Deutsche Welle
Após casos de violência e confronto com a polícia, pedestres podem ser controlados sem necessidade de explicações. Críticos afirmam que medida ataca direito de ir e vir.
Policiais controlam uma pessoa no centro de Hamburgo
Desde o último sábado (04/01) viaturas policiais controlam regularmente pessoas nos bairros Sternschanze e nos vizinhos Altona e St. Pauli, na cidade de Hamburgo, no norte da Alemanha. Os policiais têm oficialmente o direito de "deter por pouco tempo qualquer cidadão, questioná-lo, pedir documento de identidade e confiscar objetos", sem que necessitem justificar essa atitude.
Mais de 160 pessoas já foram impedidas de permanecer na região, declarada pela polícia como sendo uma "zona de perigo". Quatro pessoas foram presas e 60 foram temporariamente detidas. As autoridades de Hamburgo afirmam que as ações são respaldadas pela legislação local.
A situação foi desencadeada pelos tumultos do último 21 de dezembro, ocorridos numa manifestação pela manutenção do centro cultural Rote Flora, ocupado por ativistas de esquerda há quase 25 anos. Os confrontos deixaram um saldo de centenas de feridos, entre manifestantes e policiais.
Além disso, no último fim de semana de dezembro, um grupo de mascarados deixou três policiais gravemente feridos nas imediações do famoso posto policial no bairro St. Pauli. Segundo a mídia local, aconteceram também ataques a residências de políticos na cidade.
O Partido Social-Democrata (SPD), que governa a cidade-estado de Hamburgo, e o maior partido de oposição, a União Democrata Cristã (CDU), concordam com a denominação dessa área da cidade de "zona de perigo". Já o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP) exigem uma reavaliação.
Há críticas da população à limitação dos direitos de ir e vir e de se reunir. Representantes do partido A Esquerda pretendem entrar com uma ação contra o Estado. Para o partido, transformar uma zona onde vivem milhares de pessoas em área de periculosidade é ir longe demais.
Pontos de criminalidade e zonas perigosas
O presidente estadual do sindicato dos policiais alemães, Joachim Lenders, defende a medida, afirmando que ela ajuda a reduzir a violência em torno do centro cultural Rote Flora. Lenders entende que nem todos os moradores da cidade estejam satisfeitos com a decisão, mas argumenta que experiências anteriores na região – como o combate às drogas no Parque Flora, situado no mesmo bairro de Sternschanze, em meados de 2013 – confirmam a necessidade da medida.
"Ali era um lugar de tráfico explícito de drogas. A partir de indicações da população e de diversas queixas, o ponto de criminalidade foi reconhecido e, por isso, foi instituída uma zona de perigo", explicou. Segundo ele, o tráfico diminuiu e a categorização foi posteriormente suspensa.
Atmosfera tensa
Há meses que três temas locais são debatidos pela população de Hamburgo: além da luta em torno do centro cultural Rote Flora, há tensões desde meados de dezembro em função das chamadas Casas Esso (complexo residencial ao lado de um posto de gasolina), ameaçadas de demolição no bairro St. Pauli, e discussões sobre o destino incerto de refugiados que chegaram à Europa pela Ilha de Lampedusa e se encontram sob ameaça de serem deportados.
A polícia, segundo Lenders, vê-se obrigada a tomar medidas para proteger a população local. "Muita gente vive no bairro e não quer mais testemunhar violência, incêndios ou destruição", diz. De acordo com o policial, inicialmente muitas pessoas apostaram numa convivência pacífica com os ativistas do Rote Flora, mas agora elas estão simplesmente "cansadas de pessoas de fora que usam o bairro para praticar violência, seja nos protestos de 1° de maio, seja em festas".
Antje Möller, porta-voz para política interna da bancada do Partido Verde em Hamburgo, defende mais diálogo no lugar da presença mais acirrada da polícia no bairro. "Só vamos ter progressos com negociações políticas e não com um armamento da polícia. Temo que se inicie uma espiral de violência que ninguém na verdade quer", disse à emissora NDR.
Desde 2005, a polícia já declarou mais de 40 áreas urbanas como "zonas de perigo" – na maioria das vezes somente por algumas horas ou durante jogos de futebol ou manifestações. Ainda não há previsões a respeito de quanto tempo a região no bairro Schanzenviertel ficará categorizada pela polícia como "zona de perigo".
A medida, que também está disponível para as autoridades de Berlim e dos estados de Hessen e da Baviera, é destinada sobretudo ao combate ao tráfico de drogas. Casos de violência extrema, como os ocorridos recentementes no bairro de Hamburgo, não foram registrados nem mesmo na época dossquats dos anos 1980 na rua Hafenstrasse, no bairro St. Pauli, recorda o policial Lenders.
- Data 08.01.2014
- Autoria Thomas Kohlmann (sv)
- Edição Alexandre Schossler
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