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Alfred Otto Wolfgang Schulze é mais conhecido por suas pinturas. Em Berlim, exposição joga luz sobre outra faceta do artista: a fotografia, em grande parte da década de 30.
A exposição Wols Photograph. Der gerettete Blick (Wols fotógrafo - O olhar absolvido, na tradução livre do alemão), em cartaz em Berlim, é uma descoberta, um presente a ser desembrulhado.
De forma clara e surpreendente, os visitantes são expostos ao universo da fotografia artística de Wols, pseudônimo do alemão Alfred Otto Wolfgang Schulze, e rapidamente percebem como o artista utilizou esse meio para exercitar seu olhar, o que depois iria se refletir na sua pintura.
Embora pouco reconhecido em vida, Wols é considerado hoje um dos pioneiros da abstração lírica e um dos mais influentes artistas do Tachismo, movimento de arte abstrata que se desenvolveu na França na década de 1930. Ele também atuou como artista gráfico.
Grande parte de seu trabalho fotográfico foi feito durante a década de 1930 na capital francesa, onde ele trabalhou como fotógrafo profissional, fazendo principalmente retratos.
Esta é a primeira grande retrospectiva do trabalho fotográfico de Wols, com imagens nunca vistas pelo grande público. As fotos, muitas delas expostas em impressões originais feitas pelo próprio artista, prenunciam seu desenvolvimento na direção da arte não representativa.
Um alemão na França
Wols nasceu em Berlim em 1913. Quando tinha 6 anos, sua família se mudou para Dresden. Na juventude, frequentava círculos intelectuais e de arte moderna na cidade.
"Ao lado de Hamburgo e Berlim, Dresden era uma das poucas cidades alemãs onde a fotografia era pensada como meio artístico", explica o curador Michael Hering.
Em 1932, Wols entrou em contato com os membros da Bauhaus e passou alguns meses em Berlim antes de se mudar para Paris, fugindo da crescente força nazista que começava a dominar a Alemanha.
"Berlim era um lugar importante para a modernidade na década de 1920, e Paris era o centro daavant-garde. As duas cidades tiveram uma grande influência em Wols, que desde cedo demonstrou uma visão muito moderna sobre a arte", comenta Hering.
O pseudônimo surgiu por ocasião de sua primeira e única exposição fotográfica, na parisiense Galerie de la Pléiade, em 1937, que foi um tremendo sucesso. Um telegrama abreviou o nome do artista, e assim nasceu Wols.
Quando a França entrou na Segunda Guerra Mundial, o alemão foi enviado para um campo de prisioneiros. Nesse período, passou a se dedicar mais intensamente à pintura e à aquarela. Wols acabou se casando com sua companheira francesa, Gréty Dabija, e assim, conquistou a liberdade.
O casal se mudou para Cassis, onde ele continuou a desenvolver seu trabalho artístico através da pintura e da fotografia. Com a invasão do sul da França, o casal foi obrigado a se realocar em Dieulefit.
Nos próximos anos, apesar dos crescentes problemas com o alcoolismo, Wols continuou a desenvolver seu trabalho com pintura e aquarela. Ele teve várias exposições em Paris. Com a saúde já sensível, morreu na capital francesa em 1951.
Mais celebrado por suas pinturas, sendo um dos principais e mais importantes representantes do Tachismo, o nome de Wols só começou a circular no grande circuito de arte europeia no final da década de 1950, quando seu trabalho participou das duas primeira edições da Documenta de Kassel.
"A maioria de suas fotos e negativos ficaram durante muito tempo guardados num porão em Paris. Seu trabalho fotográfico só começou a despertar interesse durante a década de 1970", explicou o curador.
Realidade abstrata
A mostra em Berlim revela o impressionante trabalho fotográfico criado por Wols entre 1932 e 1939, deixado de lado pelo artista depois que ele abraçou a pintura. Dividida em temas, as séries de fotos evidenciam o olhar inquieto e complexo que Wols tinha sobre os mais simples temas e formatos fotográficos.
Imediatamente após se mudar para Paris, o alemão começou a ganhar a vida tirando retratos, mesmo sem ter um visto de trabalho. Muitos de seus modelos eram amigos, intelectuais e escritores do círculo que ele frequentava na cidade. Sua visão não ortodoxa do formato realça a expressão e o movimento em situações criadas em estúdio e ao ar livre.
Outra característica da série de retratos é como as imagens de Wols são um prelúdio da fotografia de moda, que se desenvolveu nas décadas seguintes. Isso fica evidente nas fotos que ele fez do Pavillon de l'Élégance, na Feira Mundial de Paris, em 1937. As imagens feitas durante a montagem da exposição são também um estudo fotográfico do espaço e da luz.
Dos retratos com um ar boêmio e mundano, a exposição conduz o visitante pela busca do artista pela sua Paris. Ícones como a Torre Eiffel e o rio Sena estão presente nas imagens que privilegiam ângulos não glamourosos e pequenos detalhes da vida cotidiana. O olhar artístico de Wols fica mais evidente em imagens com uma composição estilística mais elaborada. Seu olhar começa a focar em cercas, pôsteres de rua rasgados e repetições, criando uma atmosfera abstrata.
É algo que ele abraça na última parte da exposição. Nos trabalhos feitos entre 1938 e 1939, o artista trabalha desconstruções de natureza morta, criando contrastes de sombra e luz. Sua releitura contemporânea da forma clássica da pintura incorpora elementos como carne e pedaços de peixe, criando composições quase surrealistas, mas composta de forma dura por elementos da realidade, ressaltando a beleza no estranhamento.
"Como ninguém, Wols conseguia dar outra dimensão aos objetos que retratava", afirma o curador.
A exposição "Wols Photograph. Der gerettete Blick" está em cartaz no Martin-Gropius-Bau em Berlim até 22 de junho.
- Data 19.03.2014
- Autoria Marco Sanchez
- Edição Alexandre Schossler
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