domingo, 27 de dezembro de 2020

Trombudo Central SC - Alto Vale do Itajaí - Um pouco de História em imagens

Trombudo Central surgiu a partir de uma nucleação urbana que se desenvolveu em torno de umas, das 24 estações da Estrada de Ferro Santa Catarina - EFSC. As estações da EFSC apresentavam tipologias variadas. Em ordem crescente, desde o quilômetro “zero”, é considerada a primeira, a de Itajaí e a última estação do tronco principal, a de São João. Entre as estações de Mosquito e Trombudo Central foi construído o elevado - atualmente conhecido Hermínio Prada, que representa uma transição de técnica construtiva da engenharia ferroviária. Os materiais usados são concreto armado e blocos de granito rosa. Em torno deste viaduto está a centralidade urbana de Trombudo Central, sendo que, a Igreja Matriz Cristo Rei está entre este viaduto e o local onde estava a estação ferroviária da EFSC, próximo a Firma dos Lorenz. O elevado foi construído, em 1964, dentro da linguagem moderna, em concreto armado, com a forma baseada em linhas curvilíneas.
O Rio Trombudo, em 1905, foi localizado no mapa confeccionado por José Deeke - da Colônia Blumenau e seus limítrofes, porém sem a presença da nucleação urbana.
Traçado da ferrovia EFSC - dentro dos muitos municípios da região do Vale do Itajaí.
Mapa da Colônia Blumenau e seu território, feito por José Deeke em 1905 - com a presença, destacada, do Rio Trombudo - que na época, era parte do grande território da colônia. Segue o Detalhe do mesmo, onde é visível o caminho das tropas que passava na região - rumo a Curitibanos e percebe-se a ausência de nucleação urbana no Vale do Trombudo.

Trombudo Central em 2020 e desconexões urbanas.
Esta constatação, também ocorre com outras parte de Trombudo Central.
Este espaço histórico, junto ao Rio Trombudo, com grande área poderia ser melhor aproveitado para a cultura e lazer.

Estação ferroviária de passageiros - Trombudo Central.
Visitamos a estação ferroviária de de passageiros de Trombudo Central em 2008, durante a pesquisa destinada para a publicação do livro que apresentava a pesquisa sobre a EFSC, na região. Link no final desta postagem. Nesta época, as condições da estação de passageiros de Trombudo Central eram satisfatórias. No local residia uma família. Sua localização, é praticamente na área central  urbana do município. Dista aproximadamente 400 metros do centro, no sentido Rio do Sul, próximo a Igreja Matriz e da Cia Lorenz, belíssima tipologia histórica industrial da cidade, atualmente usada como galpão da Secretaria de Transportes e Obras do município. Já o terminal de cargas, ou estação de cargas, visitamos 10 anos depois - em 2018 e sofreu um incêndio. Este possuía duas rampas e um amplo pátio fica um pouco mais distante, em  direção de Agrolândia (sentido sudoeste). Foi um local de grande movimentação de mercadorias, no passado. Todo este conjunto, juntamente a acessos e o rio, poderiam se melhor aproveitados com espaços para práticas culturais, memória, cultura e visita.
Terminal de Cargas - Trombudo Central - após incêndio.
O terminal de cargas, ou estação de cargas sofreu um incêndio. Sua edificação era uma tipologia  do estilo arquitetônico art decó. Apresentava janelas estreitas e altas, almofadadas com vidro liso incolor. Base e rampas de acesso construídas, como as demais, em granito rosa. 
Como ocorreu em torno das estações da EFSC, também em Trombudo Central, ocorreu, o desenvolvimento durante o período de seu pleno funcionamento. Tínhamos efetuado registros  fotográficos do local - 10 anos antes - em 2008. Fotos a seguir:



Escrevemos no livro a Ferrovia no Vale do Itajaí - link no final desta postagem - página 160:

Foi em 1904 que chegaram os primeiros imigrantes a Trombudo Central. As terras da localidade pertenceram em um primeiro momento a Porto Belo; depois, a Itajaí; depois, a Blumenau; e em 1933, tornaram-se distrito de Rio do Sul. Em 1958 o núcleo emancipou-se de Rio do Sul.
Um alemão e um italiano foram os primeiros a chegar a Trombudo Central: Emílio Graubner e Ernesto Prada lideraram o grupo que se instalou na região em 1904. As terras faziam parte da gleba que Hermann Blumenau recebeu do Governo Imperial em 1850. Para que as terras se desenvolvessem, as companhias de imigração trouxeram imigrantes europeus experientes em agricultura. O início foi árduo: as famílias abriam picadas nas matas, a facão, até chegarem a seus lotes. A origem do nome Trombudo deve-se ao encontro dos rios do lugar, que forma a figura de uma tromba. 
Estação da EFSC - Barra do Trombudo. Figura 109 - do livro A ferrovia no Vale do Itajaí - Angelina Wittmann
Um pouco da história...

A estação ferroviária central de Trombudo Central está localizada no km 165 da extinta ferrovia e foi inaugurada em 1958, mesmo ano que a nucleação urbana de emancipou de Rio do Sul. Como já mencionado, seguia a tipologia das demais estações em estilo art decó. Plataforma feita com granito rosa, extraído da região.
Mas antes deste desenvolvimento ocorreu a exploração e chegada dos primeiros pioneiros no local. Como ocorreu com inúmeras nucleações na região, Trombudo Central teve o início de sua história alinhada ao início da história da grande Colônia Blumenau e fazia parte do plano dos planejadores daquela época - tornar a grande colônia em um empreendimento agrícola, onde o objetivo era comercializar e industrializar o excedente das colônias agrícolas disseminadas no seu território, como também fazia parte destes planos, a construção de ferrovia, para viabilizar este plano e a logística a partir de um meio de transportes moderno, para a época. 
Na medida que famílias de imigrantes chegavam no Stadtplatz da Colônia Blumenau, ocorria um remanejamento de acordo com suas atividades e com o poder de compra da família de imigrantes. Geralmente, as famílias de agricultores, eram locados e induzidas a se fixarem no interior do território, ocupando os vales dos braços dos rios que faziam parte da grande Bacia do Itajaí Açu. 

A região de Trombudo Central é banhada pelo ribeirão Trombudo, nome recebido em função da forma do desenho do rio na paisagem – semelhante à uma pequena tromba – característica de uma animal da fauna local – a Anta. Em nossa opinião, versão mais adequada entre algumas, para explicar o nome Trombudo, uma vez, que os rios já existiam e eram assim chamados quando as famílias chegaram ao local. Outra versão é de que a junção dos rio  Braço do Trombudo e Trombudo Alto forma uma tromba e também são lembrados para explicar o nome do município. (E de onde vieram o nome dos rios?), lembrando, já tinha o nome do Trombudo. 
A região faz parte da região, na qual houve grande extração madeireira, cujo produto era escoado pela estação de cargas da EFSC localizada em Trombudo Central, nas proximidades da casa de Edson Lanznaster, filho do ferroviário Mário Lanznaster, e que trabalhou por muito tempo na Estrada de ferro Santa Catarina. O local foi um importante entreposto e com muito desenvolvimento econômico.
Estação de Cargas - 2008

Edson Lanznaster - local de descarregamento dos caminhões de madeira
para embarque no trem da EFSC - Estação de Cargas de Trombudo Central - 2018.
Local da intermodalidade - descarga de madeira dos caminhões e embarque no trem - na estação de cargas de Trombudo Central - 2008.
Paralelamente, junto com a extração de madeira, a região foi conhecida pela presença de grandes fecularias
Recebemos a contribuição importante do pesquisador indaialense Luiz Carlos Henkels que, de maneira informal, apresentou um pouco sobre esta história. Neste dia, em Trombudo Central, também visitamos uma fecularia desativada, onde, um pequeno espaço de suas instalações está sendo usado pela família Franz para fazer e comercializar o chocolate caseiro  Chocolate Franz, com planos de ampliar  e aproveitar o histórico espaço.
Antiga fecularia desativada de Trombudo Central
Propriedade da família Franz.
De acordo com Henkels, as fecularias “foram a mola mestra de Trombudo no passado histórico, razão pela qual a EFSC foi esticada para lá em 1958. O terminal de cargas foi edificado ali naquela entrada tendo em vista que a fábrica da Lorenz ficava próximo ao terminal."

Henkels continua...
Luiz Carlos Henkels



“Quantas fecularias tinha em Trombudo? A maior, sem dúvida, era a da Lorenz, que tinha sede em Blumenau. O que sei dizer é que na época da safra da mandioca, mais da metade dos vagões do cargueiro da EFSC era de vagões com fécula, que nas fábricas de Indaial viravam sagu, polvilho, etc, sem falar nas exportações. Ainda deve ter, em Trombudo, pessoas que vivenciaram essa fase áurea. Aliás, a principal causa da desativação da EFSC, por alegação de que não havia mais nada para transportar, foi devido a desativação das fecularias no Alto Vale, transferidas para o Norte do Paraná. Por que foram transferidas? Não dava mais lucro ? Faltou interesse ? Mão de obra muito cara? É um grande estudo, que alguém, um dia, poderia fazer. Juntamente com o término das florestas de pinheiro, a outra carga principal também deixou de existir - A MADEIRA - carregada ali no terminal de Trombudo. Essas duas foram as razões principais para que o governo achasse uma motivação para decretar a desativação da ferrovia, se bem que sabemos que as causas mesmo foram outras.” Luiz Carlos Henkels – Indaial SC.
Retirado do Blog da família Müller - Hotel nos períodos
 áureos de  extração de madeira. Na frente do Hotel 
- frota de ônibus Autoviação  Rio Sulense.
Trombudo Central atual tem uma população de 6.553 habitantes. Os primeiros imigrantes austro-húngaro e italiano chegaram ao local no ano de 1904 e foram os pioneiros Ernesto Prada e Emílio Graupner.
Ernesto Prada nasceu no dia 24 de maio de 1870 no Império Austro Húngaro. Percebemos existir muitas outras famílias desta origem, como por exemplo - a Família Lanznaster, a qual nos recebeu em sua casa nesta visita à Trombudo Central. 

Família pioneira austro-húngara - Lanznaster
Leopold Hoeschl e família em 1899.
Também lembramos que nesta época Prada casou com uma moça de família  italiana – Catarina Finardi (Solteira). Ele faleceu no dia 13 de outubro de 1954 e Catarina Prada que  nasceu no dia 12 de setembro de 1870, faleceu no dia 6 de fevereiro de 1943, na localidade de Rio Novo.
Em 1904, quando o imigrante austro-húngaro chegou à região de Trombudo Central, a Colônia Blumenau já contava com a presença de um Cônsul austro-húngaro há 5 anos - (Para ler clicar sobre) Leopoldo Franz Hoeschl era o Cônsul e tinha seu comercio localizado na comunidade de Warnow.

Do livro  A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina.
O segundo pioneiro - Emílio Graubner  nasceu no dia 9 de setembro de 1886 e tornou-se genro de Ernesto Prada. Este, faleceu em 26 de junho de 1977. Cultivavam a sua colônia, como posteriormente, faziam as demais famílias de imigrantes alemães que chegaram à região a partir do entroncamento comercial que estava localizado em  Südarm, foz do Rio Itajaí do Sul junto com o Itajaí do Oeste  – que formavam o grande Rio Itajaí Açú e onde atualmente está localizado a cidade de Rio do Sul.
Em 20 de janeiro de 2008, durante pesquisa sobre a EFSC , fizemos alguns registros locais, dos quais alguns foram publicados no livro A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina.

Elevado Hermínio Prada.

Elevado Hermínio Prada, construção mista de concreto e granito rosa.

Estação de Passageiros de Trombudo Central.
Estação de Passageiros de Trombudo Central.


Estação de Passageiros de Trombudo Central.

Igreja Matriz Cristo Rei.

Edificação residencial construída em madeira. Tipologia da casa do pioneiro alemão.
Residia na mesma
 Bruno Baptista Melchioretto e Maurilia (solteira: Probst) Melchioretto.

Prefeitura Municipal de Trombudo Central SC.













Em 2018 - com a presença do descendente do pioneiro - Edson Lanznaster

Estação de Cargas de Trombudo Central



Visita a Residência de Herbert Hubner

Tipologia de um exemplar de 
patrimônio histórico arquitetônico, construído com estrutura enxaimel e que se encontra sem uso no tempo presente. A propriedade é patrimônio da família, descendentes,  do construtor da casa. Seu lay out segue a tipologia tradicional da maioria das casas construídas com a estrutura enxaimel desta época. Ou seja:  sala na parte da frente, cozinha localizada no anexo na parte posterior, quarto ao lado da sala, com escada para o sótão, onde também é usado para quartos. Na parte frontal está uma varanda longitudinal, ocupando toda frente da casa, voltada para a estrada.

Imagens de Trombudo Central - em dezembro de 2020




Prefeitura Municipal de Trombudo Central.




















Igreja Matriz Cristo Rei - link postagem - final desta postagem.



Interior da Igreja Matriz Cristo Rei.









Rio Trombudo - A cidade está de costas para o mesmo.

Rio Trombudo - A cidade está de costas para o mesmo.





Tipologias históricas Art Decó.


Elevado Hermínio Prada.




Próximas postagens, mais sobre - KrügerHaus - exemplo em Trombudo Central.

Tradição pioneira presente na paisagem da cidade.

Tradição pioneira presente na paisagem da cidade.



Chocolate Franz  - antiga Fecularia.

Instalações da indústria e comércio Germano Schroeder.


Igreja da comunidade Luterana.



Residência Max Krüger - Postagem especial, em breve.

A cidade de Trombudo Central apresenta sua malha urbana estruturara de maneira linear, a qual acompanhou o Rio Trombudo e também, a linha ferroviária, explicando, a presença da Igreja Matriz "fora" da área central, como não acontece em cidades "portuguesas" e "espanholas". Nestas, a cidade se desenvolve em torno da igreja e de sua praça - herança do ágora grego
Como em muitas cidades do Alto Vale do Itajaí, Trombudo Central se desenvolveu ao longo da estrada e do rio, e também, da ferrovia EFSC.
No momento atual, estes elementos, sejam históricos, ou mesmo, elementos naturais, como o rio, estão pouco valorizados na cidade atual, a qual se adensa desprovida de um plano que oriente e organize, contando com estes importantes elementos, dentre os quais, também citamos, casarios/arquiteturas, de antigos armazéns e fecularias, os quais podem ser preservados como elementos estruturadores e importantes dentro da história do municípios atual, sendo readequados para novos usos, principalmente para, os culturais e para visitação de pessoas que podem vir de outras cidades, conhecer.












2 comentários: