domingo, 1 de fevereiro de 2015

Colônias Alemãs no Vale do Rio Cubatão - Igreja Sagrado Coração de Jesus - Águas Mornas

Quando "rodamos" pelo estado de Santa Catarina - um dos 26 Estados do Brasil - iniciamos uma viagem dentro de um cenário multicultural que nos surpreende a cada detalhe observado. 

Sempre que percebemos semelhança entre a origem histórica de uma região com a região do Vale do Itajaí - dentro do mesmo recorte de tempo - apreciamos fazer uma análise entre a duas regiões sob as questões históricas.
Com Luiz Koerich e Toni Jochem 
Na Igreja Sagrado Coração de Jesus - Águas Mornas
Passando pelo Vale do Rio Cubatão, visitamos a cidade de  Águas Mornas e percebemos que sua origem histórica também surgiu a partir da colonização alemã, apenas 10 anos após a chegada dos primeiros imigrantes alemães trazidos por Hermann Blumenau ao Vale do Itajaí. Durante o processo de colonização, no Vale do Cubatão não existia um comerciante de lotes coloniais e um administrador, como exercia este papel, Hermann Blumenau.
Fomos recebidos na cidade pelo pesquisador e filho da terra - Toni Jochem.

Para ler um pouco sobre a Colônia Blumenau  - Clicar sobre: Do Stadtplatz ao Enxaimel

 Francisco C. de Araújo Brusque
Fonte: Museu e arquivo do Vale do Itajaí Mirim
O parcelamento de terras no Vale do Rio Cubatão foi feito a partir da iniciativa e coordenação do Presidente da Província de Santa Catarina - Francisco Carlos de Araújo Brusque. Aconteceu, mais precisamente nos anos de 1859 e 1860. O território parcelado em lotes coloniais estava localizado também no Vale dos Cedros e no Vale do Cubatão.
O primeiro grupo de imigrantes chegou ao Vale do Cubatão no dia 3 de junho de 1860. Dentre as primeiras famílias de imigrantes, destacaram-se as famílias de Albrecht Probst, Willheim Westphal, Friedrich Kirschner, Luiz Bran, Peter Schmitz e Johann Bernard Anton Lehmkuhl, mais tarde conhecido na região por Antônio Lehmkuhl ou Coronel Antônio Lehmkuhl, um dos nomes da História  na região. 
Johann Bernard A. Lehmkuhl



Johann Bernard Anton Lehmkuhl - Foi naturalizado brasileiro no dia 5 de setembro de 1924. Mas antes disto:
Foi intendente municipal de São José - 1890 até 1891. Em 1891, foi delegado literário nomeado de Santo Amaro da Imperatriz. Em 15 de janeiro de 1906, tornou-se Coronel comandante da 16° Brigada de Infantaria da Guarda Nacional - no Município de Palhoça e também nesta cidade, foi Conselheiro Municipal. Lehmkuhl nasceu no dia 8 de outubro de 1843, na cidade de Metelen - Westfalen - Antes da reunificação da Alemanha,em 1871.
Metelen
Metelen

Igreja de Metelen

Planta da Igreja de Metelen
Westfalen  é uma região histórica da Alemanha atual, parte do estado alemão - Renânia do Norte-Vestfalia e parte da Baixa Saxônia. Região inserida entre os rios Reno e Weser, ao norte da Bacia do rio Ruhr. Não é muito fácil definir com exatidão suas fronteiras, por que "Westfalen" foi usado para diferentes regiões dentro de vários recortes históricos. Por isto, a cultura e o modo de viver das pessoas que residem nesta região, diferem muito um dos outros.

Águas Mornas surgiu a partir da junção e desenvolvimento de colônias alemãs fundadas a partir do assentamento promovido pela Presidência da Capital da Província, anteriormente narrada, no Século XIX. 
Em 1837, a Colônia de Vargem Grande recebeu 44 imigrantes, oriundos de regiões da atual  Alemanha e Dinamarca. Antes, estes imigrantes estiveram na colônia de São Pedro de Alcântara. Fixaram-se ao longo da nova estrada que ia até Lages. Em 1847, também foi fundada, a Colônia de Santa Isabel, com a chegada de  164 imigrantes oriundo de regiões que atualmente pertencem a Alemanha. Eram 256 alemães, mas, somente 164 permaneceram na colônia neste primeiro momento. 
Mapa de lotes coloniais da Colônia Santa Isabel
Fonte: Blog - E como veio gente...
A fundação da Colônia de Teresópolis aconteceu de maneira planejada, nas proximidades da Colônia Santa Isabel, de acordo com a publicação do pesquisador - Toni Vidal Jochem.
Toni Vidal Jochem
"Baseada na política da pequena propriedade familiar, o Governo Imperial determinou, conforme recomendação contida no relatório de Luiz Pedreira de Couto Ferraz, a fundação de um núcleo colonial em um terreno já conhecido, nas imediações da Colônia Santa Isabel. De acordo com o citado relatório a nova colônia deveria ser localizada às margens da estrada de Lages em "terrenos devolutos, notáveis por seu clima benigno e fertilidade" e construída por colonos bem escolhidosA argumentação para a fundação da colônia estava na existência do "clima ameno e salubre, a uberdade das terras, a facilidade de comunicação com a cidade de São José, onde os produtos da sua lavoura encontrarão pronto e imediato mercado", além da conveniência de "atravessar a colônia a estrada de Lages". " Do livro - A formação da Colônia Alemã Teresópolis e a atuação da Igreja Católica (1860 - 1910) de Toni Jochem.
A fundação da Colônia Teresópolis aconteceu no dia 18 de novembro de 1859. Com a chegada de 40 famílias de imigrantes alemães.

Comentário: Há algumas diferenças na forma de ocupação de terras do Vale do Cubatão e do Vale do Itajaí. A Colônia Blumenau tinha um coordenador que administrava a colônia nos primeiros anos de fundação - no papel de seu fundador - Hermann Blumenau. Com poder adquirido como empresário de sua colônia, determinava as diretrizes e a forma de ocupação a partir de um planejamento com foco e características de uma empresa agrícola. Distribuía os lotes coloniais de acordo com um plano pré estabelecido de ocupação do solo e a construção de infra estrutura básica, como meios de transportes (Fluvial e Ferroviário). No Vale do Rio Cubatão, as famílias recebiam as terras e estavam submetidas às orientações da Capital da Província. Em função da proximidade com esta - Nossa Senhora do Desterro, e outras localidades fundadas por açorianos, como Palhoça e São José, também recebiam influência desta cultura da etnias previamente fixada nos arredores.
Fonte: Prefeitura Municipal de Águas Mornas
Retornando à História da cidade de Águas Mornas. Em 1865 aconteceu a unificação administrativa da Colônia Santa Isabel à Colônia Teresópolis. Em 1869, Teresópolis é elevado a Distrito de Palhoça. Em 1943, o distrito muda de nome de Teresópolis para Queçaba e em 1958, o Distrito passa a pertencer ao território de Santo Amaro da Imperatriz, quando em 19 de dezembro de 1961 é emancipado e passa a ser denominado Águas Mornas sob a Lei N° 790. A instalação do município aconteceu alguns dias depois - no dia 29 de dezembro de 1961. A sede do município não é o mesmo centro histórico de Queçaba, que permaneceu como uma localidade de Águas Mornas com o mesmo nome até 1974, quando voltou a ser chamada pelo nome do antigo - Teresópolis. 
Edificação em enxaimel pertencente a Família Heinz - construída em 1926 - Fotografia de Ricardo Fernandes de 2010 - Águas Mornas -
Observa-se a mistura de técnicas construtivas - Telhado coberto com estrutura de madeira e telha colonial usado pelos descendentes açorianos em uma edificação com estrutura que lembra o enxaimel do imigrante alemão, feito com madeiras sem o uso do prego - a partir de encaixes.



























Edificação em enxaimel construída em 1900 - Fotografia de Ricardo Fernandes de 2010 - Águas Mornas.
Observa-se a mistura de técnicas construtivas - Telhado coberto com estrutura de madeira e telha colonial usado pelos descendentes açorianos em uma edificação com estrutura que lembra o enxaimel do imigrante alemão, feito com madeiras sem o uso do prego - a partir de encaixes. Um exemplar raro.

























Acervo da Prefeitura de Águas Mornas - Facebook - Divulgação
Igreja Sagrado Coração de Jesus - Igreja de Águas Mornas
A igreja que visitamos é a terceira igreja de Águas Mornas. O terreno da Igreja foi doado pelo imigrante  Johann Bernard Anton Lehmkuhl.
Segunda igreja de Águas Mornas - Inaugurada no dia 6 de setembro de 1931.
Padre Vicente Schmitz ( Wilhhelm Schmitz)

Nasceu no dia 2 de maio de 1887 na cidade 
de Winterspelt - Renânia-Palatinado. Seus 
estudos primários ocorreram no Seminário
 Menor  de Clairefontaine - Belgica. Em 1890
 ingressou  no Seminário de Sittard - Holanda, onde
 realizou o  postulado, o ano de noviciado 
 e o curso de filosofia. Ligou-se a Congregação 
Dehoniana, através dos votos perpétuos em 25 de 
setembro de 1910 - Sittard, quando escolheu o nome
 religioso - Vicente. Cursou teologia na cidade de
 Luxemburgo e foi ordenado no dia 21 de março
 de 1915. Escolheu o Brasil, para ser missionário 
e  desenvolver trabalho pastoral. Chegou ao 
Brasil no dia 3 de dezembro de 1919. Logo foi 
nomeado Vigário Paroquial de Joinville. Trabalhou
 em Jaraguá do Sul, Brusque, Corupá e Rio Fortuna.
Nunca trabalhou em Águas Mornas - ou talvez não
 acompanhou a execução de seu projeto para
 a terceira igreja da cidade. 
A igreja que visitamos - terceira igreja de Águas Mornas - foi construída no mesmo terreno, da primeira e da segunda igrejas, este doado por Lehmkuhl. O projeto da igreja, de acordo com o pesquisador Toni Jochem, foi assinado pelo Padre Vicente Schmitz. A pedra fundamental foi lançada no dia 22  de janeiro de 1950 e um pouco mais de um ano depois, foi inaugurada - dia 8 de abril de 1951. A planta contempla um ambiente ao lado direito e esquerdo do altar - para as alfaias e atendimento ao público e, também, para usar como aposento para  o padre descansar ou "pousar", respectivamente.
Temos dúvidas se o projeto original assinado pelo Padre Schmitz foi respeitado durante sua execução. Observando a segunda igreja, com uma única torre frontal, contendo o campanário e a entrada frontal com adornos em arco sob a porta, afirmamos ser a tipologia característica do neogótico, construída repetidamente em muitas colônias fundadas por alemães na América (Exemplo - Segunda Igreja de Águas Mornas). A terceira igreja recebeu um "enxerto" em sua volumetria frontal e planta que descaracterizou a "igreja neogótica do imigrante". Será que seguiram o projeto original do Padre Schmitz, que possuía um  brilhante currículo e formação? O Padre Schmitz também acompanhou a construção, ou melhor, participou da construção do imponente Seminário de Corupá. Os Padres da Congregação Dehoniana, da qual fazia parte o padre, eram perfeccionistas e exigentes quanto a arquitetura e a sua execução. Também observamos que o Padre arquiteto, também imigrante alemão formado na Alemanha, trabalhou em  algumas paróquias de diferentes cidades de Santa Catarina, mas não trabalhou na paróquia de Águas Mornas, portanto, subentende-se que não acompanhou a execução da obra da terceira Igreja Sagrado Coração de Jesus de Águas Mornas.

Para ler mais sobre - Clicar sobre:  Seminário de Corupá

Em um primeiro momento, quando observamos a igreja construída, observamos uma volumetria final desproporcional e sem o equilíbrio adquirido nos monumentos góticos e nas construções posteriores - no neogótico - que buscavam a releitura deste estilo adotado e escolhido para as construções religiosas naquele país, formado em 1871 e propagado por seus imigrantes, em outros continentes. Se observarmos a igreja pela elevação frontal, seu aspecto é "pesado", por não permitir a visualização da inclinação dos panos dos telhados - característicos dos templos neogóticos
O alpendre sobre a porta de acesso principal foi construído na última reforma - é certo
 que não fazia parte do projeto original do Padre Schmitz.
Fomos informados que a terceira igreja passou, pelo menos, por duas reformas. Não podemos afirmar se o projeto do Padre Schmitz não fora alterado, igualmente durante as reformas. Vamos comentando sob as fotografias, observações sobre detalhes quanto a técnica construtiva, materiais e estilos empregados na sua construção.
Para iniciar, observando o templo como está atualmente, podemos afirmar tratar-se de um estilo eclético, quando observamos a planta e a volumetria, e tratar-se de um estilo neogótico, quando observamos elementos decorativos e adornos.




Simulação - retirando volume supostamente acrescido  e que não faziam  parte do projeto do Padre Schmitz
Órgão da Igreja - Original Bohn

















Aditada pelo Google - Simulação - Croqui
Considerar que tinha a previsão de janelas frontais
 e adornos
Interior da igreja - Vitrais novos colocados em uma das reformas






















Internamente respeita a simetria característica das igrejas neogóticas e góticas. Recebeu,
provavelmente, durantes suas reformas, pintura que coincide com as cores usadas
 na parte externa. Elementos de adorno, fechamento e decoração, também foram trocados
 durantes reformas. Observando fotografias antigas - podemos afirmar que tinha outra cor
Mais uma evidência - em nossa opinião - descaracterização do projeto original
A  Congregação Dehoniana era muito detalhista e perfeccionista  nos acabamentos e 

soluções arquitetônicas, simetrias e elementos construtivos para permitir uma folha de 
uma  porta  abrir  sobre uma escada inutilizando sua total abertura. Esta porta
 inutilizada situada na lateral direita da entrada frontal, nos faz pensar que era 
um  dos acessos principais a partir do hall interno existente sob  única torre. 
Também existia porta semelhante no lado direito e  uma porta "corta vento".
Escada em um dos volumes frontais.




Cemitério localizado ao lado direito da igreja visualizado através de uma das janelas
 situadas no mezanino do Coro - parte lateral direita.
Rosáceas retiradas da torre para colocar os relógios - guardadas no interior da 
torre - parte superior.


Toda a igreja é construída com tijolos maciços - estrutura autoportante.


Interessante conhecer fatos históricos e elementos da paisagem das cidades que reportam o mesmo recorte de tempo, no qual, também no Vale do Itajaí, aconteciam transformações sociais a partir da mesma origem da imigração e cultura.
Falamos um pouco mais detalhadamente sobre a igreja projetada pelo Padre Schmitz a pedidos. 
Há muitas questões sem respostas. É uma História muito recente e que pode ser construída a partir de investigações históricas muito bem encaminhadas e conduzidas naquela região, por Toni Jochem.


























Portal - Auf wiedersehen!!
Voltaremos...
Outras leituras - Clicar sobre: 
















3 comentários:

  1. Muito boa a postagem, e esclarecedora quanto a formação dos municípios oriundos das colônias. Parabéns !

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    1. Agradecemos...ficamos felizes que tenhas apreciado, Paulo. Abraços.

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  2. Muito boas as informações. Além de um bairro em Porto Alegre, Teresópolis é também nome de lugar em Santa Catarina.

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