domingo, 19 de janeiro de 2020

Casa Reinecke - Casa da Uniasselvi de Timbó SC - Técnica Construtiva Enxaimel

Casa Reinecke.
A Casa Reinecke, como a denominaremos nesta postagem por ter sido o último nome assumido no registro em Tombamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, mesmo que também tenhamos informações repassadas por Luiz Carlos Henkels de Indaial, recebidas de sua mãe que conhecia um pouco da história da edificação histórica (Aberta para receber mais informações), está localizada em Timbó, segundo Frau Henkels, a casa foi construída por uma família de sobrenome Hoeltgebaum.
As cidades de Timbó e Indaial apresentavam "caminhos mais próximos" nas primeiras décadas de história da Colônia Blumenau, através dos vales do Rio Benedito e Rio Itajaí Açu - caminhos fluviais. As povoações às margens do Rio Benedito aconteciam através da fixação de famílias que  subiam o Rio Benedito através de sua foz no Rio Itajaí Açu, geralmente da região de Indaial ou que passavam por Indaial, oriundos da Colônia Blumenau e litoral de Santa Catarina. 
Casa Reinecke está localizada na antiga estrada colonial, margeando o Rio Benedito, que seria a atual SC 477, rumo ao Stadtplatz de Timbó, a partir da Estrada Blumenau (Estrada Colonial que ligava o Stadtplatz Blumenau ao oeste do estado, passando por Südarm - atual Rio do Sul, que ligava ao oeste do estado e também ao planalto catarinense.

A Casa Reinecke foi construída dentro de uma propriedade colonial -  que na época também apresentava característica rural - implantada em um lote colonial comercializado por Hermann Blumenau (Ler postagem 2 da lista no final). As principais características do lote (colonial): pequena dimensão da testeira e a grande profundidade, para que todos os colonos da Colônia Blumenau tivessem acesso aos cursos de água e à estrada, uma vez que a geografia característica de toda a região era formada por estreitos vales e rios, parte da grande Bacia do Itajaí.
Localização da  Casa Reinecke no lote colonial junto ao Rio Benedito. A vista do Google também nos permite observar a ocupação irregular no entorno.


Localização da  Casa Reinecke no lote colonial junto ao Rio Benedito em 2003 - apresenta um quadro bem diferente daquele no presente. Todo o complexo da propriedade rural estava presente, desde os galpões, pomares, plantios, etc.
Encontramos uma fotografia feita pelo IPHAN no período que a casa foi estudada pela equipe técnica da entidade. Seu entorno estava muito descaracterizado.
Propriedade rural com a presença de movimento de terra e sem a presença dos ranchos e estrebarias.
A casa é uma autêntica tipologia regional enxaimel construída com estrutura de madeira com as características da casa regional rural. Ou seja, com a presença da varanda frontal, cujo guarda corpo e pilares apresentam todo uma disposição e formas peculiares, sendo os pilares redondos a partir de tijolos preparados para este acabamento e o fechamento do guarda corpo, igualmente conseguido a partir do resultado do assentamentos tijolos. Esta edificação em específico apresenta dois corpos construídos em tempos distintos, sendo o mais antigo, o espaço destinado ao fogão, sendo que, de acordo com o IPHAN, a área do fogão é a parte do conjunto mais antiga, construída na metade da segunda metade do século XIX, ou, em 1886.

A historiadora de Timbó SC, Jocelia Rocha Barbosa, passou-nos dados importantes sobre o tombamento da Casa Reinecke. 
A edificação pertencente ao Patrimônio Histórico de Timbó é tombada pelo IPHAN sob número  de processo  1548- T - 2007   e tem o  229/ 2000 da FCC  Decreto de tombamento 5923- 21 de 11/2002. 
Não podemos afirmar se Herr Hoeltgebaum, o construtor da casa mencionado por Frau Henkels seja o trazavô de Érica Reinecke, mencionada pela pesquisadora de Timbó, como o construtor da casa, sem citar o nome. Vamos pesquisar. 
Dados do IPHAN -  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nome atribuído: Edificações e Núcleos Urbanos e Rurais relacionados com a imigração em Santa Catarina 
Casa Reinecke

A construção da Casa de Érica Reinecke, em Timbó-SC, data aproximadamente do ano de 1886 (data da construção do módulo menor – atualmente, a cozinha).
Localização: R. Blumenau, n° 4.664 – Timbó-SC
Número do Processo: 1548-T-2007
Livro do Tombo Histórico: Inscrito em 09/2015
Livro do Tombo Belas Artes: Inscrito em 09/2015
Descrição: A construção da casa data aproximadamente do ano de 1886. Supõe-se que esta data refira-se à construção do módulo menor (atualmente, a cozinha) e que o outro volume (que abriga sala, quartos e varanda) tenha sido edificado alguns anos mais tarde. O lote, originalmente agrícola, se estendia da rodovia em direção ao morro; a propriedade era composta por um conjunto de casa e ranchos. A implantação original possuía, além do conjunto edificado, todos os elementos de uma implantação típica em lote colonial: jardim frontal, pomar, horta, além de área para o plantio e criação de animais domésticos.A planta baixa, dividida em dois volumes, é uma solução adotada principalmente na região de Timbó e Rio dos Cedros; destaca-se o módulo que abriga sala e quartos, com varanda frontal primorosamente trabalhada (foto 2). O módulo da cozinha é ligado a este por corredor externo, onde se encontra também a escada de madeira que dá acesso ao sótão da construção maior (a cozinha não possui acesso ao sótão por escada). Tudo é diferenciado na Casa Reinecke, remetendo a um padrão de excelência construtiva: o esmero construtivo da varanda, que é sustentada por pilares circulares; a confecção preciosa da porta principal; as pinturas internas.Fonte: UDESC. 
 Dados FCC – Fundação Catarinense de Cultura
Número do Processo: 229/2000
Decreto de Tombamento: n° 5.923, de 21/11/2002.
Nossa Análise - Arquitetura
Ambiente do fogão no módulo a direita - mais
 antigo,  do conjunto construído da Casa Reinecke. 

Uma casa de estrutura de madeira - enxaimel regional com características rurais, sendo a Casa Reinecke um destes exemplares, a qual é dotada da varanda frontal, com cumeeira paralela a estrada que também acompanha o sentido do Rio Benedito
Diferentemente da maioria das tipologias rurais coloniais construídas com a técnica construtiva enxaimel da região do Vale do Itajaí - que recebiam o espaço do fogão na parte posterior do corpo principal da edificação a exemplo da varanda na parte frontal. A Casa Reinecke, como outras em menor número na região, tem seu espaço do fogão localizado em um módulo separado, localizado à direita do conjunto. Mesmo assim, a edificação apresenta o acréscimo dos dois anexos: o frontal - a varanda e o posterior, que não recebeu o fogão - localizado no módulo menor ao lado direito.
Intersecção entre os dois módulos - coberto e local
de passagem da escada. À direto o módulo do ambiente
 do fogão - a cozinha


Recebemos a informação que durante o restauro da Casa Reinecke,  esta foi levemente  deslocada para a esquerda, próxima ao local onde estavam instalados os ranchos existentes na propriedade colonial - nas proximidades, visíveis no mapa do Google do ano de 2003.
A casa é um conjunto da integração de dois volumes edificados separados com a parte de intersecção coberta, alinhados linearmente paralelo à estrada que, de acordo com informações do IPHAN, o anexo menor - onde estava a cozinha da residência - ambiente do fogão, foi construído primeiramente.
O aspecto predominante é a estrutura de madeira formado por caibros quadrados, distribuídos quase de maneira simétrica com a presença da travessas inclinadas, na horizontal e na vertical, aparentes na parte externa e rebocadas com massa de barro e cal, na parte interna, com a presença de decorativismo de pinturas florais.
Pinturas adornos nas paredes internas - rebocadas.
Madeira falquejada a partir de paus roliços. A presença dos
 Holznägeln - pregos de madeira.
As pinturas da Casa Reinecke, como algumas outras edificações deste período e que fazem uso deste decorativismo são feitas com tintas à base de cal. A pintura figurativa cria uma barra superior floral - mais pesada visualmente com detalhes em sua parte inferior ocupando toda a parede. As pinturas nas primeiras casas permanentes da região é uma tentava do resgate do conforto aconchegante e do visual do decorativismo das casas alemãs das cidades de origens dos muitos imigrantes que construíam as primeiras cidades na região do Vale do Itajaí. Em suas casas das cidades europeias, nesse período, faziam uso da sanca de gesso e pinturas murais, posteriormente fazendo surgir a tecnologia do papel de parede. Este decorativismo era comum dos estilos do neoclássico e  Art nuveu europeu, principalmente. Geralmente reproduziam os motivos geométricos, arabescos com a presença de folhas, ramos, frutas, animais. 
Pinturas das paredes da sala da Casa Reinecke - também presentes no quarto do casal..

 Holznägeln nos encaixes.
A argamassa de assentamento dos tijolos empregada - também a fuga, originalmente claras,  aparentemente é aquela  usual na região usada no século XIX e início do século XX, cuja proporção variava de pedreiro para pedreiro. A argamassa para assentar os tijolos era feita de barro, fibras vegetais e animais e o cal virgem, responsável pela cor clara das "juntas", não muito conhecido, pois cada artesão fazia de acordo com sua "fórmula". Os rebocos utilizavam cal virgem na argamassa e terra arenosa
Resultado de imagem para telhas de tabuinhas
Telha de tabuinhas.
Os tijolos apresentam uma certa rusticidades  e são multicolorido de queimas diferentes, sendo alguns mais claros e outros mais escuros. São colocados da maneira tradicional linear e horizonta e seu acabamento são aparentes na partes externa da residencia.
As telhas da Casa Reinecke são do tipo  telha de cerâmicas planas chamadas, conhecida como Bieberschwanz-Ziegeln  - ou telhas rabo de castor. Em alguns locais eram chamadas também, de telhas germânicas. A forma destas telhas são inspiradas nas primeiras coberturas após aquela de palha usadas na região, e também, em outras partes no Brasil. Usavam telhas de madeira - tabuinhas, que não era muito durável por se tratar de um material perecível, quando submetido às intempéries por muito tempo. Mantiveram a forma, mas efetuaram a troca do material, produzindo-o também na firma onde se produzia os tijolos, nas muitas olarias que surgiram na região e deram a mesma forma, somente que usando o barro. A telha de tabuinhas, com muita frequência erma usadas nos ranchos da propriedade.
Cobertura feita com telhas germânicas, ou planas ou ainda, rabo de castor.
Esse tipo de telha rabo de castor, pode ser fixada nos telhados de duas maneiras diferentes: sobrepostas e escamas. A colocação tipo escama requer quase o dobro de madeira para estruturar a colocação destas telhas, ripamento necessário para o entelhamento sobreposto e que é mais impermeável.
Pilares redondos, guarda corpo vazado feito de  tijolos maciços, casa elevado do chão
com o fechado  feito posteriormente do elevado.
Detalhes interessantes que destacamos é o fechamento  das empenas feito de tábuas de canela preta, ao contrario do guarda corpo da varanda que predominantemente de madeira foi executado em tijolos maciços disposto de maneira aleatória para formar vazados. Os pilares são redondos a partir de tijolos especiais para se obter este resultado. 

A pedra foi somente utilizada nos pilaretes para elevar a estrutura/casa  do chão, que originalmente mantinha esta parte  aberta e há indícios que foi fechado durante o trabalho de restauro com tijolos, criando um "vazado" igualmente e parte fechadas, como mostra a fotografia - fazendo perder e ventilação saudável sob o madeirame do assoalho. O uso de madeira na construção é generosa, porque em toda a região, cuja floresta predominante era a Mata Atlântica que disponibilizava uma rica diversidade de espécies de madeira de lei - entre estas, principalmente, a canela preta, para uso na construção de mobiliários e casas de baixo custo, diferentemente de outras regiões. Com isto pode-se observar a seção generosa dos caibros e do paus da estrutura da casa, telhado e assoalho. 
Madeira na estrutura da casa do assoalho e do
 telhado e nas aberturas.
Também usada nas aberturas e empenas, como já mencionado.
A madeira, muitas vezes, e neste caso pode ser, era beneficiada manualmente com as ferramentas tão antigas quanto o tempo que o homem promoveu a revolução agrícola quando eram confeccionadas com pedras e madeira. As famílias o faziam ou um membro - de uma que possuíam ferramentas fazia a de sua família e dos vizinho,s na forma de escambo e mutirão. No  processo manual de beneficiamento da madeira, utilizava-se ferramentas como machados, enchós e vários tipos e tamanhos de serrotes. Não demorou muito para se fazer uso de serraria movida a roda d'água. Aliás, já existia uma, próximo a foz do Ribeirão da velha quando Hermann Blumenau chegou com os 17 primeiros imigrantes, construída por seu antigo sócio Ferdinand Ernst Friedrich Hackradt. 


Quase sempre, a construção dos ranchos e estrebarias, compondo o complexo da propriedade colonial, eram construídos totalmente de madeira. No caso da Casa Reinecke, não pudemos fotografar este complexo, porque o mesmo foi demolido, mas  analisando a imagem do Google Earth, podemos concluir que em 2003 este conjunto ainda estava no sítio e estava à esquerda da casa enxaimel - Casa Reinecke e não, aos fundos, como geralmente era locado.
Vamos comentando a arquitetura da Casa Reinecke, na sequencia da apresentação das imagens - que comunicam.

Planta e Fachadas 
Fonte do levantamento da Planta  estudada  - IPHAN e UDESC.
Casa Reinecke  - As Imagens Comunicam
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Maçaneta de madeira.





Fechamento da empena de madeira. Massa de assentamento a base de barro e cal virgem.

Acesso ao sótão - pelo ambiente do fogão - cujo volume passa pelo espaço aberto entre os dois módulos.



Madeiro falquejada.

Sótão.

Porta para o ambiente do fogão - de madeira.

Espaço entre os dois módulos de madeira.














Aberturas feitas manualmente. Janelas com vidra


Madeira da estrutura do telhado com fechamento de madeira sobre sobre para evitar entrada de bichos no sótão.






Porta feita manualmente com a presença da bandeira
 sobre duas folhas de aproximadamente 60 centímetros almofadadas.


Trabalho manual.





Pinturas nas paredes.






Pinturas decorativas nas paredes - resquício dos clássicos e Art Nuveu
europeu, trabalhados na região na forma vernacular - com material disponível.









Alçapão para um porão.


Pau falquejado manualmente.













Estrutura de madeira à mostra com a queda do reboco.

Estrutura de madeira à mostra com a queda do reboco.

Estrutura de madeira à mostra com a queda do reboco.

Estrutura de madeira à mostra com a queda do reboco.



Marcas do caminho localizados quase simetricamente no jardim que ligava o centro da varanda à estrada. Geralmente era ladeado de palmas, roseiras e margaridas.


Uma das extremas do caminho do jardim acessava a escada para a varanda, geralmente existente por conta da elevação da casa do chão - uma interferência da arquitetura romana.








Curiosamente a parede localizada ao sul da edificação - como as casas neolíticas de chão batido, não possui janelas.






Coluna com seção redonda - tijolos especiais.




Sempre a presença do gradil de madeira, elemento que teve sua origem no período neolítico.








Tijolos rústicos assentados com massa de barro e cal virgem.



Pilarete de pedra elevando a estrutura de madeira do chão, que antes era feito com os paus verticais enterrados o que lhe encurtava muito a vida útil. Uma vez elevados sobre as pedras a estrutura necessitou da cinta de madeira interior e os paus inclinados para enrijecer e fornecer estabilidade o e ao conjunto.


Empena tem o fechamento feito com madeira.





Os dois módulos vistos dos fundos. À esquerda, o módulo do ambiente do fogão e o mais antigo e o da direita, o módulo maior com o anexo da casa rural: varanda e também dos fundos.




Lançando o livro " Fachwerkhaus
A Técnica Construtiva Enxaimel" em algumas cidades do Sul do Brasil.
Em construção e sob revisão...

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