quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Ponte Pênsil - Antigo Cemitério - Bairro Quinta dos Açorianos - Lagoa de Barra Velha - Barra Velha SC e Um pouco de História

Ponte Pênsil - Barra velha Santa Catarina - construída na década de 1990.
No primeiro dia do ano de 2022 fomos até o município de Barra Velha, localizado no litoral norte do estado de Santa Catarina. Geralmente, quando chegamos a um local, "lemos" a sua história na paisagem natural e construída, complementada com pesquisas em conteúdos desenvolvidos por outros pesquisadores e veículos de imprensa dentro dos recortes de tempo histórico - e, geralmente compõem parte da referência da postagem
Nós chegamos ao histórico bairro Quinta dos Açores, localizado em um região da Lagoa de Barra Velha, que faz par com a Lagoa da cruz (ao norte) e, é claro, na Ponte Pênsil, onde descobrimos, depois, que existia o primeiro cemitério da região e também, de Barra Velha, tido como um dos mais antigos de Santa Catarina, que foi realocado por "forças invisíveis" ligadas ao ramo imobiliário local, que desejava vender lotes a veranistas e também, este foi responsável pela construção da ponte pênsil que visitamos e que apresenta uma história bem peculiar. Este tema e o local foi amplamente pesquisado por Angelita Borba Souza, em sua Dissertação de Mestrado, e também foi pauta de outros pesquisadores locais.
Não tínhamos ideia, durante nossa visita, das transformações recentes nesta paisagem fomentada pelo ramo imobiliário e a remoção do cemitério histórico e um dos mais antigos do Estado de Santa Catarina - cemitério de pescadores localizado à margem da lagoa, lado do continente. Retornaremos ao local para buscar mais imagens da paisagem para ilustrar parte desta história, no futuro e de repente encontrar alguns resquícios, embora saibamos ser impossível, pois é sabido que muito foi mudado na paisagem em questão.





















Barra Velha SC
Dados Geográficos - AMVALI  

Localização
  • É a primeira praia vista pela BR 101 no sentido  norte/sul do Estado.
  • Divisas: Araquari, São João do Itaperiú, Luiz Alves e Piçarras.
  •  População: Barra Velha possui 24.943 hab. (est. IBGE 2013)
  • Possui uma área total de 140, 177 Km².
  • A população flutuante (Dez. a março) é de 100 mil habitantes.
  • O Município faz parte: ◦ AMVALI (Associação dos Municípios do Vale do Itapocu). ◦ Região Turística Costa Verde e Mar.
  • Hidrografia: Rio Itapocu (principal bacia), e pequenos mananciais, como os rios Itajuba, rio do Peixe, Rio Novo e Rio Luiz Alves. A captação de água vem do Ribeirão do Machado (afluente do rio Itapocu). 

Principais distâncias

  • Capital: Florianópolis – 123 km
  • Joinville – 47 km
  • Balneário Camboriú – 47 km
  • Penha (Parque Beto Carrero World): 25 km
  • Blumenau – 66 km
  • Curitiba – 169 km
  • Portos: ◦ São Francisco: 60 km; ◦ Itajaí: 37 km
  • Aeroportos: ◦ Navegantes – 32 km; ◦ Joinville – 64 km; ◦ Curitiba – 164 km
História
Fonte: FAGUNDES.

Barra Velha surgiu como um vila pesqueira formada por descendentes de portugueses oriundos de Nossa Senhora do Desterro - via mar. 
No século XVIII e XIX, a iluminação pública das cidades brasileiras  eram feita à base de óleo de baleia. Haviam inúmeras armações para captura deste grande mamífero marinho e sua pesca era muito comum na região da Armação do Itapocorói. Os pescadores  oportunizavam a presença do Porto de Itapocorói (atual município de Penha), da segurança, da calmaria de suas águas, para a pesca da baleia, em suas armadilhas ali montadas. Atualmente o local é conhecido, por este motivo histórico, Praia da Armação do Itapocorói.
O Imperador D. Pedro I, com visão de aumentar a produção de óleo de baleia, doou uma gleba de terra, localizada onde onde atualmente está o município de Barra Velha, ao pescador descendente de açorianos, Joaquim Alves de Brito, que a partir da captura de baleias neste local, foi responsável pelo envio de grande quantidade de óleo de baleia para o Rio de Janeiro, e também, contribuiu para o fortalecimento da nucleação urbana que deu origem ao município Barra Velha. Brito nasceu em 20 de abril de 1804 e foi batizado em 29 abril do mesmo ano em Nossa Senhora do Desterro, na localidade de Santo Antônio de Lisboa, Nossa Senhora das Necessidades, registrado no Livro de Batismos 003, 1790-1806, 222. 
Joaquim Alves de Brito foi filho  Felizardo Alves de Brito e de Rosa Maria de Jesus, ambos de Santo Antônio. Seus avós paternos foram o Alferes Manoel Alves de Brito e Jacinta Leonarda, ele de Portugal e ela de Santo Antônio e seus avós maternos foram Sebastião Viegas de Athayde e Maria Rosa de Jesus, naturais da Ilha Graciosa. Para registro, dados deste que poderia ser considerado o fundador de Barra Velha.
O nome Barra Velha - se deve a presença da barra do Rio Itapocú desaguar no Oceano Atlântico, próximo ao Rio Cancela, que tem sua nascente localizado na centralidade de Barra Velha. Atualmente em não boas condições ambientais. 
De acordo com LOPES, 2016, os documentos antigos da cidade de Barra Velha que se referem a este lugar citam nome de Barra Velha do Itapocú. O pesquisador afirma que o Rio Itapocú desembocava na lagoa e estava ligado ao Rio Cancela que nasce na centralidade do município. Sua desembocadura era junto às pedras do costão, formando uma barra de boa profundidade. Com o passar do tempo, o forte vento, junto com a força do mar, foi assoreando a  barra do rio até que se fechou. O mar continuou depositando mais areia na frente da foz do Itapocú sem que este tivesse força bastante para remeter essa areia novamente para o mar. Assim, pouco a pouco, foi se fechando a foz do rio.
Com o rio sem poder dar vazão para aquela água que vinha   do alto da serra de Corupá de onde nascia, criou as lagoas. Era muita água impedida de desaguar no mar dando origem a uma grande inundação em toda a região e  toda a planície do Itapocú se tornou um alagado e área de  mangue, modificando a paisagem natural e o ecossistema por um longo período.  Isso sempre foi comentado pelos povos indígenas de toda a região, pois também tinha a presença da trilha intercontinental que passava por ali - conhecida por "Peabiru".

Durante seis anos, de 1816 a 1822, o renomado pesquisador August de Saint Hilaire, visitou as províncias do centro e do centro-sul do Brasil, recolhendo pelo caminho um proveitoso acervo botânico, registrando cada passo das suas andanças em um diário de viagem, publicado mais tarde na França em diversos volumes apresentando um retrato fiel e objetivo da paisagem e dos costumes do Brasil daqueles inícios do século XIX. Pesquisador da fauna e flora brasileira aventurou-se pelo Brasil e assinalou em determinado ponto do seu livro Viagem a Curitiba e Santa Catarina a passagem por Barra Velha, cuja entrada se fez por meio da Lagoa: Essa lagoa, de mais de uma légua de extensão, segue paralelamente ao oceano, do qual é separada apenas por uma língua de terra de algumas centenas de passos. Sua entrada, mais setentrional que o próprio leito do rio, é estreita e já mudou várias vezes; a parte da lagoa que fica ao norte dessa entrada tem o nome de Lagoa da Cruz e mede ao todo meio, quarto de légua; a parte meridional chama-se Lagoa da Barra Velha, porque era por ali que antigamente as águas se escoavam. (SAINTHILAIRE, 1978, p. 158). 
August de Saint-Hilaire (1978) relata que, durante sua passagem, os moradores dos sítios postavam-se nas portas das casas para ver o grupo passar, além de detalhar a passagem por um destacamento de milicianos da Guarda Nacional que faziam o patrulhamento na entrada da Lagoa. Outro ponto a destacar na fala de August de Saint-Hilaire (1978) é quando cita a entrada da Lagoa como um local que já mudou várias vezes de lugar. Reforçando o que já foi citado nas páginas anteriores, esta é a fala mais repetida entre os moradores para explicar o porquê do nome da cidade: uma barra que é muito velha e que já mudou de lugar várias vezes. SOUZA.

Barra que movia, de acordo com a vontade da água. Lagoa ao norte da foz é a Lagoa da Cruz e ao sul, Lagoa de Barra Velha.
Para registro.
Situação atual do Rio Cancela - canalizado e com lixo. 

Após suspeitas de obstrução no canal do Rio Cancela a Prefeitura de Barra Velha solicitou a Defesa Civil Municipal, Coordenada por Elton Cunha, que fosse realizada uma vistoria ao longo do canal.
A vistoria iniciou em uma das aberturas na rua Ipiranga, ao lado do estacionamento do Supermercado Dubom.
Acompanhado pelo Soldado Bombeiro Militar Medeia o coordenador da Defesa Civil percorreu o canal até o ponto onde não era permitida a passagem, "Ao longo do caminho observamos esgotos irregulares, poluição e lixo, mas o ponto que mais chamou atenção foi quando encontramos três estacas de concreto obstruindo a passagem", comenta Elton Cunha.
Segundo o coordenador em decorrência da construção irregular das estacas de concreto havia muitos objetos que estavam sendo impedidos de passar e com isso impedia também a passagem livre da água e como consequência represando o Rio Cancela, contribuindo desta maneira, para maximizar as cheias da região.
Para relatar e pontuar as observações relacionadas à vistoria o Coordenador, Elton Cunha encaminhou para a prefeitura, um relatório. Como providencias, a Secretaria de Fiscalização e Planejamento notificou o responsável pela construção das estacas. AMVALI em 23/04/2012. 

A fonte para a sobrevivência desta sociedade local estava no mar, e também, na grande lagoa formada pelo bloqueio da foz do Rio Itapocu para o mar. 
Pastor conduzindo seu rebanho entre as casas neolíticas
 dentro da vila - 5 mil AC. Fonte Livro Fachwerk - A Técnica
Construtiva Enxaimel.
Mas antes da chegada dos açorianos no local, já existiam outras culturas e a presença humana no local. De acordo com o pesquisador e historiador local, José Carlos Fagundes, a história local teve início há 3 mil anos AC, quando grupos nômades - denominados "Homens de Sambaqui" se fixaram na região. Processo, este, que aconteceu em todo o mundo e ficou conhecido como a "Revolução Agrícola". A mesma, que foi importante para o surgimento do embrião da técnica construtiva enxaimel na região da atual Alemanha,2 mil anos antes desta data.
Por volta do século XVI, período do Descobrimento do Brasil, tribos guaranis viviam na região. Barra Velha foi uma das entradas  para o interior e parte do caminho do “Peabiru” (caminho da grama amassada), o qual passava nas proximidades da foz do Rio Itapocu, também uma denominação indígena, a partir de Nossa Senhora do Desterro.
Caminho do “Peabiru”. Fonte: PINTO.
Para esclarecer sobre o "Peabiru"trata-se de uma trilha - uma rota transcontinental pré-cabralina, muito usada por indígenas brasileiros e povos andinos. Designada em seu conjunto como “caminho” ou “sistema” do Peabiru, que ligava o oceano Atlântico ao PacíficoSua presença no continente é incontestável e sua importância histórica é imensurável, a qual possibilitou a migração e o intercâmbio das varias culturas indígenas do continente, a descoberta de riquezas, a criação de missões religiosas, as trocas comerciais e o estabelecimento de povoados e cidades. Esse conjunto de estradas ancestrais teve contato com a foz do Itapocu.

"Ainda havia outros ramos do caminho de “Peabiru”  que tem nas regiões das atuais cidades de Cananeia em Florianópolis. Ela passa pelo litoral catarinense até o Rio Itapocu, em Barra Velha, sobe por Jaraguá do Sul, Corupá, passa pelo interior do Paraná, Foz do Iguaçu, Paraguai até chegar às atuais áreas da Bolívia e Peru, antigo território do império Inca, de onde os índios traziam ouro para o Brasil. PINTO.

Barra Velha. Fonte: FAGUNDES.
Os primeiros homens brancos a terem contato com a região foram os  Vicentistas (Bandeirantes), a partir de iniciativas de mineração no Rio Itapocu - por volta do século XVIII
Os primeiros descendentes  de imigrantes açorianos chegaram ao local entre 1790 e 1830, contribuindo muito para a identidade local da nucleação urbana que se iniciava. Observar a história do descendente de açorianos Joaquim Alves de Brito, que recebeu a gleba de terra na região, do Imperador Pedro I, nascido em Desterro em 1804 (Data que se encontra dentro deste recorte de tempo histórico), mencionado anteriormente.
De acordo com FAGUNDES, em 1842 uma parcela expressiva da população já era constituída de escravos, explicando a contribuição e a presença desta cultura no local. 
Com o inicio da colonização alemã e posteriormente italiana, no interior - sentido oeste (Vales do Itapocu e do Itajaí), na metade do século XIX, também fez parte da formação da povoação de Barra Velha, as etnias alemã e italiana - que tinham no local, a opção de veraneio e com propriedades e imóveis para este fim.
Barra Velha, por durante muito tempo, foi uma vila de pescadores de descendência açoriana, que tiravam sua sobrevivência do mar e da lagoa. 

O município de Barra Velha foi emancipado em 7 de dezembro de 1961. A eletricidade foi instalada e usada pela primeira vez em 1949 e, era acessível somente para as residências da área central da nucleação de pescadores. A água potável  e sua  distribuição aconteceu em 1974. Haviam muitas deficiência de infraestrutura e serviços em Barra Velha, fazendo com que as pessoas se deslocassem para São Francisco do Sul até 1876 e para Parati – atual Araquari - até 1961, da qual pertencia até esta data como  – Freguesia do Glorioso São Pedro D’Alcantara da Barra Velha. Até o momento de sua emancipação, em 1961, sua sede estava em – São Francisco do Sul e Parati.

Segundo o aposentado Moacir Gasino Borba (2015), durante sua infância, o padre visitava Barra Velha apenas poucas vezes no ano – à cavalo - e celebrava as missas em casas de moradores por não existir um local apropriado. Não havia poder público instituído e as decisões legais a respeito de vendas e trocas, além da expedição de documentos legais, deviam ser dirigidas a São Francisco. Moacir Gasino Borba (2015) lembra que cavalgava a noite inteira a mando do pai para levar documentos até a sede do município. SOUZA

Dentre as muitas histórias sobre Barra Velha, destaca-se a existência de um antigo cemitério localizado às margens da Lagoa de Barra Velha e estudado por SOUZA, por não existir mais, por conta dos negócios imobiliários no local e áreas adjacentes, apagando muito da história (centenária) local. Há registros que os primeiros sepultamentos, aconteceram em 1800, podendo ter existido sepultamentos anteriores.

Segundo minha avó, o local foi utilizado durante muitos anos e, na sua infância - início do século XX -, era o único de Barra Velha. Até aquele momento, eu não tinha a menor ideia da sua existência - foi assim que minha memória foi invadida pelas lembranças da infância e também por vários questionamentos. O antigo Cemitério da Lagoa surgiu de forma inesperada em nossas conversas, e a familiaridade com o seu substituto no centro da cidade (meu amigo de infância) fez-me cogitar a possibilidade de uma pesquisa para a produção de meu trabalho de conclusão do curso de graduação. A preocupação em registrar as memórias relacionadas ao antigo cemitério, de ouvir mais a respeito dos rituais fúnebres naquele local tão distante, de entender o porquê do seu abandono físico, dentre outras curiosidades, passaram a me incomodar. A partir daí surgiu uma possibilidade de estudo. SOUZA.

O antigo Cemitério da Lagoa

A Lagoa de Barra Velha, localizada ao Sul da foz do Rio Itapocu, estende-se da área central de Barra Velha até a divisa com o Balneário Barra do Sul - somando 6 quilômetros de extensão. Termina no encontro  entre o Rio Itapocu, a lagoa e o mar, no local conhecido denominado Boca da Barra.

Ponto de atendimento da imobiliária (Foto: Ana Baticini)
A Ponte Pênsil, que visitamos, é um dos pontos focais da região de Barra Velha. Foi construída pelo Grupo Irineu Imóveis, através da Empretur Empreendimentos Turísticos e Imobiliários. Ela foi repassada à Prefeitura de Barra Velha, como compensação tributária pelo IPTU dos terrenos da empresa, em 2001. Na época, a construção foi realizada para atrair compradores para os lotes recém delineados em toda a região do histórico  bairro Quinta dos Açorianos e de grande interesse para os detentores de empreendimentos imobiliários. Local de vegetação do tipo mangue. A ponte faz a ligação entre o bairro e a praia para pedestres e ciclistas e foi construída com estrutura pênsil com cabos de aço, um problema mediante a possível corrosão célere causada pela maresia e motivo de constantes manutenções e restrições, quanto ao seu uso. Atualmente, é recomendado que estejam na ponte, somente 20 pessoas. A construção da Ponte Pênsil é muito recente, se observado o recorte histórico deste local e do próprio cemitério antigo, que já era usado no início do século XIX. A ponte foi construída na década de 1990 por uma imobiliária interessada na comercialização de lotes no bairro.

A aérea da região histórica do bairro Quinta dos Açorianos, tem como destaque o loteamento que cerca as terras que pertenciam ao antigo Cemitério da Lagoa  e atualmente, é quase totalmente tomado pela vegetação. 
O bairro Quinta dos Açorianos está localizado às margens da lagoa, com acesso para o mar viabilizado pela Ponte Pênsel, que não se encontra com boa manutenção. Sua ocupação, de maneira célere, tem avançado em direção ao terreno do antigo Cemitério da Lagoa. De acordo com SOUZA, a área que circunda a ponte, às margens da lagoa, é muito frequentada nos fins de semana por turistas que acampam, passeiam, fazem festas, pescam e tomam banho nesse trecho que, por se localizar distante da centralidade urbana, possui águas mais limpas. A grande maioria dos frequentadores, e até residentes  de Barra Velha, não têm noção que estão ao lado de um antigo cemitério.

A Lagoa de Barra Velha, de acordo com SOUZA, apresenta  altos índices de poluição, local que até as décadas de 1960 e 1970, era importante para a produção pesqueira local, onde a quantidade de camarão e tainha pescados atraíam pescadores não somente de Barra Velha, como também, das regiões de Balneário Barra do Sul, Penha e São João do Itaperiú. A ocupação de maneira desordenada e desprovida de planejamento urbano é uma das causas que contribuiu para a poluição da lagoa e, com isto, como consequência, a diminuição de peixes e crustáceos, entre outras coisas. O esgoto doméstico gerado a partir do adensamento ocorrido a partir da década de 1970 (residentes locais e de veraneios) são depositados na lagoa sem tratamento, tornando o local insalubre e passível da necessidade de providencias sanitárias.

O pescador Silvino Floriano da Costa (2015) destacou que havia muitos pescadores em Barra Velha nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Ele relatou que a tainha era pescada em lances de 500 ou 600 e que eram anunciadas por meio de tiros de foguete. Na Barra do Itapocu, na lagoa de Barra Velha e no trecho de mar que compreende o município, havia uma fartura muito grande de peixe e também de camarões de todos os tamanhos. Ele lembra que os peixes chegavam até o início da lagoa – no centro da cidade - mas que, hoje, o que existe é sujeira. SOUZA. 

Histórias que envolve o antigo cemitério sempre eram contadas na mesa das famílias locais, que de certa maneira, contribuíram para a perpetuação do local no imaginário de muitos moradores antigos do local. De acordo com SOUZA, surgiam nas madrugadas de  pescaria, na escuridão das noites sem luar e se perpetuam por gerações, entre este estava esta autora, que ouvia de sua avó. Esta pratica foi rareando, em função da diminuição da pesca e esta, por conta da ocupação irregular, que causou danos ambientais ao local, agredindo a vida aquática, diminuindo o pescado, como também as pessoas, impossibilitadas do banho e também, pela presença do odor do esgoto presente nas águas. Prejuízo sob vários aspectos, dentro de um recorte de tempo inferior a 6 décadas. Estas manobras econômicas desprovidas de cuidados foi lucrativa  para quem, a médio e a longo prazos? 
Além destas questões, há a questão  histórico/cultural, que perdeu muito:

O fato de a pesca nas margens do antigo Cemitério da Lagoa ter praticamente cessado contribuiu, dentre outros fatores, para que as histórias perdessem força. Enquanto a pesca ocorria, apesar da necessidade do silêncio, as conversas eram comuns entre os pescadores e o local era propício para que as lembranças de antigas memórias surgissem. A repetição das histórias as fortaleciam, contribuindo para a sua perpetuação. SOUZA 

O ritual de sepultamento - Antigo Cemitério

O ritual de sepultamento em Barra Velha, até o início do século XX - no único cemitério existente seguiam procedimentos bem característicos da cultura das pessoas que residiam no local e até mesmo, na região, em locais limítrofes. O trajeto entre a residência daquele que partiu até o cemitério era percorrido com familiares e amigos com velas orando, cantando e chorando, onde a maior parte do percurso era feitos através de canoas da comunidade, disponibilizadas, muitas vezes pelos pescadores, à família enlutada. O percurso tinha como paisagem, a Lagoa de Barra Velha, ou até mesmo a Lagoa da Cruz, dependendo do local que vinha o cortejo. "Lagoa com sua vegetação nativa e suas águas límpidas, o cheiro da maresia e o som das ondas quebrando na praia." SOUZA.

A troca do local do cemitério

Como é comum dentro da cultura lusa, no Brasil, há poucos registros históricos formais no que tange a história das localidades, por diferentes motivos. Também sobre a troca do cemitério de Barra Velha não há muitos registros:   Como? Por que? Quem? Quando?
Na ausência de fontes, a pesquisadora SOUZA procurou no arquivo da Igreja Católica de Araquari e de Barra Velha. Ao perceber que os documentos de Barra Velha estavam arquivados em Joinville, foi até a  Cúria Diocesana de Joinville e encontrou um documento com data de 1929, assinado pelo padre e também, prefeito de Parati, Joaquim Sales. No texto, constava o pedido de licença para benzer um novo cemitério edificado na povoação de Barra Velha
O novo cemitério, que substituiu o antigo cemitério da Lagoa de Barra Velha, é o mesmo cemitério utilizado até os dias atuais. Iremos ao local, dos dois cemitérios, futuramente, para constar na  Série Cemitérios, parte das publicações deste Blog.
Clicar sobre o link - na página do blog para acessar.
Curiosamente, em 2017, a mesma empresa que construiu a Ponte Pênsil, Irineu Imóveis e a Fundação do Meio Ambiente de Barra Velha, com o objetivo de resgatar a história do Cemitério da Lagoa de Barra Velha, a qual refutaram em ações anteriores, tiveram a iniciativa de revitalizar o local, firmando um termo de ajustamento de conduta que resultou na construção de uma cerca em torno do que restou do antigo cemitério, seguindo um projeto. Em 28 de julho de 2017, o prefeito Valter Zimmermann, o presidente da Fundema, Leandro Haupt, o presidente da Câmara de Vereadores, Alex Sandro dos Santos, o secretário de Obras, Valdemar Paiva e o chefe de gabinete, Dalete Vieira filho estiveram no Cemitério da Lagoa acompanhando o início dos trabalhos de recuperação do local. Neste momento, foram coletados entulhos do local e colocadas placas informativas no final das duas ruas que dão acesso ao Cemitério da Lagoa. Além dos representantes dos órgãos citados estiveram presentes neste mutirão - a pesquisadora Angelita Borba de Souza, José Carlos Fagundes e Juliano Bernardes, dois,  parte das referências desta postagem.
Fonte: Bruna Souza.
Ponte Pênsil

A presença do antigo e histórico cemitério nunca deixou de existir. Além das histórias/causos repassados de uma geração para a outra, também seu espaço físico estava presente, mesmo muitos dos contemporâneos desconhecendo  a sua existência. Desconhece-se o motivo, mas a empresa do ramo imobiliário que tinha interesse na comercialização dos terrenos nas imediações do cemitério antigo, construiu uma ponte pênsil ao lado do mesmo, na década de 1990. Uma Ponte Pênsil na Lagoa de Barra Velha, há 3,93km da centralidade de Barra Velha. E como mencionado, esta empresa, em 2017, tenta recuperar um pouco desta história, ajudando a revitalizar o antigo cemitério.
A Ponte Pênsil foi construída na década de 1990 para promover a ligação o bairro Quinta dos Açorianos (o continente) e uma península do Oceano Atlântico, e, desde então, também é um incentivo imobiliário para a aquisição de lotes na Quinta dos Açorianos. Foi construída com a técnica utilizando a estrutura suspensa baseada em torres de concreto, cabos de aço, telas e tábuas de madeira, ou seja, sustentada por sistema de cabos e mastros, onde os cabos principais partem de um mastro de concreto a outro, formando uma parábola. Dos cabos principais partem os cabos de sustentação da plataforma feita de tábuas de madeira. Esta estrutura de cabos de aços, requer muita atenção e consequentemente manutenção, por sua proximidade ao mar e o efeito de corrosão provocado pela presença do sal no ambiente. Em nossa visita, observamos um aviso que poderiam circular na ponte, somente 20 pessoas. Em um momento, contamos 50 e poucas pessoas, o que nos desencorajou a atravessá-la, pois há pontos visíveis de corrosão em sua estrutura, sem contar que a "badeja" não está totalmente alinhada com a linha horizontal.
Só neste vão, há a presença de mais de 17 pessoas, onde sob a bandeja é visível cabos estruturais danificados. Basta romper um destes cabos para desestabilizar a estrutura da ponte.
De acordo com SOUZA, 2016, a Ponte Pênsil da Lagoa de Barra Velha "atua como importante instrumento de convencimento de clientes interessados em adquirir um lote da EMPRETUR. A manutenção da ponte ficou sob a responsabilidade da municipalidade. No Anexo L, encontra-se a Lei Nº 197/1.999, de 25 de novembro de 1999que aceitou a ponte em compensação aos tributos atrasados." Esta informação é muito curiosa, pois a imprensa local, durante a publicação de notícia apresentou embate entre o poder público e o setor privado, desvencilhando-se da manutenção necessária ao elemento da infraestrutura local.

Jornal do Comércio - 11 Julho 2016
A ponte pênsil de Barra Velha - localizada ao final da Lagoa e sobre o Rio Itapocu - foi interditada pela Defesa Civil Municipal. Em laudo produzido pelo presidente da Defesa Civil e Bombeiro Voluntário, Otávio Taborda, a estrutura particular possui problemas no cabeamento, corrosão estrutural e buracos nas telas de proteção.
"Pela estrutura já estar bastante enferrujada pela maresia, pela ausência de manutenção de seis em seis meses, e também por algumas denúncias dos próprios moradores e usuários - interditamos a ponte", detalhou Otávio, em entrevista ao Jornal do Comércio. A última manutenção completa, segundo a Defesa Civil, ocorreu há dez anos. 
"Arrebentou um cabo de aço que faz sustentação da ponte. Então se arrebentou um a tendência de outros também arrebentarem é bem grande", completou Otávio.  A interdição foi confirmada na última semana. "Enquanto não for feita a troca de todos os itens necessários a ponte vai ficar interditada. Eu só vou desinterditar assim que um técnico da empresa apresentar um laudo aferindo que a ponte é segura", acrescentou. 
A empresa dona da estrutura adiantou a Otávio que vai arrumar a ponte, um dos principais símbolos turísticos de Barra Velha. "Ela é uma ponte particular. Não é uma ponte da prefeitura. Então, a interdição é para a empresa faça a manutenção da estrutura", explicou o presidente da Defesa Civil, citando ainda que "o Senhor Irineu (Irineu Machado, dono da ponte) já foi notificado para fazer a manutenção. Em dois dias já comprou o material e irão fazer a recuperação da ponte", finalizou. 
Ponte pênsil após manutenção em 28 de junho de 2019. Fonte: OCP News. 2019.
Após manutenção de 2019, de acordo com o jornal de Jaraguá do Sul OCP News, a Ponte Pênsil da Lagoa de Barra Velha foi liberada em 27 de junho de 2019, pela Defesa Civil Municipal. A ponte recebeu reforma com recursos da iniciativa privada e apoio logístico da Prefeitura Municipal de Barra Velha. A reforma incluiu a troca dos cabos de sustentação, do piso e dos três pilares que seguram toda a estrutura. A ponte havia sido interditada em 5 de junho de 2019 pela Defesa Civil Municipal, após apresentar risco de rompimento dos cabos de sustentação e queda da estrutura. A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Planejamento e Defesa Civil, realizou vistoria técnica e solicitou a reforma junto à empresa responsável pela ponte. 
A pergunta que fica: A Ponte Pênsil pertence a Prefeitura de Barra Velha ou ao Setor Privado

As imagens Comunicam - Barra Velha - Lagoa de Barra Velha SC...



Lagoa de Barra Velha - vista de cima da Ponte Pênsil.

Não atravessamos a Ponte Pênsil, por cuidados. Sempre haviam mais de 20 pessoas sobre a ponte, onde o limite máximo de pessoas  permitidas era de 20 pessoas. Dado presente em uma placa de aviso. Não registramos a outra margem da lagoa, onde está o local do Cemitério histórico. Retornaremos ao local, fora de temporada para efetuar este registro.







Processo de corrosão dos cabos estruturais.





Lagoa de Barra Velha sob o por do sol. Encontra-se poluída pelo processo de urbanização desprovida de infraestrutura básica.


Aos fundo - o mar.







Uma das torres de sustentação.




















Mar, lagoa, continente e ponte pênsil.

























Retornaremos ao local para completar esta pesquisa, através de imagens. Registrado para a História de Santa Catarina.

Fonte: LOPES, 2016.

Referências
  • AMVALI. Defesa Civil de Barra Velha realiza vistoria no canal do Rio Cancela.  23/04/2012 às 00:00. Disponível em: https://amvali.org.br/noticias/ver/2014/10/defesa-civil-de-barra-velha-realiza-vistoria-no-canal-do-rio-cancela. Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 18:23h.
  • BATICINI, Ana. Ponte pênsil de Barra Velha será interditada novamente. 20 de maio de 2019. Cobaia. Disponível em: http://jornalcobaia.com.br/ponte-pensil-de-barra-velha-sera-interditada-novamente/ . Acesso em: 04 de janeiro de 2022 - 00:31h.
  • FAGUNDES, José Carlos. Caca História. Algumas imagens antigas de Barra Velha. Disponível em: http://cacahistoria.blogspot.com/2013/07/algumas-imagens-antigas-de-barra-velha.html Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 16:42h.
  • FAGUNDES, José Carlos. Caca História. Síntese da História de Barra Velha. Disponível em: http://cacahistoria.blogspot.com/2013/07/sintese-da-historia-de-barra-velha.html Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 16:49h..
  • Famílias Mafra, Genealogia. Joaquim Alves de Brito. Disponível em: http://www.mafra.com.br/genealogia/getperson.php?personID=I019914&tree=arfamis001 . Acesso em: 5 de janeiro de 2022 - 00:36h.
  • Fundação de Turismo, Esporte e Cultura. Prefeitura Municipal de Barra Velha SC. Dados de Barra velha - 2014. AMVALI. Disponível em: https://amvali.org.br/uploads/1512/arquivos/298650_Turismo_Barra_Velha.pdf. Acesso em: 03 de janeiro de 2022 - 23:52h.
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  • PINTO, Cristiano Vieira. A história do Caminho do Peabirú. Pedra do Índio Blog. 29/07/2021. Disponível em: https://pedradoindiobotucatu.com.br/2021/07/29/a-historia-do-caminho-do-peabiru/ . Acesso em: 4 de janeiro de 2022 - 19:00h.
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  • SOUZA, Angelita Borba de. Um patrimônio cultural em conflito memórias, morte e transferência do Cemitério da Lagoa em Barra Velha; orientador Dr. Euler Renato Westphal– Joinville: UNIVILLE, 2016.  180 f. : il.; 30 cm.  Relatório Técnico (Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade  – Universidade da Região de Joinville).
  • SOUZA, Angelita Borba e WESTPHAL, Euler Renato. Um Patrimônio em Conflito: Os Reflexos dos Discursos de Civilidade e Lazer no antigo Cemitério da Lagoa em Barra Velha SC. Revista Internacional interdisciplinar - Interthesis, UFSC. Janeiro/Abril de 2017, Florianópolis.
  • SOUZA, Bruna. Antigo Cemitério da Lagoa é revitalizado por meio de parceria entre poderes público e privado. Disponível em: https://medium.com/@brunavsouza/antigo-cemit%C3%A9rio-da-lagoa-%C3%A9-revitalizado-por-meio-de-parceria-entre-poderes-p%C3%BAblico-e-privado-51d4d5c61f4b Acesso em: 5 de janeiro de 2021 - 2:56h.
  • WITTMANN, Angelina C. R. Fachwerk: A Técnica Construtiva Enxaimel. 1.ed. - Blumenau, SC : AmoLer, 2019. - 405 p. : il.














2 comentários:

  1. Exelente postagem, Angelina. Você conseguiu condensar os mais importante e interessantes registros sobre Barra Velha e sua Lagoa, desde Auguste de Saint Hilaire em 1820. Minha mãe, Herondina da Silva Vieira, descendente de fundadores da vila, contava sobre o enterro de minha avó Helena Brenneisen da Silva na década de 1920 no cemitério mencionado e que o cortejo se deu até a margem da lagoa e depois seguiu por uma grande canoa própria para o féretro.

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    1. Gratidão por seu retorno. Desejo fotografar o cemitério. Estive lá no mês passado e o procurei em local errado. Agora já sei onde deverei ir. Buscarei novamente. Muito obrigada por seu depoimento e testemunho vivo dessa história. Abraço cordial.

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