Estamos em ritmo de postagens "Escrevendo o livro 'A Técnica Construtiva Enxaimel - Fachwerk'". Em Breve retornaremos ao ritmo de postagens diárias. Agradecemos a compreensão.
Filial da Firma PAUL Cia Ltda na povoação de Bella Aliança - Atual cidade de Rio do Sul, cuja matriz estava localizada na Povoação Altona - atual Bairro de Itoupava Seca - Blumenau. |
Em um encontro de genealogia estadual ocorrido em Florianópolis, colegas pesquisadores nos perguntaram porque o processo de colonização de Blumenau se deu forma tão diferente com resultados diferentes de outras experiencia de colonização na mesma época e até no mesmo estado.
Folheando o livro do Professor e Arquiteto Vilmar Vidor e preparando uma aula de Planejamento Urbano e Regional para o Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDAVI, respondemos a esta questão dizendo: Que, o idealizador da Colônia Blumenau - Hermann Blumenau e outras lideranças, quando aportaram em terra brasileira sabiam muito bem o que queriam ao colonizar esta grande bacia do Itajaí Açu. Trouxeram consigo um projeto de escala regional e fundar uma grande Firma e Colônia agrícola, onde surgiu o conceito de propriedade no Estado de Santa Catarina, estradas e caminhos no interior do estado, mercado consumidor e principalmente, a Divisão de Trabalho.
Apresentando em, rápidas palavras, deixando indicado o livro - que parte da tese de Doutorado do Professor Vilmar Vidor em Sorbone - França.
A Divisão do Trabalho
Südarm |
Explanar em breves palavras, como aconteceu a divisão social do trabalho, que fazia parte do processo regional de povoamento através do assentamento das famílias de imigrantes e de seus descendentes. Sendo que o objetivo principal sócio- econômico sobre a locação de núcleos urbanos no interior da Colônia Blumenau após 1850, não era outro senão o de produzir "excedente agrícola" - matéria prima (produção agrícola x transformação industrial) para alimentar a industria alimentar e inserir-se no mercado nacional.
Stadtplatz da Colônia Blumenau - 1864 |
Contando com este projeto regional, Hermann Blumenau e as primeiras lideranças definiram o local da sede da Colônia - a centralidade, no ponto navegável - através embarcações maiores - no Rio Itajaí Açu e deste ponto, acima tinham a ambiciosa ideia de construir uma ferrovia, além de outros caminhos tantos, que foram abertos através das primeiras picadas e do trabalho de agrimensores alemães que mapearam quase todos o rios da Bacia do Itajaí - milimetricamente.
Mapa da Bacia do Itajaí - feito pelo engenheiro agrimensor Emil Odobrecht |
Desde o princípio de sua fundação, na Colônia Blumenau, a hierarquia social
foi implantada desde o início e as pessoas eram designadas para o espaço
geográfico de acordo com seu aporte profissional pelo fundador da Colônia: os
agricultores eram assentados longe da sede administrativa (Stadtplatz), os artesãos, os
comerciantes e os burocratas no centro da colônia.
Casa temporárias de colonos no interior da Colônia Blumenau - construídas após a limpeza do terreno para efetuas as plantações e pasto para os animais. |
A esta hierarquização espacial
soma-se outra originada no seio da família e que já estava definida na Europa.
Ao chefe de família se atribuíam algumas tarefas, à sua mulher, outras, assim
como aos filhos e aos parentes próximos cabiam ainda outras. Na sequência
sobrevém uma terceira, englobando os vizinhos mais próximos, os assalariados e
os parceiros.
Finalmente, a estratificação socioeconômica se torna mais complexa com a sedimentação e a caracterização do agricultor, do comerciante e do industrial (Como se dominavam aqueles que fundaram as primeiras industrias do Estado de Santa Catarina). Assim, dentro de um período bastante curto, toda a hierarquia, compreendendo a divisão social do trabalho, estava implantada pela oposição cidade/campo. Esta dicotomia não foi devida a mudanças historicamente provocadas por mecanismo de transformação da sociedade, mas foi cristalizada desde o princípio da história regional, a partir da instalação dos imigrantes. A estratificação que foi imposta quando da ocupação do terreno foi a sequência de um processo já sedimentado na Europa. Esta consistiu na transferência geográfica e, ao mesmo tempo, sociológica de um sistema já existente, em função de um processo econômico já desenvolvido: o capitalismo.
Não houve nenhuma preocupação em iniciar-se uma outra forma de desenvolvimento social e econômico. Na prática, foi implantada a divisão social de trabalho em contexto da acumulação primitiva de capital.
Com o desenvolvimento do comércio e o monopólio exercido pelos comerciantes sobre a produção agrícola, o empobrecimento dos imigrantes tendeu a aumentar. De um lado o trabalho acessório continua, mas de outro, uma pequena massa de capitais estando concentrada nas mãos de alguns comerciantes e industriais, o emprego industrial faz a sua aparição. O salário pago na indústria não era suficiente para que o agricultor abandonasse de forma definitiva a plantação e sua propriedade "produtora"que lhe fornecia, a ele e à família, a alimentação, sendo, então, obrigado a trabalhar nos dois lugares. Mas não foi só isto. Este trabalhava na industria e também, trabalhava na propriedade e fornecia a matéria prima para a industria - à preço barato. Lembramos que também, era esse colono, que na forma de mutirão e nas poucas horas vagas, construiu os edifícios públicos, como igrejas/escolas, estradas e pontes, suprimindo também, a ausência do Estado no que tange a infra estrutura urbana.
Propriedade de Imigrante alemão. |
A propriedade
A propriedade é uma outra questão muito interessante dentro deste processo regional de ocupação colonial.
Durante o século XIX a propriedade no Brasil, não se falando das comunidades indígenas, dispunha-se em dois regimes principais: o latifúndio rural e a propriedade urbana, até então reservada somente aos funcionários, a qual foi dividida com os comerciantes.
Prada Junior fez a seguinte observação:“(...) a ambição pela posse da terra forma nesses imigrantes um impulso muito poderoso e constitui ela com certeza um dos mais fortes, senão o mais forte estimulo que os leva abandonarem sua pátria onde tal oportunidade não lhes é dada. E mesmo quando não consegue alcançar desde logo esse objetivo, como efetivamente se deu no Brasil na maior parte dos casos, representa contudo, um ideal sempre presente (...)”.
A propriedade da terra, foi uma condição intrínseca ao homem, enquanto forma objetiva/subjetiva de existência, contribuirá para que ele enraíze solidamente no pais, trazendo, com sua herança e seus herdeiros, a difusão da existência da pequena propriedade, até então inexistente.
No que tange à região de Blumenau, foi assinado um decreto Imperial de 19 de janeiro de 1867, que estabelecia a forma de possessão de terra em toda a região do Vale do Itajaí a começar por sua centralidade - atual cidade de Blumenau.
Alguns dos artigos...
O artigo quarto - estabelecia as dimensões mínimas dos lotes rurais e urbanos e determinava, através do espaço geográfico, a segregação de classes – os rurais, os urbanos – o campo e a cidade.
O artigo quinto - permitia a Hermann Blumenau - Diretor da Colônia, a estabelecer os preços dos lotes coloniais a partir de certos condicionantes e de os adjudicais.
Pastor Stutzer |
Em 1876, vinte e seis anos de povoamento de alguns pontos da Colônia Blumenau, constatou-se que 10,5% da população tinha recebido seu título de propriedade - conseguido quitar a conta com Hermann Blumenau. Ler a postagem do Pastor Stutzer.
Isso quer dizer que, além da exploração pelos comerciantes, o colono tinha ainda as imposições de preço sobre o domínio fundiário. Lembramos agora, do motivo daqueles que residiam na centralidade da Colônia denominar o imigrantes e descendentes que residiam no interior da Colônia de maneira pejorativa, de "colono" - ler a postagem listada no final desta sobre.
Em 1880, 30 anos após o início da colonização da Colônia Blumenau, 16,6% dos imigrantes eram proprietários de fato, e não de direito, já que não se encontram referencias quanto a este ultimo dado. Esta constatação nos induz a concluir quão é difícil era torna-se proprietário definitivo de fato, na Colônia Blumenau,. e era exatamente esta questão e promessa que faziam estas famílias saírem de sua pátria, rumo ao Brasil.
A formação do mercado interno
Durante os primeiros cinquenta anos de formação da região, dada a insuficiência dos meios de transportes que a ligaria ao resto do país, o mercado interno cresceu somente a nível local. Entretanto existem todos os elementos favoráveis ao desenvolvimento de uma economia de mercado: a presença de uma hierarquia sócia econômica e, ainda que precária, a presença de uma rede viária interna suficiente para estabelecer o comercio entre os povoados. E foi a partir desta – o comércio entre os povoados – que o mercado interno passou a se desenvolver.
Rio do Sul - Exposição Agroindustrial. |
Cia Hering |
Primeira Usina Hidrelétrica do Estado de Santa Catarina. |
VIDOR, Vilmar. Industria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Ed. da FURB, 1995. - 248p. :il.
- Heinrich Albert Friedrich Gustav Stutzer - Rápida passagem na Colônia Blumenau - Trabalho Social na Alemanha
- Hermann Bruno Otto Blumenau - Primeiro Negociante de Terras no Vale do Itajaí
- Colono no espaço da Colônia Blumenau
- Arquiteto Vilmar Vidor - Sua trajetória - Idealizador do Curso de Arquitetura e Urbanismo - FURB e do IPPUB
- Emil Odebrecht e os Caminhos ligando Blumenau ao litoral
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