quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

100 Anos - Hemmer


Uma das Firmas que nasceu na
Colônia Blumenau, completou, no ano de 2015, um século de existência.  A Companhia Hemmer, ou atual Hemmer Alimentos ilustra o tempero do sabor da gastronomia da Colônia Blumenau. E também, é uma dos poucos exemplos formadores da colônia agrícola empresa, onde os colonos comercializavam o excedente da produção da propriedade rural/colonial e que, continua até o tempo presente, na região. 
"A construção Social do Vale do Itajaí não teve “in loco” nenhum processo econômico anterior ao capitalismo. Não houve, como sugerem alguns autores, o modo de produção feudal, anterior à revolução industrial. No projeto de ocupação do território, elaborado por Hermann Blumenau, estava explícito o modo de produção capitalista; ele prepôs desenvolver a agricultura cuja produção seria beneficiada industrialmente."   Pg 9 
VIDOR, Vilmar. Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Editora da FURB. Blumenau, 1975. 
A colônia nasceu sob o empenho da racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada dos “novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde provieram os colonos – a revolução industrial. pg 46  LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina A Terra - o Homem e a Economia. Editora da Ufsc. Florianópolis, 1968.
No início do século XX, como todas as Firmas de sua época, também nasceram como empresa familiar.
A palavra Firma, expressão muito usual na Colônia Blumenau para denominar Companhia/Indústria/Comércio - era assim chamado pelos imigrantes alemães. Firma é uma palavra alemã que significa Companhia. Portanto, foi adotada para o português,  a partir desta parte da história local.
Região da Vestfália
Quem fundou a Hemmer foi Heinrich Hemmer, imigrante da região de Vestfália - Oeste da Alemanha. Migrou para o Vale do Itajaí atendendo o convite de Hermann Blumenau, para ocupar a vaga de professor. 
Hemmer migrou para o Brasil com 24 anos de idade em 1886. Chegando a Colônia Blumenau, foi morar na segunda mais antiga povoação da Colônia Blumenau - além do Stadtplatz - Badenfurt. A vaga de professor que lhe foi prometida, já estava ocupada. 
Hemmer comprou  de Hermann Blumenau, primeiro negociantes de terra do Vale do Itajaí (Link no final),  dois lotes coloniais - em Badenfurt e como todo imigrante e colono, nesta época, foi trabalhar na sua colônia, o que também fazia na Alemanha, junto de sua família. 
Lotes coloniais - 1864 - Parte do primeiro plano da Colônia Blumenau
Localização do lotes coloniais da Família Hemmer.
Quando Heinrich Hemmer percebeu que a produção da propriedade rural de sua família tinha excedente, instalou uma  pequena indústria caseira para beneficiar o repolho e produzir o chucrute, a partir da fermentação deste. Vendia sua produção de carroça na cidade - centro de Blumenau. Logo depois, iniciou a produção do pepino em salmoura
Heinrich Hemmer também  tinha montado uma ferraria para consertar espingardas. Também fabricava balanças decimais e tinha uma casa comercial. Acabou optando em seguir somente com a fábrica de chucrute ou, o Sauerkraut, como era chamada a iguaria entre os imigrantes alemães. Mais tarde iniciou a produção de conservas e mostardas.
Em 1915, era uma Firma considerável. 
Em 1917, a Hemmer conquistou a Menção Honrosa na Exposição Agropecuária de Indaial, pela exposição de arroz, de plantação própria e também, foram destaques pela produção de conservas de legumes em lata. Em 1927, passou a se chamar Irmãos Hemmer, quando os filhos, Max e Fritz e também , o genro do patriarca, Carl Rinnert, passaram a administrar a empresa, na falta de Heinrich Hemmer. É claro que as esposas sempre estiveram juntos desde a posse da primeira propriedade rural. A história ainda, somente conta com os nomes masculinos. Com certeza, quem cuidava dos temperos eram as "Frau's".
Em 1946, a empresa foi transformada em Sociedade Anônima. 
Ericsson Luef .
Atualmente seu Presidente é Ericsson Luef, representante da quinta geração da família do pioneiro Heinrich Hemmer. O atual presidente da empresa, como era tradição no passado, ingressou na empresa como estagiário, com a idade de 14 anos e trabalhou em todos setores da empresa - do "chão de fábrica", aos setores administrativos. Esta foi uma prática comum e usada pelos primeiras famílias pioneiras e industriais da Colônia Blumenau e seus sucessores. Diziam que era importante para a formação de um  líder e gestor dos negócios.
Atualmente a Hemmer tem em seu quadro, cerca de 400 funcionários diretos, em Blumenau.

A seguir, alguns dos produtos fornecidos pela Hemmer, em 2015, entre os aproximadamente, 300  itens de sua linha de produção. Percebemos que nem todos os produtos são fabricados na sede fabril da Hemmer, como já foi no passado. Mas sim, são terceirizados, sendo que não percebemos mais o sabor característico dos produtos da marca da Família Hemmer.


Imagens do Site Hemmer.






































----------------- Matéria do jornal O Santa Dia 20 de março de 2015

Hemmer Alimentos completa 100 anos com história que se confunde com a de Blumenau
Empresa do bairro Badenfurt começou produzindo chucrute

Rubens Michels tem 73 anos e há 49 trabalha na HemmerFoto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS
Aline Camargo

Caminhar de um setor a outro da mais recente centenária blumenauense é entender o significado de orgulho. É esse o sentimento estampado nos rostos dos que vestem o uniforme azul e branco bordado com o sobrenome do imigrante Heinrich Hemmer, que há cem anos iniciou a venda de porta em porta do primeiro produto da empresa de alimentos: o chucrute.
Um século se passou e hoje, entre os cerca de 300 itens da linha, o repolho fermentado em conserva deixou de ser o carro-chefe e produtos como o pepino lideram as vendas. Com isso, é grande a responsabilidade de um dos funcionários mais antigos da casa:Rubens Michels, 73 anos de vida e 49 de Hemmer. Há três décadas é ele quem cuida do processo de pasteurização dos alimentos em conserva como a beterraba, o palmito e, claro, o pepino.
— Trabalhar na Hemmer é um orgulho, não tem empresa melhor. Não troco esse serviço por nada, só se eu não puder mais trabalhar — diz, emocionado.
Sua função hoje é operar os equipamentos que colocam os produtos em tanques com água em alta temperatura e em seguida resfriá-los. Michels começou transportando casca de palmito em carroças, passou para as caldeiras e depois chegou à pasteurização. O trabalho na empresa ajudou Michels a constituir a família. Casou, teve dois filhos, mudou-se de Pomerode para Blumenau e hoje mora pertinho da fábrica, no bairroBadenfurt. Mas com toda a experiência acumulada em quase meio século de trabalho, uma pergunta ainda tem dificuldade de responder:
— Qual é o produto que o senhor mais gosta?
— É tudo bom... mas eu gosto mais da beterraba, como quase todo dia!
Carlos Roberto Bauler, 40 anos, é outro funcionário cuja história de vida se confunde com a da empresa. Foi contratado aos 14 anos para trabalhar no setor de mostardas, onde hoje é supervisor. Começou na área de embalagem, colando caixas e colocando carimbos, e aos poucos foi crescendo, junto com a empresa:
— Fui pro moinho de pedra pra fazer a mostarda, virei substituto de supervisor e depois de 15 anos me tornei supervisor no setor de mostarda. Se tudo der certo em nove anos me aposento aqui na Hemmer. Tenho muito orgulho de ter trabalhado em uma única empresa durante a vida e de ser em um lugar como a Hemmer, que eu gosto tanto. É muito bom fazer parte de uma história.
O item preferido de Bauler não precisa nem de pergunta, porque ele deixa claro que é a mostarda, e ainda confirma: a escura é mesmo mais forte que a amarela.
— É por causa da semente. Muita gente acha que vai corante, mas não vai, a semente é escura e é ela que faz o picante da mostarda. Vai pimenta também, mas a quantidade é muito pequena. E ela é ótima pra temperar carne — indica.
A Hemmer Alimentos em números
- 100 anos
- 379 funcionários
- 12 mil toneladas de alimentos processados por ano
- 150 garrafas de mostarda envasadas por minuto
- 22 mil metros quadrados
- Mais de 300 itens na linha de produtos
- Presente nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal
Sede da empresa nos anos 1930. Foto: Arquivo Pessoal

Representante da cultura e sobrevivente de um setor

Encontrados em todo o território brasileiro os produtos Hemmer carregam em cada embalagem a origem blumenauense, e isso se traduz em confiança dos compradores, afirma o diretor comercial da empresa, Elisandro Nunes:
— O fato de ser um produto do Sul já dá essa imagem para as pessoas, mas quando elas descobrem que é de Blumenau a compra é certa, tem muita credibilidade.
— Pode se dizer que ela representa mais um dos grandes produtos de Blumenau que vem resistindo a todas as crises, pois tem uma trajetória em vários momentos da história da cidade e que não esmoreceu — avalia, ressaltando que a Hemmer é uma sobrevivente do setor alimentício que soube se modernizar e se manter fiel aos seus princípios.
Com isso, a história da Hemmer Alimentos se confunde com a de Blumenau. O atual presidente Ericsson Luef — que faz parte da quinta geração da família, assim como os outros cinco diretores — conta que a empresa começou depois de um convite do doutor Hermann Blumenau para que o patriarca Heinrich Hemmer viesse para o Brasil ocupar uma vaga de professor.
Com a demora da viagem, ao chegar o posto já estava preenchido e ele buscou outros caminhos: começou a fazer o chucrute de forma caseira, com o repolho que ele mesmo plantava. Os pedidos cresceram, assim como a variedade, o que para Luef continua sendo o grande diferencial da Hemmer.
— O carinho e a ligação com os nossos fundadores, e a maneira de produzir muito atenta para que nosso consumidor continue comendo o mesmo produto que o conquistou há 60 anos. Esse respeito ao que os antepassados fizeram, ao legado e a qualidade é o que temos de diferente — finaliza.

JORNAL DE SANTA CATARINA
-----
Ponte Coberta de Madeira - Badenfurt
Em 11 de setembro de 2017, quando pesquisávamos para escrever esta postagem - no Bairro de Badenfurt - percebemos as obras ocorrendo na histórica Ponte Coberta de madeira de Badenfurt. 
Encontramos fotografias do início do século XX, que mostra a ponte coberta de madeira já presente na paisagem do bairro e próxima da firma. Percebemos que o traçado viário, "contava" com o uso dessa "alça" - para o fluxo da comunidade local, sendo que sem essa opção, a comunidade - diante do projeto do novo traçado viário - ficou isolada e sem acesso local. 



A firma da Cia Hemmer - Foto de Marcos Röck - Acervo: ( - )
A firma da Cia Hemmer - Foto de Marcos Röck - Acervo: ( - )









































A ponte ficou no canteiro de obras da construção da nova ponte de Badenfurt.
Obra da nova ponte de Badenfurt e Cia Hemmer -  Acervo Da Cia Hemmer





Viaduto  do novo complexo viário pronto para o  uso da Ponte Histórica (olhar mapa abaixo) - Acervo Da Cia Hemmer
A história da ponte coberta de madeira e da Firma dos Hemmer's estiveram presentes e pode-se dizer, parte da mesma comunidade e do mesmo recorte de período histórico.  A histórica ponte de madeira coberta e treliçada, muito comum na Alemanha e que tem sua história ligada à comunidade de Badenfurt e com a Firma familiar dos Hemmer igualmente é única na Blumenau atual. 
Em função da renovação de infraestrutura, na escala regional (desconsiderando a local - como é comum na cidade de Blumenau nos últimos tempos) o poder público de Blumenau, a partir do projeto executava, para a nova ponte sobre o Rio Itajaí Açú, próxima a foz do Ribeirão do Testo neste, pretendia retirar esta ponte histórica da paisagem da comunidade de Badenfurt.  Este Blog levantou sua história e com este trabalho sensibilizou muitos e até mesmo quem decidia a permanecia desta na paisagem histórica da cidade. Para conferir esta história e seu processo, o link de sua  história está na lista de leituras complementares no final desta postagem.






100 anos de História em família, a partir de uma tradição.
Parabéns à família Hemmer!

Imagens feitas em abril de 2021 - 106 anos




Em 1946, a empresa foi transformada em Sociedade Anônima e em setembro de 2021, seu controle acionário saiu das mãos da família que fundou.
Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido:
















Nenhum comentário:

Postar um comentário