sábado, 15 de janeiro de 2022

Projeto Memorvale - Casa Paul Lang - Rua São Paulo 1731 - Demolida!

Casa construída pelo sogro de Paul Lang, o primeiro proprietário, que se casou em 1886. Esta Casa tem indícios de que foi construída no século XIX e não em 1910, como registrada no Projeto Memorvale.
Esta edificação, a Casa Paul Lang, que pertenceu ao Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau e também registrada no Projeto Memorvale, é apresentada na sequência da Casa Soares porque ambas ocupavam terrenos vizinhos  localizados na Rua São Paulo. Esta, na época, sob o número 1731. Com as mudanças no sistema viário local, atualmente dá a impressão de que está localizada na Rua Paul Werner.





A Casa que restou além da Casa Paul Lang e da Casa Soares - denominada no Registro de Casa Alberto D. (O sobrenome não está correto e não sabemos como era o nome original de seu proprietário. Esta distância entre uma edificação nova e uma casa histórica, não era permitido há um tempo atrás, quando o assunto era patrimônio histórico, na cidade de Blumenau.


É possível observar muitas casas com suas paredes rebocadas e munidas do decorativismo do "neos".
A Casa Paul Lang, de acordo com seu registro no Projeto Memorvale, foi construída em 1910, um pouco mais afastada da centralidade Blumenau, próximo à comunidade de Altona, ou talvez, no limite desta comunidade, que era marcado pela propriedade da cervejaria de Karl Rischbieter. Em 1910, não mais se construía - usando a técnica enxaimel com estrutura aparente na centralidade de Blumenau. Muitas vezes se "escondia" a estrutura enxaimel com reboco e também sua marca, através de suas tipologias presentes na paisagem, encobrindo-as com o decorativismo dos "neos", estilo internacional, do início do século XX, adotado pelos novos ricos, comerciantes e industriais, que surgiam na sociedade local dentro deste recorte de tempo histórico
Muitos adotavam as orientações construtivas usadas na Alemanha, através do barroco tardio, oriundo da Itália, que através de suas restrições, exigiam que as casas com estrutura de madeira fossem rebocadas, por segurança contra incêndios. E assim era feito, com apliques de elementos do neoclássico, neogótico e neobarroco, explicando a presença de casas rebocadas no Stadtplatz de Blumenau na década de 1880, ao menos a fachada frontal.
Rua XV de Novembro - início do século XX.
Quanto a Casa Paul Lang, registrada no Projeto Memorvale, destacamos ser uma volumetria "eclética", dentro da classificação que fizemos em nossa pesquisa sob aspectos das tipologias com a técnica construtiva enxaimel rurais e urbanas. Possui anexos característicos da casa permanente rural e urbana, ou seja, possui a varanda, anexo  da casa enxaimel rural e a mansarda com a presença do Dachgaube, anexo da casa enxaimel urbana em Blumenau. Aparentemente foi construída como a casa enxaimel local primitiva, desprovida de anexos, planta retangular, limpa, com o destaque para a simetria da fachada, com localização da porta principal, em duas folhas entalhadas localizada no centro da fachada, ladeadas por altas janelas envidraçadas com bandeira móvel acompanhando as folhas da janela. 
O que nos leva a deduzir que a varanda e o Gachdaube foi construído posteriormente, é que os mesmos apresentam técnica construtiva diferente - madeira somente, e os pilares de alvenaria autoportante, tem aspectos que destoam do fechamento de tijolos do corpo principal. É notado, que houve o fechamento de uma porta lateral, com a presenças na estrutura de madeira e munida de fechamento de tijolos maciços aparentes. O telhado característico de estrutura de madeira coberto com telhas planas ou rabo de castor. A varanda apresenta guarda corpo em alvenaria de tijolos rebocados, com a presença de floreiras engastadas, decerto para receber gerânios coloridos, como estão no registo do Memorvale. 
Desconhecemos a data correta em que esta casa foi demolida, mas lembramos dela na paisagem. Aguardamos contribuições através de envio de fotografias, para completar esta postagem.
Observando sua arquitetura, afirmamos que esta edificação histórica não foi construída em 1910. Vamos agora conhecer a história da família que a construiu.

História da Família Lüders e Lang

A casa, de acordo com o registro do Projeto Memorvale, foi construída por Friedrich Lüders, pai de Emilie, esta neta de Karl Rischbieter
Friedrich Lüders era casado com Elise Rischbieter, filha de Karl Rischbieter e Hedwig (Clasen) Rischbieter, proprietários da casa onde está instalado o Norden Bar e Restaurante (link no final da postagem).  Friedrich Lüders foi um dos pioneiros da Colônia Blumenau.
Norden Bar e Restaurante, antiga Casa Rischbieter.
Casa Construída por Friedrich Lüders e talvez, por Paul lang.
Emilie Rischbieter, que residiu na Casa Paul Lang, se casou em 8 de setembro de 1886, com 20 anos de idade com o pedreiro Paul Lang, nascido em 7 de março de 1857 em Bresslau. Sendo Paul Lang pedreiro, aquele profissional que fazia o fechamento da estrutura enxaimel com tijolos maciços aparentes, perguntamos: Não teria Paul ajudado seu sogro Friedrich Lüders a construir sua casa?
Paul Lang era filho de Friedrich Lang e Amalie nascida Kaiser. O pai de Paul chegou em Blumenau, da Alemanha, junto com Friedrich Lüders. Emilie Rischbieter, sua esposa, nasceu em 7 de julho de 1866 em Blumenau e era filha de Friedrich Lüders, pioneiro que chegou em Blumenau com um grupo de imigrantes, no porto de Itajaí em 1858. Friedrich Lüders estava no primeiro grupo, de um total de 4 grupos. O primeiro grupo era formado por 58 imigrantes. Observar os nomes contemporâneos que chegaram junto com a família Lüders e Lang
1. Ludwig Scheffer - Pommern
2. August Wolff   - Schlesien
3. Heinrich Koch - Oldenburg
4. Johann Hönnicke - Thüringen
5. Johann Wloch - Schlesien
6. Karl Sasse- Mannsfeldischen
7. Emil Odebrecht - Pommern (Engenheiro Agrimensor oioneiro da família Odebrecht)
8. Johann Witt - Lübeck
9. Ludwig Prabst - Hamburg
10. Friedrich Von Lesecke - Hannover
11. Heinrich Michel - Schlesien
12. Wilhelm Küchendahl - Braunschweig
 13. Ernst Schellenberger - Thüringen
14. Franz Keiner - Thüringen
15. Theodor Kleine - Posen
16. Hermann Siebert - Magdeburg
17. Wilhelm Schifter - Berlin
18. Gottlieb Riediger - Schlesien
19. Friedrich Lang - Schlesien - Pai de Paul Lang que residiu na Casa
20. Johann Behnke - Holstein
21. Ludwig Sachtleben - Halberstädtischen  - (Casa Azul do Centro Histórico)
21. Franz Meier - Halberstädtischen
22. Karl Meier - Mecklenburg
22. August Spierling - Mecklenburg
23. Julius Baumgarten - Braunschweig  (Kulturverein e Maçonaria)
24. Wilhelm Friedenreich - Mannsfeldischen
25 Heinrich Zwingmann Fichsfelde
25. Heinrich zwingmann - Eichsteige
26. Hermann Wendeburg - Braunschweig  (Diretor interino da Colônia Blumenau)
27. Reinhold Gärtner - Braunschweig
28. Minna Görner - Lausitz
29. Marie Rosemann, viúva - Schlesien
30. - 
31. Johann Padaratz - Mecklenburg
32. Friedrich Tiedt - Pommern
33. Eduard Böttcher - Lübeck
34. Christian Imroth - Braunschweig
35. Johann Gieseler - Mecklenburg
36. Johann Preilliper - Thüringen
37. Hans Kreutzfeld - Lübeck
38. Sophie Bähr, viúva Braunschweig
39. Johann Schack - Thüringen
40. Johann Wagenknecht - Thüringen
41. Johann Schreep - Mecklenburg
42. Johann Hübers - Mecklenburg
43. Friedrich Luders - Mecklenburg  - Sogro de Paul lang e genro de Karl Rischbieter
43. Traugott Köhler - Sachsen
44. Ludwig Wehmuth - Thüringen
45. Friedrich Jerga - Holstein
46. Johann Richter Schlesien
47. Karl Küpls - Mecklenburg
47. Karl Küpls - Mecklenburg
48. Christian Moller - Mecklenburg
49. Friedrich Gieseler - Mecklenburg
50. Joachim Maatz - Mecklenburg
51. Heinrich Schmidt - Mecklenburg
52. Friedrich Schmidt - Mecklenburg
53. Hans Esemann - Mecklenburg
54. Theodor Schröder - Berlin
55. Theodor Schröder - Berlin
56. Wilhelm Schumann-Anhalt
57. Karl Kegel - Thüringen
58. Karl Schneider - Schlesien

Observar que o nome de Friedrich Lüders  está na lista feita por Hermann Blumenau de pessoas que residiam na Colônia Blumenau em 1869. Curiosamente "abrasileiravam o nome de alguns e de outros não. Por exemplo, nunca vimos o nomes do fundador Hermann escrito de outra maneira. 

Maternidade projetada por Knoblauch.
Foram testemunhas do casamento de Paul Lang e Emilie Rischbieter, Leopold Knoblauch, Richard Clasen e Arnold Lüders. A família Knoblauch, residiu sempre no atual Bairro de Victor Konder, na época, próximo da chácara de Victor Konder. Um de seus membros foi o arquiteto que projetou a Maternidade Johannastift, idealizada e construída pela Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau e inaugurada em 30 de setembro de 1923, mais tarde restaurante Cavalinho Branco, por certo, também parte do Cadastro Memorvale.
A família de Paul e de Emilie Lang foi a família que residiu pela primeira vez nesta casa enxaimel que faz parte dos registros do Projeto Memorvale. Como poderia esta ser construída em 1910, se a história das famílias  ligada à história da residência é do século XIX, como também sua forma de construir?
Com estes dados, afirmamos com segurança, que esta casa era muito mais antiga do que o  registro apontado no Projeto Memorvale. Se esta casa foi construída pelo pai de Emilie Lüders,  Friedrich Lüders, para residir com seu marido Paul Lang - pedreiro, foi construída ainda no século XIX. Também, concluímos observando a técnica construtiva enxaimel adotada na sua construção, já observada anteriormente, na postagem. Não se construía mais com estas características na área urbana de Blumenau - no século XX
No Projeto foi cadastrado que sua construção data de 1910. Neste tempo, Emilie Lang estava com 44 anos de idade e preste a completar bodas de prata. Não confere.
Para registro, parte de seus filhos foram residir em Indaial. Observamos que neste tempo havia um  intercâmbio grande entre as nucleações de Altona e Indaial. Já tivemos outros exemplos. Também registramos que a família Lang tinha laços de amizade e familiares com a família Rischbieter e Clasen, de Karl e Hedwig (nascida Clasen) - da comunidade Altona.
Na ficha do Memorvale está registrado que seus primeiros moradores foram membros da família de Paul Lang. No momento do registro do Projeto Memorvale, residia na casa  Ilse Baumeier Van de Meene. O nome da família que residia no momento do cadastro no Projeto Memorvale não está correto. Parece ser um nome de descendência belga, a exemplo de outras família que fundaram e viviam no município de Ilhota. Link no final desta postagem.
Não possuímos outros registros da casa, somente imagens retiradas do Google Maps do terreno onde estava construída. Foi demolida e sua história, ligada a uma das famílias pioneiras e que viveu com a Família Rischbieter, desconsiderada.

Demolida por ordem da defesa civil por estar em cima da rua.  Bernard Van de Meene

Nosso comentário: O traçado da rua, foi modificado pelo poder público de Blumenau que não considerou a tipologia de patrimônio histórico arquitetônico. Como também estão passando o trânsito de ônibus no Centro Histórico de Blumenau - muito próximo das edificações mais históricas de toda a região. Portanto, há uma possibilidade para o uso deste argumento (insano), no caso do Centro Histórico de Blumenau, sendo que o trânsito passa muito próximo da tipologia enxaimel mais antiga do Vale do Itajaí, a residência de Hermann Wendeburg, localizada na Palmenalee - Rua das Palmeiras atual.

Casa construída pelo sogro de Paul Lang, o primeiro proprietário, que se casou em 1886. Esta Casa tem indícios de que foi construída no século XIX e não em 1910, como registrada no Projeto Memorvale.












Um registro para a História!

Projeto Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico Memorvale

O projeto Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale foi a efetivação do cadastramento das principais tipologias pertencentes ao patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau e região, nas décadas de 1980 e 1990 e, que teve como epílogo, o tombamento, pela Fundação Catarinense de Cultura, de vários imóveis no centro de Blumenau e outros restaurados. Professor Vilmar Vidor foi o idealizador e proponente do projeto, tendo em sua equipe, dentre outras pessoas, a professora Amábile M. T. Dorigatti, que também coordenou o projeto, em determinada época.
Para a efetivação prática do projeto, Professor Vilmar Vidor contou com o apoio da FURB, através da participação de estagiários acadêmicos da instituição, que elaboraram o cadastro de imóveis antigos, de todos os tipos, linguagem e técnicas construtivas, entre os quais, aqueles construídos com a técnica construtiva enxaimel. O cadastro individual de cada tipologia, continha um pequeno relatório técnico, descrição, planta baixa, elevações e fotografias dos imóveis selecionados.

Fichas do Cadastro do Patrimônio Arquitetônico - Memorvale 

Tivemos acessos a mais de 1100 fichas pertencentes ao Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale (E que apresentaremos de modo individual - listada neste espaço), semelhantes a esta pequena amostra apresentada abaixo, onde estão listadas algumas das centenas de tipologias construídas com a técnica construtiva enxaimel, autoportante, e outras técnicas, dentro de diferentes estilos e recortes de tempo, que existem e existiam na cidade de Blumenau região. O modelo da ficha foi criado pelo Professor Vilmar Vidor e sua equipe e usado para elaborar o pioneiro cadastro do Patrimônio Histórico Arquitetônico, conhecido como Memorvale. De acordo com o Professor Vidor, pioneiro nesta pesquisa no Vale do Itajaí, em entrevista cedida ao jornalista Altair Pimpão, em 2 de março de 2014, 2/3 das edificações cadastradas de Blumenau, foram demolidas. Atualmente, mais, com certeza.
O assunto patrimônio e este trabalho eram tão novos dentro da academia, na cidade de Blumenau e região, que em algumas fichas, as casas foram definidas como “enchaimel”

O acervo e seu destino

Ainda na entrevista cedida ao jornalista Altair Carlos Pimpão em 2 de março de 2014, o Professor Vilmar Vidor explicou que o fichário dos imóveis foi repassado para a Fundação Cultural de Blumenau, para o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Blumenau – IPPUB e para a FURB, onde pesquisamos o acervoO trabalho foi desenvolvido em parceria, entre a FURB e o IPPUB, foi muito facilitado e viabilizado, porque o Professor Vidor era Presidente do IPPUB, e simultaneamente, professor da FURB, o que lhe permitiu "diminuir distâncias" e a burocracia para o êxito do projeto.
A partir do projeto de Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico, conhecido como Memorvale, a Professora do Curso de Serviço Social da FURB – Amábile M. T. Dorigatti, criou a Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos; importante para o êxito do projeto, sua fluidez, levantamentos e efetivação dos cadastramentos das edificações históricas, viabilizando diálogos, projetos e parcerias entre proprietáriospesquisadores e poder público. 
Desta forma, a equipe de pesquisas coordenada pelo Professor Vilmar Vidor mantinha um diálogo permanente com os proprietários de imóveis antigos, através da associação que tinha uma cadeira no Conselho do Patrimônio Histórico de Blumenau, e também, no Conselho de Planejamento Urbano de Blumenau. Nas assembleias desta Associação, a municipalidade e os proprietários debatiam sobre a manutenção do patrimônio e sobre possíveis políticas preservacionistas. Existia um Estatuto e as reuniões eram periódicas.
Este material da Memorvale que pesquisamos, acessamos o Setor de Documentos Especiais da Biblioteca da FURB.

Na sequência os link's das Edificações Históricas, demolidas ou não, seus estudos, fotografias e a ficha do Memorvale. Para acessar, basta clicar sobre o Link, na edificação/ficha escolhida - No total somam 1100 fichas - em construção.

Leituras Complementares - Clicar sobre o título escolhido

















 

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