domingo, 5 de junho de 2022

Projeto Memorvale - Casa Spernau - Rua Bahia N° 1281 - DEMOLIDA em 27 de maio de 2022 - com autorização da Prefeitura Municipal de Blumenau

A Casa Spernau, construída por Harry Spernau em 1940 faz parte do Projeto Mermovale, projeto efetuado a partir de levantamentos de arquiteturas de valor histórico e arquitetônico efetuado pela Prefeitura Municipal de Blumenau (IPPUB) e pela Univesidade (FURB), na Década de 1990, cujas cópias foram deixadas no Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, na Prefeitura Municipal de Blumenau e na FURB (No Curso de Arquitetura e Documentos Raros da Biblioteca Universitária Prof. Martinho Cardoso da Veiga - Biblioteca Central).
O patrimônio histórico cultural demolido em 27 de maio de 2022 pela administração pública de Blumenau, justificando a construção de uma rótula (havia outras possibilidades - se de fato caberia uma rótula no local) era um exemplar de uso misto: residencial e comercial, cujo projeto assinado pelo arquiteto das catedrais Simon Gramlich.
O patrimônio cultural de Blumenau estava localizado na Rua Bahia, sob o número 1281, esquina com a Rua Benjamim Constant.
Localização do Patrimônio Cultural, demolido por ordem direta do Prefeito de Blumenau Mário Hildebrandt com agradecimentos de representante do Legislativo de Blumenau.



 
Projeto apresentado pelos responsáveis à sociedade através das redes sociais e para a mídia.
Este projeto urbanístico desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Blumenau, passou pela análise do COPE - Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau ? Conselho este, composto com membros da sociedade da cidade - governamental e não governamental?
Demolição em 27 de maio de 2022

Arquitetura

Arquitetura que marca a importante esquina formada pela Rua Bahia e Benjamim Constante, através da marcação em igualdade de importância das quatro elevações da edificação,  sendo que o pavimento térreo apresente uma área maior, denotando uma visual estabilidade na tipologia eclética com predominância do art decó, semelhante a outros projeto do arquiteto alemão.
 A cobertura é marcada por quatro panos de telhados - quatro águas com grande beirais e estrutura de madeira, coberta com telhas cerâmicas tipo rabo de castor ou planas, tipo germânica, usual na região durante quase todo século XX.
As aberturas, também de madeira segue a tipologia usual na região, com folhas envidraças, como as já usadas em tipologias construídas com a técnica construtiva enxaimel. Características e usual na região do Vale do Itajaí. 
A técnica construtiva adotada é a partir de arquitetura autoportante feita com tijolos maciços rebocados e uso do estuque em algumas partes com necessidades de acabamentos.
A paredes externas receberam o decorativismo a partir da presença de cimalhas horizontais, o que quebra um pouco o aparente verticalismo, pela presença da área menor no segundo pavimento. 
Não tivemos oportunidades, em pesquisa, de poder observar patrimônio histórico cultural internamente. Esta postagem ficara aberta para receber mais informações sobre a edificação. O principal elemento do art decó  na edificação da Rua Bahia, está localizado onde há um alto relevo, marcado com a presença de três janelas estreitas e altas, que também marca a entrada no pavimento térreo.
As três janelas altas, em um alto relevo na fachada norte - característica do art decó.




Arquiteto Simon Gramlich

Gramlich foi um engenheiro arquiteto alemão nascido na cidade de Herbolzheim - estado de Baden Würtemberg - Alemanha, no dia 7 de agosto de 1887, que trabalhou por 46 anos na área. Projetou com a linguagem de períodos distintos da História da Arte, produzindo em muitas linguagens artísticas, com esmero e qualidade da técnica. 
Aparentemente, não teve o devido reconhecimento, sendo que foi lembrado somente meio século após a sua morte. Sua contribuição vai além do Urbanismo, como é lembrado em manifestações atuais nas quais é mencionado. Sua contribuição foi e aconteceu na Arquitetura local, da região e do Sul do Brasil.

Sua vasta obra executada em muitas cidades do Sul do Brasil, composta de projetos com características  ecléticas da virada do século XIX para o século XX, Art Decó, neogótico, neoclássico e moderno - que variam de residências de todos os tamanhos, fábricas, escolas, espaços comerciais e muitas igrejas.
Impressiona é que não houveram registros - ocasionado talvez, por "ecos" do Nacionalismo impetrado em solo brasileiro após a década de 1930, com reflexos até os anos de de 1980. Através desse clima político, talvez tenha tido problemas no Rio Grande do Sul - o que o fez mudar-se para Blumenau SC e assinou dezenas de projetos variados, entre estes, a Casa Spernau.
Blumenau SC.




Entre outras tantas perguntas que pairam e aguça nossa curiosidade de pesquisadora, a partir de uma personalidade intrigante, mesmo com tão poucos dados sobre si.

Projeto Mermovale

Patrimônio Histórico Cultural, a Casa Spernau parte do levantamento efeituado através do projeto coordenado pelo Professor Vilmar Vidor - Mermovale, preenchido pela pesquisadora, arquiteta Cora Schneider.
Depoimento Espontâneo sob esta informação em rede social 
"A Prefeitura ou alguns integrantes deste poder público não estão nem aí para a opinião de seus moradores. Ainda mais, o Sr. mandatário da cidade que se comporta com arrogância em muitos casos. Um elevado um viaduto, porque não? Poderia haver estudos para isso sim, e preservar os imóveis históricos da cidade. Mas não é o que acontece, nossa história está sendo pulverizada nos 4 cantos da cidade. Não só em Blumenau, mas no Vale, como em Indaial, Timbó, Rodeio e ali vai. Não há o mínimo de consciência histórico cultural. Bom, haja vista, o que aconteceu com a FAMOSC e seu pavilhão histórico demolido sem necessidade da reforma da PROEB para Vila Germânica. São vários casos de destruição da nossa identidade cultural explícita nos antigos imóveis. Triste, pois teremos uma cidade estrangulada pelo trânsito, em poucos anos. Não há estudos para metros e outros veículos de transporte público. Um outro exemplo, no começo dos anos 2000, o poder público destruiu o comércio da Itoupava Norte e ainda hoje, há os sinais são gritantes, lojas vazias e placas de aluga-se aos 4 cantos. Não houve preocupações com os pequenos comércios, muitos, históricos. Localizados bem na região da antiga empresa Nossa Senhora da Gloria a Parada 1. Sei bem como funciona a ação do poder publico.
A casa dos meus pais, na época foi autorizada em 1980, a ser construída a altura do pavimento de rolamento da Rua 2 de Setembro. Detalhe - casa com calçadas específicas e muito bem feitas para o pedestre. Pois bem, semana passada começaram as obras de ciclovia e calçadas. A casa terá sua entrada bloqueada por 30 cm de meio fios e água das chuvas. Problema antigo das águas pluviais. Foi buscado auxílio ao poder público. Resposta: Não há conversa. A democracia da querida administração pública de Blumenau não aceita opiniões soluções e divergências de seus moradores, apenas pagadores de ISS e IPTU, infelizmente só servimos para isso. O morador, seu comércio, ou, a pequena lojinha que contribui em divisas financeiras para o município tem que se virar ou procurar rádios para procurar seus direitos. A prefeitura infelizmente não ouve ninguém. A verdade é uma só: somos todos somente mero contribuintes para poder público. Que deveria ser ao contrário, escutar, sentar e resolver as dificuldades, dúvidas e projetos em uma parceria comunidade e prefeitura pois quem paga a conta somos nós, com nosso trabalho. Direito e mais direitos, deveres para a organização pública poderá esperar sentado." Roger Schulte Milchert - 29 de maio de 2022
Registrado para a História.

Projeto Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico Memorvale

O projeto Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale foi a efetivação do cadastramento das principais tipologias pertencentes ao patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau e região, nas décadas de 1980 e 1990 e, que teve como epílogo, o tombamento, pela Fundação Catarinense de Cultura, de vários imóveis no centro de Blumenau e outros restaurados. Professor Vilmar Vidor foi o idealizador e proponente do projeto, tendo em sua equipe, dentre outras pessoas, a professora Amábile M. T. Dorigatti, que também coordenou o projeto, em determinada época.
Para a efetivação prática do projeto, Professor Vilmar Vidor contou com o apoio da FURB, através da participação de estagiários acadêmicos da instituição, que elaboraram o cadastro de imóveis antigos, de todos os tipos, linguagem e técnicas construtivas, entre os quais, aqueles construídos com a técnica construtiva enxaimel. O cadastro individual de cada tipologia, continha um pequeno relatório técnico, descrição, planta baixa, elevações e fotografias dos imóveis selecionados.

Fichas do Cadastro do Patrimônio Arquitetônico - Memorvale 

Tivemos acessos a mais de 1100 fichas pertencentes ao Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale (E que apresentaremos de modo individual - listada neste espaço), semelhantes a esta pequena amostra apresentada abaixo, onde estão listadas algumas das centenas de tipologias construídas com a técnica construtiva enxaimel, autoportante, e outras técnicas, dentro de diferentes estilos e recortes de tempo, que existem e existiam na cidade de Blumenau região. O modelo da ficha foi criado pelo Professor Vilmar Vidor e sua equipe e usado para elaborar o pioneiro cadastro do Patrimônio Histórico Arquitetônico, conhecido como Memorvale. De acordo com o Professor Vidor, pioneiro nesta pesquisa no Vale do Itajaí, em entrevista cedida ao jornalista Altair Pimpão, em 2 de março de 2014, 2/3 das edificações cadastradas de Blumenau, foram demolidas. Atualmente, mais, com certeza.
O assunto patrimônio e este trabalho eram tão novos dentro da academia, na cidade de Blumenau e região, que em algumas fichas, as casas foram definidas como “enchaimel”

O acervo e seu destino

Ainda na entrevista cedida ao jornalista Altair Carlos Pimpão em 2 de março de 2014, o Professor Vilmar Vidor explicou que o fichário dos imóveis foi repassado para a Fundação Cultural de Blumenau, para o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Blumenau – IPPUB e para a FURB, onde pesquisamos o acervoO trabalho foi desenvolvido em parceria, entre a FURB e o IPPUB, foi muito facilitado e viabilizado, porque o Professor Vidor era Presidente do IPPUB, e simultaneamente, professor da FURB, o que lhe permitiu "diminuir distâncias" e a burocracia para o êxito do projeto.
A partir do projeto de Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico, conhecido como Memorvale, a Professora do Curso de Serviço Social da FURB – Amábile M. T. Dorigatti, criou a Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos; importante para o êxito do projeto, sua fluidez, levantamentos e efetivação dos cadastramentos das edificações históricas, viabilizando diálogos, projetos e parcerias entre proprietáriospesquisadores e poder público. 
Desta forma, a equipe de pesquisas coordenada pelo Professor Vilmar Vidor mantinha um diálogo permanente com os proprietários de imóveis antigos, através da associação que tinha uma cadeira no Conselho do Patrimônio Histórico de Blumenau, e também, no Conselho de Planejamento Urbano de Blumenau. Nas assembleias desta Associação, a municipalidade e os proprietários debatiam sobre a manutenção do patrimônio e sobre possíveis políticas preservacionistas. Existia um Estatuto e as reuniões eram periódicas.
Este material da Memorvale que pesquisamos, acessamos o Setor de Documentos Especiais da Biblioteca da FURB.

Na sequência os link's das Edificações Históricas, demolidas ou não, seus estudos, fotografias e a ficha do Memorvale. Para acessar, basta clicar sobre o Link, na edificação/ficha escolhida - No total somam 1100 fichas - em construção.

 

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)














Nenhum comentário:

Postar um comentário