sexta-feira, 24 de junho de 2016

Britânicos decidem deixar a União Europeia

Deutsche Welle


Em disputa acirrada, 51,8% dos eleitores votam pelo Brexit. Libra esterlina tem maior queda desde 1985. O resultado deve gerar abalos políticos internos no Reino Unido.
Em disputa acirrada, os britânicos decidiram nesta quinta-feira (23/06) pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), após mais de 46 milhões de eleitores terem ido às urnas no chamado referendo sobre o Brexit. Do total, 51,8% votaram pela saída do país do grupo e 48,2%, pela permanência – 17.410.742 pelo Brexit, 16.141.241 contra.
As urnas foram abertas às 7h (horário local), e os 382 locais de votação foram fechados às 22h (horário local). Estima-se que mais de 46 milhões de britânicos tenham dado seu voto nesta quinta-feira, dia que ficou marcado como a primeira vez em que um país membro decide deixar a União Europeia. Esta foi a maior participação percentual popular num plebiscito nacional desde 1992.
Ainda antes do resultado oficial, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Neil Farage, celebrou a vitória do Brexit. "Lutamos contra as multinacionais, contra os grande bancos, contra a grande política, contra a mentira, a corrupção. E hoje vencerá a honestidade, a decência e a crença na nação", disse.
"Que o 23 de junho entre para a nossa história como o nosso dia da independência. Vamos nos livrar da bandeira [da UE], do hino, de Bruxelas e de tudo que deu errado. Espero que essa vitória quebre este projeto fracassado e nos leve a uma Europa de países soberanos negociando entre si", concluiu Farage.
Farage aproveitou para pedir a renúncia do premiê David Cameron. "Acho que precisamos de um primeiro-ministro do lado do Brexit", opinou, sugerindo alguns nomes. "Essa competição poderia ser entre Michael Gove, Boris Johnson e Liam Fox."
David Cameron Brexit
Cameron ocupa o cargo de premiê britânico desde 2010
Cameron anuncia renúncia
Na manhã desta sexta-feira (24/06), o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, anunciou na manhã que seu Partido Trabalhista terá outro primeiro-ministro em outubro. O anúncio desencadeou uma corrida de lideranças dentro do partido.
"Eu não acho que seria certo eu ser o capitão que levará nosso país ao seu próximo destino", disse Cameron a repórteres em Downing Street. Ele disse que já informou a rainha Elizabeth 2ª sobre suas intenções.
A decisão foi tomada a despeito de uma carta de apoio a Cameron assinada por mais de 80 aliados do partido, publicada antes de o resultado do referendo ser conhecido. A carta dizia que o premiê tinha "o dever" de permanecer no cargo independentemente do resultado. Vários eurocéticos conservadores, contudo, não assinaram a carta.
Resultado deve gerar crises políticas internas no Reino Unido
A votação foi favorável pela permanência na UE na Irlanda do Norte e na Escócia, onde 100% dos distritos eleitorais votaram contra o Brexit. Por outro lado, País de Gales e o território inglês decidiu pela saída. Na Inglaterra, apenas no sudeste e em Londres predominaram os votos favoráveis pela permanência. Ou seja, áreas rurais e industriais decidiram pelo Brexit.
O resultado deve gerar abalos políticos internos no Reino Unido. O partido irlandês Sinn Fein se manifestou pedindo por uma votação pela reunificação irlandesa. O presidente da legenda, Gerry Adams, afirmou que se o Reino Unido deixar a UE o governo britânico "perdeu qualquer mandato" para representar os interesses das pessoas da Irlanda do Norte.
Além disso, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, afirmou que a Escócia "vê seu futuro na UE"."A Escócia, claramente e decisivamente, votou pela permanência na União Europeia com 62% contra 38%", disse Sturgeon, que, antes do referendo, já tinha mencionado que o resultado poderia antecipar a independência escocesa.
As primeiras consequências já foram sentidas nas bolsa de valores. Durante a contagem dos votos, a libra esterlina sofre maior queda queda desde 1985.
O referendo foi convocado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, com intuito de por fim ao debate de décadas sobre a posição do Reino Unido na UE. A campanha, que dividiu lideranças políticas locais e também a população, como se viu no resultado acirrado, focou-se em aspectos econômicos e migratórios e ficou marcada pelo assassinato da deputada Jo Cox, contrária ao Brexit.

Líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Neil Farage, celebra a vitória:
"Vamos nos livrar de Bruxelas".
Saída versus permanência
A campanha pela saída do país do bloco alegava que o Reino Unido perde soberania estando submetido às regras da UE. Os favoráveis também focaram nos problemas gerados pela imigração, alegando que o bloco poderia não conseguir controlar esse fluxo, o que traria muitos estrangeiros para o Reino Unido. O ex-prefeito de Londres Boris Johnson, um dos maiores defensores do Brexit, ressaltou aos eleitores antes da votação que essa seria a última chance de deixar a UE.
Cameron, por outro lado, foi a principal figura britânica a apoiar a campanha pela permanência do país no bloco, apontando o caos econômico que o Brexit poderá gerar com a perda do acesso ao livre-comércio com a UE. "Vá e vote pela permanência para um Reino Unido maior e melhor dentro da União Europeia reformada", disse o primeiro-ministro na véspera do referendo.
Líderes estrangeiros, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e até o presidente chinês, Xi Jinping, pediram aos britânicos que votassem pela permanência do Reino Unido na UE, uma posição apoiada também por organizações financeiras globais, diversas empresas e bancos centrais.
Reino Unido e União Europeia
A UE é uma união econômica e política formada por 28 países, com origens que remontam à criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1957, após assinatura do chamado Tratado de Roma por seis países. Após longo esforço, o Reino Unido ingressou na comunidade em 1973.
Dois anos mais tarde, em 1975, o país foi às urnas para decidir se deveria continuar fazendo parte do bloco. Assim como hoje, as questões econômicas estavam no centro dos debates. O resultado, porém, foi difernete: 67,2% dos eleitores disseram sim, e apenas 32,8% defenderam a saída da CEE.

Nenhum comentário:

Postar um comentário