quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Casa Koch e sua História - Construção enxaimel de 1826 corre risco - Estância Velha RS

Casa Koch - Estância Velha - Registro IPHAN.
A edificação com estrutura de madeira usando a técnica construtiva enxaimel, no Brasil, com maior concentração no Sul do país, está em célere processo de extinção na paisagem. Existem muitos inventários e trabalhos técnicos com registros para atestar importantes tipologias históricas. Estes, feitos por equipes técnicas especializadas preocupadas com o futuro da história presente na paisagem, legado recebido pela geração atual, guardiã e que têm a responsabilidade de salvaguardar e permitir que as futuras gerações, a exemplo do que ocorre em algumas partes do planeta, possam ter a oportunidade de poder contemplar esta história, como nós tivemos esta oportunidade.
Mediante vários motivos, do econômico à desinformação e ausência de sensibilidade, o que assistimos paulatinamente, áreas descaracterizadas e ocupadas por construções de gosto duvidoso e ou, com ausência de originalidade, ocupando os espaços históricos de maneira desconexas, ou mesmo, vazios inexplicáveis e incompreensíveis.

Acabamos de escrever o livro "Fachwerk - a Técnica Construtiva Enxaimel" e esta informação levou uma pessoa que reside em Estância Velha - no Rio Grande do Sul compartilhar sua preocupação e apresentar uma tipologia pertencente ao Patrimônio Histórico Arquitetônico, não somente do município, mas de toda a região do Vale dos Sinos e do Sul do Brasil, pois trata-se de um exemplar enxaimel construído na década de 20 do século XIX - uma das primeiras edificações construídas por imigrantes alemães naquela região e, talvez, no Sul do Brasil.

Para compreender melhor sua importância....
Um pouco de história da região.

Imagem relacionada
Índios Tupis guaranis - povoação economicamente
 independente e que deu origem à cultura gaúcha,
através das Missões.
Estância Velha foi um povoado que se desenvolveu, a partir de uma fazenda, na margem direita do Rio dos Sinos. Os primeiros moradores foram povos indígenas de várias tribos, como os tupis-guaranis e os kaingangs.
Em 1788 foi instalada a Real Feitoria do Linho Cânhamo, à margem esquerda do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, com a finalidade de produzir cordames para os navios portugueses. Para produzir matéria-prima para este estabelecimento, incentivou-se a criação de povoações de imigrantes portugueses e também com a presença de brasileiros, os quais foram distribuídos em muitas fazendas da região, como por exemplo: Fazenda Boa Vista - atual Portão; Fazenda Bom Jardim - atual Ivoti e  também, Fazenda Estância Velha - atual município de Estância Velha. Os primeiros imigrantes alemães chegaram na região em 1825 e se fixaram nas proximidades da Lagoa Lourenço Torres, na Boa Saúde, em cujas margens residia o vice-capataz Imperial, José Antonio de Quadros. 
As embarcações, como fez o vaporzinho de Hermann Blumenau 1846, entrava nesta lagoa e acessa com facilidade as povoações.
Casa Koch.
Entre estes imigrantes alemães - provavelmente estava a família que construiu a Casa Koch, construída em 1826 e que corre riscos de ser demolida, ou relocada de seu local original histórico.
Outro fator histórico pertinente, na escala regional do Sul do Brasil, são as informações de uma das primeiras cartas, escritas por Hermann Blumenau aos pais residentes na Alemanha, como fiscal do governo alemão - para checar a situação de seu compatriotas em solo brasileiro - as notícias que chegavam a Europa não eram muito positivas. Isso porque o governo alemão criou a "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" - Colonisation Vereins Hamburg - 1845/1846 - com sede em Hamburg e enviou Hermann Blumenau ao Brasil que chegou ao Sul em 1846.
Blumenau escreveu a carta para os pais em 1846, na qual descreve algumas destas fazendas de gado e curtumes desta região do Rio Grande do Sul, percepções adquiridas em sua primeira visita à região - onde visitou propriedades de imigrantes alemães localizadas nas povoações em torno do lago, pois viajou com embarcação fluvial - observar o mapa acima. Neste tempo a Casa Koch já fazia parte da paisagem local e a Colônia Blumenau sequer tinha sido fundada.

"Pedaços" da Carta de Hermann Blumenau data de 1846  e ilustra este primeiro contato dele com o Sul do Brasil, enviado para seus pais, na Alemanha. A carta inteira está na postagem - Clicar sobre: Hermann Bruno Otto Blumenau - De 1819 até 1846 - Sua carta.
"Depois de ter me referido a assuntos em geral, quero agora fazer-vos destes mais detalhadamente, mesmo que eu, de novo, não possa escrever como desejaria, por ter muito o que fazer e estar com a vista bastante afetada.
Preciso adiar ainda um relatório extenso, para quando tiver mais tempo e estiver melhor ambientado. Agora, portanto, só assuntos,  esparsos da minha vida e atividades, desde a minha chegada ao Rio Grande, de onde só lhes mandei duas cartas mensagens, por não me ter sobrado tempo para comunicações mais demoradas e ainda pela razão de ter sabido, tardiamente, da partida dos respectivos navios.
Viajei de vaporzinho do Rio Grande a Pelotas, situada a noroeste, no rio São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim com a dos Patos. A passagem levou  cinco horas e foi agradável. As ribanceiras do rio são baixas e pouco pitorescas, mas de longe, no noroeste, aparece uma linda cordilheira azul, a Serra dos Tapes. Nas margens do Rio São Gonçalo, vi, pela primeira vez, uma capivara entre os juncos, (...).
O comendante do vapor, amável conterrâneo, permitiu-me pernoitar a bordo, onde eu, sob o meu casacão, dormi regularmente bem. No dia seguinte, mandamos chamar um outro alemão, bem conhecedor da região - uma espécie de tropeiro - para conversar com ele sobre uma incursão ao interior, que eu pretendia fazer, indaguei sobre tudo que me interessava, tirando informações valiosas. Depois andamos pelos arredores, onde cheguei a conhecer muita coisa que me era novidade e que observei com grande interesse.
(...)
Bem do lado, onde atracava o vapor, encontrava-se uma charqueada, onde é preparada a carne-seca salgada, e onde estavam sendo secados os couros e procedido o aproveitamento da gordura. Tais charqueadas se estendem ao longo do rio, no percurso de duas horas, sendo que as maiores aproveitam, diariamente, 300, 400 e até 600 cabeças de gado. A vista e o cheiro dessas charqueadas são horríveis - sangue, ossos, carne apodrecida e peles, estômagos e intestinos em decomposição em toda parte, pesteando o ar. Os chifres, ligados ainda a uma parte dos ossos da testa são aproveitados para cercados, dentro dos quais são mantidos porcos e outros animais que, parcialmente se alimentam de sobras de carne. Onde quer que se pise, para onde quer que se vá, sempre o mesmo aspecto de sangue, estômagos apodrecidos e mau cheiro. Fiquei deveras contente quando de lá saímos, por mais interessante que o assunto fosse. Os proprietários dessas charqueadas, os "charqueadores", são geralmente gente bruta, principalmente enriquecidos nos últimos tempos. Se a paz for restabelecida no país vizinho, para o que as expectativas atualmente são boas, o lucro torna-se-á menor, mas sempre ainda bastante compensador.
Mais tarde visitei ainda um negociante alemão, que me acolheu muito bem, tendo me oferecido pouso e um cavalo, dispondo-se a fazer uma excursão comigo. Andei depois por ali assim, tendo visto pela primeira vez, um lindo pomar de laranjeiras, que apresentava um esplendido aspecto., as árvores de ramagem escura e copa arrendondadas, onde apontavam as maravilhosas frutas que estavam justamente amadurecendo. É um belo espetáculo observar-se os pomos dourados, um perto do outro, às centenas! Os pés já produzem no seu quinto ano e consta que,  já no décimo ano dão 4 a 6 mil frutas anualmente. No interior me afirmaram que há laranjeiras de 8 polegadas de diâmetro de renderiam seus 4 a milhares de frutas por ano e teriam apenas 8 anos.
À noite, encontrei em casa do Sr. Claussen ainda alguns brasileiros, todos já um tanto alcoolizados, com os quais palestrei a respeito de minha excursão, sobre a qual, depois de muita discussão, finalmente nos entendemos. Mais tarde, ainda apareceu um grupo de jovens, fantasiados de polacos e poloneses, dançando a polca ao compasso de uma esquisita, ms bonita modalidade de música, que era novidade para mim:  uma pequena flauta com acompanhamento de pandeiro. após os outros terem ainda "champanhado" vastamente e eu meditado sobre os meus planos para o dia seguinte, fomos dormir. Subi a minha cama de campanha e cobri-me com um cobertor e o meu casacão, dormindo bem até o raiar do dia, quando o meu comandante veio do vapor buscar-me para o início da jornada à Serra dos Tapes.
Começou então a balburdia. O gerente da casa de hospedagem Claussen e alguns fazendeiros ali hospedados, todos ainda sob o domínio das consequências da champanha, não encontravam meios de se acordarem. verifiquei também que havia cavalo para mim, mas que não havia arreios. (...) Finalmente , passadas quatro horas, estávamos prontos para partir, isto é, o comandante e eu, pois todos os demais estavam de ressaca, o que não mais me desapontou, convicto, como fiquei, de que eles só estorvariam os meus propósitos.
Através de uma região de terras baixas, por vezes pantanosas, dirigimos-nos, montados nos nossos cavalos, em direção noroeste, ao encontro da montanha.
Três horas distantes da cidade, na propriedade de um amigo do comandante, pretendíamos trocar de cavalos. Não o encontrando, entretanto, em casa tivemos que continuar nos mesmos animais, que não eram lá muito bons. Um pouco adiante paramos em um estância para nos refrescarmos. O proprietário também não estava em casa, mas sim  a patroa e uma irmã dela, ambas chinas, ou índias, com olhos um tanto oblíquos, pele amarelada e cabelos pretos muito compridos. Como fosse domingo, estavam elas bem arrumadas, com vestidinhos bonitos e modernos, os cabelos penteados e bem trançados.  Interessante era o contraste destes requisitos da civilização com a absoluta ausência de bons modos. uma delas puxou as pernas, com a maior naturalidade, para cima do banco, encostando o queixo nos joelhos, enquanto a outra, penteando uma criança, falava com o meu companheiro ao mesmo tempo que, com o pente, palitava os dentes.
Lá tomei pela primeira vez o chá mate (erva mate) a folha de um arbusto em forma de árvore, a qual é torrada e socada. Sobre certa porção desta erva, se põe água fervendo (e açúcar quem quiser), sugando-se o líquido através de um canutilho de folha de Flandes, ou ouro, que termina em uma pequena bola perfurada, que se coloca dentro do chá. De início é fácil queimar-se a boca, como a mim aconteceu, mas depois saboreia-se com gosto esse chá e também sem açúcar, o qual, segundo se diz, muito mais saudável. É preparado sempre na casca de uma pequena abobora garrafa, do tamanho de uma mão fechada, às vezes enfeitadas com lindas decorações de prata.. Suga-se enquanto tiver chá. Depois, vem uma negra, pega a cuia, e despeja nela novamente água fervente e assim a cuia continua a rodar, não se devendo limpar, de maneira nenhuma, a bombilha, mesmo tendo saído, talvez, da boca de um vizinho bastante sujo, porque isto seria interpretado como ofensa. Quando o mate perde o gosto, é jogado fora e coloca-se nova porção de erva.
De lá partimos, após agradecimentos pelo gentil acolhimento, efusivos mas formais, tendo alcançado, após várias horas, na colina anteposta à serra outro amigo hospitaleiro, numa propriedade maravilhosamente bem situada, fazendo jus ao nome: "Muito Bonito".
Fomos acolhidos com muita gentileza e dignidade, tendo eu experimentado  aí, pela primeira vez, uma refeição à maneira nacional: carne de vaca, bem picadinha, com toucinho. O prato é acrescido de farinha de mandioca) produto conseguido pela raspagem, prensagem  e torração da raiz de mandioca) que se mistura à carne, e de que eu gostei muito, jantando-se ainda laranja à vontade.
A permanência ali foi muito interessante. A propriedade é muito bonita, um quarto de légua quadrada, totalmente cercada de laranjas e outras frutas. Mandei pedir informações pelo valor aproximado da mesma, obtendo a resposta que, ao preço de 12.000 dólares (18.000 Thalers) estaria certamente à venda. Seria uma propriedade para um agricultor abastado (Interesse nos negócios de terras). Fica à seis horas de viagem da cidade e do porto de Pelotas, margeada de boa estrada. Lá encontrei, por primeiro, as variedades de laranjas (ou da nossa "Apfelsine", de casca alaranjada), das quais existem diversas espécies de tamanhos e gostos diferentes, assim como acontece com nossas maçãs.
Tem aqui, uma laranja lima, de casca amarelo-claro, cor de limão,  doce, mas um tanto insonsa, a lima de umbigo e a bergamota (da qual se obtém o óleo de bergamota) que também é doce mas nada de gosto especial. As limas são inferiores às laranjas no gosto, mas tem a vantagem da produção durante todo o ano, enquanto a laranja é apenas de seis meses. Depois há  o limão, do qual também existem várias qualidades, alguns bem maiores e bastante mais ácidos do que o nosso limão, e por fim as qualidades azedas (cidras) que na Alemanha, chamamos de  "Pommeranza" ou laranja azeda.
Havia ainda outras árvores frutíferas, como figos,  pêssegos, pinheiros,  (que dão uma qualidade de nozes) como ainda cana de açúcar, batatas, etc. (Vegetais que vi ali pela primeira vez). além disso havia uma porção de arbustos floridos, mesmo sendo inverno na época, principalmente uma espécie de acácia de flor grande purpúrea quase escarlate.
Foi uma pousada agradável, aumentada ainda pela gentileza simples e agradável, mas de grande dignidade, daquela gente.
Depois de termos consumido farto almoço, chupado laranjas e tomado café para finalizar, partimos ao encontro de outro amigo ainda, o qual mora a várias léguas de distância, na montanha.
Anoiteceu entretanto, e nos vimos obrigados a pernoitar a uma milha de distância do nosso destino, em outra fazenda localizada mais esplendidamente ainda do que a "Muito Bonito". Fomos bem recebidos e nos serviram, a pedido de meu companheiro, ainda um pouco de linguiça e farinha, pois eu estava com bastante fome. O leito era duro e a noite gélida, e como tivéssemos apenas nossos casacos para nos cobrir, senti um pouco de frio, mas, mesmo assim, dormi muito bem. Durante a noite, os moradores daquela fazenda começaram a tarefa  de descascar raízes de mandioca para o preparo da farinha, ao clarão de enormes tochas. Não havendo mais sossego, nos levantamos e observamos, por algum tempo, a fauna. Depois pegamos as nossas montarias, o que levou bastante tempo e partimos, após os merecidos agradecimentos.
No alto dos morros havia geado fracamente,mas nos vales, a camada era mais grossa, e havia gelo da  grossura de um dedo nas poças d'água que, entretanto, derreteu muito depressa.
Foi uma magnífica manhã fria e eu mesmo, com região glútea bastante prejudicada, me encontrava em rósea disposição. Depois de duas horas, chegamos à fazenda do Senhor Serafim Barcelos, onde o meu companheiro, lutando entre um grupo de revolucionários, se encontrara aquartelado por diversas vezes.
Fomos recebidos com a mais gentil cordialidade, e fizemos passeios de reconhecimento pela região e pela fazenda, tendo eu recebido muitas informações sobre produtos agrícolas, agricultura, valor das propriedades, etc., sobre o que escreverei em outra ocasião.
(...)
A tardinha, após despedida cordial, com abraços e repetidos convites para outra visita, partimos para alcançarmos ainda "Muito bonito", onde nos haviam convidado para pernoitar.
Desorientamo-nos, entretanto, e cavalgamos pela região até às nove horas da noite, sem avistar casa alguma. Quando por fim encontramos uma estância no mato, onde se encontravam alguns negros e a proprietária, uma mulata. Mesmo que as aparências não fossem muito boas, vimo-nos obrigados a permanecer ali. Ainda nos serviram algumas costelas assadas ao fogo, além de farinha. a fome temperou a refeição simples, que não foi de grande asseio, tendo os dedos de fazer as funções de garfos. Depois nos serviram mate e fumados ainda alguns cigarros, e tendo eu rememorado os acontecimentos do dia, deitamo-nos para descansar dentro de uma cabana inacabada, sem paredes ainda, mas com coberta. O leito improvisado sobre um porta, era duro, porem o cansaço nos fez dormir bem.
Partimos ao raiar do dia em direção a "Muito Bonito", onde fomos novamente recebidos com muita amabilidade.
Depois de bem alimentados, tendo passada mais uma revista na bela propriedade, partimos, tendo chegado ao cair da noite em Pelotas, com a região glútea bastante maltratada, mas absolutamente satisfeitos com o resultado da excursão.
No dia seguinte, visitei uma fábrica de sebo nas proximidades, por cujo proprietário, um francês, fui muito bem recebido e que me mostrou as instalações, tendo conversado com ele sobre tudo que se pode ali empreender, ainda. O  homem havia iniciado, fazia cinco anos, com pouco recursos e, através de muito trabalho e empenho, possui agora, uma grande fábrica com 25 escravos. ele deu-me esperanças para um empreendimento químico, convidando-me, também, para fazer o necessário estágio no seu estabelecimento, para o caso de eu resolver voltar a Pelotas para estabelecer-me ali.
No dia seguinte voltei ao Rio Grande, onde precisei embarcar imediatamente no vapor que zarparia no dia seguinte, com destino ao Rio. Sobre esta viagem, comunicarei na carta seguinte. (...) "
Hermann Blumenau
Ao ler a carta de Hermann Blumenau aos seus pais - na Alemanha, escrita no ano de 1846, podemos imaginar que tenha passado na região das estâncias de gado - ou na região onde já estava construída a Casa Koch - na Estância Velha.
 Genuíno Sampaio
 A povoação da estância em 1933 tornou-se Distrito de Nova Palmeira, através do ato municipal N° 14, pertencente a São Leopoldo. Nova Palmeira, que agora se chamava Genuíno Sampaio - homenagem a um assassino miliciano, cuja biografia pode ser lida em (Clicar sobre) Genuíno Olimpio Sampaio - pelo Decreto-lei Estadual n.º 720, em 29 de dezembro de 1944, adquiriu parte do território do distrito da sede do município de Novo Hamburgo. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o distrito de Genuíno Sampaio, figura no município de São Leopoldo. Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o distrito de Estância Velha, figura no município de São Leopoldo.
Foi elevado à categoria de município com a denominação de Estância Velha, pela Lei Estadual n.º 3818,  em 8 de setembro de 1959, desmembrado de São Leopoldo. Sede no antigo distrito de Estância Velha constituído do distrito sede foi instalado em 1° de janeiro de 1960. 
Primeiro mapa de Estância Velha - 1960. Fonte: 60 anos de Estância Velha: Guardião da memória mantém a história viva
Mapa de 1856.




Esta edificação em Estância Velha atual é apresentada assim
“Praça 1º de Maio - Estância Velha: casa estilo enxaimel”.

 Dizemos - cenário. A estrutura desta casa é qualquer coisa, menos feita 
de madeira para ser considerada enxaimel - e as ripas apresentadas 
na fachada tem  posições diferentes daquelas usadas estruturalmente. 
É importante conhecer este contexto histórico e sua evolução dentro da linha do tempo e poder concluir que esta edificação histórica apresentada nesta postagem foi construída em um dos primeiros momentos desta história  -  construída pelos primeiros imigrantes alemães que chegaram à região - marcando como o primeiro grupo organizado de imigrantes alemães chegado ao Sul do Brasil. Simultaneamente a esta ameaça que a Casa Koch sofre, a municipalidade destaca como um de seus pontos focais atuais, uma tipologia atual "maquiada" e apresentada como uma edificação construída com o "estilo enxaimel". Lembramos que a técnica construtiva enxaimel  não é estilo, e sim a característica estrutura de madeira que pode ser adotada em todos os estilos. Apresentamos em nosso livro sobre enxaimel, algumas tipologias dentro dos mais variados estilos - até o tempo presente, que faz uso do enxaimel.
Figura 155 do livro "Fachwerk - A Técncia Construtiva Enxaimel" - tipologia enxaimel atual.
Casa Koch - Estância Alta RS.
Em contrapartida, a Casa Koch, construída em Estância Velha, em 1826 é uma edificação original enxaimel, peculiar, que difere da tipologia tradicional da região do Vale dos Sinos. Apresenta caibros de madeira com bitola muito grande - reforçando sua história centenária, pois, aparentemente ainda não haviam problemas com a escassez  da madeira, que diminui muito esta dimensão e até mesmo, a quantidade de madeira usada nas casas enxaimel do Rio Grande do Sul.
Curiosamente a tipologia pertencente ao Patrimônio Histórico Arquitetônico local de Estância Alta RS faz parte do cadastro  inventariado pelo  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN sob o Código EV01. O descaso aparente com esta tipologia pertencente ao Patrimônio histórico Arquitetônico, não leva em consideração - também este trabalho técnico efetuado  em 5 de novembro de 2007, custeado com verba pública.

Dados do Castro do IPHAN
Casa Koch
Código EV01 

Projeto
Inventário da Arquitetura Rural em Municípios das Áreas de Imigração no Rio Grande do Sul - Unidade 12°SR

Técnicos responsáveis: 
Historiadora Fernanda Matschisnke, Arquiteta Enilda Miceli (conhecemos a arquiteta Enilda em Blumenau)- Coordenadoras.
Arquiteta Claudia Milani - Pesquisa campo e levantamentos.
Arquiteta Verônica Verônica Di Benedetti - Supervisão.

Data - 5 de novembro de 2007

Identificação e localização da propriedade/imóvel
Cidade: Estância Velha RS
Localidade/Bairro: Encosta do Sol
Denominação: Casa Koch
Proprietário: Alice Koch
Endereço: Rua Presidente Lucena
Uso original: residencial
Uso original: residencial

Breve Descrição com acréscimo de nossos comentários - em vermelho
Casa do tipo teutobrasileira, enxaimel alemão. Possui uma estrutura de madeira de grandes dimensões totalmente contraventada na diagonal e vedada por alvenaria de tijolos com argamassa de barro e cal. (A casa foi construída com a técnica construtiva enxaimel por imigrantes alemães - os primeiros na região - e o contraventamento é uma das principais características das casas construídas neste período - portanto há redundância nas informações apresentadas) A casa está integra no módulo principal, completamente original, recebeu um acréscimo na parte de serviço e ainda são percebidos os traços de janelas que davam para uma varanda. As telhas são de cerâmica tipo rabo de castor e a estrutura do telhado trabalha junto com a estrutura da casa (Tem tudo para que o primeiro telhado originalmente fosse feito de tabuinhas de madeira e posteriormente fosse trocado por telhas de barro tipo rabo de castor ou telhas planas). Nas duas paredes externas existe um contraventamento como se fosse um tesoura de linha alta. As tábuas do piso do sótão são largas e espessas e não possui forro. No andar térreo o forro predominante é do tipo saia e camisa (Muito utilizado nas casas enxaimel da Alemanha desde a idade média - visitamos algumas, que ainda recebiam um reforço de uma massa feita de barro e palha na parte posterior). As aberturas tipicamente alemãs são sólidas de boa madeira e conservam sua ferragens (Inexiste abertura "tipicamente alemãs" - as usadas originalmente nas construções dos imigrantes no Brasil, desprovidas da influencia da arquitetura local pretérita, são bem diferentes destas. Também as construídas na Alemanha. Estas, de madeira, eram usadas, por falta de opção do vidro ou mesmo, seu alto custo. Nesta região se usava muito o tipo guilhotina, como acontecia com edifícios públicos da Colônia Blumenau - influencia da arquitetura portuguesa regional). A construção está recuada da estrada e possui um lago na frente, com mais uma casa e galpão que serve de oficina e depósito (Toda casa do imigrante alemão do sul do Brasil do século XIX e início do século XX - na área rural  e muitas vezes também na área urbana - era munida de "rancho" e outros elementos do complexo residencial). A implantação, o jardim,  o trato com a paisagem, a relação da casa com o entorno são característico de uma paisagem européia (Não confere - a casa recebe influência da situação geográfica onde foi construída e da sociedade pré estabelecida feitas por grupos migratórios de outros países oriundos da paisagem europeia igualmente, e a maneira de ocupar o espaço, como a migração portuguesa e espanhola, migrações pretéritas a esta - dos alemães). Mantém-se preservada esta  leitura. Vale a pena destacar o pequeno galpão com características da arquitetura colonial portuguesa ao fundo do conjunto principal.
Modificações Visíveis
Construção de uma sala de refeições na parte posterior da casa, em alvenaria, há uns 60 anos atrás. comprovamos através de algumas patologias de umidade que deixam a mostra o tijolo de fechamento e as estruturas de madeira exatamente na área de emenda das paredes do módulo original enxaimel com a construção mais recente. O telhado muda e recebe uma calha de recolhimento do pluvial nesta região, são duas construções geminadas e com sistemas construtivos absolutamente diferentes, mas mesmo assim existe harmonia entre as duas arquiteturas e acaba adquirindo a historicidade que legitima este anexo. A parte de serviço com fornos e tanques agrega o valor cultural.
Informações adicionais
Hoje reside na casa somente o tio. O  sobrinho com sua família residem na casa ao lado, uma construção moderna. A residencia fica ao lado de um clube de pesca. A casa foi adquirida pelo bisavô da família Koch por volta de 1826. Muito móveis são representativos da cultura alemã: 2 camas de madeira torneadas, duas camas de ferro, uma cama de madeira com a guarda em madeira vergada, relógio com pêndulo, armário cabide, isqueiro de madeira com a figura de um alemão, compoteiras de vidro, louças, retratos de família, cômoda,  guarda-roupas, máquina de costura, armário de cozinha, mesa de cavalete (Mobiliários de vários períodos históricos). Os mais novos falam português, mas normalmente a língua mãe é o alemão. Os hábitos e todo o mobiliário são muito característicos do imigrante alemão podemos dizer que a cultural imaterial é muito viva ainda e este conjunto merece ser o destaque desta cidade. A casa é um museu vivo. e os seus proprietários demonstraram orgulho daquilo que conservam (Na Alemanha atual, em nossas pesquisas, visitando algumas tipologias históricas de aproximadamente 900 anos percebemos que muitas são atualizadas e munidas de tecnologia atual para uso das pessoas da sociedade atual, para que estas continuem na paisagem como referencias históricas. Nem sempre todas as edificações históricas precisam tornar-se museu, mas ser preservadas na paisagem, em pleno uso pela sociedade atual e com todo e pleno uso da tecnologia atual - Se não for assim, poderíamos ter mais museus que outros tipos de uso - quanto as edificações de uma cidade histórica. Os elementos formadores, objetos, equipamentos, documentos, fotografias, sim poderiam ser guardados em um único lugar da cidade devidamente catalogados - em um museu.).
As imagens comunicam...












A Casa Koch possui um planta baixa com características da influência da casa portuguesa na distribuição de seus ambiente. Em nossa pesquisa e publicada em nosso livro, encontramos casa com planta semelhante, localizada no Alto Vale do Itajaí, que recebeu influência da casa portuguesa, por estar localizada no caminho das tropas - conhecida Casa Krüger localizada no Município de Braço do Trombudo SC. A planta casa do imigrante alemão é bem característica e difere da casa portuguesa. Surgiu a partir de uma evolução que teve início do período neolítico - a partir da localização do fogo em seu interior.
Vista frontal da Casa Koch.


Estado de Conservação atual da Casa Koch




Janela Guilhotina - Influência da arquitetura portuguesa - estrutura visível sob a fina camada de acabamento e pintura - caibros de grande seção.
Estrutura do telhado coberto com telhas planas,
 ou germânicas ou rabo de castor.


Porta de madeira, duas folhas com a presença da bandeira, característica das edificações do imigrantes deste período com a função para facilitar a iluminação natural, quando as aberturas permanecessem fechadas e ou, com janelas de madeira.
A ausência de reboco na parte superior da janela, nos faz pensar que havia um forro nos primeiros tempos da história desta casa pertencente ao Patrimônio Histórico Arquitetônico. É possível perceber que os caibros são falquejados.
Porta de madeira, duas folhas com a presença da bandeira, característica das edificações do imigrantes deste período com a função para facilitar a iluminação natural, quando as aberturas permanecessem fechadas e ou, com janelas de madeira.
Janelas de madeira - material mais barato que o vidro, muitas vezes inacessível, onde alguns eram trocados posteriormente a construção da casa. Também aconteceu assim na Alemanha, quando as primeiras casas, sequer possuíam janelas, influencia do império Romano no Sul do atual território da Alemanha.
 Carlos Dietrich.
No dia 16 de maio de 2019 foi publicado no veículo on line "O Diário" por Sandra Costa, a notícia de que a Casa Koch poderia virar Patrimônio Histórico de Estância Velha, mediante o envio da indicação por parte do vereador Carlos Dietrich. Independentemente da indicação ou não, a Casa Dietrich já é um Patrimônio Histórico Arquitetônico, não somente de Estância Velha, mas do Rio Grande do Sul, do Sul do Brasil e do Brasil, com interesse também, para a Alemanha, como material de estudo.
"Estância Velha – O vereador Carlos Dietrich (Geada-MDB), entrou com um pedido de indicação ao Executivo, esta semana na Câmara de Vereadores. Geada solicita que a Prefeitura realize um inventário e o tombamento, no imóvel localizado na rua Oto Koch, no bairro das Rosas. A casa foi construída no ano de 1827, sendo uma das casas mais antigas do município, senão a mais antiga, remetendo a cultura alemã, possuindo estilo colonial. A propriedade pertencia a família Koch, e agora está abandonada e se deteriorando com o tempo. Conforme informações preliminares a área teria sido vendida e os novos proprietários pretendem remover a construção. A indicação foi encaminhada ao Executivo que deve acatar ou não o pedido do vereador."
A responsabilidade sobre o futuro desta casa pertencente ao Patrimônio Histórico Arquitetônico original, para que as novas gerações tenham acesso, como essa geração teve, depende da boa vontade e consciência sobre a importância desta tipologia, não somente para Estância Velha, mas para todo o Sul do Brasil - Brasil e Alemanha. 


Há pessoas lamentando, nas redes sociais. Ei...ainda há tempo! É fácil colocar esta casa, linda novamente. Alemanha reconstruiu cidades com mais de 80% destruídas, movidas por esta consciência. Por isso existe esta postagem. Mechamo-nos.


Assim que puder irei visitar o local e fazer fotos...
Para a história.

Leitura complementar - clicar sobre:

4 comentários:

  1. Belo trabalho fui procurar fotos na Internet e acabei no teu blog. Este foi um primeiro trabalho que fizemos em equipe , e gostei muito dos acréscimos, pois na época não tínhamos conhecimento aprofundado sobre enxaimel, estes arquivou do IPHAN, foram atualizados, ou foi apenas essa Casa?um abraço

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    1. O Enilda, bom ler sua mensagem, mesmo que muito tempo depois. Desculpe. não vi antes. Essa casa foi uma indicação de uma pessoa que estava muito preocupada com o estado ruim dela. Pediu se eu poderia efetuar um estudo para sensibilizar as pessoas. Ache pertinente e o fiz com prazer. Não sei nada sobre o IPHAN. Abraços.

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  2. Belo trabalho!
    Recentemente descobri minha árvore genealógica e essa casa pertencia aos meus descendentes. Inclusive, minha vó nasceu nesta casa.

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    1. Boa tarde. Obrigada pelo retorno. Agora tens um motivo para ajudar a manter esse patrimônio. Abraços....

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