terça-feira, 8 de julho de 2014

Duelo na semifinal ameaça "namoro" entre torcida brasileira e seleção alemã

Deutsche Welle
Arriscando palavras em português, usando as cores do Flamengo e torcendo pela Seleção, jogadores alemães conquistaram fãs no Brasil. Duelo em Belo Horizonte será a prova de fogo dessa paixão.

Schweinsteiger assinou com o Flamengo? Não, o uniforme reserva da Alemanha é inspirado nas cores do clube carioca
"Vocês nem imaginam o quanto de Brasil existe dentro de nós", diz o vídeo lançado pela Federação Alemã de Futebol (DFB) ainda antes da Copa do Mundo. Durante o torneio, a afirmação provou ser verdadeira, e passou a ser comum ver jogadores alemães arriscando palavras em português e confraternizando com os brasileiros.
De fato, muitos brasileiros não imaginavam que seriam conquistados pela simpatia da seleção alemã. Mas, com a semifinal entre os dois países, nesta terça-feira (08/07) em Belo Horizonte, resta saber se a lua de mel vai continuar mesmo após o duro confronto – e principalmente se a Alemanha eliminar o Brasil.
Para alguns torcedores, a atração pela seleção alemã é duradoura e parece não depender do resultado. "Se o Brasil perder, vou continuar torcendo pela Alemanha. Não vou ficar tão triste, é melhor do que perder para a Holanda ou para a Argentina", diz a dentista Camila Fares, de 26 anos, que começou a seguir o perfil da seleção alemã no Facebook após o primeiro vídeo em português, ainda anterior à Copa.
Para muitos brasileiros, esse foi o pontapé inicial do interesse pelos jogadores da Alemanha. O vídeo, em que Lahm e Neuer falavam português e desejavam "muita alegria", tornou-se viral e causou uma primeira impressão positiva.

Philipp Lahm e Mertesacker arriscam uns passos durante a visita de um grupo de  índios pataxós
 à concentração alemã.
Em poucas semanas de Mundial, a seleção alemã dançou com índios pataxó, cantou o hino do Esporte Clube Bahia e ensaiou os passos dos sucessos nacionais Lepo-Lepo Eu Quero Tchu, Eu Quero Tchá.
Para completar, Schweinsteiger e Podolski apareceram num vídeo torcendo efusivamente para o Brasil durante a cobrança de pênaltis contra o Chile, enrolados numa bandeira verde e amarela e abraçados a brasileiros.
"De todas as seleções, a alemã é a que me parece mais interessada em aprender a língua e a cultura brasileira. Dá para ver que eles estão curtindo estar aqui. Não tem como não simpatizar", explica Camila.
Para Renato Costa, coordenador de redes sociais do diário esportivo Lance!, o posicionamento da DFB na Copa é um case de sucesso. "Acompanho o perfil de todos os times, e a Alemanha realmente se destacou. Dá para ver que eles estudaram bem o país e se esforçaram. Fizeram um ótimo trabalho de marketing e gestão de imagem nas redes sociais."
Camisa rubro-negra
O plano de comunicação para conquistar os brasileiros começou meses antes do Mundial. Em fevereiro, a seleção alemã lançou um uniforme reserva, abertamente inspirado no Flamengo, time com uma das maiores torcidas do país. "Para trazer boa sorte para a Copa do Mundo de 2014", afirmou a DFB.
A jogada de marketing, pensada pela federação alemã, o clube carioca e a Adidas – fornecedora de material esportivo para as duas entidades – foi um sucesso. A camisa virou febre e esgotou rapidamente no Rio de Janeiro.
"As vendas desde o lançamento superaram as expectativas. Não somente no Brasil, mas também na Alemanha", diz a assessoria de imprensa da Adidas. Em entrevista no final de junho, o gerente da seleção e ex-jogador, Oliver Bierhoff, mencionou que dois milhões de unidades haviam sido vendidas em todo o mundo, incluindo o uniforme branco. O número seria 30% maior que o registrado em 2006, quando a Alemanha sediou a Copa. A Adidas, entretanto, não confirma os dados.
Flalemanha
A camisa reserva causou tamanha comoção entre os flamenguistas, que declarações de amor pela seleção da Alemanha começaram a aparecer nas redes sociais. Páginas com o termo "Flalemanha" reuniram milhares de fãs.
O administrador Tiago Rios, de 32 anos, é um deles. "Fui ao jogo da Alemanha contra a França e torci muito! Se o Brasil perder, vou continuar torcendo para os alemães, será o meu time na final!", conta. Ele tentou comprar uma camisa, mas disse que a tarefa é quase impossível. "Está tudo esgotado", reclama.
Para ele, uma eventual derrota brasileira para a Alemanha não seria vergonhosa. "O time alemão é mais forte que o nosso", diz.
Na semifinal, a Alemanha vai usar o uniforme reserva, para desespero dos rubro-negros. "Meu coração está meio dividido. Pelo menos uma derrota brasileira não seria tão ruim, porque já teria outro time para adotar no campeonato", comenta Renato. Nas redes sociais, é comum encontrar flamenguistas mais fervorosos torcendo até mesmo contra o Brasil.
Funk da seleção alemã
Após cantarem sucessos nacionais e até mesmo produzirem um vídeo ao som da música Luz de Tieta, a seleção da Alemanha ganhou a sua própria trilha sonora. A letra, em alemão e em português, tem como versos principais: "O bagulho é doidão! É a nossa seleção, com camisa do Mengão. Totalmente boladão, o time alemão".
O funk Deutscher Fussball ist geil – algo como "futebol alemão é um tesão" – foi criado por um conterrâneo da seleção germânica, radicado no Rio de Janeiro. Bernhard Hendrik Hermann Weber Ramos de Lacerda, mais conhecido como MC Gringo, mora há 11 anos no Brasil, é casado com uma brasileira e tem dois filhos. Funkeiro e corretor imobiliário, Bernhard é apaixonado por música brasileira e já gravou com grandes nomes do funk, como Mr. Catra.
"Quis fazer uma música que misturasse samba, house e funk, e fosse uma ponte entre Brasil e Alemanha, como é o meu estilo", explica MC Gringo. Para ele, a atitude da seleção alemã tem contribuído para desconstruir estereótipos. "Essa imagem fria do alemão era muito forte. Mas isso está mudando aos poucos, o que me deixa muito orgulhoso e feliz", comenta.
Ele acredita que, independente do resultado da semifinal, a seleção alemã aproveitou a oportunidade de se aproximar dos brasileiros. "Eles conseguiram pegar o espírito do Brasil e criar essa conexão. Por isso, já deu certo."
  • Data 08.07.2014
  • Autoria Marina Estarque, de São Paulo
  • Edição Luisa Frey

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