Elke Maria Kellermann, blumenauense que residia no bairro Bom Retiro com sua família e atualmente reside no litoral e lá nos encontrou para falarmos de história da região, onde estava o território da Colônia Blumenau e para conhecer o nosso último trabalho publicado - "Fragmentos". Nesse momento nos contou a história de seu avô Arthur Kellermann, através de um depoimento espontâneo e sentimos que deveríamos compartilhar esta parte da história regional que não está na História.
Seu avô, o cervejeiro Arthur Kellermann
, de Timbó, adoeceu após ser preso no período do "Nacionalismo" por falar alemão. Na prisão, foi encaminhado para a frente de trabalhos forçados, como prisioneiro de guerra. Arthur filho de brasileiro e neto de imigrante alemão e com isso, em terra formada por inúmeras etnias. Foi preso como inimigo de guerra, por falar a língua da casa paterna, a única que aprendeu. Esses imigrantes e seus descendentes diretos fundaram a rede de cidades na região e só falavam o idioma alemão e depois também, o italiano, nas colônias italianas dentro da Colônia Blumenau. Até então, praticava-se a cultura dos antepassados, pois o contato com o Estado Brasileiro português, espanhol, francês, que "largaram" os pioneiros neste local, desprovido de infraestrutura, para que promovessem o desenvolvimento e o local não fosse tomado pelos espanhóis. Construíram as escolas, onde seus professores somente falavam alemão, em um país, que na época possuía cerca de 70% de sua população analfabeta.
Segunda Igreja da Comunidade Luterana de Rio do Sul. fotografia - Pastor Grau. |
Arthur Kellermann, profissionalmente era um cervejeiro e tinha uma das cervejarias da cidade de Timbó, a conhecida e renomada Cervejaria Kellermann.
Sua cervejaria fundada em 1922, produzia quatro tipos de cervejas: duas claras e duas escuras. Como funcionava em toda a Colônia Blumenau, todo o processo era artesanal, feitas em tanques de madeira e água de poço de sua propriedade. Através de um rótulo encontrado no aArquivo Público Profº Gelindo S. Buzzi, podemos dizer que Kellermann também produzia cerveja artesanais fora do padrão, como a cerveja de gengibre.
Sua cervejaria fundada em 1922, produzia quatro tipos de cervejas: duas claras e duas escuras. Como funcionava em toda a Colônia Blumenau, todo o processo era artesanal, feitas em tanques de madeira e água de poço de sua propriedade. Através de um rótulo encontrado no aArquivo Público Profº Gelindo S. Buzzi, podemos dizer que Kellermann também produzia cerveja artesanais fora do padrão, como a cerveja de gengibre.
Também, através do arquivo público, soubemos que Kellermann fabricava outros tipos de bebidas como: licores, xarope e gasosas.
Quando eclodiu a 2° Guerra Mundial, foi fechada a cervejaria e seu cervejeiro foi preso porque se comunicava na única língua que sabiam falar em sua casa: o alemão. Arthur Kellermann foi condenado a realizar trabalhos forçados na obra de colocação de dutos que desviava água do rio represado, para irrigação de algumas propriedades localizadas mais abaixo, e distante do rio, que seguia seu leito normal já na região baixa.
Tentaremos encontrar indícios desta informação no local, tentando chegar onde Arthur trabalhou e colocaremos os registros fotográficos nessa postagem.
Relembrando...
Imigrantes alemães trabalhando na fazenda de café. Fonte: Diário de Rio Claro SP. |
Quadro obrigatoriamente exposto em casas comerciais, repartições públicas, clubes, ou em locais de aglomeração pública. Foto acervo: Edilberto Luiz Hammes. |
Documentário Sem Palavras
Arquitetura Residência e Cervejaria dos Kellermann - Timbó SC
Residência e Cervejaria Kellermann. |
A arquitetura da residência e da Cervejaria Kellermann localizada em Timbó, foi construída com paredes autoportantes com tijolos maciços rebocados e com a volumetria dotada da influência da casa do imigrante alemão da Grande Florianópolis, onde o aumento do pé direito do sótão não é viabilizado através "quebra do telhado" e pela grande inclinação do telhado, como acontecia no Vale do Itajaí, mas sim pelo aumento das paredes laterais, na parte do telhado, como nesse caso que ainda conta com a presença de janelas. O complexo edificado é grande, talvez por comportar a função industrial, comercial e residencial. A ala residencial é marcada pelo anexo da grande varanda frontal, marcando e protegendo a porta principal de acesso ao interior da residência pela parte social, que dá acesso a sala de visitas. Suas aberturas em madeira, com duas folhas, são altas e marcadas pela bandeira envidraçada, características nas casas da região. Os anexos "colados" na ala da residência seguem a mesma linguagem arquitetônica, sendo que o dos fundos também é munido de uma grande varanda embutida em toda extensão da edificação.
Lembro da casa do Opa Kellermann. Hoje tem só a parte da casa aonde moram os netos da Freya Kellermann. Não sabia que era cervejeiro. Os Freygang também tinham a cervejaria e os capilés. Meu avô Erwin Heidrich também foi preso. Minha avó só sabia falar alemão. Quando ela falou em alemão que precisava levar o pequeno Rigobert para o médico operar da fimose, eles escutaram e levaram ela presa. Soltaram para deixar ela levar ao médico, a muito custo. Eliane Heidrich - 09 de abril de 2023
Freya Kellermann (1921–2017), mencionada por Eliane Heidrich, acima, foi a filha mais velha de Arthur e Lonny Kellermann.
Família
Família materna de Arthur Kellermann - Prússia - Seus bisavós. |
O avô de Elke Maria Kellermann, Arthur Kellermann, era filho do brasileiro Oscar Eduard Fritz Kellermann que era filho do imigrante alemão Carl Friedrich Wilhelm Rudolf Kellermann, nascido em 23 de abril de 1832, na Prússia e de Louise Friederike Albertine Prochnow nascida em 23 de abril de 1832, também na Prússia.
Quando Arthur Kellermann morreu em 1° de setembro de 1944, na cidade de Timbó, possuía uma família. Sua esposa era a brasileira Lonny Irene Kellermann, filha de João e Leonilda Colley. Lonny faleceu 36 anos após a morte do marido.
Arthur e Lonny tiveram 4 filhos:
- Freya Kellermann (1921–2017);
- Vera Kellermann (1922– - );
- Ralf Oscar Kellermann (1924– -);
- Hanz Kellermann (1932– -).
Ralf Oscar Kellermann era o pai de Elke Maria Kellermann, quem nos trouxe esta história, e foi casado com Edith Neitzke, nascida em 18 de janeiro de 1929.
Ralf Kellermann e Edith Kellermann |
Antiga igreja luterana de Timbó onde se casaram o filho de Arthur Kellermann, Ralf Kellermann e Edith Neitzke. |
Quando Arthur Kellermann morreu em 1° de setembro de 1944, sua filha Freya tinha 21 anos, Vera tinha 22 anos, Ralf tinha 20 anos e Hans tinha 12 anos. Sua esposa ficou viúva com 46 anos de idade, a idade que seu marido Arthur Kellermann morreu.
A Cervejaria Kellermann "renasce" pelos mãos dos descendentes de Artur Kellermann
Fernando e Rafael, netos a filha Freya, no estande do Festival da Cerveja apresentando a cerveja artesanal Kellermann. |
Em 2011, os bisnetos de Arthur Kellermann, Rafael Boegershausen Dias e Fernando Boegershausen Dias, residentes em Indaial, resgatam a fórmula da Cerveja Kellermann e a Cervejaria Kellerman, que renasce através de sua produção artesanal. A nova Cervejaria Kellermann faz uso das mesmas receitas e a lei de pureza alemã (Reinheitsgebot de 1516), usadas por Arthur Kellermann na segunda década do século XX, há exatos 100 anos.
Um registro para a História!
Leituras Complementares - Para ler clicar sobre o título:
- O impacto do Nacionalismo de Getúlio Vargas no Vale do Itajaí, antiga Colônia Blumenau
- Imigrantes alemães nas Fazendas de Café do Rio de Janeiro - São Paulo e depois - Santa Catarina - Século XIX - Kaffeepfklücker
- Heinrich Hosang – Primeiro Cervejeiro de Blumenau
- Fazer cerveja - Uma tradição na História da Colônia Blumenau - Cerveja Blumenau
- Cervejaria de Otto Jennrich - Itoupava Seca - Blumenau SC
- Família Persuhn - Cervejaria W.A. Persuhn Cervejaria Indayal - De Altona Para Indaial SC
- Da Casa Rischbieter ao Norden - Valorização da Cultura - da História e da Arquitetura - Blumenau SC
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)
Agenda:
- Em 14 de abril, numa sexta-feira, na véspera do aniversário de 92 anos de emancipação político-administrativa de Rio do Sul, estaremos fazendo duas palestras em períodos distintos, nessa cidade. No período matutino, a palestra começa às 8h30, no Teatro Domingos Venturini e no período vespertino, a atividade inicia às 14h e será realizada na Videoteca da Fundação Cultural de Rio do Sul.
- Dia 10 de maio estaremos lançando o Livro “Fragmentos Históricos Colônia Blumenau – Arquitetura * Cidade * Sociedade * Cultura Volume 1″ no espaço Cultural da Assembleia Legislativa de Santa Catarina – ALESC, Florianópolis.
Sou Fernando Boegershausen Dias, bisneto de Arthur Kellermann, com prazer nos esforçamos para não perder o legado deixado pelos nossos antepassados. Manter a história da cervejaria Kellermann e de nosso bisavô nos orgulha e motiva a perpetuar seu empenho que foi abruptamente interrompido pela estupidez dos reflexos da guerra. Que naquele momento impôs regras aos descendentes os impedindo de manter suas tradições, hoje temos a liberdade (restrita) que permite nos orgulhar e conseguir a duros esforços conservar essa tradição cultural e familiar que é fabricar cervejas e outras bebidas. Salve a tradição, salve a cultura! Prosit!
ResponderExcluirQue retorno agradável. Obrigada. que bom que lestes este destaque histórico. Parabéns a vocês e que repassem aos descendentes futuros de Arthur. Abraços afetuosos de Blumenau.
ExcluirQue linda reportagem e resgate da história de Timbo. Gostaria de saber onde fica essa casa aqui em Timbo.
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