Os carpinteiros que construiam a estrutura do enxaimel das primeiras casas |
Nos primeiros anos de colônia, o imigrante alemão que chegava à colônia era denominado "colono", independentemente de sua atividade na Alemanha ou na colônia - pois vinha viver em uma colônia. Mais tarde, a elite que surgiu a partir da industrialização e sua entidade de classe denominavam colonos - àquelas pessoas que lhes ofereciam, quase sempre, a matéria prima para seus produtos industrializados e residiam mais afastados do Stadtplatz. Também adotavam o termo pejorativamente, para denominar alguem inferior ou de classe inferior. Existe muitas publicações que ilustram esta afirmativa e o etnocentrismo que surgiu dentro da própria colonia a partir do surgimento das classes sociais. No início não existiam estas classes e todos eram voltados para os mesmos objetivos e ocupavam a mesma entidade de classes - Kulturverein.
Também afirmavam, erroneamente, que somente o colono residia em tipologias enxaimel. Tipologias negadas pelos "novos ricos" de Blumenau do início do século 20, que seguiam a tendência da capital do Brasil - Rio de Janeiro, construindo a partir do eclético e dos "neos". Muitos, não querendo, ou não podendo construir uma casa nova no moldes da tendência, rebocavam seu enxaimel e os enchiam de arabescos e cimalhas para se parecer com a nova linguagem "urbana" de Blumenau.
Com o passar das primeiras décadas da história, passou, igualmente a ter um certo Status social quem residia na "cidade" expressão usada até bem pouco tempo. O tamanho da distância entre o lote colonial e o Stadtplatz, dava uma importância social a um colono dentro do sistema que se implantou na Colônia Blumenau. Aqueles colonos alocados mais distante, geralmente não possuíam letras, e nem tampouco, uma profissão que seria útil ao sistema e no desenvolvimento da colônia. Supunha-se que este imigrante viveria somente de sua colônia - e neste momento surgia outro entendimento para a denominação "colono". Este, também era quase sempre usado de maneira pejorativa. Raros os lotes coloniais que posteriormente ficaram alinhados à ferrovia ou em entrocamentos de comércio, como é o caso da cidade de Rio do Sul, por onde passavam as tropas e comerciantes da Serra Catarinense e por isto valorizados e se desenvolveram mais que a média de outros núcleos urbanos do interior da Colônia Blumenau.
Primeiras edificações do interior da Colônia - Alto Vale |
Foto Fundação Cultural de Rio do Sul |
Foto Fundação Cultural de Rio do Sul |
Publicação de tempos passados...
“O COLONO E O AUTOMÓVEL (VISÃO MIÓPICA)”.
O malfadado colono no Vale do Itajaí sempre foi uma vítima dos pseudo-progressistas.O colono, diga-se de passagem, foi o verdadeiro esteio, o moto-propulsor de todo o progresso do Vale do Itajaí. Vitima de toda série de contingências, sobreviveu, porque a sua própria resistência ao meio era a condição básica para a sobrevivência do vale. Apreciado um certo exagero, achava-se, em outras épocas, que o colono deveria ser limitado a um trabalho exaustivo, andar de pé no chão, não permitir-se que se educassem, a fim de jamais haver o perigo de faltar alimento na cidade.Com o aparecimento do automóvel, naturais eram as aspirações de todos de poderem possuir um carro. Os negociantes das colônias eram os primeiros a adquirir, ou sob forma de carro ou sob forma de caminhão. Aos poucos os colonos mais abastados também tentavam entrar na posse do veículo.Estranha, entretanto, foi a reação de certos citadinos, principalmente alguns mais ilustrados, e, entre esses, inclui-se um cidadão da época que, devido à relativamente pouca capacidade, era favorecido com um cargo público.Este senhor declarou, certa vez, na presença do articulista, o seguinte: É preciso que se crie uma associação de classe que exerça pressão para que os colonos deixem de ter as manias de certos modernismos, como é o caso de possuírem automóvel. Esta mania de modernismo põe em perigo a sobrevivência da cidade de Blumenau. Sem comentário... (O COLONO, 1981, p. 152).Os Colonos e os Citadinos
Reminiscencias da 15 - Blumenau em Cadernos - Tomo XXXVIII - Fev. 1997.
"Na década de trinta e quarenta havia uma diferença entre os residentes na cidade e os moradores além perímetro urbano. Quando meu pai era noivo pediu à minha mãe que não levasse a prima Irmgard e o seu marido Bruno (Karsten) na apresentação do espetáculo musical do artista italiano Cantarelli, alegando eles serem "Kolonisten" pois o pessoal da Stadt eram diferentes. Sabe-se todavia que sem os "Kolonisten" a cidade não sobreviveria. Peço pois, desculpas ao constrangimento causado nos anos quarenta pelo meu pai, que era jovem e não tinha experiência de vida, ao casal Bruno e Irmgard Karsten que recentemente muito bem me recepcionaram em sua residência próxima a fábrica Cremer. Soube ao escrever, do falecimento no dia 3 de outubro do Sr. Bruno, e manifesto minhas sinceras condolências à família." Werner Henrique Tönjes
Itoupava Seca - Atual Escola Machado de Assis |
Balas Pfeiffer |
Significado de Colônia - Dicionário - para quem tem dúvidas
Substantivo feminino
1. Grupo de migrantes que deixam sua terra de origem e vão povoar, cultivar e explorar uma terra estrangeira.
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Podemos tirar aprendizados através de outra ótica de tempo.
Muito bom esse texto. Me lembra da minha infância e os deboches na escola, afinal eu era a primeira geração da família que crescia fora da roça, todos na mesma situação eram chamados de colono da forma mais depreciativa possível assim como muitos evitavam falar alemão para não serem zoados. Outra coisa é a questão da construção, todos que vinham morar nos núcleos mais urbanizados, evitavam construir casas de madeira porque isso era coisa de pobre, coisa de "colono"....
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