O estrago feito pelos vândalos liderados pelo Professor Henrique Gaspar Midon na casa do pioneiro e personalidade histórica de Santa Catarina Gottlieb Reif. |
Visitamos a cidade de Itajaí e observamos seus traços predominantes e conhecemos um pouco sobre sua história e lembramos da iniciativa visionário de Agostinho Alves Ramos, que quando percebeu o potencial da foz do Rio Itajaí Açu, no mar, e o entrocamento que poderia ser, mudou-se para o local e requereu ao Bispo do Rio de Janeiro para a fundação de um Curato que aconteceu em 31 de março de 1824.
Curato é um termo religioso, derivado de cura, ou padre, que era usado para designar aldeias e povoados com as condições necessárias para se tornar uma paróquia.
Santíssimo Sacramento de Itajahy. |
"...Entre 1914 e 1918, durante a 1° guerra Mundial, houve manifestações públicas contra alemães na cidade de Itajaí, onde pronunciavam palavras de ordem, xingamentos e atacavam residências dos imigrantes alemães, em atos de vandalismo depredando todo o patrimônio. Lembramos que Gottlieb havia se naturalizado no final do século anterior, mas falava o alemão.Em uma noite de novembro de também 1917, manifestantes embriagados se aproximaram de sua casa e tentaram incendiá-la. Quebraram muita coisa. O ato covarde aconteceu à noite e a família viveu momentos de terror. Encontramos registros fotográficos feitos pelo fotógrafo Arthur Walter da firma Photographia Itajahy – Est. S. Catharina. Estas fotografias estavam com a bisneta de Gottlieb e Catharina, Marlene. As imagens comunicam.
Edificação de alvenaria autoportante de tijolos maciços, com grandes janelas de madeira e vidro com duas folhas, como era comum na casa do pioneiro alemão. A sua arquitetura demarcava a esquina, onde no espaço interno estava localizado o sofá. Nesta fotografia, a casa já estava vandalizada, com janela apresentando folhas e vidraças quebradas, abertas e com cortinas rasgadas. A família saiu de casa. Foto de foto. Fotografia de Arthur Walter da firma Photographia Itajahy – Est. S. Catharina.
E nenhum desses atacantes, sem dúvida alguma, era mais brasileiro do que Reif, pois, além do seu trabalho em prol do desenvolvimento do país, era brasileiro naturalizado em 1883, ainda no Império e tinha patente de capitão da Guarda Nacional. Sua esposa, nascida em Independência, no Rio de Janeiro, dera-lhe nove filhos, todos brasileiros. STAHMER, 1972.
Muito abalado e triste, Gottlieb Reif retornou para Blumenau com toda a família e de Blumenau, rumou para a localidade do Ribeirão das Pombas – atual Pouso Redondo, onde possuía terras há muito tempo. Para isso, vendeu a fábrica de caixinhas, reconstruída, e a casa comercial para a firma João Bauer. A casa de moradia e um outro terreno por um valor pequeno, para desvencilhar dos impostos ao município (O prefeito de Itajaí conhecia o ocorrido e aceitou isso e a verdade sobre?). Reif guardou muita mágoa de Itajaí. Muito decepcionado com todo o ocorrido, se recolheu junto com a família, em uma região praticamente desabitada."...
"Muito antes da primeira Guerra Mundial (1914/18), o meu torrão natal -Itajaí - possuía uma colônia alemã bastante numerosa e a conversação em linguagem germânica era comum. Quase todas as firmas importantes, como Asseburg, Malburg, Konder, Fábrica de Papel e outras tinham como auxiliares e técnicos alemães natos inclusive teutos, que costumavam reunir-se em pontos preferidos tais como Hotel Brasil, Hotel Lippmann ou Sociedade dos Atiradores para bebericar ou bater papo, principalmente sobre as últimas novidades da velha Alemanha imperial. Havia duas escolas alemãs, a católica dirigida por freiras e a outra pela comunidade evangélica. Também havia um clube de ginástica, onde os moços se reuniam. O meu saudoso tio Alois Fleischmann era o cônsul alemão e, nos dias de aniversário do Kaiser, a colônia germânica comparecia para cumprimentá-lo e depois assistir a missa em ação de graças nas duas igrejas (católica e protestante). Foram dias de grandeza e de progresso para Itajaí, por causa da grande afluência da imigração alemã e italiana para as colônias do vale do Itajaí. Naturalmente muitos imigrantes, em vez de seguirem para as colônias, preferiram radicar-se no porto de Itajaí, exercendo assim diversas profissões, como ferreiro, padeiro, sapateiro, alfaiate, etc.
Palácio Marcos Konder. Residência do Ex Prefeito Marcos Konder - Pai de Gustav Konder, que nos presenteou com um artigo esclarecedor. |
Em frente ao solar da minha saudosa avó Adelaide Konder, à rua Lauro Mueller, estabeleceu-se uma barbearia, com uma grande e atraente placa oval, pendurada na frente e que pertencia a um jovem chamado sr. Karl Kienzelbauer, recentemente chegado da Alemanha (1913/14).Quando estourou a primeira Guerra Mundial (1914/18), o nosso país, em 1917, cortou as relações com a Alemanha, juntado-se aos aliados em luta contra a pátria do imortal Beethowen. Mal foi assinado pelo presidente Wenceslau Braz o decreto de declaração de guerra, muitos itajaienses, a maior parte luso-brasileiros, promoveram grandes manifestações, depredando residências e oficinas dos inofensivos imigrantes, inclusive teutos. Na Barra do Rio, os arruaceiros, chefiados pelo paulistano Henrique Midon, diretor do grupo escolar "Victor Meirelles", depredaram e quase incendiaram a residência do sr. Gottlieb Reif, o pioneiro e fundador da fábrica de papel.
Voltando à cidade, os nacionalistas assanhados percorreram, à noite, as ruas principais, gritando palavrões, chamando-os de boches e de assassinos até de nomes obscenos. Atravessando a rua Lauro Müller, os desvairados bateram a ponta-pés na porta, arrancando a placa da barbearia-residência do inofensivo Kienzelbauer. O pobre fígaro, assustado, fugiu pelos fundos, alcançando a rua traseira (hoje rua 15 de novembro), em direção ao bairro da fazenda. Naquela noite estávamos na espaçosa sala de jantar - meus pais e eu. Papai na cadeira de balanço lendo o "Correio da Manhã" com o rosto acabrunhado. Mamãe preocupada com suas costuras e eu, com a idade de l2 a 13 anos, decifrando minhas lições de aritmética. Eram mais ou menos 10 horas da noite quando na porta lateral soaram leves pancadas. Papai sobressaltado dirigiu-se à ela e sem abrir perguntou quem era. Veio a resposta em língua alemã identificando-se. Era o infeliz barbeiro Kienzelbauer que pálido e choroso. narrou a sua história. Imediatamente o meu pai convidou-o à entrar e pediu-me para levá·lo ao meu quarto, no sótão, onde tínhamos duas camas, a minha e a do meu saudoso mano Alexandre internado naquela época no Ginásio Catarinense em Florianópolis. Meu pai apareceu depois para entabular conversações sentando-se na cama oposta, obrigando-o à deitar-se, fazendo a mesma coisa comigo. Eu nada compreendia. Em pouco tempo, muito fatigado, ferrei no sono. Ao amanhecer, reparei com grande surpresa que a cama dele estava vazia. Corri para baixo, gritando pela mamãe, que imediatamente segurou-me e levou-me para o seu dormitório. Ali então ela contou-me que, de madrugada, o papai havia levado o moço, pelos fundos da residência, até a bordo do vaporzinho "Blumenau", atracado no trapiche do Asseburg. Com a aqui acescência do sempre lembrado comandante Gustav Hacklaender, que também era admirador do meu pai, escondeu-o no porão e às nove horas da manhã, zarpou calmamente para Blumenau. Depois disto a minha carinhosa mãe explicou-me a situação e pediu-me para jurar que guardaria segredo. Este juramento foi cumprido e somente agora violado pela presente narração.
Em tempo:- Naquela época, o meu pai era o prefeito e jamais perdoou a péssima conduta do diretor Henrique Midon. uma vez que o sr. Gottlieb Reif estava radicado há muitos anos no Brasil e era um cidadão utilíssimo a Itajaí. Depois daquele triste acontecimento o grande pioneiro alemão mudou-se com toda a sua família definitivamente para Pombas, onde mais tarde faleceu.Decorridos muitos anos e durante a triste época da segunda Guerra Mundial (em 1942), o meu pai, depois de almoçar no "Hotel Cabeçudas" onde residia, costumava voltar à cidade montado no seu garboso cavalo. Certo dia, ao passar defronte ao antigo hospital "Santa Beatriz" o animal assustou-se e corcoveando atirou-o ao chão. Com a violência da queda ele ficou desacordado na estrada, sendo prontamente socorrido por populares. Devido à gravidade do seu estado (fratura de uma das clavículas e escoriações generalizadas), transportaram-no para Blumenau, a fim de tratá-lo com um especialista no hospital Santa Isabel. Já todo engessado e cheio de curativos notou a sua barba crescida e reclamou a presença ele um barbeiro, pois sempre fora muito cuidadoso (para não dizer vaidoso). Qual não foi a sua surpresa ao reconhecer no barbeiro o seu antigo protegido Sr. Karl Kienzelbauer. E este, vendo-o acamado com o braço esticado e semi paralisado cumprimentou-o com voz embargada:- "Mein Gott! das ist ja der Herr Marcos Konderh." Meu pai também logo reconheceu e retrucou em alemão:- "Ahl Das ist ja der Herr Kienzelbauer! Wie geht's?."
Foi um encontro inesperado e feliz, pois todos os dias o fígaro vinha fazer-lhe a barba e conversar em alemão. Apesar da insistência do meu pai ele nunca aceitou pagamentos e para distraí-lo tocava em sua flauta e Cantava canções românticas da velha Alemanha que muito agradaram ao meu pai. As vezes cantavam juntos (em surdina) devido a censura policial. Ao contar-me o fato, o meu saudoso pai assim se externou :- "Foram os momentos mais felizes da minha vida."O sr. Karl Kienzelbauer que já era um solteirão idoso, internou-se confortavelmente no asilo dos velhos em Trombudo, onde faleceu, despercebido e só, longe da sua pátria.O, Schoener als die erste: Stunde weit ...Ist jene. wo ein sanfter TodIn einem Augenblick von aller NotVon jahrelanger Qual das Herz befreit.(Luiz de Camões).
Gottlieb Reif. |
Lar Recanto do Sossego. |
Lar Recanto do Sossego. |
O Patrono da Escola e Vândalo da Casa de Gottlieb Reif - Professor Henrique Gaspar Midon
PAZ, Jainer Paz. Henrique Midon 2013. Histórico da E. E. B. Professor Henrique Midon. Disponível em: http://henriquemidon2013.blogspot.com/2013/04/historico-da-e-e-b-professor-henrique_4.html . Acesso em: 23 de maio de 2022 - 23:11h.
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Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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Que horror! Que atitude desprezível!!! Que razões poderiam existir para tão estúpida agressão?
ResponderExcluirDe tão desprezível que foi, resolveram deixar quieto. Mas a história merece a verdade e também conhecer o feito de Gottlieb Reif....Cujo nome deveria estar na BR 470....
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