Ontem à noite, a partir das 19:00h - O Dr. Prof. e Arquiteto Vilmar Vidor ministrou uma palestra para o 5° Semestre do Curso de Arquitetura Urbanismo da FAMEG - Guaramirim, antes de embarcar novamente para Paris, no próximo mês, onde é um dos pesquisadores da Universidade Paris 8, Saint Denis-Vincennes.
Turma 1.5 Arquitetura e Urbanismo FAMEG |
---> Currículo do Professor Vilmar Vidor - no final da postagem.
Um pouco sobre as Cidade Novas...
O palestrante falou sobre "Villes Nouvelles" - Cidades Novas - política de planejamento implantada na França a partir do final dos anos 60 do século passado e prossegue até os dias atuais. A proposta tinha como principal objetivo, evitar a concentração urbana nas grandes cidades, principalmente Paris e promover o desenvolvimento urbano de maneira descentralizada. Foi refeita uma nova legislação, a partir das políticas públicas, para adequar o Estado, a parte técnica à implantação destes projetos feitos a partir de uma equipe interdisciplinar. As políticas das "Villes Nouvelles", enquanto elaboração, foi sempre atualizada à realidade presente e está sob constante observação por órgãos competentes formados por profissionais das mais variadas áreas das ciências.
Cergy Pontoise
Marne-la-Vallée
Sénart
Saint-Quentin-en-Yvolines
Tudo começou quando, em 1965, o governo adotou o novo Plano Diretor e Planejamento para a região de Paris - SDAURP. O novo Plano destacou áreas para o desenvolvimento distante do centro da cidade, que tinha potencial em adquirir autonomia e assim, promover a descentralização econômica, social e administrativa. Procuraram áreas não muito distantes do centro da cidade. Todas as Cidades Novas estão localizadas, em média, de 15Km a 50Km de Paris.
Paralelo a isto, fazemos uma comparação com Plano desenvolvido pelo Arquiteto Hans Broos, para o Parque Fabril da Cia Hering, no Bom Retiro, quando foi requisitado para elaborar o projeto de expansão do parque fabril. Na época, percebeu o quanto este seria agressivo ao entorno imediato - para o Vale do Bom Retiro sob inúmeros aspectos. Em seu plano propôs células fabris em várias localidades, até mesmo fora do estado, argumentando, estas estarem localizadas próximo à mão de obra.
Fonte (Clicar sobre): Paris em 1965 |
Expansão Cia Hering - Obra Arquiteto Hans Broos |
A nova proposta de planejamento, a princípio contrastava com o plano anterior de Paris, o qual limitava o desenvolvimento da região da cidade, através de incentivo ao desenvolvimentismo de Cidades Novas localizadas fora da mesma. Este novo plano pariense foi concebido e implementado em distritos da grande Paris entre 1961 e 1969.
Originalmente a proposta determinava a criação de oito Cidades Novas em torno da capital da França, sem definição exata do local da implantação destas. Após algum tempo o número de Cidades Novas ficou reduzido ao número de cinco.
Fonte: Clicar sobre Villnouv |
Em escala de país, foram definidas, também a construção de Cidades Novas no entorno de Rouen, Lyon, Lille e Marselha. Em dezembro de 1970 foi criado o GCVN - Grupo Central das Cidades Novas. Como Coordenador do Programa ficou o Sr. Roger Goetze e seu Secretário Geral, foi o Sr. Jean-Eudes Roullier.
Ficou definido então, o projeto de nove Cidades Novas, destas, cinco na região de Paris.
A proposta não pretendia que estas Cidades Novas fossem cidades "dormitórios", mas autossuficientes e independente da infraestrutura da cidade de Paris. O local nas Cidades Novas deveriam estar munidos do equilíbrio entre a habitação, emprego e lazer. A proposta previa que estas cidades deveriam ter toda características de uma nova centralidade urbana a também atrair pessoas para residir no local.
Em nível local, o gerenciamento da construção e urbanização das Cidades Novas ficaram a cargo da gestão da instituição pública - EPA, como também a cargo desta, também ficavam a responsabilidade de fiscalização das diretrizes pré determinadas pelo Estado, para a execução e elaboração do projeto, através de concursos públicos.
Cada EPA tinha autonomia para aplicar o planejamento recém criado, nem que para isto, fosse preciso ações radicais impedindo novas construções e embargando projetos existentes. Tudo seguiu as diretrizes centrais do Projeto da Cidade Nova em questão.
As terras foram imediatamente adquiridas pela EPA a partir do Direito de Preferência, sem chance para a especulação imobiliária e a cidade pode ser idealizada a longo prazo, dentro da proposta central do Estado. Na escala local, criou-se uma estruturação a partir de cooperação intermunicipal a partir da Lei Boscher de 10 de julho de 1970, chamada de Sindicato de Desenvolvimento Comunitário - CEC. Estas especificações abrangiam os municípios vizinhos e que continham as Cidades Novas, com poderes limitados.
Em 1974, coincidentemente, a crise econômica atingiu o ramo imobiliário e acelerou a construção e implantação do Projeto das Cidades Novas. EPA adquiriu milhares de metros quadrados quadrados de escritórios, lojas, residencias, uma vez que os compradores eram raros. Os projetos das últimas cidades estavam lançados, como: Sénart ou Marne-la-Vallée. A partir deste contexto de descentralização resultou em um política de Estado, até então autoritária, em moderada. Em 13 de julho de 1983, com a Lei Rocard, permitiu-se que os municípios que desejassem sair do perímetro da Cidade Nova, saísse. Desta maneira as SCA são transformadas em novos sindicatos municipais - SAN e as novas estruturas intermunicipais são eleitas com uma autonomia fiscal.
Mais imagens das Cidades Novas - França
Ricardo Bofill |
Um nome de um arquiteto citado pelo Professor Vilmar Vidor foi o nome do arquiteto Ricardo Bofill, vencedor de inúmeros concursos para projetos inseridos nas Cidades Novas.
O arquiteto Ricardo Bofill é espanhol, nasceu em Barcelona no dia 5 de dezembro de 1939 e atualmente é um dos arquiteto mais fluentes do mundo, tanto na área de arquitetura, quanto de urbanismo. Filho de arquiteto construtor e há quem diga, descendente do mestre de obras da catedral de Girona - 1404.
Em 1957, foi expulso da Escola Superior de Arquitetura de Barcelona, por conta de suas atividades políticas. Na época, era membro do Partido Socialista Unificado da Catalunha. Expulso, se mudou para a Suíça, onde continuou seus estudos na Universidade de Genebra.
Em 1963, criou o Taller de Arquitetura que era um Estúdio, com uma equipe interdisciplinar, onde tinha sociólogos, engenheiros e arquitetos. Com esta equipe, Sr. Bofill acreditava que poderia desenvolver projetos de diferentes naturezas para qualquer lugar do mundo, adaptando-o à identidade do lugar, sua geografia e cultura. Em 1978, abriu seu escritório em Paris, no momento, no qual estava em processo a construção das Cidades Novas.
Sua arquitetura tem linhas contemporâneas, porém com a inserção de elementos clássicos, como colunas e arcos. Acreditava que este detalhe, permitia uma continuação histórica sem a quebra com elementos familiares aos leigos. Produziu grande obra literária, entre alguns títulos, pode-se citar; Espacio y vida, La ciudad de arquitecto e El dibujo de la cidad. Além de inúmeros prêmios, em 1985 foi eleito membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos.
Alguns exemplares de sua Obra
Em plena década de 60 e 70, a partir de uma política social das Cidades Novas, buscava-se evitar conflitos sociais, econômicos e espaciais nas cidades como Paris, Lion, Rouen, Lille e Marselha, entre outras, ocasionados pelo adensamento da cidade e a ocupação de maneira desordenada de seus espaços. O planejamento e organização acontecia através de projetos coesos, de qualidade e arrojadas, feitos a partir de equipes interdisciplinares com o objetivo de oferecer qualidade de vida para as pessoas, principalmente - para as famílias assalariadas e com pouca renda. O projeto da Cidade Nova, através de analises técnicas era inserido de maneira integrada à paisagem pré existente - natural e construída. Eram e são cidades autossuficientes a partir de projetos bem elaborados, com uso de tecnologia de ponta, subsidiado pelo governo que assumia e assume a coordenação e a construção destas.
Os projetos das Cidades Novas eram e são elaborados por profissionais das diversas áreas coordenados por arquitetos selecionados a partir de concursos públicos. Nomes premiados, com personalidade que trabalhavam com a "batuta" na mão, regendo e coordenando uma equipe técnica sob uma rígida organização, diretrizes e cronogramas sem priorizar ou fornecer vantagens a determinados grupos sociais, como acontece no Brasil.
Um dos principais objetivos - melhorar os espaços a partir de um plano ordenado, funcional e bonito, provido de arquitetura de qualidade.
Com tudo isto, não é necessário demolir edifícios pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico, com o argumento de construir o novo. A História de Paris presente na cidade, permanece preservada em sua paisagem original.
Os projetos das Cidades Novas eram e são elaborados por profissionais das diversas áreas coordenados por arquitetos selecionados a partir de concursos públicos. Nomes premiados, com personalidade que trabalhavam com a "batuta" na mão, regendo e coordenando uma equipe técnica sob uma rígida organização, diretrizes e cronogramas sem priorizar ou fornecer vantagens a determinados grupos sociais, como acontece no Brasil.
Um dos principais objetivos - melhorar os espaços a partir de um plano ordenado, funcional e bonito, provido de arquitetura de qualidade.
Com tudo isto, não é necessário demolir edifícios pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico, com o argumento de construir o novo. A História de Paris presente na cidade, permanece preservada em sua paisagem original.
Wunderbach!!
Políticas Habitacionais no Brasil - Projeto Minha Casa Minha Vida - Exemplo de projetos implantados na cidade de Blumenau - Um conjunto de Edifícios construído em áreas de preservação, imprópria para construção, às margens de um ribeirão que abastece a cidade. É comprovado cientificamente que nesta área, por motivos geológicos não pode haver desmatamento do sítio. O Estado abre precedentes para o mau uso do solo com tipologias de pouco valor estético e técnico que compromete uma paisagem natural e abre precedentes para outras ações semelhantes. Talvez, um processo irreversível tenha sido iniciado.
O que se pode fazer?
Biografia resumida do Dr. Prof. Arquiteto Vilmar Vidor
Entrevista sedida ao jornalista Altais Pimpão• 1948 - Nasceu em Porto Alegre-RS em 05 de Maio, filho de Delmar Ramos da Silva e Maria Irani Vidor da Silva.• 1968 a 1973 - Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.1974 a 1979 – Atuou na Prefeitura de Blumenau, como Diretor do Departamento de Estudos e Projetos da Assessoria de Planejamento.• 1978 - Lecionou no Curso de Engenharia Civil da FURB – Universidade Regional de Blumenau.1978 a 1979 – Especialização em Administração do Planejamento Urbano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.• 1979 – 1984 – Doutorado - Université Paris I – França - Analyse Regionale & Amenagement du Territoire. Tese: O processo de industrialização e de urbanização no nordeste de Santa Catarina. Ano de obtenção: 1984. Orientador: Michel Rochefort. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.• 1986 a 1987 – Chefe do Departamento de Construções da FURB – Universidade Regional de Blumenau.• 1989 a 1990 – Coordenador do Curso de Especialização em Planejamento Urbano na FURB – Universidade Regional de Blumenau.• 1990 a 1991 - Pós-Doutorado - Université Paris I - Pantheon Sorbonne, França, em Planejamento Urbano e Meio Ambiente, Arquitetura, Urbanismo e Meio Ambiente.• Coordenador do Núcleo de Pesquisas em Planejamento Urbano, vinculado ao IPS - Instituto de Pesquisas Sociais da FURB.• 1992 - Livro Adaptado Editado pela RBS: Patrimonio Historico e Arquitetonico de Blumenau - Edicao Videografica.• 1992 - Presidente da Comissão para implantação do Curso de Arquitetura na Furb, com a primeira turma ingressante no ano de 1992.• 1992 a 1997 - Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB – Universidade Regional de Blumenau, nas disciplinas História da Cidade, Economia Urbana, Teoria História da Arte, Arquitetura e Urbanismo e Planejamento Territorial Urbano.• 1993 a 1996 - Presidente do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Blumenau – IPPUB – autarquia ligada à Prefeitura Municipal de Blumenau. Coordenou o projeto Patrimônio Arquitetônico de Blumenau, com apoio do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que levou ao tombamento e preservação de várias edificações históricas de Blumenau. O projeto consistia no cadastramento, por estagiários da FURB, das edificações históricas.• 1995 - Escreveu o livro Industria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina a partir de sua Tese de Doutorado.1995 – Curso Teoria, Pesquisa,Tecnologia de Proteção do Patrimônio Cultural. Carga horária: 120h, Deutsches Zentrum für Handwerk und Denkmalplege.• 1995 – Curso de Recuperação de Estruturas Históricas de Madeira. Carga horária: 40h, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil.• 1996 – Curso Teoria e prática de Restauração em Estruturas Enxaimel. Carga horária: 80h, FURB - Universidade Regional de Blumenau.• 1998 – Aprovado em Concurso Público como Professor do Quadro do Magistério Superior da FURB – Universidade Regional de Blumenau.1998 a 2003 – Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali – Universidade do Vale do Itajaí, disciplinas Planejamento Estratégico para Regiões Turísticas e Planejamento Urbano.• 2005 – 2008 - Parte do quadro docente da Pós Graduação Urbanismo, História e Arquitetura das Cidades – ligado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.• 2003 – Secretário de Planejamento Urbano de Bombinhas.• 2008 – 2010 – Pós-Doutorado na Universidade Paris X – Nanterre – França em Demografia de Sociedades Contemporâneas.• 2009 a 2011 – Aposentado, voltou a lecionar no Curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB – Universidade Regional de Blumenau, nas disciplinas Planejamento Territorial Urbano e Projeto Urbanístico.• Atualmente, desenvolvia pesquisa sobre "Villes Nouvelles", Cidades Novas na Universidade Paris VIII, Saint Denis-Vincennes - França. Fase de redação: O Processo de Favelização da População Brasileira.• Fotógrafo de sensibilidade e técnica excepcional, tinha como tema preferencial arquitetura, paisagens, parques, árvores, e flores.
Sua vida, opiniões, projetos, ideário em um registro documental publicado em entrevistas sedidas ao jornalista blumenauense, Sr. Altair Carlos Pimpão, em dois momentos distintos.
Foi um prazer assistir esta palestra e "viajar" a partir das Cidades Novas de França, algo tão contemporâneo e que completa meio século. O que falta para acontecer a efetivação de projetos semelhantes no Brasil?
Nenhum comentário:
Postar um comentário