Deutsche Welle
Na primeira entrevista à TV desde a sua fuga para a Rússia, delator do megaesquema do espionagem dos EUA afirma haver estreita colaboração entre os serviços secretos americano e alemão e diz temer pela própria vida.
Na primeira entrevista à TV desde a sua fuga para a Rússia, delator do megaesquema do espionagem dos EUA afirma haver estreita colaboração entre os serviços secretos americano e alemão e diz temer pela própria vida.
A espionagem comercial por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA) já havia sido denunciada, mas agora, em entrevista concedida à emissora alemã NDR, o delator do esquema de monitoramento de dados da NSA, Edward Snowden, deu um exemplo concreto na Alemanha.
Na entrevista transmitida neste domingo (26/01) – a primeira à TV desde que chegou à Rússia –, Snowden afirmou que, quando há informações sobre a Siemens, por exemplo, que sejam de interesse dos Estados Unidos, embora não tenham nada a ver com a segurança nacional, essas informações são coletadas mesmo assim.
Em entrevista exclusiva ao repórter Hubert Seipel, Snowden afirmou ainda temer pela própria vida. "Representantes do governo querem me matar", disse o ex-consultor da NSA, referindo-se a um artigo divulgado pelo site Buzzfeed, em que membros do Departamento de Defesa e da NSA declaram que gostariam de matar Snowden.
Espionagem na Alemanha
Snowden deu também a entender que, na Alemanha, a chanceler federal Angela Merkel não foi o único membro do governo a ter o telefone grampeado pela NSA. "O que posso dizer é que sabemos que Angela Merkel foi monitorada pela Agência de Segurança Nacional. A questão é até que ponto seria lógico supor que ela foi o único membro do governo a ser espionado. Qual a possibilidade de que ela tenha sido a única pessoa alemã conhecida com quem a NSA tenha se ocupado?"
Dando continuidade à sua argumentação, Snowden disse: "Eu diria que é muito pouco provável que alguém que se preocupe com as intenções do governo alemão tenha espionado somente Merkel, mas não seus assessores, nenhum outro membro do governo, nenhum ministro ou até mesmo administrações municipais."
Compartilhamento de informações
Afirmando que "os serviços alemão e americano de inteligência dormem juntos", Snowden disse que a NSA e o Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND, na sigla em alemão) cooperam de forma bem próxima. "Eu digo isso porque eles não trocam somente informações, mas também compartilham instrumentos e infraestrutura. Eles trabalham em conjunto contra determinadas pessoas, e aí está um grande perigo."
Snowden aludiu ao programa da NSA X Key Score, uma tecnologia com a qual se podem vasculhar todos os dados armazenados diariamente pela NSA de todo o mundo. Segundo o técnico, a partir do momento que se possui o endereço de e-mail de alguém, é possível ler qualquer e-mail desta pessoa.
O programa possibilita ao usuário perseguir e vigiar qualquer pessoa. "E qualquer um que seja autorizado a usar esse instrumento ou compartilhar com a NSA seus softwares poderá fazer o mesmo. A Alemanha é um dos países que possuem acesso ao X Key Score", disse o ex-técnico da NSA.
Futuro incerto
Os Estados Unidos acusam Snowden de traição. Por esse motivo, caso volte a seu país, paira sobre ele a ameaça de um processo judicial. O secretário de Justiça Eric Holder disse ao jornal Washington Postque uma anistia para Snowden estaria fora de cogitação. Sem anistia, no entanto, Snowden expressou em recente entrevista o temor de um processo injusto. Por esse motivo, ele considera impossível a sua volta para os Estados Unidos.
Apesar disso, Snowden ainda tem esperanças de um acordo com as autoridades de seu país. Ele afirmou à NDR que não passaria o tempo todo sentado ao telefone, esperando uma ligação, mas que saudaria a possibilidade de conversar sobre como finalizar a questão de forma satisfatória para todas as partes. Ele disse também depositar poucas esperanças no presidente Barack Obama. "É significativo que o presidente diga que eu tenho que responder em tribunal, mesmo ele sabendo que esse julgamento seria uma farsa."
Snowden não quis fazer comentários precisos sobre a difícil situação em que se encontra. A Rússia lhe garantiu um ano de asilo, mas sob a condição de que ele não provocasse mais danos aos Estados Unidos. Seu futuro, no entanto, ainda continua incerto. De acordo com a emissora de notícias CNN, Moscou poderia vir a prorrogar a autorização de residência de Snowden. A decisão final cabe ao presidente Vladimir Putin, afirmou a CNN.
A primeira entrevista de TV que Edward Snowden concedeu após a sua fuga para a Rússia, em meados de 2013, foi realizada pela emissora alemã NDR na quarta-feira passada, num hotel de Moscou, e transmitida na noite deste domingo em rede nacional na Alemanha.
- Data 27.01.2014
- Edição Alexandre Schossler
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