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Nascido há 450 anos, o "Bardo" é o autor mais filmado e fonte de inspiração constante. Na Alemanha, não só inspirou os dramaturgos nacionais como esteve presente em momentos marcantes da história política.
Amor e ódio, nascimento e morte, bem e mal: em suas peças teatrais, William Shakespeare (1564-1616) tratava dos temas atemporais da existência humana. "São motivos que representam um papel forte em todos os países, em todas as culturas", comenta Rainer Wiertz, encarregado de Cultura da cidade alemã de Neuss.
Em 1991, ele mandou construir nessa cidade do noroeste da Alemanha uma cópia do Globe Theatre de Londres, onde realizou o primeiro Festival Shakespeare. Na época, o evento se limitava a seis peças teatrais, hoje são 32 produções por ano.
O Globe de Neuss tem um charme todo especial. Ele comporta 480 espectadores, na plateia e nos dois balcões, e ninguém fica a mais de dez metros do palco. "Devido a essa proximidade, a atmosfera é como numa panela de pressão", descreve Wiertz.
O "Bardo" na vida política alemã
Mas o amor pelo grande "Bardo de Avon" tem também uma longa tradição no resto da Alemanha. "Na realidade, o nosso teatro foi estimulado por Shakespeare", afirma o especialista em estudos anglófonos Tobias Döring. Desde o século 18, os autores clássicos alemães se deixaram entusiasmar e inspirar pelo inglês. "Ele era o modelo para eles e, de certa maneira, quem ditava os temas e o tom. Ele foi o libertador da própria arte deles", diz.
Em Weimar, cidade dos poetas Johann Wolfgang Goethe e Friedrich Schiller, fundou-se em 1864 – portanto, 300 anos após o batismo de William Shakespeare (sua data exata de nascimento não é conhecida) – a Sociedade Shakespeare Alemã. Nessa época, o interesse central era nos dramas históricos, pois se viam neles paralelos com a fundação do Império Alemão, explica Döring, que é o atual presidente da sociedade.
O mestre elisabetano também esteve em grande destaque no país na época da reunificação. O diretor e dramaturgo Heiner Müller, da Alemanha Oriental, que preparava o projetoHamlet/Hamletmaschine, convocou para uma grande manifestação na praça Alexanderplatz. O ator Ulrich Mühe, que representava Hamlet, era o "porta-voz e figura de proa" da grande guinada política, recorda Döring. Poucos dias depois, caía o Muro de Berlim.
Popularidade inesgotável
Porém Shakespeare não exerceu fascínio apenas sobre revolucionários e intelectuais. Na opinião de Döring, a receita de sucesso é que suas peças se dirigiam a um público amplo. O Globe "não era só teatro da corte, mas também teatro popular", e o autor oferecia entretenimento para as massas.
Isso se reflete na influência que ele continuaria exercendo sobre a cultura pop e a indústria cinematográfica, séculos mais tarde. "Hollywood não seria nada sem Shakespeare. Os primeiros filmes foram inspirados nele", lembra o presidente da Sociedade Shakespeare alemã. Ele é o autor mais filmado: até hoje produziram-se, no mundo inteiro, cerca de 420 películas baseadas em sua obra.
Ao que tudo indica, a popularidade do "Bardo" nunca se esgotará. Histórias como Romeu e Julieta, que fascinam gerações sucessivas, reaparecem como motivos narrativos por toda parte, até mesmo nas telenovelas alemãs. "Romeu e Julieta é nada mais, nada menos do que Verbotene Liebe["Amor proibido", novela da emissora ARD]", afirma o especialista shakespeariano Tobias Döring.
- Data 24.04.2014
- Autoria Klaus Dahmann / Augusto Valente
- Edição Alexandre Schossler
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