Velha, foi colocado o harmônio no coreto e sempre esteve lá. Hans Peter Dietrich pesquisou o instrumento e constatou que foi um dos último exemplares a serem produzidos antes da fábrica interromper sua produção e fechar. Ficou registrado que de sua serie, é o maior fabricado pela Harmoniumfabrik, último exemplar no mundo. Por conta desta informação, já foi oferecido um valor pelo instrumento histórico, por um museu da Europa

Noite de dia 2 de junho de 2022

O velho harmônio esteve em boa companhia durante o culto da noite. Este participando da musica o grupo de metais/sopro. Quem o tocou foi o professor e maestro João Ullrich.

João Ullrich.








Videos 

As imagens comunicam












Carvalho alemão.


Magnífico banco.


Referências
  • BRANDE. Altona: rumo aos 100 anos com muito orgulho! A empresa está comemorando 95 anos como uma das mais conhecidas globalmente no seu segmento. NSC +.08/03/2019 – 13h24 – Atualizada em: 11/03/2019 – 16h52. Disponível em:https://www.nsctotal.com.br/noticias/altona-rumo-aos-100-anos-com-muito-orgulho. Acesso em: 03 de julho de 2021 – 17:17h.
  • Centenário de Blumenau (1850-2 de setembro de 1950). Edição especial – da Comissão de Festejos. Blumenau. 1950.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau, 1.ed. Méri Frotschter Kramer e Johannes Kramer (organizadores). Escrito em 2018. Blumenau: Edifurb, 2015. 227 p.: il.
  • WITTMANN, Angelina. A Primeira Igreja Luterana de Itoupava Seca – Blumenau – foi construída pelo Engenheiro Richard Paul Werner em 1929 – Junto à Electro Aço Altona. 3 de julho de 2021. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/08/escola-alema-altona-sua-historia-e-o.html. Acesso em: 22 de março de 2022 – 15:50h.
  • WITTMANN, Angelina. Hans Broos. 18 de outubro de 2013. Disponível em:  https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/arquiteto-hans-broos.html. Acesso em: 23 de março de 2022 – 9:47h.
  • WITTMANN, Angelina. Livro – Centenário de Blumenau (1850-2 de setembro de 1950) e os Personagens da História que foram escolhidos para esta publicação histórica. 23 de janeiro de 2022. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2022/01/livro-centenario-de-blumenau-1850-2-de.html . Acesso em: 22 de março de 2022 – 13:40h.
  • WITTMANN, Angelina. Peter Christian Feddersen – Revisado em 2017. 9 de abril de 2015. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2015/04/peter-christian-feddersen-revisada-em.html. Acesso em: 22 de março de 2022 – 15:50h.


Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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