terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Os Letos (ou letões) de Urubici SC - Sua História

Propriedade da Família  Frischembruder  - Urubici SC.
Após visitarmos Urubici em janeiro último - cidade da serra catarinense que recebeu vários grupos étnicos oriundos de outras regiões do Brasil e da Europa, vamos contar um pouco sobre uma das culturas que contribuiu para o desenvolvimento desta região, pelo menos, nas  últimas seis décadas.  Para um bom observador, basta um olhar mais apurado na paisagem, e perceber que ainda há a presença desta herança cultural que  fez parte da formação e da história de Urubici - a presença cultural dos letos
Letos - grupo, que além da fazer parte da história da cidade e presente, até os dias atuais na comunidade serrana, não perdeu contato com o grupo maior que imigraram para o Brasil e também, com a Letônia, seu país de origem.
Vista  parcial de Urubici SC - 22 de maio de 2005.


O pesquisador Toni Jochem,  em um dos  nossos encontros de pesquisa, pediu-nos para postarmos uma receita leta de Urubici - tipo um desafio bom. Apreciamos tanto o desafio, que vamos comentar um pouco sobre este povo, que como os pomeranos, sofreram os reveses das "tempestades" sociais da Europa durante a passagem do Século XIX para o Século XX, e também, a submissão da catequização à força dos Cavaleiros Teutônicos, em sua cidades.
De maneira resumida, apresentaremos um pouco de sua história na Europa, no Brasil e na cidade de Urubici SC e, apresentaremos duas receitas leta dos letos de Urubici - à pedidos.

Conhecendo a história ...
Dos letos


O leto - atualmente, é uma denominação local dada às pessoas oriundas da Rússia, Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia que falam o mesmo idioma - o leto. Também são as pessoas que nasceram na Letônia e que por vários motivos históricos, em diversos recortes de tempo, migraram para as regiões citadas a partir da Letônia e levaram consigo a língua leta - que é uma língua báltica do grupo indo europeu.
O país dos letos ou letões - a Letônia - atual República da Letônia é uma das três repúblicas bálticas - e está localizada entre Estônia e Lituânia. Detalhando, limita ao norte, com a Estônia, a leste com a Rússia, a sudoeste com a Bielorrússia, a sul com a Lituânia e a oeste com o Mar Báltico.

Seu contato com o Mar Báltico apresenta um litoral pantanoso, com dunas de areia pipocados de portos pesqueiros.
Sua capital é a cidade histórica de Riga, que possui muitas edificações históricas  medievais com ótimo estado de conservação. Muito de seu território é coberto de florestas, cavernas e corredeiras atraindo muitos visitantes.
Riga - Capital da Letônia.

Riga em 1650 (Desenho de Johann Christoph Brotze).
A História da Letônia é muito antiga.  O território da atual Letônia foi habitado há mais de 8 mil AC. As tribos  bálticas primitivas chegaram à região na primeira metade de 3 mil AC e são considerado ancestrais do povo leto.
O termo  leto ou letoniano é originário do lett que significa cavar ou arar a terra, lembrando a atividade do agricultor. Sua moeda se chama latt. A língua leta é mais antiga que o latim e que o grego. Suas bases são originária do sânscrito - língua clássica da Índia que teve influencia em muitos idiomas ocidentais.
Ao longo de sua história, os letos foram dominados pelos alemães, poloneses e russos. 
Como os alemães, sua mitologia e religião primitiva - panteísta - tinha como principal culto, os seres da mata e da natureza. Respeitavam as forças naturais. Sua mais alta divindade era o "Velho" que sempre tinha uma boa orientação ao agricultor. Também como o povo germano, nutriam profundo respeito pelas árvores, principalmente o carvalho e a liepa.

Prosseguindo sua história...

Tiveram contato com o Império Romano, através das rotas comerciais a partir do Báltico. A Letônia tornou-se um forte entrocamento comercial no período dos cruzados. Fez-se conhecer a "Rota dos Vikings" para a Grécia. Partiam da  Escandinávia, atravessando o território leto ao longo do rio Daugava até chegar na Rússia e no Império Bizantino. 

Cavaleiros Teutônicos

Na época das cruzadas, o território leto era parte do território conhecido como Livônia, do qual também fazia parte, parte do território dos pomeranos. Este estava a mercê e sob o domínio dos Cavaleiros Teutônicos, enviados pela Igreja de Roma, para cristianizar os "pagãos". Em troca, os alemães católicos tinham como promessa da missão, as terras do povo cristianizado. De acordo com o sistema feudal - tornariam-se seus senhores e de todo seu povo - do Século XIX ao Século XX - recebendo título de nobreza 

Algumas passagens da histórias dos Letos tem assemelham com a história dos Pomeranos, com a diferença, de que o território pomerano foi anexado ao território da nação alemã e perderam toda sua identidade cultural e língua diante do novo contexto histórico. O antigo território pomerano  é o atual território localizado ao norte da Alemanha, junto ao Báltico. Desta maneira, os alemães mantiveram contato e saída pelo Báltico.
Nesta época, mesmo sob o domínio da Rússia, os Senhores das terras em toda a região do Báltico, foram os membros da Ordem Teutônica
Também os letos tornaram-se seus servos. Muitas histórias deste período não eram muito nobres dentro das relações senhor e vassalos e sob os preceitos do próprio Cristianismo que pregavam à força dentro do sistema de servidão. Um destes exemplos é a tradição da noiva leta e também, da pomerana, casar-se de preto. De acordo com a cultura popular, foi uma maneira de protesto contra o ato tirano, de a noiva ser obrigada a passar sua primeira noite de núpcias com seu senhor e não com seu marido. Isso é lenda e escrevemos e esclarecemos esta questão na postagem (Clicar sobre): Noivas de Preto. Nesta época, não existia vestido de noiva branco.
 

Também existiam outras realidades que oprimiam o povo convertido ao Cristianismo, como por exemplo, ilustrada nestes citações de autoria de seus senhores feudais:
"Esqueça que em suas veias corre sangue leto. Esqueça seu povo, seus irmãos, comporte-se como estivesse entre estranhos e não como entre os seus amigos e em sua pátria."
" Esqueça que este é teu conterrâneo, não pense que ele veio à igreja para cultivar algum sentimento nacionalista, mas considere-o um estranho que tem um alma pela qual deves zelar. Teme-o e honre-o como a cada um de nós." A. Klaupics - "Dzivibas Cels - o Caminho da Vida.
A Ordem Teutônica impôs a conversão militarmente aos letos e a todos da região banhados pelo Báltico. Historicamente, isto aconteceu com a chegada do Monge católico Meirhard que submeteu os primeiros letos ao batismo cristão à força. Também, o Bispo alemão Berthold foi enviado pelo Papa para dar sequência à conversão a partir de lutas e domínio das cruzadas impostas pelos Cavaleiros Teutônicos - alemães.
Durante a batalha contra os lívios, nas proximidades da capital - Riga, o Bispo católico Berthold foi morto. Este episódio piorou a situação dos letos que se negavam a conversão e sofriam constantes perseguições. Como já mencionamos, o domínio alemão no território leto durou aproximadamente 3 séculos, até o momento que a Ordem Teutônica foi extinta. Há registros, que no momento do fim dos Teutônicos, muitos dos letos, em ato simbólico de rebeldia, foram  "lavar" o batismo cristão teutônico no rio Daugava. Durante o Século XVIII, mesmo que muitos letos se negassem frequentar a igreja e cultivassem a prática da religião primitiva, poderia-se afirmar que enfim aconteceu a "cristianização" da Letônia. Ainda  no Século XVIII, o território leto tornou-se parte do reino da católica Polônia e da Lituânia. Alguns historiadores afirmam que perderam a crença católica e também, parte de suas terras.

1° Independência
 Ernest Glück
Neste período, o luteranismo tomou conta do país. Em 1689, os letos recebem a Bíblia traduzida em sua própria língua, trabalho feito por Ernest Glück. Nos Séculos XVIII e XIX, a Rússia dominou a Letônia e outras regiões. O sistema feudal imposto pela Ordem Teutônica foi abolido no ano de 1817. Neste momento, os letões passam  a reivindicar a propriedade da terra, que até então, pertencia à nobreza alemã, o que fortalece seu nacionalismo de uma história milenar. Ao término da Primeira Guerra Mundial e as grandes dificuldades enfrentada pelo novo regime soviético, o Conselho Nacional declarou a independência do território leto, declarando a formação da República independente da Letônia no dia 18 de novembro de 1918.

Sob domínio da Russia
Em 1934, o regime político mudou e o país tornou-se um estado autoritário, após o Golpe de Estado liderado por Karlis Ullmanis. O Parlamento leto foi diluído. No dia 17 de junho de 1940 a União Soviética retoma o território através da invasão ocorrida no dia 17 de junho deste ano. O país é anexado à União Soviética, através do Pacto Ribbentrip-Molotov de 1939. O acordo foi feito entre os chanceleres Molotov da URSS e Ribbentrop da Alemanha. Após esta invasão, a Letônia trocou, mais uma vez, de nome.  Passou, então, a se chamar República Socialista Soviética da Letônia - RSS da Letônia. Novamente estava dentro de um sistema onde impunha repressão no território leto. A integração ao regime comunismo soviético é feito, como na época da conversão cristã, militarmente. Neste período, fugiram muitos letos e migraram para na serra catarinenseParte da comunidade de Urubici acreditava que estes imigrantes eram imigrantes russos e espiões do comunismo, não bem quisto na região e também no Brasil. Esse grupo foi perseguido, pela ausência de conhecimento histórico dos católicos brasileiros que residiam na cidade de Urubici.

Continuando...Na Europa, houve resistência por parte dos letos que não sujugavam-se ao domínio dos russos e milhares de camponeses foram retirados de suas terras, presos e executados. Esta resistência foi abafada somente no ano de 1952, após a morte de muitos civis. A Rússia  forçou a imigração de inúmeras famílias russas para os territórios letos, para garantir a segurança do domínio. Por sua vez, como já mencionado, muitos letos migraram para a América, para Urubici e outras regiões do Brasil. Consequência desta migração forçada de russos na Letônia é a formação étnica atual de sua população que conta com aproximadamente 25% de russos.

2° Independência

Novamente os letos conquistaram sua liberdade e independência, que aconteceu, pela segunda vez. Isto foi possível a partir das reformas da Glasnost, a queda do Muro de Berlim, no dia 21 de Agosto de 1991. Em maio de 2004, a República da Letônia tornou-se um membro da União Européia e também da OTAN.

Brasil...

As primeiras famílias de letos chegaram ao Brasil - no  Município de Orleans - Estado de Santa Catarina, em 1890 e fundaram a Colônia Rio Novo. Ocuparam terrenos já beneficiados e com instalações (pastos para animais, edificações e outras instalações) complementados com áreas de mata virgem. Depois, em 1906, chegaram um grupo de letos na Colônia de Nova Odessa, no Estado de São Paulo. Em 1922, com a independência da Letônia e antes da Primeira Guerra, veio um grande grupo de letos, movidos por motivos religiosos, fundaram a colônia de Varpa, também no Estado de São Paulo.
A grande maioria dos imigrantes letos pertenciam a religião da Igreja Batista e luterana. Na Europa, sob o domínio russo, perseguidos pelo regime político vigente - comunista e também impedidos de praticar o culto de sua religião, migraram para o Brasil.
A partir deste cenário de constantes mudanças e conflitos: religioso, político, econômico e cultural, muitos letos deixaram sua pátria nos anos seguintes e buscaram as promessas positivas do governo brasileiro na Europa. Muitos migraram para outras cidades brasileiras, como Ijuí, Jaci-Açu,  Orleans e Urubici - cidades do Estado de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em suas novas terras tiveram alguns contratempos, como por exemplo a língua e a ausência de conhecimento dos brasileiros, quanto a sua história. Muitas vezes sofreram perseguições em solo brasileiro por serem confundidos com "comunistas russos" e por sua religião que não era católica romana.

Correspondência de uma jovem imigrante leta para o primo - Letônia
Fonte - Clicar sobreCarta de Lilija

De Lilija Purens para Reynaldo Purim - 1923
Nova Odessa [Sem data]
"Boa Noite!
Que o Bondoso Deus do Céu te abençoe!! De coração meu querido primo sinceramente eu te saúdo e com estas poucas linhas e desejo-te muitas bênçãos de Deus para todas as tuas atividades. Com esta carta quero anunciar que já estou no Brasil, não bem no lugar que eu esperava estar, mas de qualquer modo estou aqui. Ainda que fisicamente ainda não o conheça, mas pelo que o meu papai contava que eu tinha parentes no Brasil. Considerando, como primo encorajei-me e estou escrevendo.
Agora quero contar como eu me sinto na minha nova pátria. Se alguém tivesse me contado enquanto estava morando na Letônia que eu iria conhecer o Brasil eu nunca iria acreditar. Como tudo aconteceu eu não consigo compreender. Vivíamos na mais completa paz e felicidade, lá na Letônia e nunca tínhamos pensado em mudar de vida até que papai começou a falar sobre um irmão e a família dele que morava no Brasil, e tinha vontade de vê-lo e os filhos dele. Assim começamos a nós aprontarmos para viajar para cá. Nós estávamos curiosos para conhecê-los. No princípio os nossos parentes e conhecidos não nós queriam deixar partir daqui da Letônia e tinham pena de nós, mas, quando viram que nada iria adiantar, pois nós não ouvíamos conselhos de ninguém, então deixaram de falar, então deixaram-nos em paz, sem antes de exigir uma promessa que escreveríamos contando tudo daqui e desejando uma boa viagem. Se nós gostássemos da nova terra, eles viriam também. Quando vendemos tudo e tiramos os documentos para a viagem, então em outubro começou a nossa viagem que foi muito difícil. Viajando e seguindo o longo caminho tive oportunidade de conhecer o que nunca imaginara poder conhecer. Quase metade do globo terrestre.
A viagem se tornou tão longa e monótona que nós ficamos aflitos que chegasse ao destino. No dia 13 de outubro sai de minha casa, onde tinha vivido e crescido, aquele momento quando ia saindo foi tão difícil que não consigo descrever a ninguém. Deixar a casa com o seu pequeno jardim, a horta tão familiar. Aqueles caminhos tão queridos, que eu corria desde menina, aqueles animais que eu alimentava. Aquele pianinho que eu passava o dia tocando. Nuvens negras de preocupação enchiam a minha cabeça. Era para mim difícil imaginar, como entrou na nossa mente mudar para um país distante e desconhecido como o Brasil. Mas nada adiantava, tínhamos que deixar aquelas paisagens tão caras e familiares e se mandar para um mundo desconhecido.
A grande viagem começou de trem. Até chegar na beira mar [porto] para embarcar no navio. Atravessamos a Alemanha, Bélgica até chegarmos na França. Ali embarcamos no navio para o difícil caminho no mar. Ficamos 19 dias no mar, mas durante 8 dias passamos sem ver senão céu e água. Quando o nosso imenso navio parou no Rio de Janeiro. Fiquei o tempo todo olhando para baixo tentado ver você vindo encontrar-nos, pois sabia que você estava estudando aí. Mas debalde, não apareceu ninguém e com os corações realmente entristecidos tivemos que continuar até o porto de Santos.
Lá desembarcamos todos juntos e fomos levados para a Hospedaria dos Imigrantes, onde ficamos dois dias e daí tínhamos que seguir em frente para a mata virgem…. O que eu tinha no coração naquele momento eu nunca poderei descrever. Os pensamentos mais macabros perambulavam pela minha mente. Não queria falar com ninguém, apesar dos irmãos tentarem me acalmar dizendo que eu deveria ficar alegre, mas era totalmente impossível para mim. O que nós esperava na mata, mais ou menos você já sabe. No acampamento morei 7 meses e então fiquei muito doente e já estava me aprontando para ir para o lar eterno, os meus arranjaram para que ficasse com outros irmãos da Igreja que já moravam em Nova Odessa para me tratar.
Agora estou morando com a família do irmão Fritz Puke como empregada doméstica.[ Deenas meitu – Literalmente, moça para trabalho de dia, diarista] Os trabalhos são os mesmos como em qualquer família, mas eu já estava desacostumada.
Na realidade eu queria ir para o Rio Novo, para ficar com os teus familiares, mas dinheiro para a viagem, eu não tenho e ganhar tão rápido não é possível, portanto terei que viver por aqui. Se Deus determinou para que nós nos encontrássemos, então, isso vai acontecer.
Estarei esperando uma longa carta sua. De coração te amando tua desconhecida prima Lilija com 18 anos de idade"
A carta a seguir, ilustra a movimentação comercial a partir do Vale do Itajaí, previsto com a abertura dos caminhos daquela região para a Serra e para o Litoral Catarinense.

De Arthur Purim para Reynaldo Purim – 1922
Fonte - Clicar sobre: Cartas
Rio Novo 7 de novembro de 1922
"Querido irmão!
Eu de você faz tempo que não tenho recebido nada. Você há muito tempo me escreveu, mas eu não respondi porquê eu estava brabo, zangado mesmo, por que eu mandei dois pares de meias de Blumenau através do Karlis Leiman que ia te entregar quando chegasse no Rio. Das duas uma ou você já usou e jogou fora ou o Karlis não entregou a encomenda. Eu mandei para que você, para que não fosse as grandes festas com as meias furadas. Se recebestes devia escrever agradecendo, pois elas custaram 4 mil.
Este ano nas férias você terá que vir para casa e trazer muita coisa para nós. A primeira coisa que você deverá por na caixa é um coelho. Você sempre fala que com um tiro você mata dois coelhos. Para começar você nem espingarda tem. E eu tenho duas. Somando, eu tenho três canos com que eu posso atirar muito bem. Agora nós em cada casa temos uma espingarda. Outra vez eu contei que emprestei a velha espingarda dos Leimann e depois o velho Leiman me presenteou e disse que poderia fazer com ela o que bem entendesse então assim nós temos duas espingardas e você nenhuma.
Também você deverá trazer sementes de mamão. Uma vez eu ganhei do Enoz [Ernesto Grüntal] e eu semeei, mas não nasceu nenhuma, pois todas sementes apodreceram. Também deverá trazer jacas e mangas pelo menos para provar o sabor.
E também deverá trazer a tão esperada ocarina [pilite em leto] para tocar sons e músicas. Aqui nós temos patos e marrecos machos, mas eles não sabem fazer som nenhum que me agrade.
Também deverás trazer àquele grande e velho dicionário em brasileiro se por acaso não vendestes ou destes de presente para alguém. Faça uma caixa bem grande para caber tudo dentro.Uma das cartas que você escreveu para a Olga você tinha mandado lembranças para o Roberto. Quando fui entregar ele, contou que tinha escrito uma carta para você, mas não tinha recebido a resposta. Pode ser que tenhas ficado orgulhoso. –
Bem por esta noite chega. Esta noite, o sono está muito forte. Com sinceras lembranças e votos de uma boa viagem para o Rio Novo. Arthurs Purim.
NT [ Nesta altura o Arthurs já está com 17 anos de idade]"
A língua foi o grande obstáculo nas comunicações, durante o período da chegada dos primeiros grupos de imigrantes.  Em 1908, foi fundado o Jornal Lidumnieks - traduzindo - Lavrador, na colônia de São Paulo - Nova Odessa. Seu redator foi o J. Malvess, imigrante leto. O Lidumnieks tinha uma tiragem de 3000 exemplares e foi publicado por três anos. Tinha o objetivo de orientar e levar informação à comunidade leta, através de um jornal escrito na sua língua. Sua publicação era quinzenal.

Para ler mais sobre o Jornal Lidmnieks - Clicar sobreNotícias letas em São Paulo

Janis Gutmann
Em 1907, Janis Gutmman, imigrante leto que vivia em Londres, enviava para os letos do Brasil, artigos na língua leta. Também, fez um dicionario português/leto, com cerca de 2 mil palavras.
Também, como no Vale do Itajaí, nos primeiros anos dos imigrantes em solo brasileiro, tiveram pouco contato com a língua portuguesa. Quando chegavam em um lugar, construíam a igreja e a escola. Se reuniam no culto religioso, geralmente realizado na língua materna, uma prática exercida até bem pouco. As primeiras escolas da colônia de Varpa em São Paulo, recebiam livros de Riga  - Letônia, através do Consulado, e as aulas eram administradas na língua leta. Em Nova Odessa - SP, no ano seguinte da chegada do primeiro grupo de imigrantes, já tinham escolas construídas - data de 1907. 
A segunda geração de letos no Brasil, quase não tiveram contato com o a língua portuguesa, o que não aconteceu com grupo da terceira, quarta e quinta gerações.
Por conta disto, muito do perfil cultural , da língua e práticas familiares da Letônia se perderam. Observamos que o elo que mantém um pouco desta tradição e identidade cultural é a Igreja Batista Leta - religião da maioria dos descendentes letos em solo brasileiro - que os une através de eventos, cultos e festividades, através de encontros nacionais. Neste momento falam a língua leta, promovem práticas religiosas, musicais e outras a partir da cultura da Letônia.

Os Letos em Urubici

É uma grata satisfação escrever sobre os descendentes dos letos e constatar que muito de sua cultura, tradição, práticas agrícolas e principalmente, a língua, mantem-se entre os mesmos, nos dias atuais.
Em Urubici, visitamos as famílias Frischembruder e Andermann e o Pastor da Igreja Batista leta.

Antes de prosseguirmos...
Um pouco desta história.

Antes dos imigrantes letos chegarem em Urubici, chegaram  no município de Orleans e  arredores, no sul de Santa Catarina. 

Antes, porém, em 1888, dois jovens pastores, um pastor luterano e outro doutor em filosofia e pastor Batista: Karlis Balodis e Peteis Sahlitis, respectivamente, visitaram o Estado de Santa Catarina e colônias de imigrantes europeias existente na cidade de Grão Pará e Orleans. Tinham interesse em conhecer mais sobre a imigração e vantagens oferecidas pelo governo brasileiro. Quando retornaram para a Letônia, fundaram  uma Companhia de Imigração para promover a emigração de famílias letas para o Brasil, e para o Estado de Santa Catarina.
Imigrante letos no N.B. C. Jorge  Tibiriça - Rio Claro -  SP - 1915

Riga - 1890
Em  abril de 1890, 25 famílias lideradas pelo Pastor Karlis Balodis embarcaram em Riga rumo ao Brasil. Após escala na Alemanha, chegaram ao Brasil - no Porto de Laguna, onde receberam  a quantia prometida para cobrir despesas de viagem e 480 mil m2 de terras. As terras deveriam ser pagas com a produção da lavoura e da pecuária. De Laguna, as famílias foram conduzidas para a o município de Orleans, onde foi fundada a primeira colônia de letos do Brasil - às margens do Rio Novo e batizada também de Colônia Rio Novo. A ausência de infraestrutura primária, a necessidade de derrubar a mata para locar os principais equipamentos de uma colônia fez que muitas destas primeiras famílias buscassem outros locais com urbanidade, restando somente 4 famílias desta primeira leva, em Rio Novo. Mas outras tantas famílias chegaram, em outros grupos de imigrantes letos, à região e se fixaram na colônia,  posteriormente.
Dia de São João - ocasião da abertura da escola para crianças - em 24 de junho de 1902
Rio Novo - Foto do Blog - Colônia Rio Novo

Colônia Rio Novo - Orleans SC.
Como já mencionamos, aconteceram movimentações sociais, políticas e econômicas nas primeiras décadas do Século XX, na Europa. A Letônia estava sob o domínio russo e muitos foram proibidos de praticar sua religião. Com isto, muitos resolveram fugir da perseguição religiosa e migraram para o Brasil. Neste período, as colônias eram melhores organizadas e com a presença da fundação  da Igreja Batista no Brasil - Rio Novo - ano de 1892.
Skaidas Basnitra / Templo de lascas de madeira, o segundo templo da Igreja Batista do Rio Novo. Foi construído na propriedade da família Leepkaln. Foi construído em duas semanas corridas. teto e paredes fechados com lascas de madeira - técnica trazida da Letônia. Foi inaugurado em agosto de 1894 - Foto do Blog - Colônia Rio Novo.


















A religião dos imigrantes letos foi a grande responsável de manter a hegemonia cultural do grupo no Brasil. Foi importante para a coesão dos imigrantes, que sofreram perseguições, não somente pelos russos - na Europa, mas também em solo brasileiro, por católicos de Orleans e posteriormente, também de Urubici. 
Atualmente, a Igreja Batista leta do Brasil mantém uma tradição que acontece desde final do Século XIX. Promove encontros de descendentes e letos espalhados pelo país em um grande momento de congraçamento e oração. 
Neste ano de 2015, o evento aconteceu na cidade de Urubici no mês de julho. Valdo Frischembruder comentou durante seu depoimento, gravado e postado nesta pesquisa. Mais detalhes sobre este encontro, no vídeo.
Algumas imagens de letos na Colônia de Rio Novo
Fotografias retiradas do Blog (Clicar sobre)
Colônia Leta do Rio Novo
Fazendo pão - importante na mesa leta.

















Grupo de Jovens - Igreja Batista Rio Novo - 1910.
Casamento de Auras e Emilija Frischembruder - 13 de setembro de 1917 - Rio Novo.
























Grupo de músicos da Igreja Batista Leta de Rio novo - Década de 20 Século XX.
Mutirão na roça - Rio Novo - 1925.
Como os letos chegaram à cidade  de Urubici?
Vista Parcial de Urubici - Década de 60 - A maioria das famílias letas ocuparam a região próxima ao rio Canoas - Esquina -  Foto do Blog - Colônia Rio Novo.
Pedra Furada do Morro da Igreja - Urubici.
Contam os antigos, inclusive nossa vó paterna - que em torno de 1920, não satisfeitos com o clima quente, muito diferente da terra natal,  as condições e planos das colônias, um grupo de letos resolveu conhecer e subiu a serra catarinense pelas encostas da Serra Geral sobre lombo de mulas. O clima da serra era semelhante ao da terra natal e assim poderiam cultivar maçãs e trigo. Contam que subiram pela Serra do Engenheiro e pelo rio do Bispo, entre o Morro da Igreja e a Serra do Corvo Branco - atual Rodovia SC  350, chegando no Distrito da Esquina.
Foto tirada quando terminava o Campinho começava a descida do Morro do Engenheiro. A vista é do lado direito. Terminada a descida do Engenheiro a picada continuava pelo rio 27 que ficava num desfiladeiro entre paredões de rocha. Chamava-se 27 é porque as pessoas atravessavam o mesmo 27 vezes. Mas a realidade que gente caminhava por dentro do riacho. Para depois sair lá em São Pedro. Esta foto foi tirada em 1953 numa época que os Serranos ainda queimavam os campos. Pode se ver que o fogo queimou parte da vegetação da montanha ao lado. Quando o fogo queimava a serapilheira muitas pedras se soltavam e iam caindo prás profundezas dos precipícios e as vezes arrastando outras pedras junto fazendo um barulho considerável.
Esquina -  Foto do Blog - Colônia Rio Novo.
Mapa feito a partir do Google Earth em 17 de fevereiro de 2015.

Ao longo da primeira metade do Século XX, chegaram em Águas Brancas - na época, Distrito de Bom Retiro, atualmente pertencente a Urubici, mais de 50 famílias descendentes ou imigrantes letos.
Mapa feito a partir do Google Earth em 18 de fevereiro de 2015.
Algumas famílias, como: 
Andermann, Auras, Elbert,  Feldman, Freibergs, Frischenbruder, Karkle, Karkling,  Klava, Klawinch, Lanka, Leepkaln, Legsdins, Leimann,  Pägle, Sahlit, Zeeberg, Slengmanis, João Karklis,   Ungurs, Linde, Briedit, Ozols, Ricardo Feldsberg, Ricardo Maissim, João Zalit, Oscar Karps, Gustavo Grikis, Verner Grikis, Karlis Karklis, Bruvers, Átis Slengmann,  Bumbiers, Ochins, entre outras.
A origem da maioria destas famílias na Letônia era da capital do país - Riga e da cidade de  Ventspils - também uma cidade portuária localizada no Báltico e atual bairro de Riga.
Agricultor leto, preparando a terra para plantio - Urubici Foto do Blog - Colônia Rio Novo.




Família Leta na propriedade - Urubici Foto do Blog - Colônia Rio Novo.
Esquina - região onde a maioria das famílias leta se fixaram - Urubici Foto do Blog - Colônia Rio Novo.
As famílias letas chegaram em Urubici e adquiriram as terras junto a encruzilhada dos caminhos que chegam a Urubici, chamado atualmente e um bairro da cidade - Esquina - nas proximidades do Rio Canoas. Foram mais de 3 Km adquirido ao longo da rua que liga a Esquina em direção à Santa Terezinha. Atualmente ainda pode ser encontrado as propriedades com os descendentes das mesmas famílias.
Muitas famílias que chegaram no final da primeira metade do Século XX,, também vieram de colônias letas do Estado de São Paulo, como a família Lanka, e também  imigrantes direto da Letônia, como a Família Ozol, que chegou na cidade em 1930, São oriundos  da vila Sloka, atual bairro da capital Riga. 
Reunião da Igreja Batista na residência da Família Bumbier - 10 de Abril de 1939 -  Foto do Blog - Colônia Rio Novo.




















Data do depoimento - julho de 2020.
Parte do Diário de Emílio Andermann - jovem leto de Urubici

De Emílio Andermann
Traduzido do Letão
por Julio Andermann
Digitado por Laurisa Maria Corrêa
Anotações por Viganth Arvido Purim
Material gentilmente cedido por Alice Gulbis Anderman
Fonte - Clicar sobreHistória de Emílio Andermann

Minha vida
"...Nós passamos a frequentar tardes Letas a fim de juntar algum dinheiro para presentear os necessitados daquele país. Os alemães já foram embora, mas no seu lugar ficaram os comunistas.Os gafanhotos também devoraram tudo do pasto e da lavoura, e sobre a atividade agrícola não depositava mais nenhuma esperança e eu estava cansado de insistir. Uma vez que o Germano Skoolmeister contratou com a Prefeitura a construção da estrada que ia passar atrás da casa do meu avô, me engajei com ele para trabalhar naquela obra. Comia na casa dos meus pais. O trabalho era muito pesado. Cavar com a pá e depois jogar aquela terra longe não era tarefa fácil principalmente para mim um jovem. De cansaço doíam os ossos e até parecia que não poderia suportar, mas criei coragem e insisti. Trabalhava-se 9 horas por dia, iniciando-se a jornada bem cedo de manhã. Eu ganhava 4$000 (quatro mil reis) por dia, trabalhei um mês inteiro e recebi o total de 105$000.A minha família mudou-se para a casa dos meus avós. Enquanto os profetas estavam ausentes, o seu lugar de liderança foi ocupado pelo irmão Teófilo e Mely Zelma. Através daquele linguajar foi ordenado que deveriam viver em comum sob o mesmo teto. Meu avô aceitou esta manifestação com desconfiança, mas obediente consentiu. Eu mesmo ajudei transportar os utensílios e a mobília para a nova habitação e fiquei morando sozinho na casa antiga em companhia de um relógio de parede que batia as horas. Vivia e trabalhava solitário, mas ia fazer as minhas refeições junto da família. Andava triste e sem objetivo, mas havia uma vantagem, não precisava mais acordar com aquela barulheira de bailado infernal da louvação. Este episódio também nunca esquecerei."
Curiosidades dos primeiros tempos em Urubici...

Até construir sua igreja, os letos da Igreja Batista se reuniam numa sala cedida pela Família Karp, que mais tarde doou o terreno para construir a mesma, em forma de mutirão e doações. Nos acabamentos da igreja tiveram auxílios dos letos pentecostais, alguns exímios carpinteiros. Os registros contam que famílias pentecostais  se converteram a Igreja Batista, como também ao contrário, neste período. Viviam em harmonia, até o momento que pastores pentecostais foram pregar na Igreja Batista, gerando um mal estar que interferiu nas boas relações entre as duas igrejas dos imigrantes letos em Urubici. Como a Igreja Batista não tinha sido registrada como seu patrimônio, esta foi apropriada por aqueles que ajudaram a construir e doaram o terreno - Igreja Pentecostal. O fato acelerou as providência para que construíssem a segunda igreja, agora pertencente a Igreja Batista Leta de Urubici que faz parte da paisagem da cidade até os dias atuais e visitamos neste mês de fevereiro.
Grupos de membros da Igreja Batista de Urubici - 1954 - Foto do Blog - Colônia Rio Novo.


Em janeiro - visitamos a Família Frischembruder, cujo tio avô, Juris tomava conta dos arquivos e correspondências da Igreja Batista, neste tempo.  Geralmente recebiam correspondência da Europa. Juris chegou com os primeiros letos em Rio Novo. Também visitamos a Família Andermann e a Igreja Batista, a segunda, construída em Urubici.

Gastronomia - Um pouco da mesa do letos e as receitas prometidas.
Queijo de Cominho - Jāņu siers.
Há muitos indícios da influência dos temperos e pratos letos na mesa dos urubicienses, como por exemplo  o preparo de conservas de frutas e verduras, peixes e batatas e doces a partir de frutas, tortas, biscoitos.  As batatas e carnes são geralmente considerados os alimentos básicos dos letos. Geralmente as sopas são feitas com verduras e leite. O queijo tradicional é o queijo de cominhos, geralmente servido durante o solstício de verão. Também há a sopa a base de bacon e o Coelho falso feito a base de carne moída, o Piragi - pastel recheado com bacon e assado, o strudel de maçã. Também faz parte da gastronomia leta o prato feito a partir de casca de pão com leite quente e açúcar; a batatinha, os pães e peixe. Doces como mousses, geleias e conserva de pepino na folha de uva. Muito comum a bebida a base de chá, principalmente o chá feito de frutas secas, como a maçã.

Receita 
Piragi - Pīrāgi -  repassado pela Família Frischembruder

Ingredientes

¾ xícara de leite
¼ xícara de manteiga amolecida
2 colheres de chá de sal
2 colheres de sopa de açúcar
1 envelope de fermento seco
¼ copo de água
2 ovos batidos
3 xícaras de farinha
1 pedaço de toucinho – magro cortado em cubos bem pequenos.
½ cebola média bem picadinha

Modo de Preparar
Aquecer o leite até quase ferver e retirar do fogo. Adicionar a manteiga, em seguida, o sal. Deixar esfriar e colocar o açúcar. Em uma tigela pequena misturar o fermento com um pouco de água morna. Depois de crescer adicionar à primeira mistura. Adicionar um ovo batido e em seguida adicionar a farinha – uma xícara de cada vez.A massa ficará dura, mas pegajosa. Quando começar a solta da tigela, colocar sobre a bancada polvilhada de farinha.. Trabalhar bastante a massa até que solte completamente das mãos. Sovar por aproximadamente 5 a 10 minutos. Colocar novamente na vasilha e deixar descansar coberta em lugar quente por cerca de uma hora e meia. Enquanto isto, em uma panela fritar o toucinho por aproximadamente 5 minutos em gordura  quente.  E retira da gordura. Temperar o toucinho com sal e pimenta. Na mesma gordura do toucinho, fritar a cebola e depois misturá-las ao toucinho frito separado.Após o descanso da massa, dividir a massa em duas partes e fazer dois  grandes rolos e depois cortá-los em 20 porções. Após achatar com as mãos cada uma das poções o suficiente para colocar o recheio e fechar, dobrando as dobras.  Colocar em assadeira untada. É importante não encher muito de recheio. Estará no ponto, quando as bordas se abrirem como se o Piragi estive sorrindo.
Falsais Zatz - Coelho falso 
Ingredientes:

- 200g de carne por pessoa, sendo 60% pernil de porco e 40% músculo dianteiro de boi
- por quilo de carne, de 100 a 150g de toucinho defumado
Solicitar ao açougueiro para moer os ingredientes acima misturando-os e passar duas vezes na máquina.

Complementos (por quilo de carne):
- 1 cebola média
- 4 dentes de alho
- 2 batatas médias, cruas

Bater os complementos no liquidificador e reservar.

Temperos:
- sal
- molho de pimenta
- shoyu ou molho inglês

Modo de Preparar:
Dispor todos os ingredientes, complementos e temperos em uma travessa ou forma grande, que permita a mistura. Colocados todos os elementos na forma, junte uma clara de ovo para cada quilo de carne. Misture tudo.
Misturas bem os ingredientes com as mãos, como se fosse sovar um pão, até obter uma massa uniforme.
Coloque a mistura em uma forma, de modo que haja uma certa folga ao redor, para acrescentar um pouco de água, o que formará a base do molho.
Para um quilo de carne é suficiente 45 minutos em forno preaquecido a 200 graus, a cada quilo adicional, acrescentar mais 20 minutos de forno. Está pronto quando forma uma casca escura, assim como pão ou bolo.
Após 30 minutos de forno, retire a água da base para fazer o molho. Se um volume maior de molho, acrescente novamente água na forma.
Preparo do Molho:
Normalmente a base do molho retirada da forma é suficiente e está com sabor adequado. Caso isso não ocorra, pode-se acrescentar um pouco mais de água e reforçar com um cubo de caldo de carne. Engrossar com maisena.
Pode-se fazer o  formato de um pão de forma ou, pode-se dar o formato de um coelho, colocando no final orelha de folha de louro e uma cenoura cozida na “boca”. Para acompanhamento podem ser batatas coradas ou cozidas ou arroz.Caso a forma tenha um tamanho que permita, pode-se assar as batatas junto com o “coelho”.A guarnição mais recomendada, tanto pela aparência quanto pelo valor alimentício, é legumes ao vapor.
Também parte da culinária leta, há o remendado - um tipo de cuca;  a banana falsa, feita a partir de batatinha, ovos e muito tempero verde.
Família Frischembruder
Família de Juris Frischembruder - 1910 - Rio Novo.
Com  Ziedonies Frischembruder - Ex Juiz de Paz do  Distrito 
de  Águas Brancas.
Visitamos a Família de Ziedonies Frischembruder e também, conversamos com Valdo Frischembruder e com João Frischembruder, seus filhos. O patriarca Krisch Frichenbruder (Nome é diferente por conta de erros durante registros no Brasil) e família, chegaram em Urubici no ano de 1931 da Colônia Rio Novo. Krisch era o pai de Ziedonies e avô do João e do Valdo. No meio de nossa conversa, foi lembrado novamente, que a Letônia foi domínio dos alemães, russos e poloneses. Foi dito que quando os letos chegaram na serra, se fixaram no Distrito de Águas Brancas - que nesta época não pertencia a Urubici, mas sim, a Bom Retiro.
 Juris Frischembruder - Tio avô do Ziedonies.
Migrou para o Brasil em 1891.Foto da década de 1940.
Ziedonies nos contou que seu tio avô, Juris, escrevia para a família - sobrinhos, que poderiam vir sem medo para o Brasil. Descrevia um alimento oriundo da terra que "dava para comer e tinha semelhança com pó de serra e forma de vela", reportando ao aipim e mandioca. Também mencionava que o trigo se dava a vontade. O tio avô de Ziedonies veio passear, e por questões politicas não poderia deixar a Letônia. Quando puderam sair do país, vendeu tudo  e com sua família, em um primeiro momento, foram morar em São Paulo, para trabalhar nas plantações de café.
Também soubemos através de nossa conversa com a Família  Frischembruder que  Rodolfo Klava, foi dentista em Urubici e sua sogra era médica. Há um Blog, com fotos muito interessantes onde o pesquisador e descendentes de letos Arvido Purin faz um trabalho fantástico de resgates desta parte da História de Santa Catarina, localizada na cidade de Urubici.
Janelas feitas pelos letos - herança
 na  arquitetura de Urubici e região
.



João Frischembruder comentou que os letos além de agricultores eram excelentes carpinteiros e muitas das tipologias históricas presente na cidade são resultados de seu trabalho, como por exemplo a tipologia de janela com folhas em guilhotinas com determinados desenho a partir da disposição das vidraças.
Propriedade da Família Frischembruder.
Valdo e João Frischembruder.































João Frischenbruder, filho de Ziedonies é professor da língua leta, para quem quiser aprender e afirma ser muito difícil. Segundo ele, há palavras que se escrevem igual, mas conforme for sua colocação em uma frase - qual estiver inserida, muda sua pronúncia.
Muito bom saber que há um trabalho concreto, voluntário, pautado na consciência sobre a sua importância para a longevidade desta parte da histórianão somente da cidade de Urubici, Santa Catarina, mas da história de um povo, que mantem sua identidade mesmo longe de sua pátria.

Entrevista com João Frischembruder

Entrevista com o Valdo Frischembruder


Algumas imagens da Propriedade Frischembruder - No momento presente.
A primeira residência da Família  Frischembruder - Construída por Carlos Frichenbruder (Nomes diferentes em função de erros de registros oficiais no Brasil) na década de 40 do século 20. Carlos e  Ziedonies eram filhos de Krisch que trouxe a família para o Brasil - Foto 2015.

Valdo   Frischembruder - Foto 2015.
Atendeu-nos gentilmente - estava plantando na horta no
 momento que chegamos de improviso.


A residência foi toda feita com madeira beneficiada manualmente pelo irmão do
Ziedonies - Carlos Frichenbruders - década de 40. Aos fundos tipologia de janelas 
característica da arquitetura leta e que deixou herança cultural  na cidade de Urubici.
 Foto 2015.
Ziedonies  Frischembruder - Foto 2015.
Água doce corrente direto do morro  - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.




Detalhes de carpintaria feitos manualmente. Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.


Detalhe do ambiente contíguo à cozinha - principal espaço. Detalha na parede -
Chaminé é colocada inserida dentro de parede de alvenaria em "Zigue e Zague"  
para aquecer os ambientes - cozinha e quarto do casal. Vimos algo semelhantes
 nas lareiras  em residências da Alemanha. - Também a presença do varal
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Detalhe do ambiente contíguo à cozinha - principal espaço. Detalha na parede - 
Chaminé é colocada inserida dentro de parede de alvenaria em "Zigue e Zague"  
para aquecer os ambientes - cozinha e quarto do casal. Vimos algo semelhantes
 nas lareiras  em residências da Alemanha. - Também a presença do varal
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Mobiliário feito artesanalmente.
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.
Sem uso de pregos.


Porta original
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Acesso pelo jardim - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.
Tipologias de janelas características da carpintaria
 dos letos - Heranças em muitas edificações de Urubici.
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.






Residência de João Frischembruder -  Foto 2015.


Irmãos Frischembruder - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.


Óleo sobre tela ilustrando a edificação histórica em outros tempos.
Detalhes das paredes da dispensa - tijolos maciços
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.


Janela da Dispensa - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.


Detalhe da maçaneta da porta
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Ziedonies  Frischembruder e filhos Valdo e João - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.



Ferramenta antiga de família - Carpintaria
Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Valdo   Frischembruder - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Serrote feito pelos  Frischembruder - de maneira artesanal -  Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.

Corda de sisal feita na propriedade manualmente - Residência da Família  Frischembruder - Foto 2015.








Ferramente feita pelo avô - pai do Ziedonies  Frischembruder.

Curiosidade: 

Crescemos ouvindo nossa vó materna se referir a uma amiga de longa data - de Urubici, como sendo a "Dona Ocha". Descobrimos, conversando com o Ziedonies  Frischembruder, que a "Dona Ocha", na verdade, é  Aurora Feldsberg, descendente de uma das famílias letas de Urubici.

Família Andermann
História de Emílio Andermann – Sua Juventude
3ª Parte
Memórias

De Emílio Andermann
Traduzido do Letão
por Julio Andermann
Digitado por Laurisa Maria Corrêa
Anotações por Viganth Arvido Purim
Material gentilmente cedido por Alice Gulbis Anderman
Para ler mais e fonte - Clicar sobre: Memórias de Emílio Andermann

Em 1 De março de 1919
"A minha mãe começou levar no carro de boi produtos da nossa lavoura para vender aos trabalhadores das Minas de Carvão em Criciúma. Ela também comprava alimentos para nos abastecer. Muitas vezes eu a acompanhei nestas viagens.Naquela época eu acreditava piamente nos sonhos, anotava o seu conteúdo e depois estudava. Por um milagre, as minhas interpretações aconteceram. Quando eu via um sonho, este me servia de aviso e premunição assim os eventos me pegavam preparado.Eu mantinha uma forte relação de estima com os meus amigos. O Alberto Buks[ Books], entre eles, era o melhor. O João Klava também era um companheiro inseparável. Eles vinham me visitar e eu retribuía a gentileza. Quando reunidos tocávamos música; ou então discutíamos algum assunto importante. Um dos nossos assuntos preferidos era falar sobre a Letônia. Lamentávamos os seus sofrimentos e na hora da angústia, seríamos capazes até sacrificar as nossas vidas em benefício daquele povo. As nossas reuniões deixaram na minha mente recordações indeléveis." Emílio Andermann
Casamento de Emílio Anderman e Clara Salit em Rio Novo - No final, da Década de 1920.
Foto: Blog Colônia Leta do Rio Novo.

O primeiro hotel de Urubici foi fundado pela Família Andermann, também conhecido pelos mais antigos da cidade pelos doces que faziam e comercializavam no café e na padaria.
Conversamos com o neto de Emílio Andermann - Artus Andermann. Emílio foi o fundador do Hotel Andermann, da padaria e a venda localizada na esquina. A família chegou no Brasil no ano de 1918Emílio tinha 18 anos e seu pai não queria mais participar da guerra e trouxe a família para o Brasil. Artus comentou conosco, que seu pai, filho de Emílio está um pouco desgostoso, com a reação de muitos em relação à crença da família e também, por falta de conhecimento, os hostilizava, por acharem que eram russos  comunistas. Possuíam um rádio amador e se comunicavam com a Letônia, na época ainda sob domínio russo, o que levantava suspeitos das pessoas que ignoravam que muitos dos letos viam para o Brasil para fugir do autoritarismo e domínio russo.
Os Andermann, muito são bem relacionados com seu país de origem, recebiam revistas e isto era o suficiente para levantar suspeitas. Falavam fluentemente  o leto, o alemão e o russo.
Artus, nos comunicou que pretendem desmontar a edificação do antigo Hotel Andermann construído por Emílio, o que lamentamos, pois é parte da história dos letos de Urubici, parte da história de Urubici e de Santa Catarina.

Para ler mais sobre o Emílio Andermann - Clicar sobre Histórias de Emílio Andermann

Um pouco de imagens atuais - Hotel Andermann

As colunas do alpendre frontal desta edificação são de madeira maciça -  forma cilíndrica.
Local da antiga Padaria Andermann em 2015.

Em 2008.
Hotel Andermann - 2014.


Hotel Andermann - 2014.


Hotel Andermann - 2014.

Hotel Andermann - 2014.
Hotel Andermann - 2015.


Hotel Andermann - 2015.
Hotel Andermann - 2015.



Hotel Andermann - 2015.


Hotel Andermann - 2015.



Hotel Andermann - 2015






















Curucaca no quintal.
Hotel Andermann - 2008.
 Igreja Batista de Urubici

Também visitamos a Igreja Batista de Urubici e conversamos com o Pastor. A igreja é a mesma construída pelos primeiros letos que chegaram na cidade de Urubici na  primeira metade do Século XX e está localizada na Rua Adolfo Konder, N° 2023.
Reunião da Igreja Batista em 1950.

Lembrando que também existiam imigrantes e descendentes de letos Pentecostais, a Igreja Batista de Urubici foi fundada no dia 25 de agosto de 1934 sob a coordenação do Pastor Carlos Stroberg e do diácono Oswaldo Auras. Na época a comunidade contava com 40 membros e era a 19° Igreja Batista leta do Brasil. 
A edificação da  igreja que existe até os dias atuais, com algumas descaracterizações, foi  inaugurada no dia 25 de agosto de 1940
As atividades sociais e religiosas na igreja são intensas, desde grupos de orações e cantos. Os grupos de canto tem o acompanhamento de instrumentos musicais. O Pastor nos apresentou alguns instrumentos musicais históricos, guardados com zelo, que foram trazidos pelos pioneiros.
Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici .
Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici.


Pastor Benjamin e Zina Keidann
Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici.
Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici.


Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici.
Foto - Facebook - Igreja Batista de Urubici.

Imagens de Janeiro de 2015

Órgão construído pela família Bohn do Rio Grande do Sul. Lembramos de um
 dos cantores do Trio Montecarlo que foi membro desta família.


Piano.






















Conjunto da Igreja Batista Leta - 1930.

Instrumento histórico - Bandolim.

Instrumento histórico

























































"Marcas" dos letos na "Esquina" - Urubici SC





Esquina - 2015.
Esquina nas primeiras décadas do Século XX.








































































A partir da história, cultura, tradição, religião, língua, nós conhecemos um pouco mais, a partir da escala de comunidade. Aprendemos um pouco mais sobre parte da História de Santa Catarina. História que também recebeu contribuição dos letos. Nossa gratidão a todos que, direta e indiretamente, contribuíram para este trabalho. Em especial, às famílias letas de Urubici.
Abraços de Blumenau!

























Comentários

1 - Conversando com amigos de Blumenau e também, após leitura de diários traduzidos e publicados por Purim sobre os Letos de Urubici, cujos textos, alguns textos, narram as viagens dos letos e descendentes de letos com destino a Blumenau. É conhecido, na história local, que "Russos" exploraram as Minas de Prata na Nova Rússia. Nunca compreendíamos o que trouxe Russos para o Vale do Itajaí. Agora existe uma "ponta de linha" que pode ser "puxada" e o desenrolar, pode-se ter conclusões históricas muito importantes.
Nova Rússia.
Nova Rússia.
Nova Rússia.

História dos Letos em Ijuí


Referências

Fonte: Blog de Viganth Arvido Purim - A Colônia Leta do Rio Novo
BURATTO. Julieta Alice II Soares, Noeli Menezes. III Oliveira, Orquiso Rei de. Urubici e suas belezas naturais: uma história na serra catarinense. Lages SC, 2010. 460p.:il.

Leituras Complementares: Clicar sobre o link escolhido






9 comentários:

  1. Angelina
    Fantástica esta pesquisa sobre a bela Urubici. Cada cidade possui suas peculiaridades, sua cultura, tradições.
    Uma viagem na história e assim a cada dia aprendemos ainda mais.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.

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  2. Boa noite, queridos amigos.
    Fez-me feliz escrever sobre os letos e confesso que desconhecia por completo sobre sua importante história na formação de algumas comunidades naquela região catarinense....Grata pelas palavras...Abraço fraterno aos dois...Do Salto Weissbach para a Garcia...

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  3. Que lindo! Sou neta de Carlos Frichenbruders e amei ver essa história contada de maneira tão linda!!!! Parabéns!!!!

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    1. Bom dia Larice. Agradecemos...Lindo também, graças a tecnologia de ponta nas comunicações e que os pioneiros sequer imaginavam se possível, é receber os "ecos" de seus descendentes a partir dos 4 cantos do mundo, com raízes em Urubici. Pois, é uma linda história que continua e é preservada. Abraços.

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  4. Nossa que pesquisa incrível! Meu TCC foi sobre os Letos e meu mestrado vai seguir a mesma linha de pesquisa. Eu sou de Urubici e acho que os Letos tiveram uma importância significativa para a formação cultural da região sul.

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    1. Parabéns pelo rico tema. Ficamos felizes que é mais um registro desta história. Tens toda a razão quanto sua importância. Abraços de Blumenau, cara conterânea.

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  5. Parabéns pelo seu excelente trabalho de pesquisa. Estive em Urubici há cerca de oito anos,mas essa parte da história local passou despercebida.
    De Porto Alegre.

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    1. Boa noite Arlete...Amo "ler a história" de um povo, civilização, no espaço da cidade, como urbanista e arquiteta....Poder compartilhar estas "leituras" é mais prazeroso ainda.....Feliz que gostou. Abraços.

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  6. Artigo muito interessante, parabéns pela pesquisa! Uma pequena correção: Ventspils (Windau) é cidade portuária e não "bairro de Riga". Também já passei por Urubici e a guia não comentou nada disso!

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