quinta-feira, 17 de julho de 2014

Angela Merkel chega aos 60 como mulher mais poderosa e maior líder da Europa

Deutsche Welle
Ela foi conquistando espaço e poder aos poucos, primeiro dentro do próprio país, depois na Europa. E devolveu à Alemanha um papel de liderança no cenário internacional.
Angela Merkel, a líder da Europa? Há alguns anos isso era algo difícil de se imaginar na Alemanha. No início de seu governo − que logo completará nove anos −, muitos se perguntaram se uma mulher oriunda da antiga Alemanha Oriental e sem o apoio de um dos grandes estados da federação teria condições de ser chanceler federal.
O cineasta alemão Roland Emmerich conta entre aqueles que desde cedo estavam convencidos das qualidades de Merkel. Em seu filme 2012, rodado entre 2008 e 2009, a humanidade tenta se salvar do fim do mundo em arcas de Noé modernas. Um dos navios, levando europeus, é liderado por Merkel. Da ponte de comando da embarcação, ela fala em nome dos outros Estados. Foi um trecho audacioso, pois, naquela época, não estava nem mesmo claro se Merkel seria reeleita nas eleições de 2009.
Mas Emmerich estava certo em sua previsão. Merkel, que completa 60 anos nesta quinta-feira (17/07), tornou-se líder política da Europa. E não só isso: em maio, foi escolhida pela revista americana Forbes como a "mulher mais poderosa do mundo", pela quarta vez consecutiva. O semanário americano Time também considerou a alemã uma das cem pessoas mais influentes do mundo, pela sexta vez.
Guia durante a crise
O sucesso internacional não teria sido possível se Merkel não fosse bem-sucedida dentro de seu próprio país. E isso fica claro, entre outras coisas, na alta popularidade que ele acumula há anos entre a população alemã. A chanceler federal é a inconteste líder no ranking de popularidade de políticos da revista Der Spiegel.
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Os jovens a consideram um exemplo, e não somente os simpatizantes de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). Quando questionados sobre o motivo, muitas vezes respondem que consideram Merkel uma pessoa autêntica, que não mudou significativamente com o poder. Ela é como ela é. Às vezes um pouco reservada ou fria, de poucas emoções e sempre focada, e não alguém que brilha diante das câmeras. Na aparência, irradia estabilidade há anos: roupas e penteado só mudaram ligeiramente.
Merkel apresentou-se aos alemães como uma guia confiável nos anos de crise, com a seguinte mensagem: a Alemanha deve sair da crise melhor do que entrou. O plano funcionou: as taxas de desemprego são baixas, o crescimento econômico é bom. Como resultado, Merkel já está em seu terceiro mandato de chanceler federal, e a CDU lidera o cenário político alemão de forma incontestável, e isso porque os democrata-cristãos souberam adequar o seu perfil ao perfil de sua líder.
No entanto, quando a pergunta é quem poderia sucedê-la, alguns estremecem, pois não há um sucessor óbvio. A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, é cotada como possível sucessora, mas é uma figura relativamente controversa dentro do partido. Muitos já não conseguem imaginar uma Alemanha sem Merkel no comando.
De problema a modelo
Essa cientista que virou política foi aumentando aos poucos seu poder. Só quando o pior da crise havia sido superado na Alemanha e ela havia consolidado sua posição, passou para o palco europeu. Ela modificou sua mensagem contra a crise, afirmando que não só a Alemanha, mas a Europa toda deveria sair da crise melhor do que entrou. Com isso, evidenciou seu desejo de liderança e mirou uma lacuna na União Europeia (UE), onde faltam políticos que queiram ou mesmo possam tomar as rédeas.
Brasileiros puderam ver a chanceler durante a Copa, torcendo para a Alemanha
Mas Merkel também também teve que superar revezes nesse caminho. No entanto, assim como aconteceu no próprio país, seus adversários foram desaparecendo com o tempo − por diversas razões. Com uma Alemanha economicamente em ascensão, a voz de Merkel ganhou peso na Europa. Embora, é necessário ressalvar, a voz do país valha muito de qualquer maneira por se tratar do maior contribuinte da UE.
Mas, no contexto da crise, a distância entre a maior potência econômica da Europa e as outras economias aumentou ainda mais. A Alemanha deixou de ser uma "criança problema" da Europa, como ainda era vista na virada do milênio, para se tornar o aluno modelo do continente.
E como aluno exemplar, o país pode falar mais alto que os outros e apontar rumos. Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, fizeram isso seguindo a máxima de que ajudas financeiras a países em crise só seriam possíveis mediante a garantia de reformas estruturais. Hillary Clinton declarou que Merkel soube conduzir a Europa através das crises financeira e do euro. É essa a imagem que o mundo tem dela.
Renúncia antes do fim?
A Alemanha avança a passos largos rumo a um orçamento sem novas dívidas. A crise do euro está se arrefecendo. E novos desafios apareceram.
Diante da crise da Ucrânia, do escândalo de espionagem da NSA e do recente escândalo de escutas de celulares de líderes mundiais, a Alemanha assumiu um papel mais proeminente no cenário internacional. Merkel e seu ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, atuaram como mediadores entre Moscou, Kiev, Berlim, Bruxelas e Washington, assumindo mais uma vez um papel de liderança.
Para Clinton, líder alemã conduziu Europa pela crise
A Alemanha é o único país que abriu um inquérito para apurar as denúncias do ex-colaborador do serviço secreto americano Edward Snowden. Recentemente, o governo alemão expulsou do país o principal representante da inteligência dos EUA na Alemanha. Nesse ponto, Merkel se equilibra no fio da navalha. Ela quer sensibilizar os poderosos americanos para que atentem aos interesses alemães, mas sem colocar em risco o bom relacionamento entre os dois países.
Ucrânia e NSA. Nesses dois pontos de conflito, a Alemanha reencontrou seu papel clássico de potência geograficamente posicionada no centro da Europa, tendo que mediar em ambos os flancos políticos.
Enquanto isso, circulam em Berlim rumores de que Merkel se prepara para renunciar antes do fim de seu mandato, em 2017. O cargo de secretária-geral da ONU é citado como opção. Ela mesma desmente. É claro que nenhum político fala abertamente sobre um plano como esse, mas seria algo imaginável. É a vez de os europeus ocuparem o cargo, e a ONU aguarda ansiosamente uma liderança que possa realizar as reformas necessárias.
Merkel, bem ao estilo dela, silencia sobre as especulações e planos políticos e pessoais para sua sétima década de vida.
  • Data 17.07.2014
  • Autoria Kay-Alexander Scholz (md)
  • Edição Luisa Frey

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