terça-feira, 15 de julho de 2025

Indaial - Residência da Família Müller - Contribuição de Bruno Kadletz

Recebemos a fotografia histórica do pesquisador Bruno Kadletz, um do autores do livro "Colônia Blumenau - no Sul do Brasil", filho de Orla Kadletz e neto de Frederico Kilian, descendentes da família de Otto Stutzer, primeiro prefeito de Blumenau.
A foto foi entregue com o seguinte texto de autoria do pesquisador:

Local: Indaial, em frente ao caramanchão no bosque da família Müller, por ocasião do falecimento de Fritz Müller Sobrinho.
Data: 1928
Da direita para esquerda:
1 - Luto de Adele Stutzer Müller, viúva de Fritz Müller Sobrinho, e este filho de August Müller. 
2 - Frederico Emílio Kilian
3 - Dr. Alfred Höß médico em Massaranduba (Vila Itoupava) e sua esposa Auguste Lore Höß, também nata Höß.

Em frente Lore Marie Höß, filha do casal 
Höß, com 4 anos de idade, e a seu lado, Orla Elisabeth Kilian, minha saudosa mãe com 5 anos de idade.
Enlutada, Gertrud Müller Kilian, esposa de Frederico.
Menino sentado: Horst Ingo Kilian, filho do casal Frederico e Gertrud.
A esquerda de “tailleur” quadriculado, Maria Höß Hoffmann, irmã do Dr. Höß, e seu filho Harald Bruno Maximiliano Hoffmann.
Provável autor: João Bruno Ricardo Hoffmann, cunhado de Alfred Höß.
 
Guardados de Bruno Kilian Kadletz

A partir deste registro fotográfico, conhecemos o laço de amizade entre o Dr. Alfredo Höß e parte da Família de Frederico Kilian e dos Stutzer.
Fritz Müller Sobrinho (1861–1928)  foi filho do professor Friedrich Wilhelm August Müller (irmão do Dr. Fritz Müller) e de Friedrike Christiane Marthilde Hofmann. Sua filha Gertrud, mãe de Orla (Kilian) Kadletz, tinha incrível semelhança com a filha, mãe de Bruno.
A esposa de Fritz Müller Sobrinho era filha do primeiro prefeito de Blumenau, Otto Stutzer.

Texto assinado por Orla Kilian Kadletz e publicado na Revista Blumenau em Cadernos e enviado para nós, por seu filho Bruno Kadletz. Orla, filha de Frederico Kilian  e  Gertrud Müller Kilian e neta de Fritz Müller Sobrinho disserta sobre a casa de seu opa.

Um pouco mais sobre a casa...REMINISCÊNCIAS...

A casa do vovô Müller, (Fritz Müller Sobrinho) carinhosamente chamado de OPAPA [(pai grande) ficava na rua (hoje nomeada de Lauro Müller) que segue em direção à Ponte de Arcos, em Indaial. Era uma casa muito grande, com tijolos à vista, janelas grandes e rodada de um amplo e belíssimo jardim e pomar. No sótão, três quartos grandes, servindo de dormitório aos filhos. Na frente, a entrada principal, pequeno saguão, com um banco pintado de verde, onde, em noites agradáveis, reuniam-se para o descanso, comentando a labuta diária, os fatos mais importantes, trocando opiniões, achando soluções. Eram horas muito alegres e gostosas, pois vovô Müller era muito espirituoso e alegre.
Havia a sala de visita, só usada em ocasiões especiais, com seus móveis feitos em canela preta por um irmão de vovô Müller. Estes móveis davam um ar solene ao ambiente e, até hoje conservam o estofamento original, encontrando-se na casa de sua neta, Dra. Wilburga Müller, médica aposentada, residente em Coqueiros-ltaguaçú, em Florianópolis. (Obs: Já falecida e a sua casa demolida.)
No outro lado, também uma sala muito ampla com suas duas cadeiras de balanço próximo a cada janela. Era o lugar preferido de vovó Adele Müller que, já viúva, gostava muito de sentar, ao anoitecer, ficando a meditar, recordando tempos passados e felizes. Havia ainda nesta sala uma mesa oval, toda torneada, também fabricada pelo irmão de vovô Müller e com seis cadeiras. Esta mesa e as seis cadeiras encontram-se em minha residência, em Blumenau. (Hoje está com a minha neta Juliana Campos em Joinville) Era nesta sala que se festejava o Natal e onde a família se reunia nas festividades. Durante o período de 1928 a 1939 esteve instalada nesta sala a Agência dos Correios e Telégrafos de Indaial, e da qual, a filha mais moça de Müller — Kaethe Müller era a agente federal devidamente nomeada.
Havia ainda o quarto de hóspedes, e no lado oposto, o dormitório dos avós. Nos fundos, a sala enorme para as refeições e, onde também ficava a máquina de costura de vovó. Finalmente, a cozinha com seu fogão à lenha, seus armários, bancos e mesa, tudo muito rústico e simples, como era hábito na época, não faltando a despensa onde eram guardados os alimentos, pois não se conhecia nem havia geladeira.
Atrás da casa tinha um rancho, que era separado por uma enorme parreira, e que no início do verão dava os mais belos e saborosos cachos de uva. Nele ficava o poço que fornecia uma água pura e cristalina, o lugar para lavar roupa, o tacho de cobre e um forno à lenha para assar o pão, os bolos e docinhos, além dos marrecos, galinhas e carnes. Ainda tinha um compartimento separado onde ficava uma grande banheira de madeira. Neste rancho também era guardado as colheitas da roça: milho, aipim, bananas, batatas, e mais atrás o estábulo e a máquina de cortar trato para os cavalos. Ainda os galinheiros, o chiqueiro e, finalmente, as instalações sanitárias, rudimentares que eram chamadas por vovó de "tante Maia".(Obs.: “Tia Maia”) O jardim, que beleza, com flores e plantas ornamentais de todos os tipos, o pomar com as mais variadas árvores frutíferas e a horta, onde era plantado toda qualidade e quantidade de verduras.
Era um prazer poder estar neste jardim e colher, sob orientação de vovó o que as plantas forneciam: seja flores, frutos ou verduras.
O que mais me impressionou no jardim de vovô e vovó foram os três canteiros em forma de: cruz, coração e âncora, que simbolizavam: a fé, a caridade (amor) e a esperança, pois vovó me ensinou: cultiva estas três virtudes, elas te darão a liberdade.
Uma área gramada, o pasto, separava o pomar da parte mais linda da propriedade: a floresta — ou — o mato nativo, conservado com suas árvores centenárias, de porte altivo e cheios de orquídeas e bromélias. Era a floresta virgem conservada e, onde ainda foram plantadas espécies que Dr. Fritz Müller, o naturalista, e também seu irmão Augusto, juntamente com Dr. Blumenau haviam introduzido das partes mais remotas e diversas de outras regiões tropicais do globo.
Numa clareira nesta floresta, vovô construiu um caramanchão onde se reuniam os amigos e familiares para festejos e reuniões e, onde realmente se conseguia relaxar, dentro desta bela e exuberante natureza. Um pequeno córrego, represado, formou um pequeno charco, que nós denominamos de lagoa e, onde peixes e sapos tinham liberdade para viver. Uma "ponte" permitia a chegada à outra margem. Esta floresta foi a mais bonita e da qual guardo as mais belas e gratas recordações de minha infância. Brincávamos, todos os netos de vovó, nesta floresta. Foi lá que aprendi a amar o verde, as árvores; foi lá que tomei consciência da importância do verde, da clorofila e a purificação do ar; foi nesta floresta que aprendi a conviver com os seus habitantes: os pássaros, os insetos das mais variadas espécies, borboletas, e, até dos sapos que se escondiam entre as folhagens; foi lá que aprendi a não temer o que é da natureza, inclusive as cobras, que, ao primeiro sinal de aproximação, pela vibração do solo por nossos pés descalços, fugiam e, não atacavam. Foi lá que aprendi a não chorar quando um espinho se enterrava no meu pé ou arranhava parte do meu corpo e, aceitava com resignação os castigos impostos quando vinha com a roupa rasgada pelos espinhos da floresta. E, onde está este belíssimo recanto: só vive na minha lembrança e, na de outros netos de vovô Müller. Porque? Os sucessores lotearam a área e, o resultado está lá...
A casa de vovô e vovó Müller era um lugar muito frequentado não só pelos familiares, mas também por amigos, membros de sociedades e políticos. O casal sempre foi muito ativo e relacionado. Tudo teve uma interrupção brusca com a morte de Vovô, que, faleceu em consequência de acidente com um coletivo que fazia a comunicação Indaial-Blumenau, a Viação Hasse. Naquela ocasião os ônibus eram abertos lateralmente e, dando lugar a outro, vovô tombou; uma fratura no crânio não o deixou sobreviver por mais de cinco meses. Vovó continuou a viver no casarão; mas, após sua morte, a propriedade foi vendida aos atuais proprietários da família Silva. Nunca mais vi a casa que foi de meus avós. Mas, desde a sua construção pelos meus avós até os dias de hoje, o casarão continua a resistir ao tempo, com todo orgulho que sempre teve e, bem merece ser preservado e transformado em museu para abrigar pertences e a memória da história de Indaial, mostrando assim aos filhos desta progressista cidade, o valor de seus antepassados, permitindo que se possam orgulhar e ufanar deste torrão pátrio: a dadivosa, rica e hospitaleira — Indaial!
Orla Kadletz
Neta de Fritz Müller Sobrinho
Escrito para a Revista Blumenau em cadernos
Tomo XXXVI
AGOSTO DE 1995 nr. 8

Indaial SC. Residência de Fritz Müller Sobrinho.
Contribuição de Bruno Kadletz, neto de Frederico Kilian, que escreveu, sobre a terceira foto. Em 18 de julho de 2025. 

"Com algumas modificações encontra-se preservada. Local: rua Lauro Müller. Indaial. Fonte Google Maps."


Correção de Bruno Kadletz: "Ao invés de Agente Laerte Müller, leia-se Agente Kaethe Müller".
A imagem do patrimônio, que de certa maneira, para os moldes regionais atuais, esta conservado, mas, impactado pela presença do totem comercial. As pessoas que passam na frente deste patrimônio, tem noção de sua história? De que ali residia o sobrinho de Fritz Müller, casado com a filha do primeiro prefeito de Blumenau Otto Stutzer e sobrinha do pastor Stutze, que ousou brigar com o fundador? Sogros do respeitado pesquisador regional, Frederico Kilian?

Um registro para a História.

 
Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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