Simon Gramlich. |
Gramlich foi um Engenheiro-arquiteto nascido na cidade de Herbolzheim - estado de Baden Würtemberg - Alemanha, no dia 7 de agosto de 1887. Pouco, muito pouco registro sobre sua vida privada e profissional a não ser sua vasta obra executada em muitas cidades do Sul do Brasil, composta de projetos com características ecléticas da virada do século XIX para o século XX, Art Decó, neogótico, neoclássico e moderno - que variam de residências de todos os tamanhos, fábricas, escolas, espaços comerciais e muitas igrejas. Em Blumenau, como por exemplo, o prédio da antiga fábrica consumida pelo fogo, no dia 28 de dezembro de 2019 - Fábrica de Chapéus Nelsa, onde o arquiteto executou a fachada no estilo art decó a partir do decorativismo entre outros muitos, ainda presentes na paisagem. Gramlich possui muitos projetos executados em toda a região do Vale do Itajaí. (link sobre no final desta postagem)
Foi durante esta pesquisa que concluímos que o arquiteto só projetou a fachada nova da fabrica. Para confirmar, fomos até o local do incêndio, ainda no dia 28 de dezembro e verificamos que partes do antigo edifício (construído no início da década de 1930) não foi demolido para o construir um "novo" projetado por Gramlich, como se pressuponha. O que vimos, foi uma reforma que recebeu adornos e elementos decorativos na fachada para aparentar "o novo" e atual estilo para época - art decó.
Foi durante esta pesquisa que concluímos que o arquiteto só projetou a fachada nova da fabrica. Para confirmar, fomos até o local do incêndio, ainda no dia 28 de dezembro e verificamos que partes do antigo edifício (construído no início da década de 1930) não foi demolido para o construir um "novo" projetado por Gramlich, como se pressuponha. O que vimos, foi uma reforma que recebeu adornos e elementos decorativos na fachada para aparentar "o novo" e atual estilo para época - art decó.
Incêndio - Madrugada de 28 de dezembro de 2019 - início a 00:15 horas. |
A fábrica de chapéus foi fundada em 1925 por August Theodor Rudolph Clasen e Hermann Weege sob a denominação de Clasen e Weege. A primeira sede da fábrica de chapéus foi instalada em Altona, próximo ao casarão da Salinger e das oficinas da EFSC. Na época contrataram o profissional chapeleiro polonês, profissão praticamente extinta, Rudolf Leder, que trabalhava em Limeira - São Paulo.
Fonte: Gabriela Poltronieri Lenzi |
Cecília Weege. |
Friedrich Karl Kurt Lischke, como genro de Hermann Weege, assumiu a sociedade da fábrica de chapéus com chapeleiro Rudolf Leder.
De acordo com o livro Colônia Blumenau no Sul do Brasil - Tomo I, página 144, Friedrich Karl Kurt Lischke nasceu em Berlin - Alemanha, em 1898 e emigrou para o Brasil em dezembro de 1923, quando foi contratado pela Firma Carl Hoepcke de Florianópolis. Era engenheiro mecânico e casou-se com Cecília Weege de Pomerode em 1929, quando a fábrica de chapéus tinha 4 anos de funcionamento. Quando ingressou para a sociedade já era casado por três anos.
Nós conhecemos esta pesquisadora - no colégio - Satisfação pesquisar em seu trabalho. |
A Frau Leder, esposa do sócio August Theodor Rudolph Clasen e que tinha o nome de Elsa, auxiliava na costura dos acabamentos dos chapéus ao lado de funcionárias contratadas - que não passavam de cinco. Os acabamentos dos chapéus se resumiam em: aplicação de forro de seda no seu interior, junto com um acabamento de couro e um laço e uma fita de seda no lado externo.
Neste mesmo ano de 1931, a fábrica de chapéus se mudou para um prédio novo construído com a presença da mansarda e tipologia característica do imigrante alemão no mesmo local, onde é tido como o local da fábrica de chapéus, nos dias atuais - na Rua São Paulo - no Bairro Victor Konder. Um artigo publicado em um jornal do Rio de Janeiro em 1942, menciona a fabrica e a mostra em uma fotografia inserida neste. Concluímos então, que até esta data - 1942 - da publicação não houve a revitalização da fachada como conhecemos atualmente efetuada pelo arquiteto Simon Gramlich. Também, neste tempo, a fábrica já era conhecida como Fábrica de Chapéus Nelsa. Nesta data, o genro de Hermann Weege foi preso em Florianópolis, pelas forças do Nacionalismo de Vargas e Ramos.
Foto 1 da matéria do Jornal do Rio de Janeiro "A Manhã"- 1942 - a fábrica de chapéus já era conhecida como Fábrica de Chapéus Nelsa - desde janeiro de 1940. Foto: Repórter |
Nesta fotografia da matéria do jornal do Rio de Janeiro (acima e abaixo), pode-se observar que a parte dos fundos da fábrica não foi modificada, após a intervenção coordenada por Simon Gramlich. Fomos até o local para observar o que restou do edifício após o incêndio de dezembro de 2019, para algumas conclusões no final desta postagem.
Matéria do Jornal do Rio de Janeiro"A Manhã" - 1942 - que acompanhou as duas fotos anteriores. |
O almanaque Almanak Laemmert publicado no Rio de Janeiro que apresentava empresas: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - entre as datas de 1891 a 1940, confirma a nova sociedade da fábrica nesta data, onde apresenta a fábrica de chapéus como a firma Leder e Lischke. Um detalhe que deve ser levado em consideração é que o Lischke do nome da firma, pode significar Cecília Weege Lischke e não Friedrich Karl Kurt Lischke, como muito deixam entender. Cecília assumiu a presidência da fábrica em 1942 (quando o marido Friedrich Karl Kurt Lischke foi preso em um campo de concentração em Florianópolis) e esta permaneceu presidente até a Fábrica de Chapéus Nelsa fechar, na década de 1960.
Observando a matéria publicada acima, o jornalista afirma que Friedrich Karl Kurt Lischke, junto com outros membros da diretoria da fábrica, recebeu o repórter em 1942. Então Cecília só pode ter assumido a presidência da fábrica, nos últimos meses de 1942.
Em janeiro de 1940 a fábrica foi transformada em sociedade anônima, e então passou a se chamar de Fábrica de Chapéus Nelsa S.A, como ficou conhecida até os dias atuais.
A configuração atual do edifício da fábrica, através da intervenção do projeto de adequação e de fachadismo de Gramlich, refletia os "novos tempos" da fábrica, que além de chapéus, passou também, a produzir boinas e ombreiras de lã.
Friedrich Karl Kurt Lischke foi preso e sua esposa Cecília assumiu a presidência da Fábrica de Chapéus Nelsa. |
A "nova arquitetura" a partir do uso do "Fachadismo" se resume em três volumes aparentes integrados com o tradicional telhado feito com estrutura de madeira com dois panos e telhas de barro rabo de castor ou germânica, caracterizado com a inclinação presentes nos telhados das casas alemãs construídas na Alemanha e também, na região, com o acréscimo do elemento frontal, um tipo de "platibanda" coma forma arredondada que encobriu as empenas destas construções. Estes elementos, platibandas com a forma de meio circulo, munidas com o acréscimo do decorativismo da linguagem do art decó, formaram a fachada do edifício conhecida atualmente.
Percebemos estas questões, após uma visita in loco no mesmo dia do incêndio que destruiu a edificação histórica.
As imagens comunicam...
Quando a Fábrica de Chapéus Nelsa - fechou suas portas?
De acordo com a pesquisa desenvolvida pela arquiteta Silvana Maria Moretti no Programa de pós Graduação em Geografia da UFSC, em 2006, a Fábrica de Chapéus Nelsa encerrou suas atividades em 1965.
Outro detalhe curioso que a história oficial não conta é que, de acordo com a pesquisa de Moretti, Cecília (Weege) Lischke, esposa de Friedrich Karl Kurt Lischke, herdeira da Fábrica de Chapéus Nelsa, assumiu a presidência da fábrica entre os anos de 1942 até 1965 (quando encerrou suas atividades) e também, da Malharia Majú, que fundou em 1953.
Analisando os dados históricos coletados e organizados de maneira cronológica, concluímos que Cecília Weege Lischke assumiu a presidência da fábrica, porque seu marido foi preso em um campo de concentração em Florianópolis - durante o período do Nacionalismo na região. Não sabemos detalhes deste período, como por exemplo, o tempo que Friedrich Karl Kurt Lischke permaneceu preso e porque Cecília Weege Lischke ficou no cargo até a fábrica fechar.
A sociedade, muitas vezes, esconde informações nas "dobraduras" da história.
Para acessar a fotografia de Cecília Weege Lischke em frente à Maju, em uma publicação "Memória Digital" - Clicar sobre: Memória Digital: Maju
Lembramos também, que Cecília Weege Lischke foi tia de Ellen J. Weege Volmer, que residia no terreno onde está localizado atualmente, o Supermercado Giasse, e dona do acervo doado para o museu de Blumenau "Uso e Costumes". Link no final da postagem.
De acordo com a pesquisa desenvolvida pela arquiteta Silvana Maria Moretti no Programa de pós Graduação em Geografia da UFSC, em 2006, a Fábrica de Chapéus Nelsa encerrou suas atividades em 1965.
Analisando os dados históricos coletados e organizados de maneira cronológica, concluímos que Cecília Weege Lischke assumiu a presidência da fábrica, porque seu marido foi preso em um campo de concentração em Florianópolis - durante o período do Nacionalismo na região. Não sabemos detalhes deste período, como por exemplo, o tempo que Friedrich Karl Kurt Lischke permaneceu preso e porque Cecília Weege Lischke ficou no cargo até a fábrica fechar.
Wandér Weege e sua prima (de uma geração anterior) Ellen J. Weege Vollmer, sobrinha de Cecília, no dia da inauguração do Museu Hábitos e Costumes, em Blumenau. |
Para acessar a fotografia de Cecília Weege Lischke em frente à Maju, em uma publicação "Memória Digital" - Clicar sobre: Memória Digital: Maju
Lembramos também, que Cecília Weege Lischke foi tia de Ellen J. Weege Volmer, que residia no terreno onde está localizado atualmente, o Supermercado Giasse, e dona do acervo doado para o museu de Blumenau "Uso e Costumes". Link no final da postagem.
Contribuição importante enviada pelo genealogista catarinense e membro da família de Emil Odebrecht - Marcos Schroeder. Gratidão pelo envio. |
Árvore genealógica, fixada na parede do Museu Weege - antiga residencia Weege - Pomerode SC. |
Contribuição acervo de Marcos A. Roeck - via redes sociais - Nossa gratidão. Tudo para ser Chapéus Nelsa |
Contribuição acervo de Marcos A. Roeck - via redes sociais - Nossa gratidão. A outra empresa fundada por Cecília Weege Lischke estava no entorno da fábrica de chapéu. Também sua residência poderia ser no mesmo local onde residia sua filha Ellen - casa demolida para construir o supermercado em uma importante esquina de Blumenau. |
Chapéus Nelsa no Museu Weege em memória a Hermann Weege (link abaixo) - Pomerode SC.
Não confere o texto publicado no Blog da NSC no dia 28 de dezembro de 2019.
"(...) O imóvel foi erguido entre o fim da década de 1930 e o início da década de 1940. (...) o autor do projeto foi o alemão Simon Gramlich, arquiteto que também desenhou as igrejas de Gaspar, Itajaí, Rio do Sul, e foi o responsável por mais de 400 edificações antes da primeira metade do século 20. (...)"
Simon Gramlich interferiu na fachada da fábrica, cujo edifício já existia no local de acordo com a publicação do jornal do Rio de Janeiro, somente a partir de década de 1950, sendo que deixou boa parte da antiga construção da década de 1930, alterando somente a fachada frontal com o acréscimo de elementos do art decó.
Histórias da Colônia Blumenau!
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Primeira reunião do COPE - Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado
30 de março de 2022
Em 30 de março de 2022 assumimos uma cadeira de Conselheira como representante da CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, no COPE - Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado, onde estava em uma das pautas - a "fachada" da Fábrica dos Chapéus Nelsa, parte do Projeto do arquiteto alemão Simon Gramlich. Aparentemente, desde o incêndio, parte deste patrimônio está em pauta no COPE. Existiu projeto para adequar o uso, considerando a presença da fachada integrada à nova edificação, mas encontrou entraves durante os debates e não foi aprovado. Por duas vezes. Todo o processo de aprovação e análise se alongou muito e o resto do patrimônio não pode esperar e ficava com situação pior, quanto a sua patologia da estabilidade. O incêndio aconteceu em 28 de dezembro de 2019 e em março de 2022, ainda se decidia sobre as ruínas dos arcos da fábrica que se encontravam em pé. Demorou muito.
Ao longo deste processo, foram apresentados 2 projetos e 4 laudos sobre a segurança desta fachada, que se recuperada, demanda um orçamento alto.
De qualquer maneira, pode-se manter os arcos. Tem como manter os arcos no local e expusemos aos interessados, que se conseguirem fazê-lo, estarão demonstrando comprometimento com a cidade, sensibilidade com sua história e estarão possuindo algo inédito e cheio de lastro histórico. Dispensando qualquer custo com publicidade, pois sua própria ação, será uma publicidade que encherá os olhos.
Após debates, ficou deliberado que o proprietário poderá retirar os arcos (que se encontram escorados - construídos com técnica construtiva autoportante com tijolos maciços) seguindo a orientação dos laudos técnicos, que afirmam, estes estão de pé, por conta das escoras colocadas para segurá-los. Esperamos que repensem e se puderem (investimento), mantenham esta fachada. É sabido e foi debatido que demanda um pequeno capital.
Nosso voto foi contrário à demolição, ciente de que se pode manter, mas também ciente que pode ser algo difícil de se concretizar, em função do alto custo para mantê-lo.
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O Proprietário decidiu retirar os arcos da Antiga Fábrica Nelsa do local e perdeu uma oportunidade.
1° de março de 2022
Vídeo feito por Dieter Altenburg
Em construção....
Leituras complementares - Para ler - clicar sobre:
- Legado Hermann Weege - Pomerode
- Simon Gramlich (Simão Gramlich no Brasil) - Arquiteto alemão com uma obra imensurável no Brasil e vida cheia de mistérios
- Livro sobre Altona - Momentos do Lançamento
- Um passeio pelo Bairro de Itoupava Seca e um pouco de sua História
- Arquitetura - Apresentação e análise da Casa Salinger - Blumenau SC - Sul do Brasil
- Carl Franz Albert Hoepcke - Uma personalidade da História Catarinense
- Um passeio pelo Bairro Victor Konder - no Espaço e na História - Blumenau
- Nacionalismo no Vale do Itajaí - a partir do Governo de Getúlio Vargas
- Após finalizar mestrado na Espanha, designer de moda retorna ao Vale do Itajaí
- Museu de Hábitos e Costumes de Blumenau - Momentos de sua inauguração
FROTSCHER, Méri. Da Celebração da Etnicidade Teuto-brasileira à Afirmação da Brasilidade: Ações e discursos das elites locais na esfera pública de Blumenau (1929-1950).Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. Florianópolis, 2003.
GERLACH, Gilberto S.; KADLETZ, Bruno K.; MARCHETTI, Marcondes. Colônia Blumenau no Sul do Brasil. 1. ed. São José: Clube de cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019.
LENZI, Gabriela Poltornieri. Memória de Pessoas e de Chapéus em Blumenau, Brasil e Florença, Itália.Trabalho de Fim de Mestrado Universitário em antropologia de Iberoamerica apresentado à Universidad de Salamanca para cumprimento parcial dos requisitos para o título de maestria em Antropologia de Iberoamerica. Salamanca, 2014.
MORRETTI, Silvana Maria. Fábrica e Espaço Urbano: A Influência da Industrialização na Formação dos Bairros e no desenvolvimento da Vida Urbana em Blumenau. Dissertação de Mestrado - Universidade Federal de Santa - Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Programa de Pós-Graduação em Geografia. Orientador: Prof. Msc. Luís Fugazzola Pimenta. Florianópolis/SC, janeiro de 2006.
História de vida Sra. Cecília Lischke. Blumenau em Cadernos. Tomo XLIII. N. 07/08. jul/ago 2002.
SCHROEDER, Marcos - envio de dados de genealogia.
História de vida Sra. Cecília Lischke. Blumenau em Cadernos. Tomo XLIII. N. 07/08. jul/ago 2002.
SCHROEDER, Marcos - envio de dados de genealogia.
Excelente trabalho para a defesa do nosso patrimônio.
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