domingo, 26 de janeiro de 2014

Livro sobre o Vale do Itajaí sob aspectos sócio-econômico - "Santa Catarina - A terra - o Homem e a Economia" - Paulo Fernando Lago

Foto: Arquivo Histórico de Rio do Sul

Durante o nosso mestrado, em 2007, lemos o livro de autoria do Geógrafo Paulo Fernando Lago - Professor - Diretor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC - Santa Catarina - A Terra, o homem e a economia  - do início ao fim, e separamos  partes importantes que citam a região do Vale do Itajaí.
Comentamos com pessoas sobre o livro, e resolvemos compartilhar estas informações com um grupo maior - neste espaço.
São informações e dados geográficos da região do Vale do Itajaí - sob a liderança gravitacional de Blumenau,  dentro de um contexto maior, na escala estadual, sob  uma ótica social, econômica e histórica.

Informações bibliográficas
Título: Santa Catarina: A Terra, o Homem e a Economia
Autor: Paulo Fernando Lago
Editora Imprensa da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 1968.
Num. págs. 340 páginas


Algumas citações  do livro - Informações do Vale do Itajaí

à Ás terras recentemente abertas do planeta, originariamente povoadas de acampamentos militares, postos de comércio, missões religiosas, pequenas colônias agrícolas, chegou uma inundação de imigrantes dos países que sofriam opressão política e pobreza econômica. Esse movimento de pessoas, essa colonização territorial, teve duas formas: o pioneirismo agrário e o pioneirismo industrial. Pg 93
à  homens empobrecidos, ás vezes a morrer de fome, estavam dispostos a deixar de lado todas as vantagens de  uma vida socializada e estável, para que gozassem do privilégio elementar de ter suficiente alimento para comer e suficiente terra para nela produzir  o máximo. Pg  94
Primeiras instalações do imigrante - Colônia Blumenau
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
         à As correntes migratórias tornaram-se expressivas, no Brasil, a partir de  1850. Embora o movimento se manifestasse em razão de vários fatores, o avolumar do mesmo, após os meados do século XIX, estava relacionado à proibição do tráfico dos escravos, que somente em 1850 foi consagrado pela lei Euzébio de Queiroz. Pg 95
Foto: Arquivo Histórico de Rio do Sul.
         à A marcha da revolução industrial foi muito variável entre os países europeus e, em suas fases iniciais estava muito longe de possibilitar ampliação de serviços urbanos numa proporção equivalente à espetacular procura, alimentada por desequilíbrios na vida rural e pela homogenia velocidade de crescimento populacional observada em todos os países europeus. Pg 95

à Em que pese a diluição de indivíduos imigrados pelas comunidades envolventes e tradicionais, os grupos imigrantes criaram ambientes próprios, decidindo eles mesmos seus destinos e configuração. Isolados numa vasta região de economia praticamente estagnada, onde núcleos antigos se arrastavam, sem contar com fatores de impulsão localizados nos mercados internos ou externos, os colonos criaram e desenvolveram “colônias”. Pg 97
à Sem se pretender desenvolver o conceito de “colônia”, poderemos considerar que, primeiramente, é unidade administrativa de uma área de atividades rurais, onde o ocupantes pertence a etnia diferentes da tradicional luso-brasileira. As propriedades eram distribuídas, sob formas variáveis de pagamento, de modo que um “colono”  poderia ser proprietário de mais de um “lote”. O ‘lote’ passou a ser confundido como estabelecimento agrário familiar, de que resultaria o posterior parcelamento por herança. Pg 97

à As atividades econômicas nessas “colônias” não se restringiram, mesmo nos primórdios, às operações estritamente de uso da terra. Atividades de aproveitamento de produtos rurais, além de outras, deram complexidade à dinâmica das “colônias” que foram se acrescentando de diversificadas industrias rurais, ainda que muitos estabelecimentos não tivessem ido além de uma economia de subsistência.  Pg 97

à Em 1824, camponeses alemães, operários e artífices foram introduzidos no Rio Grande do Sul... A colônia denominada São Leopoldo, representou o marco inicial de uma expansão que rapidamente, alterou as características de vasta área do  Litoral e encostas do Rio Grande do Sul. Pg 103
Foto: Arquivo Histórico do Rio do Sul.
à Em Santa Catarina, os primeiros  colonos alemães (católicos de Bremen) chegaram em 1828, em número de 523, localizando-se nas proximidades de Florianópolis, nos vales intramontanos do litoral continente. A colônia fundada recebeu o nome de *S. Pedro de Alcântara, efetivando-se no ano seguinte à chegada dos imigrantes que ficaram, por sinal, retidos vários meses na Ilha do Desterro (Florianópolis) pg 103   
*Não confere - Os primeiros imigrante alemães chegaram no território de Mafra - Como não existia Mafra em SC - também não existia território alemão neste período - Link no final da postagem.

à No mesmo ano da publicação da lei Euzébio de Queiroz, chegaram os primeiros colonos, em número de 17 , para começarem a ocupação de outra área que há dois anos vinha sendo objeto de investigação de um farmacêutico dotado de raro poder de previsibilidade, verdadeiro intelectual e líder. Nela encontrou algumas semelhanças com a região do Reno  e escultou a perspectiva de rápido desenvolvimento colonizador.  Pg 104

à Alguns anos depois, em 1870, já haviam se integrado na nova colônia mais de 6.000 imigrantes, oriundos principalmente de Pomerânia, disseminados ao longo do coletor principal da mais ampla bacia da vertente Atlântica catarinense. Pouco antes, desde 1860, a Colônia Blumenau (sobrenome de seu idealizador) fora comprada por 120 contos de réis e apresentava um ritmo tão seguro de desenvolvimento, que cerca  de 92 fábricas de diversas especificações; 27 mil cabeças de gado e uma exportação valorada em 130 contos constituíam elementos resultantes de sua dinâmica, segundo informes de 1870. Nesta mesma data, no setor de transportes, a colônia Blumenau possuía cerca de 30 quilômetros de estrada de rodagem e a comunicabilidade pela artéria fluvial que culminava no porto da sede se adicionava para assegurar a articulação dentro da colônia e com outras áreas. Pg 104

à    Entretanto, apesar dos exemplos de grandes centros urbanos na antiguidade, na Idade Média e nas faixas históricas pré-modernas, somente com a Revolução industrial é que o fenômeno urbano começou a ter a impressionante proporção que até hoje ainda toma de surpresa a capacidade de organização humana.   “Os excedentes de mão-de-obra rural, imobilizados por falta de mercado, são subitamente postos em movimento e se dirigem para as cidades e para os bairros industriais. O fato foi brusco, quase brutal. E vimos aí um dos epifenômenos da Revolução industrial.
Trata-se de um processo cuja marcha, longe de se reduzir, acelerou-se mais no curso da primeira metade do século XX. O crescimento industrial urbano não é um episódio da revolução industrial, mas um corolário permanente.”  
Em relação aos esquemas de expansão das cidades catarinenses, Florianópolis apresenta particularidades, não apenas em  virtude de histórico papel de capital administrativa, mas pela exaltação dessa função terciária quando cotejada com a insuficiência das impulsões de outras condições de crescimento urbano. Pg 169

 à É bem verdade que a contribuição dos recursos humanos imigrados, açorianos e ítalo - germânicos (estes em áreas adjacentes), não poderia ser da excelência técnica dos que vieram, em levas  mais numerosas, posteriormente, provindos de áreas já bafejadas pela Revolução industrial.  Pg 169

à Em Santa Catarina, o centro urbano que possui mais nítidas características de capital regional, no caso enfaticamente econômica, é Blumenau.
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva

Esta liderança posição na hierarquia das cidades de ampla área, ultrapassa, inclusive, os limites da bacia do Itajaí. Corresponde à coerente evolução de seu papel desempenhado na etapa da colonização agrícola da Zona, quando fora eleita como sede da então Colônia Blumenau. Pg 200

à Em nenhuma outra cidade catarinense, nascida sob a impulsão colonizadora, se fez tão bem sucedidamente a restauração das comunidades idealizadas na tumultuada parte da Europa do século XIX. Pg 200

à A colônia nasceu  o empenho da racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada dos “novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde proviam os colonos – a revolução industrial.
 à A concentração de imigrantes estrangeiros na Bacia do Itajaí teve ponto de partida a colônia blumenauense, que passou a funcionar como centro de irradiação. Numerosos núcleos foram sendo criados,  mantendo constante articulação com o de Blumenau, cuja posição na Bacia do Itajaí é favorecida por três aspectos essenciais.
Livro: A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina
A  bacia é muito ampla, enriquecida por vários tributários  que dissecavam diferentes tipos de terrenos geológicos, penetrando fortemente nos sedimentos antigos, alcançando a superfície do Planalto Oriental e estabelecendo assim uma comunicação natural que foi aproveitada com a construção de rodovias e da ferrovia que convergem para a calha do rio.
Na altura pouco acima de Blumenau,  leito do rio se apresenta estrangulado, impedindo a navegação à montante, na época fundamental do transporte fluvial, o que se refletiu como à circulação e conseqüente fusão de “parada obrigatória” no sítio de Blumenau.
Em terceiro,  o Itajaí Açu deságua no Atlântico, após meia centena de  quilômetros à jusante de Blumenau, percorrendo uma planície relativamente ampla, com pequeno desnível que facilitava a navegação partida do porto flúvio-marinho de Itajaí.
Assim sendo, a extensa área drenada pelo sistema do Itajaí, à montante de Blumenau, o impedimento de navegabilidade fluvial imediatamente após o sítio onde foi fundada a colônia e evoluíram a cidade e o porto terminal de condições perfeitamente favoráveis, se combinaram como fatores ao desenvolvimento de atividades econômicas na área, juntamente com as características de elevada produtividade dos solos da bacia. 
Em virtude da posição ocupada por Blumenau, o sentido das articulações econômicas e culturais tendeu a se concentrar num ponto, por sinal, preconizado pelo fundador da colônia. Pg 200 
                
              à Como sede da colônia, Blumenau tornou-se símbolo da colonização alemã e, conseqüentemente, adotou formas de cidade germânica, com todo o conteúdo de traços culturais fortemente preservados funcionando como relíquias vinculadas do colono com o mundo distante deixado. Em nenhuma outra cidade catarinense, nascida sob a impulsão colonizadora, se fez tão bem sucedidamente a restauração de comunidades idealizadas na tumultuada parte de Europa do século XIX.
Foto : Arquivo Histórico José Ferreira da Silva

A Colônia Blumenau teve organização consciente. Acionada por espíritos de alta lucidez, democrática, numa prova de sensibilidade às transformações da época, mas também conservadora de valores consolidados indispensáveis, tornou-se algo de especial entre as demais.
 
A colônia nasceu sob o empenho da racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada dos “ novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde provieram os colonos – a revolução industrial.
Foto: José Ferreira da Silva
Sua função de centro social da zona de colonização se mesclou, desde o início, com a função, de entreposto comercial e de centro preferencial de investimentos aplicados no setor da economia industrial.
Foto arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Os desdobramentos sofridos em sua área municipal foram decorrência da evolução dos núcleos coloniais que, mesmo se mantendo administrativamente autônomos, continuaram integrados, econômica e culturalmente, com a cidade de Blumenau, onde se localizavam os principais estabelecimentos comerciais atacadistas, serviços médico-hospitalares e unidades industriais de grande porte, sobretudo as têxteis, casas bancárias, casas exportadoras, indústrias de acabamento, escolas, dinâmico comercio hoteleiro, etc
Quanto ao valor da produção industrial, a participação do Município de Blumenau, em todo o Estado, tem atingido cerca e 13,5%.
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Na Bacia do Itajaí sua liderança é esmagadora, contribuindo com quase 50% do valor da produção regional. no Estado, participa em torno de 30%, quanto ao mesmo fato e tem absorvido 33% da mão-de-obra do setor secundário das atividades econômicas, enquanto Blumenau, no conjunto da Bacia absorve mais de 40% da força-de-trabalho industrial.  Pg 201
à As industrias blumenauenses, evoluídas, muitas delas, a partir de unidades artesanais, se localizam no espaço urbano, sem pronunciada concentração. Encontram-se ao longo das artérias como a rua “15 de Novembro”, a rua “São Paulo”. Em outro com a da “Garcia” e da “Hering”, ocupam áreas bem definidas, com bairros operários e residências dos administradores. Pg 202

à O centro urbano de Blumenau é exemplo de dinamismo econômico que afetou favoravelmente a periferia sob o seu comando. Significa isto que lhe cabe perfeitamente o conceito de “ centro urbano gerador”, na interpretação das cidades quanto ao papel no desenvolvimento regional. Pg 202

à De modo geral, e mais intensamente no Sudeste e Sul do país, o ritmo da industrialização exibe marcas de uma transição mais agudamente sentida nos ambientes urbanos. Acentua-se com visível  teor patológico, migração dos campos para as cidades. Multiplica-se, acima de provisões, o contingente humano que busca os adensamentos urbanos. Obras recentes na infra-estrutura rodoviárias, no setor de energia elétrica trazem os elementos de impulsão de que careciam muitos centros.
E, tão pronto se beneficiam desses fatos novos , alteram sua morfologia; suas funções; seus componentes humanos ingressam em atividades novas distribuindo-se de modo diferentes pelos setores ocupacionais; padrões de habitações se estabelecem, desde às formas as mais luxuosas às mais toscas e precárias. Fatos novos, implicando problemas novos, constituindo quase sempre um repto à tarefa dos administradores, dos educadores, dos higienistas.
Chega-se ao paradoxo – crescimento urbano sem urbanismo, numa quase repetição da caotização, das comunidades que de modo tão marcante se assinalou nos estágios, sobretudo transicionais da revolução industrial dos países europeus. Pg 205
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
   à Em Santa Catarina, o rio Itajaí Açu, o rio Cachoeira, o rio Tijucas e outros, tiveram grande importância quanto ao papel de vias naturais de comunicação. Remanescentes de “portos” podem ser ainda observados nos seus cursos, autenticando investimentos ajustados à intensidade de circulação de riquezas nas fases de assentamento e consolidação da ocupação colonizadora. Pg 212

Porto Fluvial - Blumenau - Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

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2 comentários:

  1. Olá sou Julia e sou estudante de história e achei este livro muito interessante mas não encontrei este livro para comprar, será que é possível eu o encontrar para comprar? Agradeço desde já, e parabéns pelo blog, muito bom...

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    1. Oi Julia....Confessamos que também andamos buscando este livro nos sebos virtuais. Encontramos outro título do autor, mas não este. Acreditamos que, quem o tenha...sabe de seu valor. Este em especial nós lemos e pesquisamos em um exemplar da Biblioteca da UFSC - Florianópolis. Pensamos que devemos continuar procurando, quem sabe um dia chega um exemplar em algum sebo. Ficamos felizes que tenhas apreciado. Abraços de Blumenau

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