segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Estação Ferroviária da EFSC - Cidade de Rio do Sul

Vamos conversar um pouco de um "bom exemplo" relacionado à preservação da memória presente no patrimônio histórico arquitetônico da região do Vale do Itajaí. Mais precisamente um patrimônio histórico arquitetônico ferroviário, que fez parte da  história da ferrovia Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC, cujo primeiro trecho foi inaugurado em 1909.
Em destaque - um pouco da história e da arquitetura da estação ferroviária da cidade de Rio do Sul, uma das poucas, entre as 24 (ou 25 se consider a estação de Passo Manso) conhecida, que se encontra em bom estado de conservação.
Mapa da EFSC de 1965 - onde estão locadas as principais estações ferroviárias - onde está destacada a estação da cidade de Rio do Sul.







"Armazém" - aos fundos "o desenho" da paisagem atual,
consequência da ocupação do solo de maneira desordenada . não há projeto,
considerando elementos importantes, presentes na paisagem e de
grande identidade ao inconsciente coletivo.
A estação ferroviária de Rio do Sul se encontrava no quilômetro gráfico de 145,67 da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC. Foi inaugurada, 4 anos após a inauguração do trecho entre as localidades de Subida e Lontras, mas não no prédio conhecido até os dias atuais. Isso porque, nos primeiros dias de funcionamento da ferrovia na cidade e região, a estação funcionou provisoriamente no local em que depois passou a funcionar o "Armazém". Atualmente, o espaço da estação ferroviária de Rio do Sul recebe as atividades culturais e de pesquisas e o acervo do Museu e Arquivo Histórico de Rio do Sul. A edificação da histórica continua no mesmo local que começou a funcionar como estação ferroviária de passageiros - em 1936, somente que sob o endereço atual: Avenida Oscar Barcelos, s/n - na área central da cidade.

Do livro - A ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina.
Essa"primeira estação" é o local onde mais tarde passou a funcionar o Armazém. 



A estação de Rio do Sul realmente, foi inaugurado no dia 28 de dezembro de 1936 (oficialmente).

Arquitetura da antiga Estação Ferroviária de Rio do Sul

A mudança da paisagem da cidade - em um hífen de  apenas 80 anos.
A estação ferroviária de Rio do Sul, mesmo inserida na paisagem quase totalmente descaracterizada - sob ponto de vista do contexto original construído e natural, no qual foi inserida na década de 1930, ainda pode continuar a ser um importante ponto focal dentro da paisagem central da cidade, referenciando o espaço e "orientando" o homem dentro desse espaço citadino, importante como ícone - parte da identidade histórica de Rio do Sul - quase desprovida de identidade. Seu entorno, quanto a sua ocupação, não tem muito critério, principalmente, sob o enfoque de respeitar todo o conteúdo cultural e histórico de que é munido essa tipologia arquitetônica no meio. De acordo com o depoimento escrito do pesquisador Luiz Carlos Henkels, a estação está na paisagem pela sensibilidade do patrono cultural da cidade de Rio do Sul -  Nodgi Pellizzetti - que interferiu para que a mesma permanecesse na paisagem e não fosse demolida, um tempo atrás.
A inauguração da estação ferroviária de Rio do Sul faz parte da história da construção da ferrovia EFSC. O trecho ferroviário até Rio do Sul começou a ser construído somente no ano de  1923, após a o término da 1° Guerra Mundial - por "n" motivos. Lembramos, que de acordo com um Relatório da EFSC de 1920, no dia 29 de novembro de 1911, o governo brasileiro encampou a ferrovia (patrimônio privado), passando-a a patrimônio do estado brasileiro. A obra continuava a ser administrada pela companhia alemã. No dia 18 de março de 1914 são aprovados pelo Decreto 10.818, os estudos para o prolongamento ferroviário até Trombudo Central. 
Em  1918, com a desculpa da 1° Guerra Mundial, o governo brasileiro rescinde o contrato com a companhia alemã que administrava a ferrovia e também a Cia de Navegação Fluvial no Rio Itajaí  Açu - complementando e caracterizando o "roubo oficial". Isso aconteceu por meio do Decreto 13.907. A Administração da ferrovia EFSC passou a ser feita por uma junta militar federal do Brasil, desprovida de qualquer indenização. 
Foi somente depois de todos esses episódios que se retomou o assunto e estudos do prosseguimento da construção da ferrovia, com a presença de novos atores, diferentes de seus idealizadores iniciais. A verba necessária para dar prosseguimento às obras, somente foi liberada no ano de 1921, quando também chegou o novo engenheiro designado pelo governo brasileiro - Joaquim José de Souza Breves Filho. Seria o novo engenheiro para continuar coordenando a construção da ferrovia EFSC. Era filho de político na capital do Brasil - Rio de Janeiro - e neto de escravocrata. Sua família tinha ligações familiares e políticas com a família Konder de Itajaí (Victor Konder - era o Ministro de Obras e Viação no Rio de Janeiro - capital nacional). O novo Engenheiro fez mudanças drásticas e polêmicas no projeto original alemão da EFSC. Sem contar, foi autor de medidas pouco nobres durante a construção da ferrovia, como por exemplo, prática de especulação fundiária nas proximidades do leito da nova ferrovia e tráfego de influência.
Uma das mudanças do projeto ferroviário original, fez a estação de Blumenau ficar sem uso, houve a necessidade da construção a mais de duas pontes, um elevado e um túnel - o engenheiro convenceu a população que a obra de sua sugestão era mais barato. Sem contar tirou o porto de cargas e passageiros fora da rota ferroviária e também enfraquece a centralidade do Stadplatz.


Assim que as obras da ferrovia reiniciaram sob o comando de Breves Filho, foi colocado em prática, a execução das mudanças do projeto ferroviário. No ano de 1922, o engenheiro apresentou a nova proposta para o entrocamento de Subida desconsiderando o projeto original existente. As obras, como já mencionado, iniciaram em 1923. O escritório de comando foi instalado em Lontras. Até chegar a Rio do Sul, os construtores da ferrovia tiveram muito trabalho, desde cortar a montanha, construir pontes e túneis de pedras. Mas o trecho ferroviário avançou. 
Antes da ferrovia chegar a Rio do Sul, essa se emancipou de Blumenau - ano de 1931. Até então, Rio do Sul era parte do território da Colônia Blumenau - colônia alemã fundada por Hermann Blumenau - que trouxe o projeto ferroviário em sua bagagem.
O núcleo antigo de Rio do Sul estava estrategicamente localizado e não foi ao acaso que surgiu nesse ponto - a cidade estava localizada na foz do rio Itajaí do Sul, no rio Itajaí-Açu, local de trajeto de vários viajantes, imigrantes, tropeiros, pioneiros e produtos das regiões acima desta confluência. O núcleo primitivo teve vários nomes: Humaitá, Südarm, Braço do Sul, Bella Alliança. Sua história estava ligada à história de Blumenau, sede da grande Colônia Blumenau - praticamente o território do atual Vale do Itajaí. 
Do livro - A ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina
A EFSC, ao passar por Rio do Sul, atendeu ao transporte, não somente da população local, como também das pessoas e produtos oriundos do Planalto Serrano. 

A partir de 1929, os trabalhos da ferrovia seguiram rumo a Rio do Sul, passando por Matador - pertencente a Rio do Sul e que foi inaugurada no dia 18 de dezembro de 1933, quatro anos após a inauguração do trecho Subida–Lontras. Esta estação dista seis quilômetros da estação central de Rio do Sul, inaugurada dez dias após, no 28 de dezembro de 1933, passando a ser ponto terminal da linha por quatro anos, até a inauguração do novo trecho - explicado ainda não era o prédio da estação ferroviária que visitamos na cidade de Rio do Sul.
Do livro - A ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina.




Sua construção é da década de 1930 - Edifício para uso de uma estação ferroviária de passageiros da cidade de Rio do Sul pertencente à extinta ferrovia EFSC - Estrada de Ferro Santa Catarina. É uma das tipologias mais bonitas e mais bem conservada pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico e ferroviário regional e estadual. Inaugurada em 1936, atualmente é o endereço do Museu Histórico Cultural e Arquivo Público Histórico de Rio de Sul.
Nosso registro fotográfico de 2009.





Tipologia
A estação ferroviária foi construída com a volumetria de alguns tipos de edificação trazidas pelo imigrante alemão de determinadas regiões da Alemanha. Com muita originalidade e diferente das demais tipologias de edificações ferroviárias construídas no mesmo período. Foram utilizados em sua obra - tijolos maciços aparentes com o decorativismo clássico presente nas aberturas em madeira - com cimalhas de diferentes tamanhos, arcos e adornos decorativos.
Podemos afirmar, que mesmo observando a presença das características da arquitetura alemã, através da adoção de alguns elementos - misturou outros elementos à composição final que lhe forneceu o perfil de uma arquitetura eclética. 





Estrutura
Sua estrutura também é autoportante - a partir do uso de tijolos maciços aparentes, lembrando um pouco da arquitetura alemã conhecida Backsteinexpressionismus - Arquitetura expressionista com tijolos ou expressionismo em ladrilho - é uma arquitetura característica do norte da Alemanha que surgiu a partir da segunda década do Século XX. Foi marcante e contribuiu muito para a formação da identidade da paisagem daquela região após a 1° Guerra Mundial. A partir da colocação dos tijolos foi criado o decorativismo nas fachadas saliências - característica do art déco brasileiro.
Aberturas: 
As aberturas possuem elementos clássicos como, diferentes tipos de arcos e também sua distribuição simétrica nas fachadas. São estruturadas em madeira com partes envidraçadas. As janelas e portas são feitas em duas folhas. Todas as aberturas receberam cimalhas - de variados tamanhos e espessuras - coloridas em cor branca, como também, as fugas das paredes de tijolos aparentes. Observamos igualmente que as portas tem almofadas envidraçadas.
Simetria.

 

Telhado 
O movimento dos panos de telhados respeitam a simetria das fachadas nas quatro elevações. Recebeu decorativismo na parte do forro dos beirais em madeira - como eram feitos em edificações na Alemanha. Também, a estrutura do telhado foi feita de madeira. Apresenta parte das cumeeiras "quebradas" criando espigões menores. A inclinação do telhado não é tão acentuada como eram construídas as tipologias com estrutura em enxaimel e também outras, na região. As aberturas da parte inferior e superior, apresentam linguagens diferentes, o que reforça a ideia de tratar-se de uma arquitetura vernacular do imigrante alemão - eclética - munidas com estilos de diversos gostos e arquitetura.
O telhado é coberto por telhas planas ou germânicas de barro.
Fechamento
Fechamento, ou paredes, são feitas de tijolos maciços aparentes.

Atualmente, o conjunto sofreu um pouco de impacto do entorno como já mencionado, e também, da pavimentação e ajardinamento em sua volta. O "nível" da pavimentação "subiu" e foi impermeabilizada com o uso da camada asfáltica. Lembramos que um dos motivos que faz com que o nível das águas subam com mais frequência na cidade provocando inundações (e está mais alto) é exatamente por isso, junto com o ato de desmatamento das montanhas no entorno como por exemplo no alto do platô onde está localizado a Escola Agrotécnica Federal e Instituto Federal Catarinense. Esse local tinha a vocação para um Parque e lazer, sem contar com a vista natural de contemplação. Deveria ser usado para receber a mata nativa sobre e nunca, ruas e ocupações de edificações públicas e privadas, como percebemos. Esse elevado natural está presente em muitas fotografias históricas e por ainda existir, é referencial espacial na paisagem atual e na antiga, e com isso muito importante, mediante da grande modificação espacial que a cidade recebeu - identifica lugares históricos, atualmente irreconhecíveis.

Elevação do nível da pavimentação.
Toda essa reflexão surgiu, porque percebemos a elevação do nível da pavimentação, que "engoliu" parte da rampa da estação ferroviária de Rio do Sul.
Estivemos visitando a estação ferroviária de Rio do Sul  no dia 27 de agosto de 2017, não foi a primeira vez e por certo, não será a última. 
O impacto ao vislumbrá-lo em uma nova visita sempre é novo.
É muito bom que seu espaço esteja sendo útil ao uso esteja voltado para o público através do Museu Histórico Cultural e Arquivo Público Histórico de Rio de Sul.






Leituras Complementares:Clicar sobre o título escolhido.
  1. Engenheiro Joaquim Breves Filho - Diretor da EFSC e sua residência
  2. Arquitetura - Backsteinexpressionismus - Arquitetura expressionista com tijolos
  3. EFSC - Antigos artigos publicados sobre a ferrovia inspiram novas publicações
  4. A Ferrovia - EFSC
  5. Estrada de Ferro Santa Catarina - Há 45 anos que foi erradicada da paisagem do Vale do Itajaí
  6. Da Estrada de Ferro Santa Catarina à Ferrovia da Integração
  7. Um passeio no Trem da EFSC - Estrada de Ferro Santa Catarina
  8. Primeiro Diretor da EFSC - Entrevista ao Sr. Frederico Kilian
  9. A Ferrovia - EFSC 
  10. Ferrovia da Integração - Pauta em Florianópolis 
  11. Santa Catarina teve única ferrovia brasileira construída com tecnologia e capital alemães
  12. Passando por Warnow/Ascurra - Comunidade Centenária - Ilse
  13. A Ponte Lauro Müller 
  14. Comissão Pró Ferrovias do Vale do Itajaí 
  15. O retorno da ferrovia ao Vale do Itajaí
  16. Pessoas e a Ferrovia na região
  17. A Ferrovia no Vale do Itajaí















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