Casa mista construída com paredes auto-portantes com tijolos maciços aparentes e pedras e técnica construtiva enxaimel com fechamento com tijolos maciços. |
O que é enxaimel?
Enxaimel definitivamente não é um estilo, não é limitado dentro de um conceito engessado dentro de um recorte de tempo somente, não é “ripa” colada em um parede de alvenaria, não é tecnologia repassada pelos indígenas que viviam no Brasil quando chegaram os pioneiros, não foi construído e usado pelos “colonos” somente, não é coisa velha, não é passado, não é coisa pobre, não é só aquela edificação que tem tijolos à vista, ...,.A casa com a estrutura enxaimel é um dos muitos modelos resultantes de um processo que teve início durante a primeira grande revolução do homem, quando este deixou de ser coletor e caçador e se fixou no solo, tornando-se agricultor a pastor. Homem que domou, segundo Munford, a si mesmo e depois, o meio insalubre que tinha que tirar a sua sobrevivência e construir a sua casa primária com materiais tirados deste meio, o embrião da casa de madeira encaixada, com a presença dos primeiros encaixes.Enxaimel é uma estrutura de madeira independente das paredes, com toda a complexidades da distribuição de cargas que isto significa e só conseguida nas casas de alvenaria após os experimentos na igreja de Santa Sofia, no século VI e depois evoluído até chegar a leveza dos vitrais das catedrais góticas - o ápice desta revolução na técnica construtiva em alvenaria de pedras. A casa de madeira já apresentava a sua estrutura independente das paredes, 7.000 anos a.C.A estrutura enxaimel agregou identidade e características diferenciadas às cidades intramuros, e depois às cidades livres assentadas juntos aos rios, na Alemanha, na Europa e também, no Vale do Itajaí e outras regiões do Brasil.Ao contrário do que afirmam as pessoas desprovidas de conhecimento, a técnica construtiva nunca deixou de ser construída em solo alemão, por representar uma das expressões culturais máximas - na forma de arquitetura - daquelas cidades e que habita o inconsciente coletivo, há mais de 7.000 anos. As pessoas que guardam este patrimônio no tempo presente e também constroem novos, são descendentes diretos daqueles que iniciaram o embrião desta técnica construtiva no período neolítico e esta foi repassada de uma geração a outra, sempre com o acréscimo de melhorias e novas tecnologias advindas de experimentos práticos.Há também, aqueles que fazem questão da tradição no momento de construir uma casa enxaimel, utilizando as mesmas ferramentas, rituais e práticas, de alguns milhares de anos atrás outros da época áurea medieval - período nacional da Alemanha, onde a produção contemporânea de enxaimel faz uso de tecnologia de ponta, robótica, modelagem, disponibilidade em catálogos, com diversos tipos de materiais para o fechamento, formas e volumes, tudo seguindo a rigorosa legislação ambiental e construtiva daquele país. WITTMANN, 2019.
Retirado do Site da Prefeitura de Santo Amaro da Imperatriz. |
Sempre é bom lembrar sobre o que é enxaimel e quando encontramos uma tipologia diferenciada, como esta que fotografamos em Santo Amaro da Imperatriz, região que também recebeu e teve contato com a cultura das pessoas que trouxeram a técnica construtiva enxaimel para o Brasil.
Uma tipologia com planta retangular, a exemplo de qualquer tipologia construída com a técnica construtiva enxaimel em solo brasileiro. Os demais elementos construtivos mudam, de acordo com o tipo de material existente no entorno da construção da casa varnacular e também, das culturas próximas a família que construiu a casa.
O pavimento térreo desta construção, aparentemente foi construído com paredes autoportantes, estruturais de tijolos maciços aparentes assentado com a característica massa a base de cal que tem como características esta cor branca nas fugas.
A casa é dotada de mansarda, com o aproveitamento do sótão, com aberturas - aparentemente, portas que chegam até o assoalho do sótão, em madeira maciça. Isso, aparentemente, reporta ao local de estoque de grãos ou qualquer outros tipo de colheita, como eram usados em períodos antes de Cristo, em construções embrionárias desta técnica. A mansarda ou sótão são estruturados em madeira, como se constrói como qualquer tipologia enxaimel, com fechamento com tijolos aparentes, tal como o enxaimel construído no Vale do Itajaí, o que caracteriza a construção mista.
A casa, de acordo com a informação presente sobre a porta principal na fachada frontal, foi construída em 1902, período onde se construiu muito neoclássico no Vale do Itajaí, a partir de edificações construídas com estrutura enxaimel. Esta estrutura recebia fechamento, de taipa ou tijolos e depois era rebocado, pintado e adornado com elemento do classicismo.
Nesta casa de Santo Amaro da Imperatriz é constatado a presença de elementos clássicos trabalhados em pedras usado nos vértices das paredes do pavimento térreo. As janelas tipo guilhotina, é uma contribuição e resultado da interferência da arquitetura lusa, cultura que antecedeu esta, construída por imigrantes alemães, na região.
Buscaremos mais sobre a história dessa construção de 122 anos, parte da História e da paisagem de Santo Amaro da Imperatriz.
História do Patrimônio
Recebemos contribuição, para esta pesquisa, de Aroldo Camargo Guedes Rodrigues, residente em Santo Amaro da Imperatriz, antiga povoação de Santo Amaro do Cubatão.
A exemplo de algumas cidades na região do Vale do Cubatão, a técnica construtiva enxaimel foi muito conhecido e utilizada pelos imigrantes alemães, embora não considerados dentro da história desta região, aconteceu de maneira intensa e foi pioneira. Muito, mas muito mesmo, foi retirado da paisagem. Citamos como exemplo, a cidade de São Bonifácio, que catalogou seus principais exemplares construídos com a técnica construtiva enxaimel, publicados em um livro. Estivemos uma manhã, em pesquisa no local, e fotografamos mais de 20 exemplares, com história distintas.
Também no Site da Prefeitura, superficialmente é indicada como a edificação mais antiga de Santo Amaro da Imperatriz, onde Aroldo no lembrou da história da sede das Caldas da Imperatriz, construída, ainda no século XIX, um hotel onde ficaram hospedadores a realeza brasileira. História desconsiderada.
Em 1845, o Imperador e a Imperatriz - D. Pedro II e Dona Maria Cristina, seguindo conselho médico, chegaram à região das termas. Antes de chegar ao local, passaram alguns dias na povoação de São José, mais precisamente entre os dias 29 e 31 de outubro de 1845. Conta a história local que foram necessários 16 homens para conduzirem a barcaça que fez a travessia do Rio Cubatão, rio que corta a cidade de Santo Amaro da Imperatriz e que tinha mais correnteza do que hoje. O povoado - atual Santo Amaro da Imperatriz festejou a presença da família imperial brasileira na região. Foi construído o primeiro hospital com águas termais do Brasil. O edifício original do hospital não existe mais. Ainda existe a edificação onde onde D. Pedro II e a Imperatriz se hospedaram. O local, atualmente é um hotel, no qual, também funciona um restaurante, às margens do ribeirão onde se banharam.
Hotel Imperador Caldas da Imperatriz - poderia ser considerada a construção mais antiga da cidade, construída com a técnica construtiva autoportante de tijolos rebocados. |
De acordo com dados do Site de Santo Amaro da Imperatriz, a Casa Durieux foi construída pelo engenheiro Pedro Durieux, que nada a ver tem com sua profissão, uma vez que a técnica construtiva enxaimel, é uma técnica vernacular que utiliza de materiais retirados do próprio local, sustentável e as pessoas muitas vezes construíam sua casa temporária com esta técnica, tal com faziam no período neolítico a partir da revolução agrícola. Sugerimos a leitura do livro Fachwerk - A Técnica Construtiva enxaimel.
O construtor da casa, foi o pedreiro Pedro Durieux que era filho de Louis François Dorieux e de Maria Werner Dorieux. Durieux nasceu em 1886, na cidade de Itajaí, uma das "portas" da imigração alemã para o Vale do Itajaí. A mãe de Pedro, Maria Werner era natural de Itajaí (1858 - 1911) e se casou com seu pai, Louis François Durieux, na Igreja Santíssimo Sacramento de Itajaí , em 1° de julho de 1876. Estas informações estão sendo apresentadas para demonstrar a aproximação da família Dorieux com a cultura de construção do Vale do Itajaí, dentro de um recorte de tempo histórico.
Os dois filhos do casal Maria e Louis: Pedro e Luiza Maria se casaram em Santo Amaro da Imperatriz, o que subentende-se a mudança da família para esta cidade.
Parte do documento de casamento de Pedro Durieux, atestando o nome de seus pais, em Santo Amaro da Imperatriz. |
Pedro Durieux. |
Pedro, pedreiro, faleceu com 55 anos em 29 de março de 1941, na cidade de Santo Amaro da Imperatriz. Pedro Durieux e Augusta Durieux tiveram seis filhos: Aloisio, Arno José, Maria, Pedro, Bernadette e Aloisio.
A casa foi construída em 1902 e atualmente pertence a Celso Pedro Turnes.
Localização
A Casa Durieux está localizada na rua São Sebastião, nº 2.804, Sul do Rio, Santo amaro da Imperatriz.
O que Santo Amaro da Imperatriz tem feito para valorizar seu patrimônio Histórico Arquitetônico?
Um Registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (X)
Referância
- WITTMANN, Angelina C. R. Fachwerk: A Técnica Construtiva Enxaimel. - 1° ed. - Blumenau, SC :AmoLer, 2019. - 405 p. : il.
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