quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Mapa da Colônia Blumenau e a área entre a Colônia e o Litoral - áreas ocupadas - Ano de 1858

Fonte: Arquivo Nacional. Referências: BR RJANRIO 4Y.0.MAP.362.

Recebemos este mapa de um dos seguidores deste blog e não anotamos a fonte e nem o seu nome, pois foi feito no meio de inúmeras atividades, frequentes neste segundo semestre de 2020
Por sua importância, somente alertamos que compartilharíamos aqui, sobre o mesmo. Em si, há muitas informações. Estudaremos parte de seu conteúdo.

No recorte do mapa histórico abaixo há a localização dos dois maiores ribeirões que da área central de Blumenau no tempo presente. Um, localizado em uma extrema (Leste) e o outro, na outra extrema (Oeste), que são os ribeirões da Velha e do Garcia, vales que resultaram em dois dos bairros mais populosos da cidade de Blumenau atual, que também são conhecidos como bairros da Velha e do Garcia, respectivamente.
Entre alguns nomes, está os nomes de alguns pioneiros presentes no mapa - dentro deste recorte, como proprietários de terras são:
  • Hermann Blumenau
  • Karl Kegel
  • Karl Hering
  • Johann Padaratz
  • Ernest Weiss
  • Karl Hadlich
  • Heinrich Hadlich
  • Wilheilm Holetz
  • Ricardo Becker
  • Heinrich Kochler
  • André Grosenbar
Também é mencionado que o Ribeirão Garcia é navegável com canoa  até 5700 braças da barra, ou seja o local do Stadtplatz da Colônia Blumenau, no mapa denominada povoação da Colônia Blumenau, com a informação de possuir 10.340 braças de desenvolvimento ou, perímetro urbano.
Região entre o Salto e Itoupava Seca - Observar as latitudes e longitudes marcadas em marrom.

Itoupava Seca

Damolida!
Ainda presente neste mapa., há o destaque para as cotas de profundidades do Rio Itajaí Açu e também, os nomes dos proprietários das terras. Neste recorte, os nomes da localidade de Itoupava Seca, atual bairro de Itoupava Seca, com nomes, como August Persuhn,Theodor Thonsem, Karl Engicht, Eduardo Stein, Pedro Müller, entre outros. Este é um bairro de Blumenau, que na época histórica do mapa, era totalmente independente. Atualmente, é somente um corredor, comprometendo muito, áreas residenciais do bairro e também, o conjunto de patrimônio histórico arquitetônico local, cujo conjunto se encontra em estado ruim de conservação, com raras exceções e de perdas sistemáticas, consequência de ocupação e tipo de ocupação desprovida de reflexões e de um projeto de cidade, mais amplo. Ler postagem exclusiva - cujo link está no final desta.
Para ampliar - clicar sobre a imagem.
Rio Itajaí Açú
No mapa histórico há uma descrição apurada do grande Rio Itajaí Açú e de seus principais afluentes - até a foz, no mar, denominada "barra". Há uma descrição apurada desde, a partir do início da segunda metade do século XIX.
"O rio Itajahi-Assú, um dos mais bellos da Província, tem 30.137 braças de desenvolvimento desde o Salto Grande até sua foz no mar. - A sua maior largura é de 3200 palmos. - A maior profundidade da agoas é 45 palmos, a menos de 9 palmos, estando o rio muito secco.
A influencia das marés se faz sentir até a primeira itapava, perto da ilha Belchior, e, raras vezes até o Garcia, Colonia Blumenau, rio é navegável, com embarcações que não demandão mais de 8 palmos d'agoa, até perto da grande itapava, isto é na extensão 37.000. braças.
Tem muitas ilhas e algumas rochas, umas descobertas, outras escondidas debaixo das agoas. Todas são fáceis de evitar-se, visa grande largura do rio.
Gasta-se um dia para descer com canóas desde a colonia Blumenau até a Freguesia, 18 a 24 horas, subindo, para percorrer a mesma distancia, e as vezes menos tempo, aproveitando da maré e da viração NE. - Os hiates e lanchões que fazem esta viagem, não gastão muito mais tempo. Um pequeno vapor poderia fazer facilmente e rapidamente a viagem tres vezes por semana. O combustívelvpoderia ser lenha.
Pode calcular-se em 70.000.000 de braças quadradas a superfície dos terrenos possúidas nas duas margens; porém apenas 2.000.000 achão-se cultivadas.
Existem no Rio Itajahy-Assú: 141 engenhos de fazer assucar, 11 alambiques para aguardente, 5 engenhos de serrar, 72 de fazer farinha, 1 de fazer arroz, 5 de fazer fubá, 2 fábricas de óleo, 1 de vinagre, 5 olarias e 2 de fazer louça ordinária.
A exportação annual é pouco mais ou menos de 14000 arrobas de assucar, 300 pipas de aguardente, 2000 alqueires de farinha, 1000 duzias de taboas, 20 pipas de vinagre, etc, etc; o que tudo terá valor de 80 a 90 contos de réis, dos quaes 13 a 14 provêm da colonia Blumenau.
A população do rio pode ser avaliada em 5000 almas, das quaes 750 pertencem à colonia Blumenau."
"O rio Itajahy-Merin é o maior afluente do Itajahy-Assú. Tem 47.719 braças de desenvolvimento desde o primeiro salto até a barra: Esta extraordinaria extensão é devida às suas numerosas voltas, poisque, em linha reta, tem apenas 21.000 braças. - Sua largura media é de 180 palmos. As embarcações, que não demandão mais de 12 a 15 palmos, podem subir o rio até Mel. Custodio, onde existe a priemira itapava, formada por uma grande rocha granitica. Dahi para cima é navegável somente com canoas; e do poço fundo para cima, encontrão-se 18 itapavas bastantes difficultosas apassar.
E preciso um dia e meio de viagem de canoa, para descer da Gabiruba até a freguesia d'Itajahy, e 2 dias e meio, até 3 dias para percorrer a mesma distância, subindo. entretanto, construindo, na margem direita do rio, uma estrada, que não teria talvez mais de 5 lagoas, tornaria-se facil e rapida a comunicação entre os moradores da Gabiruba, ou do 1° territorio medido, e os da Freguezia.
A superficie dos terrenos possuidos nas duas margens do Itajahy-Merin, pode ser calculada em 40.000.000 de braças quadradas.
Conta-se neste rio: 12 engenhos de serrar, 7 de fazer farinha, 2 de fubá, 1 de aoccar arroz e 1 olaria.
A sua expostação annual é de 18.000 duzias de taboas, 8000 alqueire de faria, 400 alqueires de arroz e alguna milahres de tijolos, prefazendo tudo o valor perto de 200:000.000 rs, dos quais 150: provém das madeiras.
O gado-vaccum empregado nestes diversos engenhos orca por 900 cabeças.
A população do rio pode ser avaliada em 2000 almas, das quaes 480 empregadas nas serrarias."

Explicita na descrição, o início da industrialização da região e suas primeiras movimentações econômicas, a importância da bacia hidrográfica e dos rios, na estruturação das primeiras nucleações urbanas da região e porque os rios prioritariamente levantados, com os mínimos detalhes, por agrimensores experientes e formados. A partir dos leitos fluviais, efetuavam levantamentos econômico regional.
Também importante, é conhecer a natureza das primeiras transações comerciais e industriais, mesmo que primitivo. Este registro está em um mapa feito apenas 58 anos após chegada da primeira leva de imigrantes, de maneira ordenada e em grupo, ao Vale do Itajaí. Interessante que já comercializavam tijolos, por exemplo, que não é um ofício do extrativismo, mas da indústria de transformação e também com ligação à arquitetura e da tipologia adotada, feita com a técnica construtiva enxaimel com fechamento, não somente realizado com taipa, mas também, com tijolos, já nestes tempos.

O Professor e Arquiteto Vilmar Vidor, que passou grande parte de sua vida, pesquisando Blumenau fez algumas conclusões interessantes sobre a produção social de Blumenau - desde o século XIX, em sua tese de Doutorado realizado na França.

Em Blumenau a hierarquia social foi estabelecida desde o início e as pessoas eram designadas para o espaço geográfico de acordo com seu aporte profissional pela administração local: Os agricultores colocados longe da sede administrativa, os artesãos, os comerciantes e os burocratas no centro da colônia. Pg 37

Finalmente, a estratificação sócio-econômica se torna mais complexa com a sedimentação do agricultor, do comerciante e do empresário industrial. Assim dentro de um período bastante curto, toda a hierarquia, compreendendo a divisão social do trabalho, estava implantada pela oposição cidade campo. Esta dicotomia não foi devida as mudanças historicamente provocadas por mecanismos de transformação da sociedade, mas foi cristalizada desde o início, a partir da instalação dos imigrantes. A estratificação que foi imposta quando da ocupação do terreno foi a seqüência de um processo já sedimentado na Europa. Esta consistia na transferência geográfica e, ao mesmo tempo, sociológica de um sistema já existente, em função de um processo econômico já desenvolvido: o capitalismo. Pg 38

A divisão do trabalho fazia parte do processo local do povoamento ou seja, o objetivo sócio econômico sobre a implantação de núcleos no nordestes do estado depois de 1850, como já assinalamos, não era outro senão o de produzir (produção agrícola x transformação industrial) e inserir-se no mercado nacional. Em Blumenau a hierarquia social foi estabelecida desde o inicio e as pessoas eram designadas para o espaço geográfico de acordo com seu aporte profissional pela administração local: os agricultores colocados longe da sede administrativa, os artesãos, os comerciantes e os burocratas no centro da colônia. Pg 37

Constata-se, então, a partir da obra de Engels, que o desenvolvimento de uma indústria rural em Santa Catarina, não foi o fecho de um processo endógeno, mas o resultado do enxerto de uma tradição existente na Alemanha da época e que justamente vinha sendo atacada pelo grande capital e , como conseqüência, expropriando o pequeno produtor. Conhecida a situação de enclave de enclave da região nordeste de Santa Catarina em relação ao contexto nacional, o desenvolvimento deste gênero de produção, induzido pelo seu isolamento, pela necessidade de transformar os produtos agrícolas que lhe eram necessários e pelo desejo de restringir ao máximo as importações, foi a razão maior pela qual esta herança cultural da Alemanha aqui se instalou e se desenvolveu. As primeiras exportações da região, em torno dos anos sessenta do século passado, foram devidas à existência de indústria. Pg 49

VIDOR, Vilmar. Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina. Editora da FURB. Blumenau, 1975.

Picada para Piçarras

"Esta picada tem 8719 braças de desenvolvimento; porem, em linha reta, tem apenas 6000 braças.
Piçarras é um povoação beira-mar, situada muito perto do pequeno porto d'Itapacoroa e 2 a 3 léguas ao norte da barra do Itajahy-Assú."
Muito interessante a localização da picada, junto ao caminho de Luiz Alves, que perdeu seu traçado ao longo dos períodos históricos. Muitos destes antigos caminhos não existem mais, e as ligações entre as inúmeras povoações do século XIX, eram outras, daquelas que conhecemos no momento presente. Lembrando que complementavam os caminhos fluviais, que também, estruturavam esta rede de povoações.

Ribeirão Luiz Alves


"O Ribeirão de Luiz Alves tem 21.971 braças de desenvolvimento desde p Salto até a barra; faz inumeraveis voltas, principalmente nas Campinas. recebe no seu curso 34 ribeirinhos ou corregos. A maior profundidade das agoas é de 28 palmos, a menos de 4 palmos, sendo rio muito secco. a maior largura é de 195 palmos; 2 menor de 80. a única parte cultivada e habitada é na barra, na propriedade de João Pedro e do ribeirão do Peixe até perto da barra, as terras são baixas e cobertas pelas agoas do Luiz Alves nas suas frequentes inundações. Do ribeirão do Peixe para cima os terrenos são devolutos e excellentes pricipalmente além do Salto."
O vale do Ribeirão Luiz Alves, afluente do Itajaí Açu, está totalmente desprovido da mata ciliar que deveria existir na Área de Preservação Permanente APP, de acordo com o Código Florestal Brasileiro. Está localizada ente a antiga picada para Ascurra e o Rio Itajaí Açu, sentido Norte e Sul.
Ribeirão da Velha
Ler sobre o bairro da Velha em postagem lincada no final desta.
O Ribeirão da Velha, de acordo com o mapa, possuía 9630 braças de desenvolvimento.
Em função da mudança viária por conta da ponte nova de Badenfurt - ruinificação da história local - e verticalização amplamente permitida ao setor da construção civil. No local surgiu um corredor viário, semelhante aquele do Bairro de Itoupava Seca, que passa por semelhante processo.
Ribeirão Itapava (E não Itoupava - Ita - pedra em tupi guarani)
Área, até bem pouco tempo atrás, com características estritamente rurais, com propriedades agrícolas pastoris, semelhante aquela do pioneiro, formada pela residência - geralmente uma tipologia enxaimel, ranchos, pasto, roça, quintal, pomar, rio, (...) com cotas fora das inundações, exceto as áreas de várzea, junto aos ribeirões que são áreas de APP,
 de acordo com o
Código Florestal Brasileiro
Itoupavazinha - Blumenau.
. Alertamos inúmeras vezes para
a situação, seja por artigos, veículos de comunicação e mesmo, quando trabalhávamos em uma equipe técnica da Prefeitura Municipal de Blumenau, sobre a necessidade de projeto para esta região, oportunizando, através do desenho, e reconduzindo a ocupação e transformação para uma região urbana, a partir de critérios urbanos. Esta tarefa complexa, permaneceu nas mãos do setor privado do mercado imobiliário. A área atual apresenta uma ocupação urbana desordenada e cheia de conflitos, com muitos problemas e conflitos a serem solucionados.
Escrevemos sobre, há algum tempo. O link do texto está no final desta postagem.

Paisagem predominante na Itoupavazinha algumas décadas passadas.
Para terminar, apresentamos algo inédito. O local exato da propriedade do pioneiro Georg Wagner, patriarca da família Wagner - pioneira em São Pedro de Alcântara e que estava neste local, antes da vinda do fundador de Blumenau, Hermann Blumenau. O filho de Georg Wagner - Pedro Wagner - tinha suas Terras, um pouco mais ao norte, na sequencia, dentro da curva grande do Rio Itajaí Açú.

Mapa maravilhoso. Assim que nós possuirmos a origem e fonte, disponibilizamos aqui.
Para a história.
Lamentamos que muitos dos nomes, se correto ou, não, foram "aportuguesados", o que pode não ser uma informação correta.

Alguns "Zoom's"










Leituras Complementares - para ler - Clicar sobre o título escolhido:







2 comentários:

  1. Olá, Angelina, tudo bem?

    Esse mapa foi feito pelo engenheiro Carlos Rivierre e está disponível no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (Sian):

    http://imagem.sian.an.gov.br/acervo/derivadas/br_rjanrio_4y/0/map/0362/br_rjanrio_4y_0_map_0362_d0001ade0001.pdf

    Fiz a divulgação desse mapa em julho deste ano, em grupos do Facebook, como estes dois de Blumenau:

    https://www.facebook.com/groups/426910050667337/permalink/4397731733585129

    https://www.facebook.com/groups/110045655810136/permalink/1658969297584423

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  2. Olá. Que brilhante. interessante, pois percebemos a tradução de alguns nomes para o português, de pioneiros alemães. Muito obrigada.

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