terça-feira, 15 de março de 2022

Josephshaus - Casa São José - Pousada/Hotel - 1° Rodoviária - Casa de espetáculos - Restaurante - Blumenau SC

Casa São José - Blumenau

Padre  José Maria Jacobs.

Queremos apresentar a história de um local de Blumenau, que surgiu em torno  do espaço gravitacional da Igreja Católica de Blumenau e do Colégio Católico Santo Antônio - na época de seu surgimento - Escola Santo Antônio, local criado para os filhos de colonos pobres, fundado pelo Padre José Maria Jacobs. É conhecido de alguns mas não suficientemente propagado pela história local e regional, talvez mediante aos muitos entraves existentes entre as religiões católica e luterana, não somente na Alemanha, mas também, no Brasil e em Blumenau. No início da história de Blumenau,  o clima entre ambas era hostil e filhos de famílias de religiões distintas eram proibidos de se aproximarem um do outro, e nem se casarem - aos moldes do épico de "Romeu e Julieta". Também aconteceu em Blumenau e a religião católica, tinha desvantagem, pois as primeiras lideranças da colônia alemã no Vale do Itajaí somavam praticamente 100% de pessoas que comungavam na religião luterana. Considerando que as lideranças locais eram membros da maçonaria, até mesmo o fundador, observando esta publicação, fonte de pesquisa da presente postagem, também a igreja católica tinha problemas - através desta organização, em Blumenau.

Nós começamos a observar esta questão a partir da pesquisa da e na história, que mereceu espaço na cidade de Blumenau das primeiras décadas. Os feitos e espaços com maior atenção e de autoridades eram ocupados por personalidades luteranas e da maçonaria. Ações, personalidades e espaços católicos não recebiam o mesmo grau de importância que eram ocupados pelos citados. 
Muitos imigrantes alemães que migraram para a região, eram oriundos da Baviera, um dos estados mais católicos da Alemanha, inclusive, a maioria das famílias e mesmo aqueles que doaram terras para fundar o Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau. Estas pessoas e seus descendentes, por certo não tem em sua mesa e na gastronomia: o Rollmops, pão com sardinha, etc, pois viviam nas montanhas e não, no litoral - Mar Báltico, de onde vieram os prussianos e pomeranos para a região e que predominantemente, comungavam a religião luterana, questões resultantes das movimentações sociais na Alemanha - Cruzadas e a mágoa desta região às ações históricas na mesma. Vale uma pesquisa.
Religiões e territórias - conflitos armados, sociais e econômicos na Alemanha e com reflexos em suas colônia na América.


Não tomamos partido desta ou daquela religião, mas a história deve ser plena dentro de ambas e apresentamos com o introdutório destaque, para compreensão, (alemães não são todos iguais e seu perfil cultural e histórico tem relação com sua região de origem).
A igreja católica de Blumenau fazia circular uma certa movimentação sócio/cultural regional em torno de si, ainda mais, depois da chagada dos imigrantes italianos  que foram assentados em locais específicos do Médio e Alto Vale do Itajaí. A Igreja de Blumenau era a paróquia de todo o território da Colônia Blumenau e onde também, estava a escola  Santo Antônio, para onde vinham filhos de famílias de toda a região. Para atender toda esta movimentação foi criado o espaço muito conhecido na cidade de Blumenau e no interior, pois fazia as vezes de dormitório, hotel, restaurante, e foi denominada a primeira rodoviária de Blumenau, em alemão - o Josepshhaus ou Casa São José, nome também dado o cemitério católico, localizado ao fundos da igreja católica antiga e depois realocado.
Na História formal de Blumenau há poucas imagens e pouco se conta sobre o Josephshaus.
Vamos conhecer um pouco sobre esta História...

Foi publicado em 1968, na Revista Blumenau em Cadernos, que a Casa São José estava localizada entre entre a Casa Moellmann e a propriedade de Carlos Wahle, na Rua 15 de Novembro. Percebemos que a Casa Moellmann "chegou" ao local e "encostou" sua construção na construção da Casa São José, observando as fotografias. A Casa São José, que era uma pousada/hotel, 1° rodoviária, casa de espetáculos, restaurante, foi demolida para abrir acesso à construção da Ponte Governador Adolfo Konder e esta foi entregue à comunidade em 1º de dezembro de 1957. 
Um ponto estratégico e central para a comunidade católica de Blumenau, onde os principais comerciantes, industriais e lideranças, desde a fundação de Blumenau, eram luteranos. 
Não havia outro local para construir a ponte?  A centralidade de Blumenau ficava no início da Rua XV de Novembro e também  a saída do Bairro Garcia - local do porto fluvial e da estrada para o litoral.

O embrião... 

Seu início aconteceu por iniciativa do padre José Maria Jacobs (que também idealizou a escola) - primeiro vigário da igreja católica de Blumenau -  Paróquia São Paulo Apóstolo em 7 de setembro de 1884. Nesta data, reuniu um grupo de pessoas na casa paroquial onde foi apresentado formalmente os estatutos de uma sociedade beneficente que vinha sendo organizada e se chamou - S. Joseph Manner-Verrein  ou,  Sociedade de homens - São José. O estatuto foi posto em votação para ser aprovado e o foi. Em seguida foi eleita sua diretoria provisória:
  • Presidente: Michel Schimtz;
  • Vice-Presidente: August Sutter e Heinrich Reuter;
  • Secretários: Jacob Weiss e Joseph Wamser;
  • Tesoureiros: Johann Kluge e H. Zimermann.
Aconteceu uma segunda reunião em 5 de outubro no mesmo ano de 1884. Nesta foi ajustado o estatuto, determinado o valor da mensalidade dos sócios e a eleição de fato da Diretoria definitiva que ficou assim composta:
  • Presidente:  Jacob Schmitt;
  • Vice-Presidente: August Sutter;
  • 1° e 2° Secretários: Johann Schmitz e Joseph Wamser;
  • Tesoureiros: Johann Kluge e H. Zimermann;
  • Conselheiros: Valentim Vogel, Heinrich Reuter, Adam Heckmann e Johann Hostert
Na reunião de 7 de dezembro 1884 foi aprovada a expulsão da sociedade de Mathias Gotselig, por ter se manifestado contra a sociedade e falado mal da religião.
Karl Weege eleito porta-estandarte da sociedade.
Em janeiro de 1885, durante a assembléia geral, a diretoria foi confirmada para outro período. Elaboraram uma bandeira da sociedade nomeando Karl Weege como porta-estandarte, com os assistentes: Alexandre Tarnowsky e Francisco Reuter. Era estranho, mas a sociedade começou a ter atribuições que não estavam de acordo com seus estatutos originais, como por exemplo: fiscalizar o comportamento dos seus associados, tanto assim que, na reunião de fevereiro, seguinte, foi levantada a hipótese de punição para os sócios que não haviam comparecido a um  procissão que ocorreu em 25 de janeiro (festa de São Paulo Apostolo). Também cogitaram punir aqueles que não participassem das comunhões mensais e através de multa, puniam os sócios que atrasassem a mensalidade. Bem estranho.
Espaço interno da antiga igreja católica
 de Blumenau - aspectos do neogótico.
Imagem: Salésio Cardoso
Isso não foi bem visto e a sociedade não ia muito bem bem no que tangia seus propósitos. Este quadro forçou a interferência do
padre José Maria Jacobs, que resultou na exoneração do Presidente, sendo substituído por Johann Kluge. 
De acordo com a publicação da Revista Blumenau em Cadernos de 1968, a caixa da sociedade somou um bom volume de capital, o que motivou a diretoria aprovar e decidir que o dinheiro estaria disponível, mediante a juros simbólicos, aos sócios que necessitassem. Esporadicamente o Padre Jacobs  comparecia às reuniões da diretoria para tratar de assuntos religiosos, como aconteceu na reunião em 2 de outubro de 1887, quando mencionou as atividades da maçonaria contra a igreja católica. Lembramos que que as lideranças de Blumenau eram maçons e fundadores de um loja em Blumenau, bem como era o fundador da Colônia Blumenau - Hermann Blumenau.
O nome do padroeiro e protetor da sociedade era São José e a diretoria determinou que em todos os dias santos, domingos e durante a missa fosse acesa uma vela do altar de São José.
Na reunião de julho de 1890, o Padre Jacobs alerta para um fato que ficou registrado na História: A Proclamação da República e as nova leis. Padre Jacobs alerta a comunidade - a partir da sociedade sobre o "perigo que representavam as novas leis" para a região. Padre Jacobs sofreu perseguição política por defender a Monarquia, que sofreu um golpe militar. Nada pôde  e sofreu consequências. Mesmo assim alertou este grupo e os orientava que votassem nos homens que representavam a repulsão à nova ordem de coisas. Leu para os membros da sociedade, um manifesto dos católicos do Rio Grande do Sul que o Deutsches Volksblat reproduzira em língua alemã. 
A partir de então, grandes mudanças estavam previstas. No final de 1892 foi decidido que as reuniões da sociedade passariam a ser somente 4 por ano: a primeira em 25 de janeiro na festa de S Paulo Apóstolo, a segunda no dia da comunhão geral, a terceira no dia da Ascensão e a última, no dia 1°. de novembro, dia de Todos os Santos. Neste tempo o padre José Maria Jacobs havia transferido a paróquia e a escola para os Padres Franciscanos e morreu no Rio de Janeiro, no Hospital da Gamboa,com febre amarela. Estava voltando para a Alemanha.
O novo padre, Frei Zeno Wallbröhl sugeriu que a Sociedade se fundisse com outra existente na paróquia. A decisão ficou para ser definida em outra reunião, em 18 de março de 1894, onde foi aprovada a proposta de dissolução pura e simples da Sociedade  São José. Quanto ao capital em caixa, foi destinado à uma missa anual dedicadas aos sócios vivos e mortos - durante 50 anos e para a construção da igreja de Indaial. O armário da Sociedade foi doado à Escola São Paulo - Colégio Santo Antônio, e o estandarte Social deveria permanecer na igreja matriz, até quando sumiu de maneira misteriosa, como foi o caso do busto do Coronel Feddersen, no Bairro Itoupava Seca na atualidade. Alguém registrou à lápis no final da última ata: "Moral da história: dodo o começo é fácil".
Mas a ideia não morreu. A paróquia possuíam ramificações no interior da colônia cujo territória abrangia o território atual do Médio e Alto Vale do Itajaí, a sede da colônia até Brusque. 

O resgate e retorno da  Sociedade São José  - com uma  Sede

A paróquia era muito grande, principalmente com chegada dos imigrantes italianos. Aumentou a movimentação de pessoas do interior até a sede, na paróquia, além das pessoas que chegavam para a missa e também eventos religiosos e festividades em dias santos.  Deslocavam-se de carros, carroças, cavalos, de trem, de barcos, bicicletas. Foi se percebendo que existia muita dificuldade para deixar os veículos, animais, alimentação para pessoas e animais e surgiu a ideia de resgatar a sociedade. Com isto surgiu a ideia de resgatar a Sociedade São José, sendo que fosse acrescido outras atribuições e além do lado beneficente, teria também , uma sede, onde seria de usufruto também dos católicos oriundos do interior da Colônia Blumenau, atendendo com infraestrutura de hospedagem, alimentação entre outras, durante sua permanência na cidade, para assistirem as missas e aos demais ofícios litúrgicos. Em 1905, o Frei Crisólogo Kampmann, vigário da Paróquia, coordenou a nova estruturação da Sociedade, cujo presidente foi eleito Dr. Wiegando Engelke, médico renomado, vindo de Joinville e que residia na comunidade de Salto Weissbach. Já lemos alguma coisa sobre sua trajetória. Muito interessante. Escreveremos sobre esta personalidade, que adotou uma criança indígena.

Qual a relação do Barracão dos Imigrantes com a Casa São José?
Do livro o Centenário - ano de 1950 - década que se perdeu de vez esta história, enquanto material.

Nesta data ainda existia o antigo Barracão dos Imigrantes no Palmenalee - Rua das Palmeiras - que atendeu e serviu de abrigo para as primeiras famílias que chegaram à Colônia Blumenau - durante as primeiras 5 décadas de história local. Encontrava-se  sem uso. O Estado pretendia se desfazer da antiga edificação. A comunidade demonstrou interesse nele, mas graças ao Frei Beda Koch, que tinha laços com o Coronel Vidal Ramos, governador de Santa Catarina, este foi vendido para a Sociedade São José, dentro de uma nova roupagem. O Barracão dos Imigrantes foi desmanchado e seu material foi usado para a construção da Sede da Sociedade São José - na frente do Convento Franciscano e à margem direita da Rua XV de Novembro, com fundos para o Rio Itajaí  Açu
Foi pago ao Estado, através da coletoria local, a soma de 1.120$000 pela venda da edificação antiga do barracão.
Então, pode-se afirmar que,  até a década de 1950 - no ano do centenário de Blumenau, tínhamos o material do Barracão dos Imigrantes, aquele que acolheu as primeiras famílias pioneiras de Blumenau, presente na Rua XV de Novembro e que foi descartado para a construção de uma nova ponte.
A Construção da Sede da Sociedade São José

Em 31 de agosto de 1905, o bispo diocesano de Curitiba, onde a paróquia de Blumenau era sufragânea, D. Duarte Leopoldo e Silva, em viagem por algumas cidades de Santa Catarina - passou por Blumenau, para uma visita pastoral. Fazia parte da programação desta visita, o lançamento da pedra fundamental da Casa São José, como seria chamada a partir de então. O ato foi solene e foi registrado em documento oficial com o seguinte teor: 

"No ano da graça de 1905, no dia 8 de dezembro, na data da Natividade de Nossa Senhora, no pontificado do Papa Pio X, gloriosamente reinante, sendo Bispo da Diocese de Curitiba Dom Duarte Leopoldo e Silva, sendo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, o Conselheiro Rodrigues Alves, sendo Governador do Estado de Santa Catarina o Coronel Vidal Ramos Junior, sendo Guardião do Convento de Santo Antônio em Blumenau e vigário da Paróquia de São Paulo Apóstolo e diretor da Associação de São José o Padre Crisólogo Kampmann OFM, sendo juiz de direito desta comarca o Dr. Aires d'Albuquerque Gama e Superintendente Municipal Alwin Schrader, presentes a Diretoria e membros da Associação de São José, foi lançada a primeira pedra e benta pelo Exmo. e Revmo. Sr. Bispo desta Diocese de Curitiba, Dom Duarte Leopoldo e Silva, do edifício destinado aos fins da Associação de São José. Em fé do que se lavrou esta, na presença das pessoas abaixo assinadas. (Assinados) Dom Duarte,
Bispo Diocesano. Frei Crisólogo Kampmann OFM. Frei Herculano LimpinseI. OFM., ex-Minister Provo Frei Marcelus Baumeister.OF:\1., Dr. Wiegand Engelke, Presidente. Jacob Schmitt, Vice Presidente, Rodolf Bngado. l °.secretário, o coletor Francisco Cunha Silveira. Pedro Kieser. 2° Secretário, Rodolf Ferraz, José M. Marsch, Heinrich Herkenhoff, Johann Koehler, Karl Ostmann e duas outras ilegíveis".

A sede da Sociedade São José foi inaugurada em 1° de novembro de 1906. O "Blumenauer Zeintug" noticiou: 

"União de São José. Quinta feira, 1°. de novembro de 1906. Às 11 horas. inauguração da sede da Sociedade e às 19 horas, no mesmo local, Teatro com peças em alemão e  português. Entrada 1$000. Para os sócios $500".

O evento iniciou com uma missa solene, seguido da benção do edifício, e foi servido comida e bebida aos presentes. Estava sendo inaugurado a Casa São José construída o com material do Barracão dos Imigrantes. Às 19 horas, seguindo a programação festiva, iniciou a representação teatral no palco do salão, que sempre tinha espetáculos mencionados em textos históricos dali para frente, por mais 5 décadas, quando foi desmanchado. A primeira apresentação foi da peça em português apresentada em dois atos, seguida de uma peça em alemão de um  ato e para terminar uma peça em alemão de cinco atos. Após as peças teatrais foi exibido um ato cômico que representava uma escola pública do começo do século XIX para gargalhadas dos presentes. Registrado, que todos os participantes, como sempre foi no início da Colônia Blumenau e até bem pouco tempo no C.C. 25 de Julho de Blumenau eram atores amadores. As pessoas praticavam e tinham a cultura como parte de seu entretenimento.

Teatro alemão no palco do C.C. 25 de Julho de Blumenau.

A Casa São José
A nova  Casa São José era administrada por um ecônomo que provia do necessário e fazia as despesas necessárias para o funcionamento das hospedagens e atendimento dos associados do interior, pagando determinada quantia - como aluguel e recebia parte dos lucros - tal como funciona parte das sociedades atuais, em Blumenau. O primeiro ecônomo foi Heinrich Wahlbröll. O segundo foi Joseph M. Flesch, que permaneceu até 1909,  ano da inauguração do primeiro trecho ferroviário da EFSC. Wloch assumiu e ficou ecônomo até 1911 e Scharff até 1912, Jean Michael até 1917 e,  o último foi  Ricardo Bürger, até 1927
Justificando a decadência do local, em detrimento de outras casas de hospedagem e também, mediante a dissolução da Sociedade São José  - a Casa São José foi vendida  para Heinrich Michels que a manteve até o ano de 1952, quando a lei municipal n° 318, de 19 de março, declarou que esta edificação era  e foi desapropriada  pelo valor de 500 mil cruzeiros. O valor foi pago em partes de 200 mil em apólices da Divida Pública Municipal e os 300 mil restante em 3 prestações.
Domingo, 14 de fevereiro de 1909. Apresentação pública de Teatro na Casa São José. “Nada além de Obstáculos”,  ou “A Esperteza Feminina”. Em 8 atos. Entrada 1$000.  Início 7½ horas. Convida-se cordialmente. A Direção.


A sede da Sociedade São José, construída com o material do Barracão dos Imigrantes foi demolida em  1952. Um local de encontros, de cultura, de chegada, de festividades e com a áurea do início da história da Colônia Blumenau. Haviam tantos outros lugares para construir esta ponte. Talvez o espaço mais indicado seria aquele nas proximidades do Stadplatz, a centralidade da Colônia Blumenau, que também, ligava diretamente ao Garcia. 
A movimentação de pessoas em torno de si, da Casa São José, a partir do interior da colônia, pode ter despertado o interesse de investidores (ligados às lideranças locais - oponentes da igreja católica) e promovido o aumento do valor imobiliário do local e o interesse de novos investidores do comércio. A localização para se construir uma ponte pode ter sido usado como justificativa para a retirada do edifício histórico deste local.
Lideranças de Blumenau não tinham muito interesse em ter um espaço com este perfil no meio da Rua XV de Novembro, para o qual convergiam pessoas de todo o território que fora um dia a Colônia Blumenau. Este local adquiriu tanta força e valor  imobiliário, que o Centro Histórico original - nos anos que se seguiram (menos de 100 anos a partir de) ficou com o papel coadjuvante, correndo  riscos de se descaracterizar mediante, também, a ação de forças invisíveis e até mesmo, para a construção de uma loja de departamento com arquitetura Kitch de gosto duvidoso em uma de suas extremidades - no tempo presente.
Para terminar, deixamos registrado algumas observações para a história. Demoliram o espaço multiuso da sociedade católica de Blumenau, denominada na época por Josephshaus - Casa São José, alegando que necessitavam do chão para acessar a nova ponte. Não foi preciso duas décadas para que a loja existente ao lado recebesse a autorização e construísse sua expansão nesse mesmo chão, onde estava construída a sede da sociedade católica, construção de 1906, com o material do Barracão dos Imigrantes.
Fonte: Secretaria Municipal de Cultura / Arquivo Histórico José Ferreira da Silva / Acervo iconográfico – Funda Memória da Cidade – Blumenau – Comunicação/Transporte – Comunicação – Pontes – Ponte Adolfo Konder – cla: 5.11.1.5.1.1.



Início da década de 1950 - decadência.
A Casa São José, tal como·se apresentava pouco antes da sua demolição, para dar suposto lugar ao acesso à Ponte Gov. Adolfo Konder. Pouco tempo depois, a mesma loja que está encostada em seu edifício, constrói sua expansão sobre este mesmo terreno. 


Não somente desapareceu um estabelecimento tradicional por décadas, que valorizou o local e que representara papel preponderante na vida social dos católicos blumenauenses e da região, mas para pessoas de todos os credos. 

Uso da Casa São José

Além de hospedar pessoas oriundas do interior da Colônia Blumenau, de outros municípios em seu ambiente, mensalmente se realizava festas e reuniões. As festas de casamentos e batizados terminavam com música, cerveja e muita dança. Também eram apresentado peças de teatro. Houve um período, que foi instalado um cinema com uma programação semanal, dentro de alguns dias, caracterizando a primeira sala de cinema de Blumenau. Quando passou a ser propriedade dos Michels, permaneceu somente como hospedagem, mas havia espaço para gastronomia, restaurante e café, principalmente frequentado pelos visitantes de outras localidades, e ainda com espaços para eventos.

Arquitetura

A arquitetura, a partir de material reciclado reporta ao eclético, com a presença da mansarda, repleta de Dachgaube, por certo, criado para promover a iluminação e ventilação dos quartos localizados no sótão. A fachada principal era marcada pela simetria, sendo que as extremidades eram marcadas por elementos volumétricos que possuíam dois pavimentos e na parte central, havia somente um pavimento com a presença da mansarda. Quem criou a arquitetura teve muita sensibilidade e a fez com esmero e um toque artístico dentro de suas limitações materiais e espaciais. Observamos somente, que se poderia aproveitar melhor a paisagem do rio, que recebeu os fundos da edificação. Não conseguimos definir a técnica construtiva usada, mesmo parecendo ser uma edificação autoportante de tijolos maciços.  A fachada que está voltada para o rio, tem somente um pavimento com um grande Dachgaube no meio do edifício, munido a mansada de aberturas, todas em madeira envidraçadas. Curioso é a janela pivotante com desenho da janela guilhotina açoriana usada no litoral do estado, colocadas na mansarda.
Arquitetura com belíssima plástica, cheia de lastro histórico, construída no início do século XX e que forneceu vigor imobiliário para este trecho da Rua XV de Novembro, tanto que pode ter sido este o motivo para sua  célere demolição em 1952.

Heinrich Michels

Casal Michels.
Último proprietário da Casa São José - nasceu em Indaial em 8 ele julho de 1883 e era fllho de Johann Melchior Michels e neto de Peter Michels que, viúvo, migrou para o Brasil/Blumenau com 6 filhos, em 1863. Heinrich  se casou com Maria Catharina Theiss. Tiveram 15 filhos.

A Memória da Casa São José Através de Depoimentos

Meu pai falava de Josef Haus , um tipo de alberde, naquele lugar, seria essa construção, na foto? São lembranças do tempo de criança. Silvio Uhlmann

Nos registro que encontrei esse espaço foi a primeira rodoviária de Blumenau. Ricardo Conceição

Eu conheci como hotel São José. Elvira Brueckheimer Falaster

Conheci o Hotel São José, no ano de 1949, o qual também abrigava os ônibus dos municípios da região, servindo como se fosse rodoviária, tudo isto antes da criação da rodoviária de rua 7 de Setembro. Agenor de Aguiar

Uma surpresa ver a foto. Nos anos de 50 eu e meus colegas estudávamos no colégio Santo Antônio. Para ir a Testo Salto, diariamente, pegávamos o ônibus da empresa Andorinha que fazia a linha Corupá / Blumenau. A Casa São José ( Josef Haus) foi derrubada para a construção da ponte de ligação à Ponta Aguda. Manfredo Bubeck

Depoimento de Berta Kerger Humpl - filha do Professor da escola Alemã de Altona, o bávaro, portanto, católico Professor Max Humpl. Os dois frequentavam a Casa São José, como é perceptível no texto de Berta retirado do livro Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Interessante que Max Humpl e a filha iam a missa na igreja do centro,  de Altona até a XV,  à pé e depois almoçavam na Casa São José, como também visitavam outros pontos focais de Blumenau do início do século XX.

Aos domingos, meu pai e eu íamos à Igreja Católica, a pé; depois, à Casa São José, para almoçar, voltando para casa mais tarde. Passeávamos muito pela cidade. Na Confeitaria Katz, sempre tomávamos café com bolo. Outras vezes, tomávamos o trem até Blumenau (de Itoupava para o centro de Blumenau, N.T.). Por muitos anos ainda eu continuei a acreditar no coelhinho da Páscoa, que me presenteava com ovos cozidos ou recheados, o que para a época era bastante. Meus vestidos estavam se estragando ou ficando pequenos, o que dificultava os nossos almoços no Hotel Franke. A Sra. Büchner tentava recuperar as minhas roupas, o que com o passar do tempo tornava-se complicado. O casal Büchner aconselhara papai a casar-se de novo. Na escola tínhamos um quarto; papai preparava bolinhos num fogareiro e comíamos com salada, o que provocava saudades da Alemanha. Papai não gostava dos feijões servidos no hotel. Cozinhar em casa sempre era muito mais divertido - quem conhece a vida de solteiro sabe do que estou falando. Possuíamos somente um lampião ou uma vela. Certa vez, meu pai me falou que seria melhor que houvesse mais alguém na nossa casa. Eu mesmo gostava da Marie, que morava na Alemanha. Seguiu-se uma troca de cartas entre o Brasil e a Alemanha, até que meu pai decidiu viajar e buscar a Marie.
Durante a sua ausência eu fiquei aos cuidados de uma professora viúva que tinha dois filhos, e que havia se alojado no Hotel Franke, todos os três extremamente antipáticos. Meu pai havia deixado uma boa soma de dinheiro em mãos do Sr. Abry, para o caso de ocorrer algum imprevisto na sua viagem e eu ter que voltar mais tarde para a Alemanha.
Na despedida ele me disse: “cuida bem para que nenhuma cobra te pique”; já que havia muitas delas em torno da escola. “Quando escurecer, vá dormir sem deixar a luz acesa”. Berta Kerger Humpl - *26.2.1903 + 29.1.1967 – Morava na Comunidade Altona e foi filha do Professor Max Humpl


Referências
  • Blumenau em Cadernos. A Casa São José. Tomo IX. Fevereiro de 1968 - N°. 2.
  • HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau, 1.ed. Méri Frotschter Kramer e Johannes Kramer (organizadores). Escrito em 2018. Blumenau: Edifurb, 2015. 227 p. : il.
  • FROTSCHER, Méri. Da Celebração da Etnicidade Teuto-brasileira à Afirmação da Brasilidade: Ações e discursos das elites locais na esfera pública de Blumenau (1929-1950).Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial e último para obtenção do grau de Doutora em História Cultural, sob orientação da professora Doutora Maria Bernardete Ramos. Florianópolis SC, 2003. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/85390/191344.pdf?sequence=1 . Acesso em: 29 de maio de 2021 - 23:32h.
  • SCHMIDT-Gerlach, Gilberto. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
  • SILVA, José Ferreira da.  História de Blumenau. 2.ed. - Blumenau: Fundação "Casa Dr. Blumenau", 1988. - 299 p.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
Leituras Complementares - Clicar sobre o link escolhido:

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)













Um comentário:

  1. Angelina.
    Sou neta de Agnes Reuter, bisneta de Francisco Reuter e tataraneta de Henrich Reuter.

    ResponderExcluir