quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Gustav Hackländer - Biografia

Gustav Hackländer.
Hoje vamos conhecer um personagem quase anônimo que fez parte da História de Blumenau e participou, de maneira ativa, dos primeiros anos da Colônia Blumenau - Gustav Hackländer - filho do casal de imigrantes alemães:  Wilhelm e Amalie Hackländer. 
Gustav Hackländer, nasceu em 5 de fevereiro de 1870 na Colônia Blumenau, quando esta completava 2 décadas de existência. 
Stadtplatz de Blumenau  um ano antes do nascimento de Hackländer.

 Vamos conhecer um personagem quase anônimo que fez parte da História da Colônia Blumenau e participou de maneira ativa de seus primórdios: Ernst Friedrich Albert Gustav Hackländer ou, como foi conhecido, Gustav Hackländer – filho do casal de imigrantes alemães que se casaram em Blumenau, em 26 de dezembro de 1867: Wilhelm Hackländer (nascido em 19 de setembro de 1846, em Gelabach, Prússia, atual Alemanha) e Amalie Henriette Hackländer (nascida em 12 de julho de 1842 em Kirchhasel, Hünfeld, Hessen-Nassau, Prússia, atual Alemanha). Seu avô Gottlieb Hackländer, nascido na Prússia (casado com Anna Elisabeth em 23 de fevereiro de 1847 em Hilden, Kreis Düsseldorf-Mettmann, Rheinprovinz, Prússia, atual Alemanha), também migrou para a Colônia Blumenau.
Ernst Friedrich Albert Gustav Hackländer ou Gustav Hackländer, conforme o chamaremos doravante, nasceu em 5 de fevereiro de 1871 na Colônia Blumenau, quando esta completava duas décadas de existência.


Xoklengs - nativos da região do Vale do Itajaí.

Xoklengs - nativos da região do Vale do Itajaí.

Xoklengs - nativos da região do Vale do Itajaí.
Os imigrantes que chegaram à colônia foram direcionados às terras e muitos desconheciam que elas já estavam ocupadas. Houve conflitos e falta de entendimento nas relações sociais, entre representantes da etnia local e daquela que chegava. Há vários depoimentos históricos apontando estas questões sociais no Vale do Itajaí, na época, grande território da Colônia Blumenau. Os Xoklengs – tribo indígena nativa que estava presente na região do Vale do Itajaí – eram seminômades e não se fixavam na terra. Viviam da coleta e permaneciam em uma região até terminar o alimento, e também onde o clima fosse ameno. Com as ocupações do homem branco a partir das colônias fomentadas pelo governo brasileiro, a fim de povoar o Sul do País, foram inevitáveis os conflitos. Existem inúmeros estudos, nos vários períodos da História, desde o início do século XX, sobre este contato étnico ocorrido no mesmo espaço, a partir da antropologia social e de outras áreas da ciência.
Em 1872, em meio a vários conflitos entre famílias de imigrantes e nativos, houve um confronto entre os pais do pequeno Gustav Hackländer e integrantes do grupo Xokleng e Wilhelm Hackländer e Amalie Henriette Hackländer morreram. Gustav Hackländer tinha um ano de idade quando ficou órfão.

HACKLÄNDER, Wilhelm: * 19.09.1846 de Gelabach, filho de Gottlieb Hackländer e Elisabeth n. Olars, casou aos 26.12.1867 com Amalie Henriette Preilipper * 12.07.1842 de Kirchhasel, filha de Heinrich Preilipper e Wilhelmine n. Heimberger. Testemunhas: Albert Krämer e Louise Georg.
Filho: Ernst Friedrich Albert Gustav Hackländer * 05.02.1871 de Encano/Blumenau, casou aos 07.09.1895 com Wilhelmine Friedericke Marie Henriette Caroline Maass * 14.09.1870 de Blumenau, filha de Friedrich Maass e Friedericke n. Hartwig. Testemunhas: Hermann Westphal e Wilhelm Maass. Pioneiros da Colônia Blumenau – Famílias Evangélicas de confissão Lutherana da colônia Blumenau – Período: 1856 – 1940.

 De acordo com o relato do documento Pioneiros da Colônia Blumenau, sua família, a princípio, tinha sua propriedade localizada no Encano – atualmente parte do território de Indaial. Após o incidente, o pequeno Hackländer passou a viver na centralidade da Colônia Blumenau. Durante mais de 10 anos, Gustav Hackländer viveu de uma casa a outra, no Stadtplatz da colônia, nas quais, recebia um pouco de comida e roupas.

(…)Gustav Hackländer seria mais tarde, marcado a fogo, na longa história da navegação fluvial blumenauense, que foi o verdadeiro esteio no crescimento e prosperidade da colônia, durante alguns decênios, enquanto não havia a estrada de escoamento para a zona portuária, Itajaí. Gustav Konder

Colônia Blumenau.























Após 11 anos passados, ao completar 12 anos de idade, em 1882, os residentes do Stadtplatz da Colônia incumbiram o pequeno Gustav de levar os malotes de correspondência até Itajaí. Gustav Hackländer percorria uma picada rudimentar existente, margeando o rio Itajaí-Açu, montado em uma pequena mula, sozinho.
As lideranças da Colônia Blumenau tomaram esta decisão – de incumbir o menino para esse trabalho, porque acreditavam que os nativos não atacavam crianças – e de fato, não as atacavam.
Decidiram, então, enviar o órfão, sem perguntar a ele se tinha medo do mato e do caminho desconhecido. Também sem considerar o fato de que seus pais Wilhelm Hackländer e Amalie Henriette Hackländer haviam sido mortos durante conflitos com os nativos. Muniram-no de uma pequena mula e assim seguiu ele, entre o caminho Stadtplatz de Blumenau e Itajaí e vice-versa, por alguns anos, na picada da margem direita, embrião que, tempos depois, se transformaria em uma estrada, atual SC-412. Seria interessante saber o que esse menino sentiu e passou durante essas incursões entre Blumenau e Itajaí, na ida e na volta. Nunca foi “atacado” pelos nativos nesses mais de 55 quilômetros percorridos sobre o lombo de uma mula, e que cobriam a distância entre o Stadtplatz da Colônia Blumenau e Itajaí. Lembramos que esse caminho não era o usual dos nativos, e também não estava próximo de onde acampavam para coletar e caçar.
Itajaí - neste período.
Os agrimensores da época que faziam os levantamentos dos cursos de água na região, durante as primeiras décadas da Colônia faziam também seus trajetos pelos rios e picadas. Deslocavam-se sempre em grupos, e nunca sozinhos, como no caso de Hackländer. Emil Odebrecht, por exemplo, não teve problemas com as tribos indígenas nativas.
A foto abaixo, de 1863, ilustra o momento em que o engenheiro Emil Odebrecht e mais oito homens fizeram sua primeira expedição, com o objetivo de estudar a bacia do Itajaí-Açu e encontrar melhor traçado para construir uma estrada que ligasse a Colônia Blumenau ao Oeste de Santa Catarina e ao Planalto Serrano.
Acampamento de Emil Odebrecht e sua equipe em uma das expedições. 
Em 1891, com 21 anos, Gustav Hackländer foi convidado a trabalhar como embarco no Vapor Progresso.

Vapor Progresso
Louis Sachtleben (Quedlinburg, 1835 – Blankenburg, 1895) chegou a Blumenau em 1852, trabalhou em serraria com o Cel. Flores, depois com Otto Stutzer, casando-se em 1857 com Emilie Hess-Haertel. Criou em 1869 a Konsum-Verein Kolonie Blumenau (Sociedade de Consumo). Em 1878, fundou a Cia. de Navegação Fluvial a Vapor Blumenau-Itajaí, adquirindo nesta época o vapor Progresso, e, em 1893, o vapor Blumenau. (GERLACH, 2019, p.166.)

O governo provincial liberou uma quantia de 5 contos para desobstruir o rio Itajaí-Açu nas corredeiras de Belchior, e em 10 de agosto de 1878 foram aprovados os estatutos da “Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau”.
Mesmo com as dificuldades encontradas pela companhia, ocasionadas pela desconfiança quanto ao sucesso do empreendimento, foi encomendado um navio a vapor, de rodas, construído nos estaleiros de Schlicksche Flussdampfwerke, em Dresden, Alemanha. O navio, adquirido com capital inicial de 30 contos de réis, dividido em títulos de 100 mil réis, atravessou o Atlântico a reboque de outro barco e transportaria passageiros, pequenas cargas, bem como rebocaria grandes lanchas, destinadas unicamente para carga pesada, entre o porto fluvial da sede da Colônia Blumenau e o Porto de Itajaí.

O vapor, a que foi dado o nome de “Progresso”, construído em Dresden, chegou, efetivamente, a Blumenau em meados de 1879, tendo-o a população recebido com música, foguetes e júbilo geral. Era um barco de rodas laterais, de 22 e meio metros de comprimento por 3,34 m de largura, calado de 70 centímetros. (SILVA, 1972, p. 103).

Tendo chegado o navio – chamado na região, de forma mais íntima, de vapor – foi batizado de Progresso. O nome escolhido refletia toda a expectativa das lideranças locais no cumprimento de seu papel, e a certeza da melhoria no transporte da produção local. O transporte efetuado entre o porto fluvial e o último núcleo do Vale acima permanecia rudimentar e precário, utilizando veículos a tração animal, ou somente animal ou a pé. Isto inquietava essa mesma liderança, provocando-a a buscar uma alternativa para suprir e efetivar o escoamento da produção com maior agilidade e segurança nesse trajeto, como o transporte ferroviário, que desde o princípio da colonização fazia parte dos planos locais.

Muito festejada, a chegada do barco ocorreu juntamente com a abertura dos primeiros trechos das estradas entre Blumenau e Lages, por onde começou a chegar o gado e a sair produtos agrícolas e manufaturados. A colônia passou a ser um entreposto comercial entre o litoral e o planalto. (SANTIAGO, 2001, p. 24).

A imagem anterior é do Vapor Progresso, e conforme o livreiro Eugen Christian Currlin, autor desse postal vendido em sua Livraria Progresso da Rua XV de Novembro, Gustav Hackländer está na foto.
Nesse período, coincidindo com a chegada do Progresso, a região passava também a ser entreposto comercial entre o litoral e o planalto, graças à abertura da estrada que ligava a região ao Planalto Serrano – estrada Blumenau–Lages.

Emil Odebrecht mostrou sua impressão aos companheiros Fritz Müller, Wilhelm Friedenreich, Carl e Teodoro Kleine:“[…] Blumenau é tão somente um elo importante na imensa cadeia, por ficar junto ao porto marítimo natural de todas aquelas regiões […] as distâncias deixarão de ser entrave e no que concerne às despesas de transporte, serão ínfimas, possibilitando relativa prosperidade ao colono”. Com o crescimento da produção colonial e industrial, reforçou-se a busca deste canal de escoamento da produção. Em 1881, colonos, comerciantes e industriais comemoraram a chegada a Trombudo Central da estrada que ligaria Blumenau a Curitibanos. Faltavam apenas 41 quilômetros do total de 170 quilômetros previstos. Enquanto isso, a ligação por terra com Itajaí continuava precária e não era uma prioridade, pois a utilização do rio parecia ser muito mais fácil, rápida e barata.Meio de chegada do fundador e dos primeiros colonos, o rio Itajaí-Açu continuou sendo a porta de entrada e saída de Blumenau por muitas décadas. A ida e vinda de pessoas e mercadorias era feita entre a cidade e o porto de Itajaí em canoas ou pequenos barcos até 1879, quando passou a operar o vapor Progresso. (SANTIAGO, 2001, p. 35).

Após 1895, data de inauguração do novo Vapor Blumenau, Gustav Hackländer foi transferido para ele.

Vapor Blumenau

Com o desenvolvimento ocorrido na região, consequência do aumento das transações comerciais e também com o surgimento da indústria, o Progresso não atendia mais à demanda de transportes de cargas e passageiros.
Em 1893, a Companhia de Navegação Gustav Ferdinand encomendou um navio maior, na mesma fábrica alemã construtora do Vapor Progresso. Sua construção foi concluída em 1894, e tinha 28 metros de comprimento, 4,40 metros de largura e 2,10 de altura. Foi batizado de Vapor Blumenau. Navegou pela primeira vez em 1895, tendo a bordo, na viagem inaugural, o governador de Santa Catarina, Hercílio Pedro da Luz.

Em 6 de setembro de 1895, Gustav Hachländer se casou com Wilhelmine Friederike Marie Henriette Caroline Maas, nascida em 14 de setembro de 1870, em Blumenau, filha do casal de imigrantes alemães Friedrich Maas, nascido em 1835 na Prússia – atual Alemanha) e de Friederike Ernestine [Geb.]Hartwig Maas, nascida em 28 de outubro de 1837 em Breitenfelde, Kreis Naugard, Pomerânia, Prússia, atual Alemanha.
O casal
Gustav e Marie Henriette teve quatro filhos: Rudolfo Hackländer (1896–1945), Helene Hackländer (1899–1977), Julius Hellmuth Hackländer (1902–1959) e Else Hackländer (1904–1965). Rudolfo Hackländer se casou com Wilhelmine Jensen e foram pais de Jutta e Silvia. Jutta juntamente com Carlos João Nicolau Oster, foram os pais de Edgar Rui que conversou conosco, da Alemanha, bisneto de Gustav Hackländer.

No Vapor Blumenau ocupou o posto de contramestre, por sua experiência conquistada nos anos de trabalho no Vapor Progresso.
Até 1909, o Vapor Progresso e o Vapor Blumenau pertenciam à Companhia de Navegação Fluvial, ocasião em que passaram para a Empresa Santa Catarina Eisenbahn Gesellschaft, a mesma que construiu a Estrada de Ferro Santa Catarina EFSC e era sua proprietária. Quando eclodiu a 1ª Guerra Mundial, e o Brasil nela ingressou contra a Alemanha, a Empresa e todo o seu patrimônio foram confiscados pelo governo brasileiro e incorporados ao patrimônio nacional. Isto aconteceu no ano de 1918.
Gustav Hachländer
, por ser brasileiro, talvez não tenha sofrido tanto bullying oficial aplicado na época da guerra e após ela, como sofreram os imigrantes alemães, ou mesmo ele, na condição de filho de um casal de imigrantes. Muitos filhos de imigrantes sofreram perseguições durante esse tempo de guerra e até fora do período das guerras que envolveram a Alemanha – no Governo Getúlio Vargas – período de nacionalização. Gustav Hachländer continuou no quadro de funcionários da ferrovia EFSC, agora pertencendo ao governo brasileiro.
Durante a administração do
ex-prefeito Paulo Zimmermann – 1915/1923, Gustav Hackländer, comandante do Vapor Blumenau, durante seu Jubileu de Prata no cargo, recebeu homenagens de autoridades e lideranças de Blumenau. Seu tio, Victor Konder, estava presente. Sim, Gustav Hachländer foi sobrinho do importante homem da sociedade de Blumenau de sua época, Victor Konder, e ainda assim passou por muitas dificuldades. Victor era irmão de Gustav Konder, que escreveu um pequeno artigo sobre Hackländer; ambos, filhos de Marcos Konder, prefeito de Itajaí.
Em fevereiro de 1916 foram comemorados os 25 anos de Gustav Hackländer à frente do Vapor Blumenau, com a presença de autoridades e comunidade, evento devidamente registrado.
Na ocasião, as homenagens constaram de queima de fogos, banda de música e discursos, terminando com um almoço festivo. Gustav Hackländer foi presenteado com uma âncora de madeira adornada de flores.
Em 19 de abril de 1920, pela Portaria do Inspetor Federal das Estradas, foi nomeado para o cargo de Superintendente de Navegação da Seção Fluvial da Ferrovia.
Em 24 de julho de 1920, recebeu outra homenagem, conforme a Portaria n° 81. Foi reconhecido pelo esforço e inteligência empregados na construção de um salão de 1ª Classe no interior de Vapor Blumenau.
Hackländ se aposentou em 1° de abril de 1928, terminando um período de 46 anos de trabalho – desde seus 12 anos. Oficialmente, só lhe concederam 37 anos trabalhados – o que não é verdadeiro. Durante as comemorações do Centenário de Blumenau, em 2 de setembro de 1950, Hackländer participou dos momentos que apresentavam a miniatura do Vapor Blumenau.

” Foi muito ovacionado pelos milhares de assistentes, que, na maior parte, choravam de comoção. eu também fiquei bastante emocionado, quando vi passar o velho comandante, acenando com seu surrado boné.” Gustav Konder
Gustav Hackländer, um personagem da história local que ajudou a construir a cidade de Blumenau de maneira anônima, mediante as diversidades e a partir da superação. Partiu em 14 de novembro de 1952, às 10h30 em sua residência na Alameda Rio Branco, N° 865, com 81 anos de idade.
Gustav Hackländer foi sepultado no Cemitério Luterano Centro, Blumenau, como também sua família. Em 2022, Edgar, seu bisneto da Alemanha, esteve visitando o cemitério e não encontrou o local do sepultamento de seu bisavô. Somente o local onde estavam sepultado os descendentes de Gustav, igualmente seus parentes.
Entramos em contato com a secretaria da igreja e do cemitério e gentilmente nos foi informado que: “Sr. Gustav Hackländer consta que está sepultado no jazigo A/04/09. Segundo informações do zelador, após a reforma do jazigo, não foi colocado o nome dele na lápide. Está em nome de Paulo Oste. “
Providências devem ser tomadas imediatamente para constar o registro de  Gustav Hackländer na história cemiterial, também. Gustav não teve infância muito fácil na colônia e é razoável que possua um local para sua memória no “jardim da paz” da comunidade luterana centro, local histórico de Blumenau.

Uma narrativa sobre Gustav Hackländer e o Vapor Blumenau
                                                                                                                            Gustav Konder
“Em 1913, eu, com 8 risonhos anos, e a minha saudosa mãe embarcamos em Itajaí no vaporzinho, afim de consultar um especialista em Blumenau, por causa do meu defeito (por infelicidade ou felicidade nasci surdo e mudo). Acomodamo-nos na confortável popa, onde havia uma grande mesa redonda. Sentado ao lado de mamãe, estava o velho e gordo João Kracick de chapéu de côco, sempre risonho e com uma grossa corrente de ouro, pendente do colete. Era proprietário de uma afreguezada sapataria na rua Hercílio Luz, em Itajaí. Havia também outros passageiros, a maior parte imigrantes louros e espadaúdos, recém-chegados de um paquete alemão. Quando deixamos para trás a alta chaminé da fábrica de papel, a Barra do Rio, minha mãe, sempre perseverante e paciente, tirou de sua grande bolsa, um belo livro, cheio de bonitas figuras. Vendo-o, protestei, mas mamãe ponderou-me com aquele olhar cheio de candura: Olha meu filho, vamos aprender somente por alguns minutos…Resignei-me logo e a mamãe, pousando o livro em cima da mesa, começou apontando com o dedo um desenho qualquer para eu silabar, embora com voz horrivelmente estropiada, quando mostrou uma figura que representava uma porta, eu pronunciava “P-O-L-T-A”; um cachorro “A-S-O-L-O”; uma maçã “P-A-S-S-A” e assim por diante. Aparecendo uma figura que mostrava um sapato, gritei “S-A-P-A-T-O-O” e ao mesmo tempo olhei de soslaio, para o velho Kracick, que tremelicava de tanto rir! Em pouco tempo todos os passageiros presentes estavam atentos, admirados com o grande “milagre”, perpetrado por minha mãe. Justamente neste momento apareceu o comandante Gustav Hackländer, com seu rosto sempre fechado e um comprido cachimbo no canto da boca, para nos espiar e a mamãe, aproveitando a ocasião, perguntou-me, indicando-o prontamente respondi em voz alta – ” O-P-A-T-A-N-T-E, (o comandante)!
Pela primeira vez vi o rosto severo do velho marujo expandir-se num bonito sorriso, juntando as suas grandes mãos, em sinal de aprovação. Em seguida sentou-se ao meu lado, afagando-me a cabeça, sorridente e com olhos úmidos. Esta cena jamais saiu de minha memória!” Gustavo Adolpho Konder

Vapor Blumenau


Lembre-se que, nesse período, coincidindo com a chegada do Progresso, a região passava também a ser entreposto comercial entre o litoral e o planalto, graças à abertura da estrada que ligava a região ao Planalto Serrano – estrada Blumenau–Lages.

Emil Odebrecht mostrou sua impressão aos companheiros Fritz Mueller, Wilhelm Friedenreich, Carl e Teodoro Kleine:“[...] Blumenau é tão somente um elo importante na imensa cadeia, por ficar junto ao porto marítimo natural de todas aquelas regiões [...] as distâncias deixarão de ser entrave e no que concerne às despesas de transporte, serão ínfimas, possibilitando relativa prosperidade ao colono”.Com o crescimento da produção colonial e industrial, reforçou-se a busca deste canal de escoamento da produção. Em 1881, colonos, comerciantes e industriais comemoraram a chegada a Trombudo Central da estrada que ligaria Blumenau a Curitibanos. Faltavam apenas 41 quilômetros do total de 170 quilômetros previstos. Enquanto isso, a ligação por terra com Itajaí continuava precária e não era uma prioridade, pois a utilização do rio parecia ser muito mais fácil, rápida e barata.Meio de chegada do fundador e dos primeiros colonos, o rio Itajaí-Açu continuou sendo a porta de entrada e saída de Blumenau por muitas décadas. A ida e vinda de pessoas e mercadorias era feita entre a cidade e o porto de Itajaí em canoas ou pequenos barcos até 1879, quando passou a operar o vapor Progresso. (SANTIAGO, 2001, p. 35). 

Imagens do Vapor - Na última década (Réplica)

Setembro de 2002.
Vapor está bem conservado e com cobertura - 2006.

Enchente de 2011 - Foto Jaime Batista.













Foto Jaime Batista

Vamo siuni - 2011 - Foto : Jaime Batista.

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Foto Clic RBS.


Abril de 2013.
Vapor Blumenau sem proteção e cobertura em estado de deterioração a mercê das intempéries.
Junho de 2014.


Edgar Rui, bisneto de Gustav, nascido em  1947, em Blumenau
e que atualmente reside na Alemanha.

Agradeço de coração sua reportagem sobre meu bisavô Gustav Hacklaender. Sou Blumenauense atualmente em Freiburg Munzingern Alemanha. Abraços de saúde - Edgar Rui
Referências
  • CENTENÁRIO de Blumenau. 1850 – 2 de Setembro – 1950. Blumenau: [s.n.], 1950. – 1v. (várias paginações).il. Edição Comissão de festejos.
  • DAGNONI, Cátia. Comunicações e transportes no Vale do Itajaí- junho 1991. Nossa História em Revista, Rio do Sul, tomo 2, n. 4, p. 30, set. 2000.
  •  _____. Uma análise em função do fechamento da estrada de ferro no Vale do Itajaí. Nossa História em Revista, Rio do Sul, tomo 2, n. 2, p. 7, maio 2000.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. 1864. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  •  _____. O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Blumenau: Nova Letra, 1995. 295 p. il.
  • ESTRADA de Ferro Santa Catarina. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Coleção Comunicação/Transporte, Pasta 4.2.1.1, doc 2.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
  • ODREBRECHT, Rolf. Cartas de família: ensaio biográfico de Emil Odebrecht e ensaio biográfico de seu filho Oswaldo Odebrecht Sênior. Blumenau: Ed. do Autor, 2006. 576 p. il.; 28x31cm.
  • Paróquia da Comunidade Lutherana Blumenau – Centro. Pioneiros da Colônia Blumenau; Família evangélicas de confissão Lutherana da Colônia Blumenau: 1856-1940; Tradução e transcrição Curt Höltgebaum. Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva. Blumenau: 1856-1940 – Dados eletrônicos. Blumenau SC: Arquivo Histórico Professor Ferreira da Silva, 2016.
  • RIO DO SUL (SC). Arquivo Público Histórico de Rio do Sul. Rio do Sul. Pastas suspensas (100? Fotos); p&b, color; vários tamanhos.
  • SILVA, José Ferreira da. Estrada de Ferro Santa Catarina – Há Sessenta Anos Emprestando Inestimáveis Serviços ao Vale do Itajaí e ao Nosso Estado. Blumenau em Cadernos, Blumenau, tomo 20, n.5, p. 81-86, maio 1969.
  • SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
  • VIDOR, Vilmar. Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
  • Revista Blumenau em Cadernos – Texto de Gustavo Konder.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907. 








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