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Em apenas três semanas, o cenário eleitoral brasileiro mudou radicalmente. Dilma Rousseff, antes líder isolada nas pesquisas, enfrenta agora a dura concorrência da ex-senadora. Até onde vai o fenômeno Marina Silva?
Três semanas depois da trágica morte do presidenciável Eduardo Campos, o cenário eleitoral brasileiro mudou de forma radical. Marina Silva, a então vice na chapa de Campos, que nunca passou do terceiro lugar nas pesquisas, está tecnicamente empatada com a presidente Dilma Rousseff. Aécio Neves, então principal concorrente de Dilma, vê claros sinais de que pode até ficar fora do segundo turno. E Marina, afirmam as pesquisas, sairia vencedora do duelo final.
Essa incrível reviravolta aconteceu em apenas duas semanas, intervalo que Marina precisou para aumentar em 13 pontos percentuais sua intenção de voto (de 21% para 34%) no Datafolha. Dilma caiu 2 pontos no mesmo período, de 36% na pesquisa divulgada em 18 de agosto para 34% na sondagem do dia 30 – o que configura empate técnico no primeiro turno com Marina. Aécio Neves perdeu 5 pontos (de 20% para 15%) e vê o segundo turno cada vez mais longe.
Esse cenário, ainda não consolidado diante da repentina reviravolta, deve ficar mais claro nas próximas duas semanas, que especialistas consideram as decisivas para a estabilização dos números de intenções de voto nas pesquisas. Nesse tempo será também possível observar se permanece sobre os eleitores o impacto emocional da morte de Eduardo Campos, no trágico acidente aéreo do dia 13 de agosto.
Para especialistas, porém, o fenômeno Marina ainda não atingiu seu teto de intenções de voto e tem condições de crescer mais alguns pontos percentuais nas próximas pesquisas. Uma das razões para isso é o fato de a pessebista ter a menor rejeição entre os três principais candidatos à Presidência: apenas 15%. Dilma, com 35%, tem o maior índice. Aécio tem 22%.
"Ela está perto do auge, pelo menos no primeiro turno. Por um lado, ela ainda pode conseguir capturar um pouco mais de votos da Dilma, na medida em que os números da economia continuem a decepcionar, sobretudo do emprego e da inflação", diz o cientista político Leonardo Paz, professor do Ibmec/RJ e coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Tendência de subida constante
O analista avalia que, tradicionalmente, o PT tem um público cativo de 30% do eleitorado – e, assim, Marina ainda teria espaço para receber votos que seriam destionados a Dilma. O PSDB tem uma fatia em torno de 15% e 20%, e, portanto, Aécio já estaria próximo do seu limite mínimo. Outro fator é a influência das pesquisas: muitos preferem votar em quem tem chances de ganhar – situação que também favorece Marina.
"No meio de setembro teremos uma clareza maior em relação à permanência do impacto emocional da morte de Campos, quando uma série de outros acontecimentos vão começar a competir pela atenção do eleitor", diz Paz. "O real desafio da candidata é, nesse contexto, consolidar o ganho que ela já obteve, o qual, segundo as duas últimas pesquisas, já seria suficiente para ganhar a eleição."
Para o sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a tendência crescente de Marina indica que o fator emocional da morte de Campos não é tão importante como se imaginava. A candidata, para ele, está numa tendência de alta constante, e as duas próximas semanas serão decisivas para a candidatura dela.
"Marina teve cerca de 20 milhões de votos em 2010 e parece representar o anseio de mudança que o eleitor já sinalizou. Ela tirou votos de Dilma, Aécio e conquistou indecisos", opina Prando. "Não há na história republicana do Brasil um caso como o de Marina. O limite dela pode ser a eleição no primeiro turno, que são 50% dos votos válidos mais um."
A primeira pesquisa do Datafolha após a morte de Campos, divulgada em 18 de agosto, mostrou que Marina absorveu não só os votos de Campos (8%), mas também os de eleitores indecisos (que caíram de 14% para 5%) e dos que votariam em branco e nulo (queda de 13% para 8%). Já a última pesquisa, divulgada no dia 30, mostra que o percentual de indecisos (7%) e brancos e nulos (7%) se estabilizou.
Essa pesquisa do Datafolha também apresentou dados de um possível confronto no segundo turno. Nele, Marina se tornaria presidente com 10 pontos de vantagem (50% contra 40%) sobre Dilma. O instituto também avaliou o segundo turno entre Dilma e Aécio: a atual presidente ganharia com 48%, contra 40% do tucano.
Para Marco Antônio Villa, historiador e ex-professor de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos, cada semana será decisiva. "Falta um mês para as eleições. É uma campanha muito curta e historicamente única. O que estamos vendo não tem paralelo com qualquer outra eleição presidencial no Brasil."
Mudança de rumo das campanhas
O fenômeno Marina nas pesquisas de intenção de voto fez com que PT e PSDB mudassem suas estratégias de campanha. Nos primeiros dias de campanha eleitoral no rádio e TV – que começou em 19 de agosto – Dilma e Aécio evitaram ataques diretos à nova candidata, mas ela não poupou ataques à presidente e ao senador.
Já final de agosto – depois das pesquisas mostrando o crescimento de Marina –, Dilma tomou a dianteira nos ataques à ex-senadora. No último debate, transmitido pelo SBT em 1º de setembro, as duas candidatas trocaram farpas em vários temas e esquentaram a campanha eleitoral. A presidente questionou a viabilidade das promessas da ex-senadora, que afirmou que o governo petista não reconhece seus próprios erros.
"Aécio não deve buscar uma ação mais dura e agressiva em relação a Marina, pois o PSDB deverá apoiar Marina num eventual segundo turno contra Dilma e, também, compor governo com ela", diz Prando. "Já o PT ataca Marina frontalmente. Há até mesmo uma tentativa de se estabelecer uma comparação entre Marina e o ex-presidente Collor."
Alguns pontos fracos da ex-senadora já apareceram: sua inexperiência no Poder Executivo, a falta de explicações de onde vai retirar dinheiro para cumprir diversas promessas e, também, seu conservadorismo e posições inflexíveis em torno de temas polêmicos, como os direitos dos homossexuais e o aborto.
A candidata se envolveu numa polêmica ao voltar atrás na flexibilização dos direitos dos homossexuais. Por conta da pressão de setores como a comunidade evangélica, a ex-senadora recuou e alterou o ponto no seu programa que defendia o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção por casais homossexuais – o que irritou a comunidade LGBT e recebeu críticas, até mesmo, de grupos aliados. Irritadas, algumas pessoas se afastaram da campanha de Marina.
"Um dos pontos fracos de Marina é confrontar o seu discurso de uma nova política com as práticas dela e de seu partido. O grande ponto de interrogação em relação à Marina é como ela vai praticar a 'nova política' de que fala e como tornará real as suas propostas", avalia Prando.
- Data 03.09.2014
- Autoria Fernando Caulyt
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