Deustche Welle
Decisão da agência de classificação de risco S&P reflete, entre outros problemas, fragilidade das contas externas do Brasil e falta de credibilidade da política fiscal de Dilma. Para analistas, há razão para preocupação.
A luz vermelha acendeu no Palácio do Planalto após a divulgação, nesta segunda-feira (23/03), do rebaixamento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Standard&Poor's (S&P). A nota dada à dívida de longo prazo em moeda estrangeira caiu de BBB para BBB-, a última do chamado grau de investimento. Apesar de o país ainda ser considerado seguro para investir, o rebaixamento é preocupante.
De acordo com os especialistas, inicialmente a queda da avaliação do Brasil pode ter reflexo negativo no fluxo de investimentos de fundos do exterior, já que as avaliações das agências – mesmo que tenham recebido diversas críticas pelos erros cometidos durante a crise de 2008, quando deram notas boas a bancos prestes a falir – funcionam como um termômetro de grande parte do mercado internacional.
A nova classificação deverá fazer com que empresas nacionais tenham mais dificuldades de tomar empréstimos no exterior e com que o governo brasileiro tenha que pagar juros mais altos para atrair investidores dispostos a comprar títulos da dívida pública. A expectativa de um possível rebaixamento existia desde a metade do ano passado, quando a S&P colocou uma perspectiva negativa para a nota brasileira.
"Aquilo que era uma ameaça se tornou realidade", afirma Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ. "Embora não tenha perdido o grau de investimento, a situação é preocupante. E ficará mais ainda se outras agências de classificação de risco [como Moody's e Fitch] acompanharem a revisão feita para baixo pela S&P."
A redução da nota pela agência é mais um ponto turbulento para o governo Dilma Rousseff, que vinha adotando o discurso de que a economia brasileira estava sob controle. Para o especialista, a revisão da nota para baixo é mais uma confirmação de que as políticas econômicas do Planalto não estão no caminho certo.
"Além de ter peso eleitoral, a revisão da nota para baixo é significativa porque é dada por uma agência estrangeira, que não tem comprometimento com nenhum grupo de interesse local", afirma Braga. "E, em ano de eleições, não são esperadas grandes mudanças no curso da economia. A capacidade do governo em realizar mudanças vai ser complicada."
Considerando a classificação da mesma agência para a dívida soberana de longo prazo no resto da América Latina, cinco países têm notas superiores à do Brasil: Chile, Colômbia, México, Panamá e Peru.
Dados maquiados
De acordo com a S&P e especialistas, a redução da nota refletiu um conjunto de problemas fiscais, como a redução do valor do superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida) de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo dos 2,1% esperados pelo mercado; e o baixo crescimento da economia brasileira – que, segundo a S&P, deverá crescer 1,8% neste ano e 2% em 2015 e não conseguirá acelerar a arrecadação de impostos e equilibrar as contas públicas.
Entre outros motivos estão, ainda, a fragilidade das contas externas brasileiras – que também deverão repetir o deficit registrado em 2013, de por volta de 80 bilhões de dólares, causado, entre outros motivos, pela queda das exportações; e a falta de credibilidade da política fiscal brasileira, que vem usando a chamada "contabilidade criativa" para manipular as contas do governo.
"O governo continua jogando uma cortina de fumaça em cima da economia. Quando os dados são fechados 'na marra', eles não se sustentam", afirma José Matias-Pereira, professor de administração pública da UnB. "O governo acreditava que, com o uso de truques contábeis, os equívocos não seriam detectados. Isso, porém, foi aumentando o nível de perda de credibilidade da presidente e do próprio país. A síntese disso tudo é evidenciada no baixo desempenho da economia."
Ele cita, por exemplo, o fato de o governo federal ter previsto que o deficit da Previdência seria de 40 bilhões de reais em 2014, sendo que o próprio ministro Garibaldi Alves havia estimado, anteriormente, o montante de 50 bilhões de reais – valor parecido com o registrado no ano de 2013.
"O que conta para os investidores internacionais são os resultados. Mas será que a presidente vai mudar a forma de governar e fazer um aperto ainda neste ano de eleições?", questiona Matias-Pereira. "Nós sabemos que não. Com isso, o próximo presidente, sendo ela ou não, vai ser eleito num contexto de expectativa da população e vai encontrar uma economia muito abalada."
Data 25.03.2014
Autoria Fernando Caulyt
Edição Rafael Plaisant
Nenhum comentário:
Postar um comentário