sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Novas denúncias de espionagem pelos EUA ofuscam cúpula europeia

Deutsche Welle

Possível escuta do celular de Merkel e grampos nos telefones de 35 líderes mundiais causaram irritação em Bruxelas, onde os líderes da União Europeia estão reunidos.
















Coincidência ou não, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, chegou à cúpula da União Europeia (UE) num automóvel oficial cuja placa exibia o sugestivo número 007. E foi em clima de espionagem que começou a reunião dos 28 líderes europeus em Bruxelas, em que originalmente seriam discutidas sobretudo questões econômicas.
Merkel, suposta vítima de espionagem telefônica da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, demonstrou indignação. Ela afirmou que espionagem é coisa que não pode acontecer entre amigos. "A confiança agora deve ser restaurada", desabafou, referindo-se ao governo dos EUA que, por sua vez, garantiu que a líder alemã não está sendo monitorada por agentes americanos.
No começo da noite, a notícia de que o jornal britânico The Guardian tem uma lista de 35 líderes internacionais que foram grampeados pela NSA causou ainda mais irritação entre os participantes do encontro.
O presidente do Parlamento Europeu, o eurodeputado alemão Martin Schulz, pediu aos líderes que suspendam a troca de informações bancárias com os EUA, o chamado acordo Swift. O mesmo já havia sido solicitado pelo Parlamento Europeu na quarta-feira. Em tom de brincadeira, Schulz afirmou que se protege de ataques de espionagem usando tecnologia ultrapassada. "A NSA não alcança. Meu telefone é um dos poucos que não pode ser monitorado. A tecnologia remonta os tempos do senhor Bell, o inventor do telefone", disse.
Merkel e Hollande lançam iniciativa
Rompuy: cúpula não teve condenação comum aos EUA
Merkel e o presidente francês, François Hollande, acertaram que vão impulsionar, até o fim do ano, uma negociação com Washington sobre as práticas dos serviços secretos. "O objetivo será estabelecer regras para o futuro", salientou o presidente francês, sublinhando que "há comportamentos e práticas que não podem ser aceitos".
Segundo Hollande, a iniciativa está também aberta para os outros países europeus que queiram aderir. "Vamos fazer o possível para conseguir, antes do fim do ano, um entendimento comum sobre a cooperação entre os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Alemanha e dos Estados Unidos e da França", confirmou Merkel. Ela adiantou que devem ser exigidas dos EUA mudanças reais em relação às práticas dos serviços de inteligência.
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, assegurou ainda na noite de quinta-feira que não houve uma condenação conjunta oficial das atividades de espionagem da NSA. Merkel brincou com a situação: "Sermos todos grampeados nos une", disse após uma reunião com o político belga.
Mas algo terá de mudar, acrescentou, rejeitando, entretanto, a suspensão das negociações sobre a zona de livre comércio com os Estados Unidos. Na próxima reunião de cúpula, em dezembro, os líderes da França e da Alemanha apresentarão um relatório sobre as discussões com o governo dos EUA.
Kroes quer o fim das barreiras digitais dentro da UE
O ministro para a Europa da Finlândia, Alexander Stubb, alertou, em entrevista à Deutsche Welle, sobre os riscos de uma reação dura demais. Stubb afirmou que todos os líderes políticos devem estar conscientes de que podem ser espionados. "Eu sou muito cuidadoso e sempre consciente de que tudo o que eu comunicar, em qualquer lugar, pode se tornar público", garantiu, observando que não ajuda muito colocar em questão a troca de informações com os Estados Unidos.
"Na sociedade digital global, a troca de dados com empresas norte-americanas é essencial. Não devemos ser duros demais com os norte-americanos, porque poderemos vir a ter muitos problemas na transmissão de dados da Europa para os Estados Unidos. Isso prejudicaria nossas empresas, tanto grandes como pequenas", avaliou Stubb. "Tem que haver uma proteção de dados pessoais equilibrada e razoável, sem que precisemos nos fechar."
Economia digital impulsiona mercado de trabalho
A proteção de dados privados também faz parte da "agenda digital", discutida pelos líderes europeus na noite de quinta-feira. A UE quer promover o desenvolvimento da internet rápida e dar mais incentivos a empresas baseadas na rede mundial de computadores. "No ramo da economia digital há muitas oportunidades inexploradas para criar postos de trabalho", disse a comissária europeia para Agenda Digital, Neelie Kroes, em entrevista à DW. "Nos últimos anos, foram criados 300 mil empregos na Europa só para o desenvolvimento de aplicativos para telefones móveis."
Kroes reivindica a criação de um mercado digital unificado até 2015, onde não deve haver mais tarifas de roaming para a transferência de dados entre os países. "Não é normal que tenhamos um mercado único em tudo na UE, menos na área de telecomunicações", criticou. Ela é a favor de que empresas possam operar em todos os 28 países da UE sem empecilhos postos por regulamentações nacionais. Ao mesmo tempo, ressaltou que a proteção da privacidade do consumidor é prioridade. "Devemos encontrar o equilíbrio certo", concluiu a política holandesa.
  • Data 25.10.2013
  • Autoria Bernd Riegert / Marcio Damasceno
  • Edição Alexandre Schossler
  • Link permanente http://dw.de/p/1A62t








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