Vista do centro da cidade - Beira Rio - 1983
Foto - Agência RBS Jornalismo
|
No momento que escrevíamos esta postagem estávamos no final do mês de julho de 2014. Ao olharmos nossos álbuns de fotografias, deparamo-nos com as fotos da grande enchente de 1983. Faziam exatos dois anos que nós estávamos residindo em Blumenau e foi uma experiência, cuja lembrança levaremos para sempre conosco. Acreditamos que assim será com todos que presenciaram este fenômeno natural na cidade de Blumenau e região.
Neste ano de 1983 - Antes da grande enchente, ouve outras pequenas enchentes que foram desconsideradas pelo tamanho da enchente de julho - Esta foi registrada no mês de março |
A cidade de Blumenau foi construída em um Vale, às margens do grande Rio Itajaí Açu e seus afluentes. A elevação do nível das águas sempre foi uma constante na História da cidade. A última grande enchente, de grandes proporções, tinha acontecido em 1911. Poucos dos adultos tinham lembrança desta e jovens e crianças não conheciam uma enchente, como no nosso caso e de nossos amigos.
Atualmente, as inundações estão um pouco mais agressivas, por conta da ocupações irregulares das encostas, cujos topos de morros muitas vezes são desmatados. As águas das chuvas, ao contrário de chegarem ao lençol freático, através da sua absorção feita pela mata que funcionaria como uma "esponja" deslocam-se direto para o vale, que também, muitas vezes, não é mais permeável pela presença da pavimentação asfáltica em muitas vias. Também deve ser considerado a presença de aterros irregulares nas várzeas dos principais rios, local onde as águas dos rios ocupavam, quando aumentava seu volume de água.
Exemplos de ocupações irregulares e sem planejamento - ocupação de áreas ingrimes Também acontece em outras áreas no território da cidade . Foto a partir do Google Earth - Google |
Colocamos nossos pertences nos corredores dos apartamentos superiores e nosso armário - único móvel - nas garagens que eram elevadas. Estavam no mesmo nível do segundo piso do edifício localizado ao lado da antiga e histórica residência do personagem histórico regional - Victor Konder.
Rua São Paulo - Proximidade de nossa residência - Praça Fritz Müller
Foto - Agência RBS Jornalismo
|
Nosso percurso à pé, dentro da água - para tentar chegar ao Bairro Vila Nova. Chegamos até a FURB. |
Lembramos que desde março deste ano de 1983, já haviam ocorrido pequenas inundações na cidade.
Ponte Ferroviária Aldo Pereira de Andrade |
Prainha - Vapor Blumenau I |
Da Prainha |
Ponte Santa Catarina sobre o Rio Itajaí Açu |
Beira Rio |
Rua XV de Novembro |
Rua 7 de Setembro |
Continuando...
Seguimos através das partes alagadas, com guarda chuva aberto e não nos demos conta do perigo que corríamos. Por um segundo, tudo isto nos passou na cabeça e ficamos efetivamente em estado de choque. Extravasamos através do choro copioso e ininterrupto, o qual não queria findar. O único som que ouvíamos neste momento - era o som de nosso choro com o fundo do barulho da chuva. Sentíamos-nos muito só, pois não víamos ninguém nas redondezas, somente água e chuva. Chegamos nas proximidades da FURB, em choque, e ali havia movimentação de pessoas. Não conseguíamos parar as lágrimas. Chegou um senhor que perguntou sobre o ocorrido e disse que poderia ajudar. Foi bom encontrar este apoio e ouvir esta afirmativa. Jamais sentimos tanta solidão, como naqueles momentos - tínhamos 20 anos de idade. Aquele voz trazia-nos alento e segurança. Falamo-lhe sobre nossa intensão de chegar ao bairro de Vila Nova e não tínhamos a menor ideia de como faríamos isto. Era um dos inúmero voluntários dos meios de comunicação, juntamente com funcionários da Prefeitura. Este senhor trabalhava em uma estação ambulante de uma Rádio que transmitia ao vivo e "construía pontes" para ajudar os desabrigados. Acalmou-nos e disse que conhecia um caminho até o endereço que desejávamos ir. Pediu que embarcássemos no carro da rádio e subiu o "Morro da Cremer", atravessando-o. Deixou-nos em segurança na residência dos Wittmann, na qual, acreditávamos estar seguros, pois não se tinha notícias de que, alguma vez na história, sua residência fora invadida pelas águas - uma casa - na época, que tinha a idade de 50 anos.
Seguimos através das partes alagadas, com guarda chuva aberto e não nos demos conta do perigo que corríamos. Por um segundo, tudo isto nos passou na cabeça e ficamos efetivamente em estado de choque. Extravasamos através do choro copioso e ininterrupto, o qual não queria findar. O único som que ouvíamos neste momento - era o som de nosso choro com o fundo do barulho da chuva. Sentíamos-nos muito só, pois não víamos ninguém nas redondezas, somente água e chuva. Chegamos nas proximidades da FURB, em choque, e ali havia movimentação de pessoas. Não conseguíamos parar as lágrimas. Chegou um senhor que perguntou sobre o ocorrido e disse que poderia ajudar. Foi bom encontrar este apoio e ouvir esta afirmativa. Jamais sentimos tanta solidão, como naqueles momentos - tínhamos 20 anos de idade. Aquele voz trazia-nos alento e segurança. Falamo-lhe sobre nossa intensão de chegar ao bairro de Vila Nova e não tínhamos a menor ideia de como faríamos isto. Era um dos inúmero voluntários dos meios de comunicação, juntamente com funcionários da Prefeitura. Este senhor trabalhava em uma estação ambulante de uma Rádio que transmitia ao vivo e "construía pontes" para ajudar os desabrigados. Acalmou-nos e disse que conhecia um caminho até o endereço que desejávamos ir. Pediu que embarcássemos no carro da rádio e subiu o "Morro da Cremer", atravessando-o. Deixou-nos em segurança na residência dos Wittmann, na qual, acreditávamos estar seguros, pois não se tinha notícias de que, alguma vez na história, sua residência fora invadida pelas águas - uma casa - na época, que tinha a idade de 50 anos.
Centenária Ponte Lauro Müller - Ponte do Salto - Bairro do Salto. |
Nossa máquina fotográfica da época |
Filme fotográfico usado antes da máquina digital |
Rua Frei Gabriel Zimmermann - Vila Nova - Jardim da residência dos Wittmann |
Rua Frei Gabriel Zimmermann - Vila Nova - quintal da residência dos Wittmann |
Estamos sobre o banco - no rancho |
Em nosso alojamento, fazíamos nosso pão no local e bebíamos água da chuva que captávamos e guardávamos. Nossos familiares de Florianópolis não tinham notícias nossas e as que tinham, não eram muito boas - transmitidas nos telejornais nacionais (Abaixo - vídeo de um deles) imagens feitas a partir de helicópteros que sobrevoavam a região. Via-os de nosso seguro abrigo, sem poder entrar em contato com pessoas e outras cidades. Estávamos ilhados - até o momento que encontramos um único telefone publico que funcionava junto à Firma da Cremer. Subindo o morro, caminho por onde fomos levados. A fila para usar o telefone público era grande e o enredo das pessoas durantes suas falas era o mesmo - "Todos estavam bem e tranquilo esperando as águas abaixarem". No momento que conseguimos comunicação com nossos familiares, foi inevitável as lágrimas de ambos os lados. Neste momento, já concluíamos que nossas amigas de apartamento, já deveriam ter subido um pavimento a mais. Mais tarde soubemos que precisaram sair do local - por questão de segurança, através de uma embarcação fluvial.
Pularam para seu interior a partir do terceiro pavimento. Nosso único bem, neste momento, tinha sido levado pelas águas - o armário.
Pularam para seu interior a partir do terceiro pavimento. Nosso único bem, neste momento, tinha sido levado pelas águas - o armário.
Elevando nossos pertences para não serem apanhado pelas águas da enchente |
As águas subiam e abaixavam ciclicamente e não abaixavam de maneira definitiva. Muitas vezes, o nível subia com dias de sol intenso. Ouvíamos muitas histórias, algumas muito tristes. Nós aproveitávamos para ouvir casos e a história de família contada por nossos sogros, nas noites iluminadas por velas. O pai de nosso sogro veio para o Brasil a partir do Estado alemão Baden Würtemberg. Tentou se habituar ao novo país. Sentia muitas saudades da Alemanha. Retornou para lá mas, em função do inverno rigoroso e a saúde dos filhos, retornou novamente para o Brasil para não mais voltar para a Alemanha. A partir disto, ouvimos algumas histórias durante as longas noites e dias de enchentes.
Em dois momentos...
Em dois momentos...
Rua Frei Gabriel Zimmermann - Vila Nova - Frente da residência dos Wittmann |
Rua Frei Gabriel Zimmermann - Vila Nova |
A "enchente grande" de 1983, teve início no dia 5 de julho e se estendeu até os primeiros dias de agosto, ou seja, estamos exatamente no seu aniversário de 31 anos - Início do inverno. Muitos dos voluntários bebiam bebidas destiladas para não adoecerem. Como já escrevemos, teve pequenas enchentes nos meses anteriores de 1983, como ilustram as fotos no início desta postagem.
No início de agosto, quando as águas abaixaram, nossos familiares, através de caminhos alternativos, nos buscaram. Momentos de emoção. Retornamos para Florianópolis. Voltamos a residir em Blumenau, somente após nosso casamento, que aconteceu em julho de 1984.
Muitas foram as ajudas humanitária. Até os dias atuais guardo uma linda colcha que recebi no centro de distribuição de agasalhos e donativos. Não só o Brasil ajudou, mas também veio ajuda de outros países, como da Alemanha.
O "senhor de bigodes", que nos ajudou no translado dos pertences, o encontramos no ano de 2013, e o reconhecemos pelos bigodes. Ele lembrou dos momentos e finalmente, pudemos agradecer a solidariedade prestada por ele e também por outros, naqueles dias.
Durante o 30° aniversário de enchente o Clic RBS, fez um tipo de diário da grande enchente, para acompanhar a enchente na cidade dia à dia. Para isto, basta clicar sobre o título para acompanhar. Acompanhe diariamente, um pouco do que foi esta enchente na matéria jornalística.
A enchente que atingiu o Vale do Itajaí em 1983 durou 32 dias. Trinta anos depois, o jornal Santa Catarina relembrou a cheia com o Diário da Enchente. Este material estava om line. Infelizmente não mais está disponível. Felizmente guardamos algumas imagens, listadas a seguir.
Algumas imagens publicadas neste trabalho da RBS. Para conhecer melhor detalhes clicar nos títulos acima .
Foto - Agência RBS Jornalismo:
Cada um que viveu estes momentos na cidade e região, tem um pouco de história para contar. O tema já rendeu algumas publicações e tiveram suas primeiras edições esgotadas.
A primeira edição do Oktoberfest...
surgiu um pouco mais de um ano após, em 1984.
Nenhum comentário:
Postar um comentário