Moinho em Fränkische Freilandmuseum Bad Windsheim na cidade de Bad Windsheim, em Unterfranken - Alemanha.
Expressões que faziam parte do cotidiano da região e também do litoral de Santa Catarina, algumas décadas passadas e que atualmente estão praticamente em extinção, pelo menos nos moldes do final do século XIX e início do século XX: Atafona e Moinho.
Alguém nos questionou se conhecíamos a diferença entre Atafona e Moinho. Buscamos a diferença, que existe sob aspecto antropológicoe apresentamos aqui.
Antigo Moinho de trigo - Rio Grande do Sul.
Nos textos históricos locais e regionais no Vale do Itajaí, território da antiga Colônia Blumenau, sempre mencionaram a expressão moinhoe nuncaatafona. Há um motivo para isso.
A expressão moinho foi trazida pelos pioneiros alemães e italianos que tiveram contato com o Império Romano e o seu espaço tinha um determinado uso, diferente do espaço daatafona encontrada na região anteriormente à chegada destes pioneiros e expressão trazida pelos portugueses e que beneficiava outro produto, diferente do moinho conhecido pelos imigrantes alemães e italianos.
Etimologia
Atafona
Do árabe . at-tahūna - moinho.
Moinho
Do latim - molīnum, do latim tardio saxum molinum, que significa "pedra grande" ou "mó'
Aipim (região do Vale do Itajaí muitas vezes denominada "Áibi" ) ou mandioca.
No século XIX, uma das maneiras de atrair o imigrante alemão para a região sul do país, foi propagar que no Brasil existiam batatas do "tamanho do braço de um homem". A batata é uma das raízes que ocupa com maior destaque, o cardápio de muitas regiões da Alemanha e estrutura muitos dos pratos da gastronomia alemã. Não foi difícil atrair agricultores alemães, aqui denominados colonos, desejosos em conhecer tal produção e também sua comercialização.
A "batata" propagada na Europa, era uma raiz conhecida entre os povos nativos brasileiros como aipim ou mandioca, e não era uma das mais de 200 especies de batatas existentes na Alemanha.
O aipim ou mandioca é uma espécie Manihot esculenta. O mundo científico descreve como uma espécie de planta tuberosa da família das Euphorbiaceae. O nome dado ao caule do pé de mandioca é maniva, o qual, cortado em pedaços, é usado no plantio. Antes da chegada dos europeus, como portugueses, alemães, espanhóis, italianos, entre outros, existia de maneira originária e natural no oeste do Brasil e já era cultivado com alimento, se estendendo até Guatemala e México. Portanto era um alimento dos povos nativos do Brasil, seminômades e depois fixados, espalhados pelo continente.
Índia atual, fabricando a farinha de mandioca.
Quando chegaram os portugueses e espanhóis e entraram em contato com a cultura do povo nativo local, conheceram também a raiz e também dela, fizeram a farinha na atafona, como chamaram a fabriqueta de beneficiar a mandioca, fabricar a farinha de mandioca e outros derivados, como polvilho. O princípio de funcionamento da atafona era diferente do milenar moinho de farinha de qualquer semente ou grão de cereal, pois o aipim ou, mandioca, necessitavam ser ralados e secos.
Índio Parakanã fabricando a farinha de mandioca.
Produção artesanal de farinha de mandioca em comunidade de Bonito de Minas (MG). Fotografia: Tiago Queiróz - Estadão.
Resgate da atafona na comunidade de Santo Antônio de Lisboa - Florianópolis antiga Nossa senhora do Desterro, na atual festa popular "Festa do Divino".
O pioneiro português ou descendente do final do século XIX e primeira metade do século XX tinha em sua cultura alimentar a presença do pescado e da farinha de mandioca produzida na atafona. Na nossa casa paterna e infância - no bairro do Abraão, em Florianópolis - era predominante a presença diária nas refeições, do peixe frito com pirão d'água puro (feito de farinha de mandioca cozida no prato com água fervendo somente) - prática usual não somente em nossa casa, mas em toda a vizinhança, comunidade de pescadores descendentes de portugueses, na época.
Peixe frito com farinha.
Reconquista da Península Ibérica pelos cristãos.
Atafona é uma expressão aportuguesada, cuja origem etimológica temorigem árabe ou, dos mouros que dominaram a Península Ibérica por quase oito séculos. A invasão moura teve início em 711 e, três anos depois já dominava a maior parte do território da Península Ibérica, para terminar definitivamente apenas em 1492.
Os mouros deixaram na Península Ibérica, uma forte herança cultural – os árabes eram a vanguarda científica, naquela época. Atafona - origem do árabe - at-tahunâ ( que significa moinho), fabriqueta com era um tipo de mecanismo manual ou movido por força animal destinado a transformar o andamento do animal em movimento rotativo para mover moinhos, engenhos de açúcar e engenhos de ralar mandioca. Eram utilizados para mover atafonas, além da força do homem, animais, como cavalos, burros, bovinos e até carneiros e cães.
Abent Brot - mesa alemã.
Quando chegaram os imigrantes alemães e italianos no Brasil, bem depois da chegada e adaptação dos primeiros portugueses, a expressão atafona já existia para denominar fabriquetas de farinha de mandioca e cana. Estes pioneiros alemães e italianos, trouxeram as fabriquetas de farinha de grãos e cereais, os moinhos, que beneficiavam o milho e o trigo. A mesa das famílias alemãs, até o momento presente, conta com a presença de vários tipos de pães, acompanhados de embutidos e queijos, principalmente no horário do Abend Brot - o lanche da tardinha.
Portanto, concluindo, historicamente no Brasil,atafona, palavra trazida pelos portugueses, denominando a fabriqueta de farinha de mandioca - influencia e adaptação da dieta indígena na mesa local brasileira. Moinho foi trazido por imigrantes alemães e italianos e era a fabriqueta de farinha de trigo e de milho - que beneficiava sementes e cereais.
Para comprovar esta conclusão, segue o texto histórico da família de imigrantes alemães - Henkelque residia no Vale do Sinosno Rio Grande do Sul, que foram proprietários de umaatafona e também, de um moinho.
"No sul do continente americano, há milhares de anos, os povos da floresta Tropical cultivam a mandioca brava e, a partir dela, produzem a farinha e outros derivados, alimentos essenciais da sua dieta. Em Nova Hartz, na região do vale do Rio dos Sinos, antes da indústria calçadista assumir papel de destaque na economia, a produção de farinha de mandioca era a principal atividade econômica. As chamadas atafonas produziam farinha para ser comercializada dentro e fora do Brasil. Contribuíram com o desenvolvimento econômico da colônia alemã de São Leopoldo e também do Rio Grande do Sul. Hoje, estas agroindústrias familiares estão em vias de desaparecimento tanto em Nova Hartz como na região. É nesse contexto que se inserem a atafona e o moinho da família Henkel. Esta atafona, diferentemente das demais, chegou ao século XXI produzindo farinha de mandioca, principal fonte de renda da família. O moinho, por sua vez, teve suas atividades encerradas na segunda metade do século XX. Inicialmente, no moinho era produzida a farinha de milho para o consumo da família que também vendia o serviço de moagem do milho aos agricultores vizinhos. Posteriormente, no período em que a atafona produziu raspa de mandioca para ser misturada à farinha de trigo, ele foi utilizado para moê-la e encerrou suas atividades descascando arroz. Esses espaços de trabalho, as duas residências da família, a cozinha e sala de refeições, o sistema de geração de energia formado por barragem, canal e rodas d água, as técnicas de cultivo da mandioca, o modo e o maquinário para produzir a farinha são os testemunhos materiais e imateriais de parte da história local e regional. OLIVEIRA, Kátia Ferreira de.
Em síntese,o moinho - quederiva do latim -molinum - de ``molo´´é uma instalação destinada a moagem de grãos de trigo e de milho ou de outros cereais, por meio de mós. A tecnologia dos moinhos foi, por vezes, adaptada para fins bem diferentes dos originais. Na Holanda, por exemplo, o célebre moinho de vento foi, na maioria dos casos, utilizado para acionar bombas hidráulicas movidas a energia eólica, construídas para drenar a água das chuvas para o mar. Atualmente a drenagem, na Holanda, é efetuada por motores elétricos que acionam bombas tipo Parafuso de Arquimedes.
O moinho de água apareceu no século II d. C. com os gregos e os romanos, que depois o espalharam pela Europa. Serviam, como indica a sua etimologia, para moer cereais e sementes entre duas pedras e transformá-los em farinha e não mandioca, como era a função da atafona no Brasil - usada para beneficiar mandioca, ou aipim, como a raiz é conhecida no Vale do Itajaí. Atividade originária entre o povo nativo brasileiro e repassado ao imigrante e descendentes portugueses.
As imagens a seguir foram feitas por nós em uma parte do Fränkische Freilandmuseum Bad Windsheim na cidade de Bad Windsheim, em Unterfranken - Alemanha e, sua construção é centenária, totalmente construído com madeira encaixada, ou enxaimel. A estrutura é movida a força da água. Também vimos moinho semelhante a este, no Museu Weege, na cidade Pomerode que pertenceu à família Weege.
Caixas de madeira típica onde se estocava a farinha pronta após o beneficiamento. Também os característicos sacos de embalagem.
Na parte do meio desse pequeno vídeo há imagens externas do moinho centenário na Alemanha da região da Francônia, movida a força da água, cujas fotografias de seu interior estão apresentadas acima.
Maquete do moinho que pertenceu a família Weege - Pomerode SC
Na cidade de Timbó SC, o lançamento do livro Fachwerk a Técnica Construtiva Enxaimel aconteceu junto ao Museu do Imigrante, nas proximidades da ponte estaiada.
O momento contou com as presenças do grupo folclórico Volkstanzgruppe Blauer Berg Timbó e também com o grupo de bandoneon "Os Cinquentões", com músicos com idades que variam entre 4 e mais que 60 anos.
O início do cerimonial aconteceu com o "aquecimento" dos bandoneons, seguido, do início da apresentação da obra publicada, feita por Everton de Vargas do Museu do Imigrante, responsável, juntamente com a Historiadora Jocelia Rocha Barbosa, pela organização da noite que contou com o apoio de Fundação Cultural de Timbó.
O Presidente da fundação, pessoalmente fez arranjos de hortencias para encantar a mesa dos livros e também, do coquetel servido aos presentes.
Após a abertura, foi feito a apresentação musical dos "Os Cinquentões" seguido da apresentação folclórica do Volkstanzgruppe Blauer Berg, da qual participamos e agradecemos.
Na sequencia foi servido um coquetel no interior do Museu do Imigrantes, sobre o qual já escrevemos nesse Blog em dois momentos. Na sequencia foi apresentado o livro e seguiu a sessão de autógrafos para quem desejasse.
Foi deixado sob a guarda de Jocelia Rocha Barbosa, 15 exemplares do livro para destinar às escolas e também bibliotecas da cidade de Timbó.
Assinando o livro do Presidente da Fundação Cultural de Timbó - Jorge Ferreira.
Nao pudemos fazer imagens, como fazemos frequentemente para ilustras as postagens desse blog, mas apresentamos algumas poucas existentes do momento. Registro para a história.
No final desta postagens, outros link's de postagens relacionados à cidade de Timbó.
Um dos arranjos confeccionados pelo Presidente da Fundação Cultural de Timbó - Jorge Ferreira.
Jocelia Rocha Barbosa.
Família Voigt, solicitou e recebeu um livro para a biblioteca da Escola de Warnow - Indaial SC
Entrega dos livros às escolas públicas e museus de Timbó.
O arranjo feito por Jorge Ferreira - Presidente da Fundação Cultural de Timbó, marcou de maneira especial o momento. Jorge nos presenteou com as hortencias, no final do evento, naturais do Morro Azul - Timbó. Fizemos questão de deixar o maior arranjo para encantar o espaço do Museu do Imigrante e o menor está em nossa casa, até o dia de hoje. Depois será plantado no jardim.
Resta-nos dizer a todos os que se fizeram presente e a equipe da Fundação Cultural de Timbó e do Museu do Imigrante de Timbó: Vielen, Vielen Dank.
Que esta pesquisa, na forma de livro seja útil dentro de sua comunidade.
Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido: